TÍTULO: ENEM 1998 a 2008: A Presença da Química na Retrospectiva Histórica que Evidencia a Construção da Interdisciplinaridade do Ensino de Ciências Naturais no Brasil.

AUTORES: MUNIZ, L. R. (COLÉGIO MAGN) ; MUNIZ, L. R. (COL. STA MAR)

RESUMO: Em 2009 o Exame Nacional do Nível Médio – ENEM , sofreu algumas alterações metodológicas, bem como pedagógicas, passando a ser designado pelo MEC, como Novo ENEM, marcando assim, um novo período na evolução deste exame nacional.Desta forma, este presente estudo busca num resgate histórico, apresentar uma análise estatística do ENEM, no período de 1998 a 2008, levantando suas principais contribuições para o ensino das ciências naturais, com foco na disciplina de química e sua interdisciplinaridade com as demais ciências naturais. Este trabalho possui ainda, informações estatísticas que permitirão ao docente da química, reavaliar seu planejamento pedagógico, buscando se contextualizar com as premissas do ensino por Competências e abordado com interdisciplinaridade assumido pelo MEC.

PALAVRAS CHAVES: educação química , enem , interdisciplinaridade

INTRODUÇÃO: Criado em 1998 durante a gestão do ministro da educação Paulo Renato Souza, no governo Fernando Henrique Cardoso, o Enem teve por princípio avaliar anualmente o aprendizado dos alunos do ensino médio em todo o país para auxiliar o ministério na elaboração de políticas pontuais e estruturais de melhoria do ensino brasileiro. A prova era elaborada com o objetivo de testar a capacidade do participante em cinco grandes competências: dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentação e elaborar propostas. Estas competências eram avaliadas por meio de 21 habilidades, sendo três questões para cada uma, entendendo-se por habilidade como a capacidade do aluno aplicar o seu conhecimento ou talento para cumprir determinada tarefa. Desta forma a prova apresentava 63 questões aplicadas em um dia de prova.O presente estudo apresenta uma análise estatística do ENEM, no período de 1998 a 2008, buscando levantar suas principais contribuições para o ensino das ciências naturais, com foco na disciplina de química, com o firme objetivo de estabelecer parâmetros comparativos de cunho quantitativo e científico, para que em futuras avaliações pedagógicas, possa-se construir uma visão mais criteriosa e acadêmica de como está se desenrolando o desenvolvimento histórico deste exame.Além desta visão de resgate histórico, este trabalho possui informações estatísticas que permitirão ao docente da química, reavaliar seu planejamento pedagógico, no sentido de verificar se seu plano de aula está em consonância com as principais diretrizes e premissas acadêmicas que estão inseridas no exame, e que diretamente refletem os anseios do MEC por um ensino focado nas Competências(1,4 e 8) e interdisciplinarmente relacionado ao cotidiano do aluno(5).

MATERIAL E MÉTODOS: O objetivo do Enem foi de avaliar a qualidade do ensino no Brasil, embora pesquisadores apontem falhas pedagógicas (7), onde o mesmo estaria demasiadamente focado nas ciências em detrimento das humanidades(2), outros apontavam seus viés comercial, sendo utilizado para ranquear escolas(3), assim como critério de recrutamento pelo mercado de trabalho(6).

Este estudo buscará focar sua contribuição ao ensino da química; portanto, os exames aplicados no período de 1998 a 2008 foram analisados, totalizando um total de 693 questões, onde 161 destas foram selecionadas e estudadas, estabelecendo-se quatro tipos de abordagem:

1-Participação da Disciplina de Química no Exame: selecionou-se ano a ano, as questões que eram específicas ou em sua grande parte relacionadas à disciplina de química.
2-Interdisciplinaridade da Disciplina de Química no Exame: selecionou-se ano a ano, as questões que tinham como foco o ensino das ciências da natureza. A partir de uma análise baseada nos ramos científicos que eram requeridos para a solução da questão, ou de seu tema interdisciplinar gerador, chegou-se a seis classificações: Meio Ambiente, Energia, Bioquímica, Fisicoquímica, Geoquímica, e Matemática-Química.
3-Formato Acadêmico de Apresentação das Questões Estudadas: as questões selecionadas foram separadas em quatro tipos de formato de apresentação, a saber: Figura, Gráfico, Tabela, e Equações/Fórmulas Químicas
4-Relacionamento das Questões Estudadas com as Competências: as questões selecionadas foram relacionadas com as cinco Competências solicitadas no Exame.

