10º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Goiânia/GO, de 04 a 06 de Setembro de 2017.
ISBN: 978-85-85905-20-0

TÍTULO: Caracterização da Biomassa Amazônica Ouriço de Castanha-do-Brasil para Desenvolvimento de Novos Produtos a partir de Carbonização Hidrotérmica

AUTORES: de Araújo Chaves, A.P. (UNB) ; Pacheco Antero, R.V. (UNB) ; Silva Brum, S. (UNB)

RESUMO: A castanha-do-Brasil (Bretholletia excelsa H.B.K) é um fruto da região norte do país amplamente comercializado. Em sua extração são geradas grandes quantidades de resíduo florestal, pois sua maior parte, o ouriço, é descartada na floresta. Este trabalho teve o objetivo de caracterizar, através de análises químicas por diferença de massa, o ouriço da castanha, procurando identificar características interessantes para aplicação de carbonização hidrotermal. Entre as principais características observadas, estão valores consideráveis de lignina (32,75%), baixo teor de cinzas (1,5%) e alta quantidade de carbono (46,24%). De maneira geral, os resultados obtidos apresentaram boas características para o desenvolvimento de novos materiais, tais como adsorventes, carbono ativado, entre outros.

PALAVRAS CHAVES: Castanha-do-Brasil; Biomassa lignocelulósica; Carbonização hidrotermal

INTRODUÇÃO: A castanha-do-Brasil é o fruto da árvore Bertholletia excelsa, nativa da região amazônica. As castanhas são intensamente comercializadas no mercado nacional e internacional como resultado de processo extrativista, durante o qual são geradas grandes quantidades de resíduos, pois a maior parte do fruto, o ouriço, é descartada na floresta. O ouriço é caracterizado como um material lignocelulósico. Compostos lignocelulósicos podem ser modificados quimicamente para obtenção de diversos produtos. No entanto, antes de se trabalhar com a biomassa, é necessária caracterização físico-química, de maneira a compreender a sua composição e propriedades. Essas informações são fundamentais para a avaliação da qualidade e aplicação da biomassa (VASSILEV et al. 2010). A carbonização hidrotermal (HTC) é uma técnica inovadora que permite a obtenção de materiais carbonáceos em temperaturas inferiores às tradicionais de pirólise (Antero, R.; Pereira, D.; Oliveira, S. 2014). A partir da HTC obtém-se um produto majoritário e versátil denominado hydrochar, o qual pode ser empregado na agricultura, em processos de adsorção e como precursor para carbonos ativados. Para que a HTC seja viável é necessário que o material tenha alto teor de carbono, pois deseja-se um enriquecimento de carbono com o processo. Também é favorável um alto teor de lignina na biomassa, pois este é o componente mais termo resistente da planta e que afetará as propriedades térmicas do material, além de um baixo teor de cinzas, compostos inorgânicos que podem danificar a estrutura carbonácea. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi realizar uma caracterização físico- química do ouriço, e avaliar sua potencial aplicação na obtenção de novos produtos através de carbonização hidrotérmica.

