Realizado em Goiânia/GO, de 04 a 06 de Setembro de 2017.
ISBN: 978-85-85905-20-0
TÍTULO: Processo de tratamento de água de reuso em uma empresa de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia – Estudo de caso
AUTORES: Hoffmann, G.C. (IFG - CAMPUS GOIÂNIA) ; Olivieira, S.B. (IFG - CAMPUS GOIÂNIA)
RESUMO: A escassez de recurso hídrico ofertado pelas concessionárias responsáveis
pelo abastecimento público vem despertando nas empresas a necessidade de
criar alternativas para reduzir o consumo de água potável e buscar
mecanismos para o reuso da água, especialmente para fins não potáveis. Neste
contexto, este estudo analisa a eficiência do tratamento da água empregada
na lavagem dos ônibus que fazem o transporte de passageiros em uma empresa
de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia através dos
parâmetros: Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de
Oxigênio (DQO), óleos e graxas totais, sólidos sedimentáveis, Potencial
Hidrogeniônico (pH) e sulfeto. E conclui que são necessários ajustes e
implementação de novas tecnologias para melhorar a eficiência do processo.
PALAVRAS CHAVES: Reuso de água; Reciclagem; Tratamento de efluente
INTRODUÇÃO: A importância da água para a humanidade vem sendo exaustivamente tratada,
pois se sabe que sem água não há vida. Nos grandes centros do Brasil, devido
à abundância do recurso, o tema não era prioritário até que, em 2015, houve
uma grave crise hídrica noticiada amplamente.
De acordo com a UNESCO (2015), há no mundo água suficiente, e a crise global
do recurso seria de governança, mais do que de disponibilidade. Neste
contexto, o papel das empresas - responsáveis pelo uso de cerca de 20% da
água potável empregada - ganha cada vez mais importância.
O gasto de água para a lavagem dos ônibus pode ser reduzido com a adoção de
medidas como sistemas de reuso e aproveitamento de água da chuva. As
estatísticas indicam que mais de 60% das garagens no país utilizam água
potável, sendo que seu principal uso ocorre na lavagem de veículos,
atividade que não requer padrão sequer próximo à potabilidade. Assim,
possivelmente uma quantia expressiva de água indispensável para o consumo
humano é empregada para outro fim (CNT, 2017).
Procedimentos físicos, químicos e biológicos são aplicados para que a água
seja adequada ao consumo. Diversas tecnologias podem ser combinadas em uma
estação de tratamento de efluente, visando atender as demandas de acordo com
o nível de complexidade e os recursos disponíveis. A escolha do processo de
tratamento de água residuária é fundamental para o sucesso do
empreendimento. Por isso, ela deve ser criteriosa e fundamentada na
caracterização do efluente a ser tratado, no conhecimento técnico e nas
necessidades de qualidade da aplicação do reuso. (MORELLI, 2005).
Diante desse cenário este trabalho teve o objetivo de avaliar parâmetros do
tratamento de água utilizada para lavagem de ônibus em uma empresa de
transporte coletivo na região metropolitana de Goiânia.
MATERIAL E MÉTODOS: A presente pesquisa realizou, inicialmente, o levantamento bibliográfico
para entender a problemática do reuso de água e identificar os parâmetros
que refletem a qualidade de um tratamento de efluente, especialmente em
garagens de veículos de transporte de passageiros. Em seguida, verificou-se
junto à empresa alvo deste estudo de caso - que possui um sistema de
tratamento para reuso da água da lavagem dos ônibus e atualmente opera 139
linhas com 373 ônibus, lavados diariamente em período chuvoso e semanalmente
em período de seca utilizando, aproximadamente, 300 litros de água para a
lavagem de cada veículo, o que representa 112 m3 diários na estação chuvosa
- quais parâmetros eram monitorados buscando-se os que se mostrassem
significativos para avaliação da efetividade do tratamento realizado,
considerando os processos existentes no sistema de tratamento de água
residuária implantado.
O sistema possui um separador de água e óleo (SAO), responsável pela
retenção de sólidos sedimentáveis e óleos emulsionados que são arrastados
pela água durante a lavagem. Após a SAO, o efluente é direcionado para os
biofiltros aerados submersos (BIO), ligado em série com o flotador de ar
dissolvido (FAD). Na etapa dos biofiltros há remoção da matéria orgânica
solúvel, o FAD remove sólidos suspensos e coloidais e a água é armazenada
para lavagem dos carros.