Os dados coletados foram inseridos em uma planilha Excel, onde realizou-se uma estatística absoluta e percentual dos mesmos, apresentando-se os resultados no formato de histogramas, gráficos tipo “pizza”, e tabelas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: 1-Participação da Disciplina de Química no Exame: das 693 questões estudadas apenas 25(3,6%)eram especificamente de química ( vide fig. I)
2-Interdisciplinaridade da Disciplina de Química no Exame: das 693 questões estudadas, 136 envolviam interdisciplinaridade com a química (19,6%). Nota-se portanto, nas 161 questões selecionadas, a forte tendência de apresentação interdisciplinar da química (84,4%). Dos resutados estatísticos observa-se que na média, praticamente 15 questões das 63 totais de cada exame, estavam vinculadas com a matéria de química e seus relacionamentos interdisciplinares (vide tabela II), o que significa dizer que 23% do exame contempla de alguma forma o conhecimento químico
Com relação aos temas interdisciplinares, obteve-se a seguinte distribuição:Meio Ambiente(37%),Energia(24%),Bioquímica(20%),Físico-Química(7%),Geoquímica(6%),e Matemática-Química(6%).
3-Formato Acadêmico: Das 161 questões estudadas pôde-se constatar que a maioria(56%) apresentavam apenas texto. Nas demais o tipo de complemento ilustrativo utilizado seguiu a seguinte distribuição:Figuras(35%),Gráficos(30%),Tabelas(24%), e Equações/Fómulas Químicas(11%).
4- Relacionamento com as Competências:Das 161 questões estudadas observa-se que a maioria estava vinculada à competência de Contruir Argumentação (45%), tendo as demais a seguinte distribuição: Elaborar Propostas (17%), Enfrentar Situação Problema (12%), Compreender Fenômenos(12%), e Domínio de Linguagens (8%).





CONCLUSÕES: Este estudo baseado nas provas do ENEM de 1998 a 2008, mostrou estatisticamente que a disciplina de química é fortemente abordada dentro de um contexto interdisciplinar, onde o saber químico está direta ou indiretamente presente em 23% do exame. Dos temas interdisciplinares ressaltam-se Meio Ambiente, Energia e Bioquímica, perfazendo 81% dos mesmos. No âmbito das Competências a mais solicitada foi de Construir Argumentação em 45% das questões estudadas. Enfim, nota-se que o Enem historicamente vem consolidando o ensino da Química forjado nas Competências e abordado interdisciplinarmente.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: 1- Dias, M. G. B.; O Desenvolvimento das Competências que nos Permite Conhecer - Textos Teóricos e Metodológicos, p.09 a 17, MEC, 2009

2- Franco, C.; Bonamino, A.; O ENEM no Contexto das Políticas para o Ensino Médio - Revista Química Nova Escola, nº 10, p. 27 a 31, Novembro de 1999

3- Lopes, A. C.: López, S.B.; A Performatividade nas Políticas de Currículo: O caso do ENEM - Educação em Revista, vol. 26, nº 01, p. 89 a 110, Abril de 2010

4- Macedo, L.; Competências e Habilidades: Elementos para uma Reflexão Pedagógica - Textos Teóricos e Metodológicos, p.49 a 69, MEC, 2009

5- Machado, N.J.; Interdisciplinaridade e Contextualização - Textos Teóricos e Metodológicos, p.31 a 48, MEC, 2009

6- Marini,A. L. C.; Caminhos Possíveis para uma Qualidade de Ensino - XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto (MG), 21 a 24 de Outubro de 2003

7- Travitzki, R.; ENEM: Rumo Certo ? - Revista Educação,nº 02, p. 50 a 53, ,Fevereiro de 2009

8- Zibas, D. M. L.; Refundar o Ensino Médio? Alguns Antecedentes e Atuais Desdobramentos das Políticas dos Anos 90 - Educação e Sociedade,vol. 26, nº 92, p. 1067 a 1086, Outubro de 2005