11º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Tereseina/PI, de 11 a 13 de Setembro de 2019.
ISBN 978-85-85905-26-2

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS ÓLEOS ARTESANAIS DE BABAÇU (Orbignya Phalerata Martius) COMERCIALIZADOS NO MERCADO DAS TULHAS NA CIDADE DE SÃO LUÍS-MA.

AUTORES: Rosário, M.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Pereira, F.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Silva, A.C.L.N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Moreira, E.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Silva, I.G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO)

RESUMO: Os alimentos obtidos por processos artesanais muitas vezes são condenados à informalidade por não passarem por uma inspeção sanitária ou registro em órgão público. O presente trabalho teve por objetivo a caracterização físico- química dos óleos artesanais do coco babaçu (Orbignya phalerata), adquiridos no mercado das Tulhas, São Luís-MA. As análises físico-químicas foram realizadas empregando as Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Os resultados encontrados foram: índice de acidez de 0,40-1,50%; índice de saponificação Koettstorfer de 230-245 mg KOH/g; umidade de 0,020-0,060%; determinação de resíduo por incineração (cinzas) de 0,90-1,30%; índice de refração de 1,440- 1,45 a 40°C; e índice de peróxido de 1,90-16,00 meq/kg.

PALAVRAS CHAVES: Controle de qualidade; Óleo de babaçu; Alimentos artesanais

INTRODUÇÃO: A área total de ocorrência do babaçu no Brasil é estimada em 18,4 milhões de hectares. É encontrado nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste do país, com maior ocorrência na primeira, que detém a maior produção de amêndoas e a maior área ocupada com babaçuais (como são chamadas as florestas desta espécie) (COSTA et al., 2015). As gorduras e os óleos fixos são obtidos de plantas ou de animais. Sua principal função é armazenarem nutrientes (energia). Os óleos fixos e as gorduras são produtos importantes, usados com fins farmacológicos, industriais e nutricionais. O óleo de babaçu (O. phalerata) bruto possui coloração amarela, quando refinado passa ser visualmente mais claro. Contém um nível elevado de ácidos graxos saturados de cadeia média, como exemplo o ácido láurico, sendo o mais abundante (SANTOS et al., 2016). Quimicamente os óleos fixos são compostos predominantemente por triacilgliceróis, que têm ácidos graxos diferentes ou idênticos, esterificados nas três posições hidroxila da molécula de glicerol. O nome ácido graxo designa qualquer um dos ácidos monocarboxílicos ou dicarboxílicos que podem ser liberados por hidrólise de gorduras e óleos naturais (COSTA et al., 2015). O produto artesanal em sua maioria é fabricado por familiares que não consideram e também muitas vezes desconhecem as exigências da legislação sanitária e de técnicas adequadas, fazendo uso de utensílios mal higienizados, práticas incorretas de higiene pessoal e de matéria-prima de fontes não seguras (DUARTE et al., 2005). A ausência de normas específicas para o controle de qualidade do óleo de babaçu da espécie Orbignya phalerata dá margem a adulterações deste produto, pois sua autenticidade não pode ser verificada pelos órgãos competentes (COSTA et al., 2015).

