TÍTULO: Química Verde: Uma Realidade Possível no Conteúdo Programático do Ensino Médio Brasileiro

AUTORES: MUNIZ, L. R. (C. STA MARIA)

RESUMO: Este presente trabalho é um estudo de caso sobre a implantação da disciplina de Química Verde, na grade curricular pedagógica do ensino médio disponibilizada a partir de 2010 para os alunos do Colégio Santa Maria (São Paulo - SP).

A disciplina foi formatada dentro do quadro de matérias optativas que são ofertadas semestralmente aos estudantes; desta forma, a mesma foi dividida em dois módulos bimestrais, sendo aplicadas 2 aulas semanais, com duração de 50 min cada, totalizando no final do semestre 35h/aula.

O curso foi ministrado a 23 alunos do 2º ano colegial, onde foram passados conteúdos teóricos e práticos sobre o tema da Química Verde, focando as premissas do ensino interdisciplinar por Competências e Habilidades preconizado pelo MEC, tendo como eixo temático a sustentabilidade.

PALAVRAS CHAVES: educação química, quimica verde, sustentabilidade

INTRODUÇÃO: O conceito de Química Verde teve seu início nos EUA, no início dos anos 90, sendo que em 2000, a mesma foi definida pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) como : "A invenção, desenvolvimento e aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias nocivas de algum modo à saúde humana ou ao meio ambiente” (1).

De acordo com Zuin (16), por volta de 2003, a Química Verde começou a ser divulgada no Brasil dentro do meio acadêmico, governamental e industrial, porém sua difusão foi inicialmente tímida. Mais recentemente, em 2007, algumas universidades vem divulgando a matéria realizando cursos de verão, com foco no ensino superior e de pós graduação (2,14,16),e recorrentemente o tema da Química Verde vem sendo cada vez mais abordado em eventos do setor.

Em 2009 a FUVEST lançou ineditamente uma questão sobre Química Verde em seu vestibular, e desde então, nota-se uma maior veiculação do assunto no âmbito do ensino médio, sendo que pioneiramente Sanches et al(11), elaboraram uma apostila sobre Química Verde propondo o tema de estequiometria como norteador de sua abordagem no ensino médio. Cabe ainda, salientar a importante contribuição da Associação Brasileira de Química, que junto com amplo espectro de patrocinadores, está promovendo a Olimpíada de Química de 2010, com o tema Química Verde, o que sem dúvida aguçou o interesse de muitos alunos e professores para o assunto.

O presente trabalho tem o objetivo de trazer um estudo de caso, abordando as primeiras impressões acadêmicas sobre a proposta curricular da disciplina de Química Verde, disponibilizada aos alunos do ensino médio, pelo Colégio Santa Maria (São Paulo - SP), a partir de 2010, dentro da grade programática de disciplinas optativas.


MATERIAL E MÉTODOS: A primeira turma do curso de Química Verde contou com a participação de 23 alunos da 2º série do ensino médio, que espontaneamente optaram por tal disciplina, dentro da grade programática de matérias optativas, que possuem a duração de um semestre, com duas aulas semanais de 50 min cada, onde planejou-se um total de 20 aulas no I Bimestre, e 22 aulas no II Bimestre, perfazendo um total de 35 h ao final deste primeiro semestre, sendo que no próximo, formar-se-á uma nova turma. No I Bimestre o curso pautou a revisão dos conceitos de ligações químicas e estequimetria, bem como, na introdução da Cinética Química, três pré-requisitos teóricos importantes para o bom entendimento dos conceitos da Química Verde.
No II Bimestre o curso buscou contemplar alguns dos aspectos tecnológicos contemporâneos da Química Verde, relacionando-os sempre que possível, ao cotidiano do aluno, conforme recomendado por Prado (8),tendo os seguintes tópicos:
1- Princípios Fundamentais da Química Verde (2,3,6,12)
2- Solventes Alternativos (2,12,13)
3- Biocatálise e Biotransformação (2,13)
4- A Ética na Atividade Científica e o Futuro da Química Verde (5)
Estratégias de Aprendizagem:
1. Aulas expositivas com a efetiva participação do aluno, colocando os temas teóricos, e em seguida a demonstração de experiências e exercícios para a devida sedimentação dos conceitos teóricos;
2. Aulas multimídia com apresentação de vídeos e/ou projeção de slides em power point;
3. Aulas no laboratório de informática utilizando a plataforma eletrônica colaborativa do ThinkQuest, desenvolvendo projetos de pesquisa na internet;
4.Utilização do laboratório para a realização de experiências com foco na Química Verde;
5. Apresentação e discussão do filme: A Última Hora - 2007 (Direção de Leonardo DiCaprio).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Tratando-se de uma disciplina científica, o curso de Química Verde apresentou aulas práticas, desenvolvendo-se experiências como: a síntese de biodiesel (10,14,15), fabricação de um biodigestor anaeróbio (7,9), e síntese de detergentes biodegradáveis(4).
As avaliações foram bem diversificadas, aplicando-se provas dissertativas, correção de redações com tema sobre sustentabilidade, correção de trabalhos acadêmicos em formato eletrônico (ThinKquest), correção dos relatórios obtidos a partir das experiências de Química Verde realizadas, e avaliação final da apresentação grupal das experiências no formato de seminário.Desta forma a disciplina de Química Verde buscou desenvolver no aluno Competências e Habilidades que contribuam para sua formação como cidadão crítico e capaz, balizado pelo pensamento e metodologia científica, e que esteja compromissado com a sustentabilidade do planeta (fig. 01).
Os princípios básicos da Química Verde e sua inserção prática no cotidiano, a partir da profunda reflexão sobre a importância da ética na ciência química, contribui sobre maneira para formar jovens mais conscientes e construtores de um futuro onde as atividades humanas essenciais para a sociedade, necessariamente se encaixem de forma sustentável com o meio ambiente, a começar pela escola (fig. 02).
A disciplina de Química Verde apresentou alta receptividade e interesse por parte dos alunos, e sem dúvida sua implementação nas escolas de ensino médio no Brasil, irá contribuir para amenizar ou acabar, em um futuro próximo, com o estigma secular que a química possui de estar relacionada à poluição e degradação ambiental (pesquisa publicada revelou que 76% da população brasileira considera a indústria química e petroquímica responsáveis pelos maiores problemas de poluição no país(6))





