Realizado em Goiânia/GO, de 04 a 06 de Setembro de 2017.
ISBN: 978-85-85905-20-0
TÍTULO: Remoção de bisfenol-A em meio aquoso utilizando carvão ativado produzido a partir da borra de café
AUTORES: Fonseca Alves, A.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Scalize, P.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Botelho de Oliveira, S. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS)
RESUMO: O Bisfenol-A (BPA) é um poluente emergente que pode estar presente em águas
de mananciais, sendo o carvão ativado uma alternativa empregada para sua
remoção. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é avaliar a adsorção de BPA
em água a partir de carvão ativado produzido da borra de café (CABC),
impregnada com ZnCl2 e ativada a 500°C por 2 h. As estruturas
orgânicas do CABC foram analisadas por infravermelho com transformada de
Fourier e o grupo estrutural evidenciado foi C=C. O ensaio de adsorção
apresentou uma remoção de 90% do BPA. Dos modelos de isotermas de adsorção
aplicados o Freundlich foi o que proporcionou um melhor ajuste. A cinética
de adsorção seguiu um modelo de pseudo-ordem fracionária entre ordem 1 e 2,
porém mais próxima do modelo de ordem 2.
PALAVRAS CHAVES: Carvão ativado; Borra de café; BPA
INTRODUÇÃO: O bisfenol-A (BPA) é um produto químico empregado em processos industriais
para produção de polímeros e resinas, estabilizantes de plástico e
revestimento interno de latas de alumínio, sendo portanto encontrado
nos efluentes industriais e domésticos.
O BPA é um poluente orgânico persistente (POP) classificado como
interferente endócrino, (GHISELLI e JARDIM, 2007), pelas organizações de
saúde como UKEA (Agência Ambiental do Reino Unido), USEPA (Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos), JEA (Agência Ambiental do Japão) e
WWF (Organização não Governamental).
Assim como outros POP, o BPA não é removido nos sistemas convencionais de
tratamento de águas, sendo necessária a aplicação de um tratamento
específico. O carvão ativado é uma das tecnologias de remoção estudadas
por diversos autores, apresentando resultados satisfatórios na sua remoção
(KODURU et al., 2016; YAN et al., 2016).
Apesar de ser um método eficiente no controle de poluentes na água, o
carvão ativado comercial apresenta custo elevado. Nesse contexto, matérias-
primas alternativas para sua produção vêm sendo estudadas e propostas, tais
como resíduos agroindustriais (TAN, AHMAD e HAMEED, 2008; SUDHAKAR, MALL e
SRIVASTAVA, 2015), destacando-se a borra de café (CASTRO et al., 2011;
BOUCHEBAFA-SAIB et al., 2014), gerada após o preparo da bebida e com grande
disponibilidade, sendo que o Brasil é o segundo maior consumidor de café no
mundo (ABIC, 2017).
Diante da problemática do tratamento dos POP, o objetivo deste trabalho foi
avaliar o processo de adsorção de BPA em meio aquoso, utilizando como
adsorvente o carvão ativado produzido a partir da borra de café, como
matéria-prima alternativa para tecnologias de tratamento por adsorção.
MATERIAL E MÉTODOS: A borra de café foi impregnada com ZnCl2 na proporção 1:2,
dissolvendo 10 g de ZnCl2 em 60 mL de água ultrapura e colocado
em contato com 20 g de borra de café. A mistura foi submetida a 85ºC por 7 h
em estufa para incorporação do agente ativante e em seguida a 105ºC, por 24
horas (BOUDRAHEM, SOUALAH e AISSANI-BENISSAD, 2011). Após resfriado, 4 g do
material foi ativado em forno tubular de quartzo com aquecimento de 10°C/min
até 500°C, mantendo por 2 h sob fluxo de N2 (100 mL/min). O
carvão ativado da borra de café (CABC) produzido foi lavado com HCl 0,1
mol/L, para remoção do agente ativante e com água ultrapura a 85ºC e a 25ºC,
para desobstrução dos poros, até pH próximo da neutralidade e submetido em
estufa por 24 h a 105ºC. As estruturas orgânicas da superfície do CABC foram
analisadas por infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) em um
espectrômetro da marca Perkin Elmer, modelo Spectrum 400, varredura na faixa
de 400 a 4000 cm-1, resolução de 4 cm-1 e 32 scans.