Foram analisados, então, os parâmetros: Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO), Demanda Química de Oxigênio (DQO), óleos e graxas totais, sólidos
sedimentáveis, Potencial Hidrogeniônico (pH) e sulfeto, coletados em três
pontos do sistema: na entrada e na saída da SAO e no reservatório do lava
jato, ou seja após todo o tratamento. Os resultados encontrados nas etapas
operacionais foram analisados e confrontados com a literatura científica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com os dados selecionados fez-se uma análise dos resultados obtidos nos três
pontos de coleta. Como pode se observar na Figura 1, calculou-se que a
eficiência do sistema na retirada de DBO foi de 31,21% e de DQO de 8,4%, que
embora estejam dentro dos parâmetros definidos pela legislação estadual de
Goiás (Decreto nº1.745/79), demonstram uma baixa eficiência do tratamento,
dando indício que o tratamento biológico está sendo prejudicado pelo efeito
tóxico dos óleos e graxas sobre os microrganismos presentes, sendo
necessário a escolha de microrganismos mais resistentes, ou seja, inoculação
de cepas artificialmente cultivadas, e/ou maior tempo de retenção na fase
biológica, já que os tratamentos biológicos são os mais adequados para
redução de carga orgânica.
A caixa separadora de água e óleo* (SAO) se mostrou eficiente para retirada
de óleos e graxas reduzindo 96,58%. A SAO cumpriu seu papel também na
retirada de sólidos sedimentáveis, reduzindo-o em 80%, embora ao final do
tratamento a quantidade tenha aumentado, fato que pode ser justificado pela
transformação de sólidos solúveis em sólidos sedimentáveis, que são
arrastados no final do tratamento.
O pH se manteve de levemente ácido à neutro durante o tratamento, como visto
na Figura 3, possibilitando a manutenção de um tratamento estável,
especialmente para a flotação e para o tratamento biológico que exigem pH
próximo ao neutro (CETESB, 2009). Ressaltando que no flotador de ar
dissolvido há dispositivo de controle do pH, com dosagem de agente
alcalinizante.
A concentração de sulfeto se manteve baixa e constante durante o processo
(ver Figura 4), ou seja, dentro do limite de detecção do equipamento de
análise desse parâmetro, indicando que tratamento biológico aerado inibe a
ação de bactérias redutoras de sulfato.
Figuras 1 e 2
Figura 1 - Parâmetros do tratamento para reuso
da água: DBO, DQO; Figura 2 - Parâmetros do
tratamento para reuso da água: óleos e graxas e
sulfeto
Figuras 3 e 4
Figura 3 - Parâmetros do tratamento para reuso da
água: pH; Figura 4 - Parâmetros do tratamento para
reuso da água: sólidos sedimentáveis
CONCLUSÕES: Percebe-se que o tratamento em operação necessita de ajustes para melhor
eficiência. A caixa separadora de água e óleo e o sistema de aeração do
biofiltro reduzem óleos e graxas, sólidos sedimentáveis e mantém baixa a
concentração de sulfeto. As demais operações não deram resultados
satisfatórios. Conclui-se que o sistema precisa de inoculação de cepas
artificialmente cultivadas, resistentes aos contaminantes químicos do óleo
dissolvido, e/ou maior tempo de retenção hidráulica na fase biológica e adição
de um coadjuvante de floculação que consiga agregar melhor a matéria orgânica
no flotador.
AGRADECIMENTOS: Agradeço a HP Transportes pelo fornecimento dos dados e ao Gerente de SMS da
empresa, Cristiano Silva Leão, pelo auxílio nas atividades e apoio técnico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CETESB COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Qualidade das águas interiores no Estado de São Paulo. Apêndice A: significado ambiental e sanitário das variáveis de qualidade das águas e dos sedimentos e metodologias analíticas e de amostragem. São Paulo, 2009. 43p.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE - CNT. Sondagem CNT de gestão hídrica: transporte rodoviário coletivo de passageiros 2017. – Brasília: CNT, 2017. 88 p.
MORELLI, E. B. Reuso de água na lavagem de veículos. Escola politécnica da Universidade de São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3147/tde-29072005-140604/pt-br.php>. Acesso em: 03, ago. 2017.
UNESCO. United Nations World Water Assessment Programme. The United Nations World Water Development Report 2015: Water for a Sustainable World. Paris, 2015. 122 p.