MATERIAL E MÉTODOS: --Material: A amostra do ouriço empregues nas análises foi obtida nos mercados da cidade do Pará. As amostras foram fragmentadas em moinho de martelo e separadas em diferentes granulometrias, empregando-se nas caracterizações partículas com diâmetro médio de 610 µm. --Metodologia de caracterização: As caracterizações físico-químicas foram realizadas segundo metodologias amplamente difundidas na literatura. Para determinação da umidade empregou-se o método gravimétrico, secando-se massas conhecidas das amostras em estufa elétrica a 110ºC até a obtenção de massas constantes. O teor de cinzas foi determinando através da carbonização da biomassa em forno em mufla a 600°C por três horas, seguida por resfriamento em dessecador e cálculo das diferenças de massas. Para determinação da holocelulose realizou-se a reação de degradação oxidativa da lignina, reagindo a biomassa com soluções de clorito de sódio 30% e ácido acético 1:5 por três horas a 70°C (TAHERZADEH; KARIMI, 2007). Para a análise do teor de celulose, foi realizada uma reação de 15 horas da holocelulose com KOH 24%. Através da diferença entre holocelulose e celulose obteve-se o teor de hemiceluloses. Os valores de lignina foram determinados através do tratamento com ácido sulfúrico (Gomide e Demuner, 1986) e o teor de extrativo a partir de extração em Soxhlet, empregando-se uma solução extratora tolueno:etanol. As composições elementares (C, H e N) foram determinadas utilizando um Analisador Elementar Automático. O teor de oxigênio foi obtido por diferença.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados das análises estão nas tabelas 1 e 2. Materiais lignocelulósicos apresentam uma rede complexa e resistente composta principalmente por lignina (10% a 30%), hemiceluloses (15% a 35%) e celulose (30% a 50%), sendo a concentração de cada um desses elementos variável de acordo com o tipo de matéria-prima em questão, idade e estágio vegetativo (Rodrigues; Woiciechowski; Letti; Karp; Goelzer; Sobral; Coral; Campioni; Maceno; Soccol.). Considerando esses valores é possível observar a partir da tabela 1 que o ouriço apresentou alto teor de lignina e baixo teor de cinzas, características importantes para o desenvolvimento de materiais de carbono ativo. Além disso, pela tabela 2, percebe-se alto teor de carbono na biomassa, o que também é interessante para o desenvolvimento de materiais carbonáceos, tais como hydrochars. A composição média de lignina em madeiras coníferas é de 28 ± 2% e em madeiras folhosas é de 20 ± 4 % (FENGEL; WEGENER, 1989). Ou seja, o ouriço da castanha, um resíduo florestal, amplamente acessível na região norte do Brasil, possui um teor de lignina (32,75%) mais interessante para HTC do que a média de teores de madeiras coníferas e folhosas.

Tabela 1- Composição lignocelulósica.

Composição da biomassa ouriço da castanha-do- Brasil em base seca (a umidade da amostra foi de 7,3%).

Tabela 2- CHNO.

Composição atômica, o teor de oxigênio é determinado por diferença.

CONCLUSÕES: As análises realizadas permitiram compreender a composição da espécie e sua potencial aplicabilidade no desenvolvimento de novos produtos a partir da metodologia HTC. Entre os principais resultados, destacaram-se o alto teor de lignina, o baixo teor de cinzas, e a porcentagem de carbono, os quais são promissores para o desenvolvimento de materiais carbonáceos. Dessa forma, devido à composição, à grande quantidade residual gerada e às poucas pesquisas realizadas com o ouriço, o estudo da obtenção de novos produtos a partir de metodologias mais baratas e sustentáveis, como a HTC, são viáveis.

AGRADECIMENTOS: À professora Sarah S. Bruhm pelas orientações, ao doutorando Romario Victor Pacheco Antero pela co-orientação e auxílio durante os trabalhos e ao LMC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: [1]: VASSILEV, V.; BAXTER, D.; ANDERSEN, L.; VASSILEVA, C. An overview o the chemical composition of biomass. Fuel, v. 89, p. 913-933, 2010
[2]: TITIRICI, M.-M. et al. Black perspectives for a green future: hydrothermal carbons for environment protection and energy storage. Energy & Environmental Science, v. 5, n. 5, p. 6796, 2012.
[3]: FENGEL, D., WEGENER, O. Wood: chemistry, ultrastructure, reactions. Berlin: Walter de Gruyter, 1989.
[4]: Victor Pacheco Antero, R; Pereira Barbosa, ; Botelho de Oliveira, S. PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE CARBONO ATIVO A PARTIR DE RESÍDUOS POLIMÉRICOS POR CARBONIZAÇÃO HIDROTERMAL, 2014.
[5]: Keikhosro Karimi Mohammad J.Taherzadeh; A critical review of analytical methods in pretreatment of lignocelluloses: Composition, imaging, and crystallinity
[6]: JL Gomide, BJ Demuner. Determinação do teor de lignina em material lenhoso: método Klason modificado.
[7]: Rodrigues; Woiciechowski; Letti; Karp; Goelzer; Sobral; Coral; Campioni; Maceno; Soccol. MATERIAIS LIGNOCELULÓSICOS COMO MATÉRIA-PRIMA PARA A OBTENÇÃO DE BIOMOLÉCULAS DE VALOR COMERCIAL.