Para o ensaio de adsorção, 24 mg de CABC foi colocado em contato com 100 mL
de bisfenol-A (Sigma-Aldrich 97%), nas concentrações de 10, 15, 20 e 25 mg/L
mantidas sob agitação por 34 h em shaker orbital modelo SI-300R da marca Lab
Companion, rotação de 200 rpm e temperatura ambiente (25ºC), com amostragem
da solução em 0, 1, 2, 6, 8, 12, 24, 32 e 34 h. A leitura da concentração
remanescente foi realizada em espectrofotômetro modelo DR6000 UV/VIS da
marca HACH, no comprimento de onda de 225 nm. Para determinar a natureza do
processo de adsorção do CABC aplicou-se os modelos de isotermas de Lagmuir e
Freundlich. A cinética de adsorção de BPA foi estudada a partir dos modelos
de pseudo-primeira ordem, pseudo-segunda ordem e difusão intrapartícula.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os espectros FTIR do CABC foram interpretados segundo Silverstein et
al. (2013). Observou-se bandas em 3388 cm-1, atribuída às
vibrações de estiramento O-H devido à adsorção de água e, de 1568
cm-1, referente à ligação de C=C de anéis grafenizados não
completamente oxidados.
As isotermas de adsorção indicam a distribuição do adsorvato na fase de
equilíbrio, sendo os modelos de Langmuir (adsorção homogênea em uma única
camada) e Freundlich (adsorção heterogênea em várias camadas) são os mais
utilizados (DOGAN et al., 2008).
A Tabela 1 mostra os parâmetros obtidos das isotermas estudadas. O modelo de
Freundlich gerou um fator de correlação linear (R²) de 0,892, e o de
Langmuir, (R²) de 0,649, evidenciando que o modelo de Freundlich proporciona
um melhor ajuste para explicar a adsorção de BPA, sugerindo que o CABC
possui superfície heterogênea, com adsorção em várias camadas.
A cinética de adsorção de BPA avaliou a influência do tempo de contato na
sua remoção por 34 h. O equilíbrio ocorreu dentro de 24 h e ao final do
ensaio a remoção foi de cerca de 90%. Na Tabela 2 são apresentados os
parâmetros calculados, segundo os modelos de pseudo-primeira ordem e de
pseudo-segunda ordem.
Os valores de qe experimentais ficaram próximos dos calculados
tanto no modelo de ordem 1 quando no de ordem 2. Os fatores de correlação
médio dos modelos de pseudo-primeira ordem (R² = 0,9855) e pseudo-segunda
ordem (R² = 0,9918) também indicaram ajustes próximos, indicando que a
adsorção de BPA segue um modelo de pseudo-ordem fracionária, entre ordem 1 e
ordem 2, porém mais próximo de ordem 2. Ao analisar o mecanismo de difusão
intrapartícula, os R² foram baixos, indicando que o processo de difusão não
é apenas intrapartícula.
Tabela 1
Parâmetros das isotermas de adsorção de BPA pelo
CABC.
Tabela 2
Parâmetros cinética de adsorção de BPA.
CONCLUSÕES: O presente trabalho permitiu concluir que o CABC removeu cerca de 90% do BPA
em meio aquoso, ao final do ensaio de 34 h, atingindo o equilíbrio dentro de
24 h. Os dados da isoterma apresentaram melhor correlação com o modelo de
Freundlich e o estudo cinético indicou que o processo de adsorção obedeceu a
um modelo de pseudo-ordem fracionária, entre ordem 1 e 2, mas apresentando-se
mais próximo de ordem 2 devido aos melhores valores de R² gerados. Dessa
forma, o CABC pode ser uma alternativa de uso promissor para se aplicar em
processos de remoção de poluente emergente presente em água.
AGRADECIMENTOS: A FAPEG pela bolsa de mestrado concedida, ao IFG e UFG pela disponibilidade
dos Laboratórios de Análise de Água e de Química para realizar esta pesquisa.
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