TÍTULO:ETIMOLOGIA: RECURSO TRANSDISCIPLINAR PARA UMA EDUCAÇÃO QUÍMICA MULTICULTURAL
AUTORES:PINHEIRO, M. F. - UFC/EMBRAPA
RESUMO:Apesar de já ter decorrido uma década do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, ocorrido em Portugal, em 1994, ainda são raras as propostas transdisciplinares na Educação Química, mesmo em cursos de licenciatura, onde a carta da transdisciplinaridade (BASARAB, 1999) e o próprio termo transdisciplinar são desconhecidos por muitos educadores e estudantes, apesar de discussões associadas ao tema em disciplinas como Didática ou Prática de Ensino, assim como comentários dos documentos oficiais da UFC (PONCIANO, 2002). Este artigo apresenta uma experiência docente na disciplina Química Inorgânica Descritiva ofertada a estudantes do curso de licenciatura em Química da Universidade Federal do Ceará, UFC, durante um período letivo.
PALAVRAS CHAVES:transdisciplinaridade, multiculturalismo, etimologia
INTRODUÇÃO:Um modelo equivocado de educação tem estimulado a aprendizagem em função apenas do raciocínio lógico, fundamento da Tecnologia, esquecendo-se dos outros aspectos necessários para a vida em sociedade. É indiscutível a necessidade de educar as pessoas para terem acesso à tecnologia, o grave problema do ensino nos últimos anos, contudo, foi a excessiva informação tecnológica e a deficiente formação humanitária dos educadores, para quem deveria ter a mesma importância a compreensão das reações químicas e das reações psicológicas de quem estuda reações químicas, conhecimento impossível se não for vivenciado com afetividade. \"É preciso, por outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática educativa vivida com afetividade e alegria prescinda da formação científica séria e da clareza política dos educadores ou educadoras\" (FREIRE, 1999). Com o objetivo de estimular o envolvimento dos estudantes na aprendizagem de Química Inorgânica Descritiva, disciplina comumente considerada entediante, em virtude de seu conteúdo peculiar, praticamente ausente de cálculo, foram introduzidos no conteúdo explanações etimológicas sobre os elementos químicos.
MATERIAL E MÉTODOS:As técnicas de pesquisa qualitativa foram exploradas por intermédio de observação participante (MINAYO, 1994), característica da função de professor responsável pela disciplina, além do uso do questionário como instrumento de coleta de dados. Este se constituiu de perguntas com duas respostas, uma afirmativa e outra negativa, sendo que o principal era o espaço disponível em cada pergunta para comentários, sugestões e justificativa da resposta, podendo ser caracterizado por um questionário de perguntas mistas (fechadas e abertas). Das 34 pessoas que concluíram a disciplina, todas estudantes de licenciatura do curso noturno, algumas já trabalhando como professores de Química, 16 livremente se dispuseram a responder às perguntas do questionário, sendo que nem todas justificaram suas respostas no espaço apropriado para esse fim, ao final de cada pergunta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:Foi unânime a opinião de que essa abordagem etimológica na descrição dos elementos estimula o interesse no assunto, questionada na primeira pergunta do questionário, apesar de comentários como: “É importante, sim, mas não é essas coisas todas de importante!” ou “Desde que não tome muito tempo da aula, é importante sabermos a origem das coisas”. Em outra pergunta, novamente todas as pessoas questionadas responderam afirmativamente à pergunta se os livros deveriam incluir etimologia na apresentação de conceitos, todas as 16 respostas afirmaram essa necessidade, incluindo comentários do tipo: “Ajudaria a conhecer melhor o proposto e incentivar o gosto pelo conhecimento” ou “Assim, uma pessoa não tão sábia, ou que não tem um orientador, pode tirar suas dúvidas”. A terceira questão especificou se a origem da palavra facilita a compreensão do seu significado. A resposta foi quase unânime, somente uma pessoa marcou resposta negativa e não justificou, todos as outras quinze, 93,8% do total, confirmaram a hipótese da pergunta. Dentre os que justificaram sua resposta, foi escrita a seguinte frase: “Pois podemos fazer uma ligação entre o elemento e a sua função”.
CONCLUSÕES:Além de corroborar a hipótese verificada, os resultados obtidos pelo questionário, incluindo depoimentos muito pessoais nas justificativas das respostas, demonstram que as supostas fronteiras entre os conhecimentos devem ser aos poucos desmascaradas, para que a Química não fique dissociada da Cultura. É necessário “unir as fronteiras artificiais entre, digamos, política e educação, entre currículo e ensino de um lado e questões de poder cultural, político e econômico de outro. Essas fronteiras, como diria Pierre Bordieu, são puros produtos de reprodução acadêmica” (SILVA, MOREIRA, 1999).
AGRADECIMENTOS:Aos licenciandos em Química da UFC, por disponibilizarem seu tempo e responder às perguntas e à professora Rejane Martins, por suas sugestões ao questionário
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA:BASARAB, Nicolescu. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: TRIOM, 1999.
PONCIANO, Ilvis. A transdisciplinaridade na construção do projeto pedagógico da Universidade Federal do Ceará – UFC. Série Acadêmica, Fortaleza, n. 6, p. 33-35, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. (Leitura).
MINAYO, Cecília de S. (Org.). Pesquisa Social: teoria método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.
SILVA, T. T.; MOREIRA, A. F. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1999.