Realizado em Tereseina/PI, de 11 a 13 de Setembro de 2019.
ISBN 978-85-85905-26-2
TÍTULO: Avaliação da atividade antileishmania de extratos de Magonia pubescens incorporados em biofilmes obtidos a partir de mesocarpo de babaçu/carboximetilcelulose
AUTORES: Sousa, A.A.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Rego, V.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Nascimento, T.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Baima, S.C.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Souza, A.D.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Rocha, J.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO) ; Leal, A.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO)
RESUMO: Este estudo teve como objetivo a obtenção de filmes obtidos a partir de
extratos de Magonia pubescens, e polímeros naturais (carboximetilcelulose -
CMC ou mesocarpo do babaçu - MB). Os filmes foram preparados na proporção
50:50 CMC:MB pela técnica de casting, e avaliada a atividade antileishmania
e viabilidade celular in vitro. Os resultados demonstraram que o extrato
obtido por solução alcoólica 60% por um período de 24 horas (MA6024),
apresentou maior efeito tóxico ao crescimento das formas promastigotas de
Leishmania major (IC50 11,043 ug.mL-1). Os biofilmes com extratos de M.
pubescens incorporados inibiram 82,5 % (MA6024), 80,47 (MA7036) e 93,0 %
(ME6048). Estes filmes funcionaram como plataforma de liberação do extrato,
exibindo baixa citotoxicidade para células normais.
PALAVRAS CHAVES: Biopolímeros; Filmes; Dispositivo de Liberação
INTRODUÇÃO: O amido é um polímero natural que desperta o interesse no desenvolvimento de
biomateriais, por sua abundância e capacidade de formar filmes. Pode ser
extraído de diversas fontes, como milho, mandioca, arroz. O mesocarpo de
babaçu (Orbignya sp.), que é um subproduto/resíduo proveniente da extração
do óleo das amêndoas do coco de babaçu, pode ser uma alternativa barata e
regional na obtenção de amido. Devido à composição rica em amido, em torno
de 63,75 % a 71,29% (MIOTTO et al., 2013), o mesocarpo de babaçu se
apresenta como um material promissor na produção de filmes biodegradáveis.
Os filmes biodegradáveis podem ser formulados e funcionar como dispositivos
de liberação de compostos bioativos, sendo estes sintéticos ou naturais. Os
princípios ativos podem ser extraídos do metabolismo secundário das plantas,
como os taninos por exemplo. Estudos com o extrato bruto da casca do caule
de Magonia pubescens evidenciaram a relação de compostos tânicos com efeito
larvicida e toxicológico sobre as larvas dos mosquitos Aedes aegypti (SILVA
et al., 2004), e do Aedes albopictus (GUIMARÃES et al., 2001), e ação
leishmanicida (MENDES, 2006). Deste modo, este trabalho teve o objetivo de
avaliar a atividade antileishmania do biomaterial (filme) obtido usando
mesocarpo de babaçu/carboximetilcelulose com incorporação de extratos do
caule de M. pubescens.
MATERIAL E MÉTODOS: As cascas do caule de M. pubescens A. St. Hil foram coletadas no povoado
Santo Antônio, zona rural do munícipio de Água Branca-PI. Uma exsicata foi
identificada pela Profa. Dra. Roseli Farias Melo Barros, do departamento de
Biologia-UFPI, e encontra-se depositada sob o número TEPB 30373 no Herbário
Graziela Barroso – TEB/UFPI.
O extrato hidroalcoólico foi preparado pelo método de maceração na proporção
de 20% (p/v) (BRASIL, 2010).
Os biomateriais foram obtidos a partir da mistura física dos polímeros, com
adição de plastificantes pela técnica de casting. Foram usados 2g de
CMCNa/Mesocarpo de babaçu para obtenção de uma solução filmogênica com
posterior incorporação do extrato a 10 % (m/m). Em seguida, 40 g da solução
foi vertida em placa de Petri e colocada em estufa a 37 ºC para evaporação
do solvente.
Foram realizados os testes de inibição das formas promastigotas de
Leishmania major, viabilidade de macrófagos e hemólise seguindo protocolos
patronizados no Laboratório de Leishmania do Núcleo de Pesquisas em Plantas
Medicinais (NPPM/UFPI).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Figura 1a pode-se observar que o extrato obtido por solução alcoólica 60%
por um período de 24 horas (MA6024) apresentou IC50 = 11,043 ug.mL-1, sugerindo
maior efeito tóxico ao crescimento das formas promastigotas de Leishmania
major. Quanto aos biofilmes (Fig.1e), o que contem ácido tânico incorporado
inibiu 100 % o crescimento das formas promastigotas e os filmes contendo
extrato inibiram 82,5% (MA6024), 80,47% (MA7036) e 93,0% (ME6048), porém
esses dados não apresentaram diferenças significativas entre si.