CONCLUSÕES: Um aluno formado dentro dos princípios da Química Verde estará muito mais preparado para o desafio que se avizinha, de um mundo mais justo, ético e sustentável, quer seja na esfera acadêmica, profissional, ou do seu cotidiano social. A Química Verde tem fundamento científico e moral. Vale dizer, não somente que a Química Verde é coerente com os princípios morais: esta é também requerida pelos princípios morais(5), e desta forma, sua capilarização deve ser se dar em todos os níveis do ensino brasileiro, condição "sine que non" para uma sociedade preocupada honestamente com suas futuras gerações

AGRADECIMENTOS: À Profa. Maria Soledad Más Gandini,Coord. Pedagógica da Área de Ciências da Natureza do Colégio Santa Maria,pelo incentivo e apoio nesta empreitada acadêmica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: 1- Anastas, P. T. ; Kirchhoff M. M.; Origins, Current Status, and Future Challenges of Green Chemistry – Acc. Chem. Res , 2002

2- Corrêa, A. G.; Zuin, V. G. (Org.) – Química Verde: fundamentos e aplicações - Edufscar – UFSCar , 2009

3- Dupont, J; Economia de Átomos, Engenharia Molecular e Catálise Organometálica Bifásica: Conceitos Moleculares para Tecnologias Limpas - Química Nova, 23(6), 2000

4- El Seoud, O.A.; Galgano, P. D; Cap. 9 - Sugar-Based Ionic Surfactants: Syntheses, Solution Properties,and Applications - Book:Sugar-Based Surfactants: Fundamentals and Applications - Editor: Cristóbal Carnero Ruiz, CRC Press - p. 309 -360, EUA , 2009

5- Gaie, J. B. R.; As Bases Morais da Química Verde - Trad.: Lentz, G. - Grupo de Investigação no Ensino de Química - UFSC - Florianópolis , 2007

6- Lenardão, E. J. ; Freitag, R. A. ; Dabdoub, M. J. ; Batista, A. C. F.; Silveira, C. C. – Green Chemistry – Os 12 Princípios da Química Verde e sua Inserção nas atividades de ensino e pesquisa - Quim. Nova, Vol. 26, No. 1, 123-129, 2003

7- Nogueira, N.; Furlan, S. A.; Como Fazer uma Escola Sustentável - Revista Gestão Escolar ,Edição 007, Abril/Maio, 2010

8- Prado, A. G. S.; Química Verde: Os Desafios da Química do Novo Milênio Quim. Nova, Vol. 26, No. 5, 738-744, 2003

9- Reis, A. L. Q; Figueiredo, G. J. A;Santos, M. L. B.; Santos, S. R. B.- Uso de Um Digestor Anaeróbio Construído com Materiais Alternativos para Contextualização do Ensino de Química - Química Nova na Escola, Vol. 31, N° 4 , p.265-267, Novembro, 2009

10- Rinaldi, R.;Garcia,C.;Marciniuk L. L.;Rossi, V. A;Schuchardt, U. ; Síntese de Biodiesel: Uma Proposta Contextualizada de Experimento para Laboratório de Química Geral - Quimica Nova, Vol. 30, No. 5, 1374-1380, 2007

11- Sanches, V. L.; Abreu, D. G.; Veiga, M. A.; Mesquita, S. - Química verde e contribuições para educação científica na escola: relatos da construção de uma proposta - 32a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - Fortaleza, CE, 30/05-02/06, 2009

12- Sanseverino, A. M. – Síntese Orgânica Limpa – Quimica Nova, 23(1), 2000

13- Silva, F. M.; Lacerda, P. S. B.;Jones, J.; Desenvolvimento Sustentável e Química Verde - Quim. Nova, Vol. 28, No. 1, p.93 -110, 2005

14- Torres. B. B.; Andrade,L. H.; Freire, R. S.;Bazito, R.C.; Um Projeto de Divulgação da Química Verde no Brasil – 30a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - SBQ , 2007

15- Vieira, A. T.; Os princípios da Química Verde e suas Aplicações na Produção de Biodiesel - LERMAP-UFU - 4º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel , 2007

16- Zuin, V. G.; Trajetórias em Formação Docente: da Química Verde à Ambientalização Curricular – UFSCar , 2008