MATERIAL E MÉTODOS: Delimitação da área de estudo: três amostras de óleos artesanais de babaçu (O. phalerata), nomeadas de amostras A, B e C, foram adquiridas no Mercado das Tulhas, localizado na Praia Grande - Centro, São Luís - MA. Análises Físico-químicas: realizou-se com repetições em triplicata (n=3), de acordo com as Normas do Instituto Adolfo Lutz (2008) aplicáveis a óleos e gorduras. Índice de acidez: pesou-se 1,0 g da amostra, adicionou-se 12,5 mL de solução de éter-álcool (2:1) neutra. Adicionou-se duas gotas do indicador fenolftaleína. Titulou-se com solução de NaOH 0,1N até o aparecimento da coloração rósea. Índice de saponificação Koettstorfer: pesou-se 2 g da amostra, adicionou-se 20 mL de solução alcoólica de KOH a 4%, adaptando-se um refluxo, aquecendo- se a 60°C durante 30 minutos, então adicionou-se gotas de fenolftaleína a 1% e titulou-se com solução de HCl 0,5N (SANTOS, 2016). Umidade: pesou-se 5,0 g de óleo em uma cápsula de porcelana, levando-se a amostra à estufa a 105°C durante 1 hora, então, retirando-a e resfriando-a em dessecador, repetiu-se até peso constante. Determinação de resíduo por incineração (cinzas): obtido à 550°C em mufla, pesando-se 2,0 g da amostra no cadinho e levando-a à mufla e resfriando-se e pesando-se até peso constante. Índice de refração: obtido à temperatura ambiente e com posterior conversão à temperatura de 40°C utilizando-se refratômetro de Abbé com escala-padrão. Determinação do índice de peróxido: pesou-se 5,0 g da amostra, adicionou-se 30 mL de ácido acético-clorofórmio (3:2) e agitou-se. Adicionou-se 0,5 mL da solução saturada de KI e 30 mL de água e titulou-a com solução de tiossulfato de sódio 0,1N. Adicionou-se 0,5 mL de solução de amido indicadora e continuou-se até mudança de coloração.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados das análises físico-químicas são apresentados na Tabela 1. Para índice de acidez, as amostras estão conforme a ANVISA, que regulamenta o limite para acidez dos óleos bruto de 5,0 % segundo a norma n° 482 da Resolução de Diretoria Colegiada. Os resultados com óleos de babaçu de Costa et al. (2015) estavam conforme os padrões ANVISA, no intervalo 1,57-4,71%. Todas as amostras obtiveram índice de saponificação abaixo do que é estabelecido pela norma anterior, que adota como padrão o intervalo 245-256 mg KOH/g óleo. Costa et al. (2015) também encontrou valores abaixo do regulamentado nos óleos de babaçu, entre 203,13-214,60 mg KOH/g. Nos resultados do teste de umidade todas as amostras estão dentro do estabelecido pela Codex Alimentarius (0,2 %) e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (0,1 %). Moreira (2017) em suas amostras de óleo babaçu encontrou um resultado baixo para o teste. Os valores obtidos para determinação de resíduo por incineração compreendem valores < 1,5% em matéria mineral. Órgãos nacionais e internacionais não estabeleceram normas para tal parâmetro, mas está entre os resultados encontrados por Costa et al. (2015) em suas amostras de óleo de babaçu. Quanto ao índice de refração somente a amostra A (1,449) estava dentro dos padrões da ANVISA que tem como norma a 40°C para o óleo de babaçu o intervalo 1,448-1,451. Santos et al. (2016) comprovou que suas amostras de óleo de babaçu estavam dentro desse limite, no intervalo 1,4488 a 1,4501. Quanto ao índice de peróxido somente a amostra B (15,90 meq/kg) apresentou- se acima dos limites estabelecidos pela ANVISA, sendo o limite para peróxidos de 15 meq/kg segundo a RDC nº 270. Lima (2017) obteve 2% de reprovações em suas amostras de óleo de babaçu.

Tabela 1 - Resultados das análises físico-químicas das amostras



CONCLUSÕES: Com relação à caracterização físico-química dos óleos todas as amostras apresentaram resultados positivos para o índice de acidez e umidade, estando dentro das normas da ANVISA. Quanto ao índice de saponificação os dados mostram que há baixa presença de grupos carboxílicos nas amostras. No índice de refração somente amostra A estava dentro dos padrões e no índice de peróxido somente a amostra B. Na determinação de resíduos por incineração obtiveram valores de acordo com Costa et al, 2015.

AGRADECIMENTOS: À Deus, aos laboratórios de química e Macromoléculas e Produtos Naturais da UEMA, à Profa. Dra. Ilna Gomes da Silva, a nossos amigos e ao GEPEQUIMA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANVISA. RESOLUÇÃO-RDC Nº 270, DE 22 DE SETEMBRO DE 2005. Disponível em: www.bvsms.saude.gov.br. Acesso em: 24 de julho de 2019.

BRASIL, Anvisa-Agência Nacional de Vigilância Sanitária, RESOLUÇÃO RDC Nº 482, DE 23 DE SETEMBRO DE 1999, Disponível em: www.anvisa.gov.br. Acesso em: 23 de Julho de 2019.

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DUARTE, D. A. M.; SCHUCH, D. M. T.; SANTOS, S. B.; RIBEIRO A. R. PESQUISA DE LISTERIA MONOCYTOGENES E MICRORGANISMOS INDICADORES DE HIGIÊNICO-SANITÁRIOS EM QUEIJO DE COALHO PRODUZIDO E COMERCIALIZADO NO ESTADO DE PERNAMBUCO. Arquivos do Instituto Biológico, Vol. 72, N. 3, P. 297-302, 2005.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. NORMAS ANALÍTICAS DO INSTITUTO ADOLFO LUTZ: MÉTODOS FÍSICOS E QUÍMICOS DE ANÁLISES DE ALIMENTOS. 4 ed. São Paulo: IAL, Vol. 1, 2008.

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