Dentre os extratos de M. pubescens, a Figura 2b mostra que o extrato obtido a
partir de álcool 70 por um período de extração de 36 horas (MA7036) foi menos
citotóxico com CC50 = 376,801 ug.mL-1, e o ácido tânico (Fig.2d) apresentou
menor CC50, com valor igual a 61,812 ug.mL-1 indicando ser mais citotóxico em
comparação aos extratos de Magonia pubescens. O índice de seletividade
representa a relação entre CC50 e IC50 e avalia a segurança dos produtos na
utilização contra leishmaniose. Dentre as amostras analisadas o extrato MA6024
apresentou maior índice de seletividade, equivalente a 14,45, sendo considerado
mais segurado no tratamento de leishmaniose.
O teste de viabilidade celular para os biofilmes foi realizado em
concentração única, 5 mg.mL-1 de ativo incorporado no filme. Ou seja, a
concentração do ativo no filme é 6,25 vezes maior em relação a maior
concentração das soluções testadas dos extratos e ácido tânico (800 ug.mL-
1). Assim, pode-se observar que o efeito citotóxico dos biofilmes sobre a
viabilidade dos macrófagos é menor e por isso mais indicados para uso
biomédico do que as soluções. Os resultados confirmaram baixa toxicidade das
amostras para membrana de eritrócito nos modelos utilizados.
Figura 1
Percentual de inibição de crescimento das formas
promastigotas de Leishmania major: (a) MA6024; (b)
MA7036;(c) ME6048; (d) Ácido tânico;(e) Biofilmes.
Figura 2
Viabilidade celular de macrófagos sobre efeitos de
concentrações de:(a) MA6024; (b) MA7036;(c) ME6048;
(d) Ácido tânico;(e) Biofilmes.
CONCLUSÕES: Este estudo representa uma evidencia de uso do mesocarpo de babaçu com boa
compatibilidade em mistura com carboximetilcelulose para obtenção de
biomateriais. Os filmes funcionaram como plataforma de liberação do extrato,
exibindo baixa citotoxicidade para células normais. No entanto, mostrou
efeitos tóxicos inibindo o crescimento de formas promastigotas de Leishmania
major. O desempenho do biofilme e o comportamento do extrato liberado foram
melhorados, indicando que o filme de mesocarpo de babaçu e
carboximetilcelulose pode ser um candidato promissor para sistemas de
liberação de droga.
AGRADECIMENTOS: Ao Prof. Dr. Fernando Aécio pelos testes realizados no Laboratório de
Leishmania (NPPM/UFPI).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL. Farmacopeia Brasileira, 5 ed. (Volume 1). Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2010. 546p.
GUIMARÃES, V. P.; SILVA, I. G.; SILVA, H. H. G.; ROCHA, C. Atividade larvicida do extrato bruto etanólico da casca do caule de Magonia pubescens St. Hil. Sobre Aedes albopictus (Skuse, 1894) (Diptera, Culicidae). Revista de Patologia Tropical, v. 30, n. 2, p. 243-249, 2001.
MENDES, M. J. Ação leishmanicida de extratos de plantas no desenvolvimento de promastigotas de Leishmania amazonensis e estudo do perfil metabólico utilizando a técnica de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). 2006, 88p. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
MIOTTO, F.R.C.; RESTLE, J.; NEIVA, J.N.; CASTRO, N.; SOUSA, L.F.; DA SILVA, R., DE FREITAS, B., LEÃO, J. Replacement of corn by babassu mesocarp bran in diets for feedlot young Bulls. Rev. Bras. Zootecn., v.42, n.3, p. 213-219, 2013.
SILVA, H. H. G.; SILVA, I. G.; SANTOS, R. M. G.; RODRIGUES FILHO, E.; ELIAS, C. N. Atividade larvicida de taninos isolados de Magonia pubescens St. Hil. (Sapindaceae) sobre Aedes aegypti (Diptera, Culicidae). Rev. da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 37, n. 5, p. 396-399, set-out, 2004.