10º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Goiânia/GO, de 04 a 06 de Setembro de 2017.
ISBN: 978-85-85905-20-0

TÍTULO: Remoção de compostos fenólicos via imobilização de peroxidase de Extrato Bruto de Abobrinha Verde (Cucurbita pepo, L.) em polímero biodegradável de Caju Arbóreo do Cerrado (Anacardium othonianum, Rizz.)

AUTORES: Silva, T.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Souza, E.R.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Caramori, S.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)

RESUMO: Peroxidase de Abobrinha (Cucurbita pepo,L) (EBA) foi imobilizada em caju arbóreo do Cerrado (Anacardium othonianum Rizz) (PEJU) via adsorção física e ligação covalente. A quantidade de proteína do EBA foi de 2,69.10 -5 g.mL -1 e atividade enzimática (AE) de 23 UmL-1.Para adsorção física as melhores condições foram pH 7(fosfato de sódio 0,1 mol L-1), 120 min de agitação,10 mg PEJU, 1mL de EBA, 42% da AE em 60°C, 7 usos repetidos e 50% de AE após 30 dias.Via ligação covalente foram 8 usos repetidos(21% da AE),pH 5 e pH 7(acetato e fosfato 0,1 molL-1, respectivamente),120 min de agitação,20 mg PEJU, 1mL de EBA, 34% da AE em 60°C e 60% de AE (30 dias). A redução de compostos fenólicos apresentou eficiência superior a 20%.

PALAVRAS CHAVES: Enzimas; Suporte biodegradável; Bioremedicação

INTRODUÇÃO: Compostos fenólicos ocorrem nos resíduos de uma ampla variedade de operações industriais; quase todos são tóxicos (Liu et al, p.225,2002) sendo incorporados na cadeia alimentar e gerando importantes problemas ambientais (Gómez et al, p. 1016, 2006). Alguns métodos para sua remoção envolvem o uso de microorganismos, carbono ativo ou oxidação química. Contudo, tais métodos apresentam frequentemente desvantagens, tais como baixa eficiência, alto custo ou o fato de gerarem produtos que são ainda mais tóxicos do que os originais. Uma alternativa para tratar águas residuais é usar enzimas imobilizadas (catalisadores biológicos) com eficiência em condições amenas de reação, alta especificidade e biodegradabilidade (Ramalho et al, p.50, 2016). Estudos preliminares têm revelado na abobrinha (Cucurbita pepo) uma fonte rica de peroxidase (Vieira et al, p.39, 2003) e polímeros naturais uma fonte eficiente de imobilização de enzimas por ser de fácil obtenção, biocompatível e biodegradável (Azevedo et al, p.27, 2007). No Cerrado (presente em aproximadamente 22% do país), é encontrado o caju- arbóreo-do-Cerrado (Anacardium othonianum Rizz)(Silva et al, p. 46, 2001)com propriedades coloidais, espessantes, gelificantes, emulsificantes, estabilizantes, aglutinantes (Bhushette e Annapure, in press, 2017) e biodegradáveis (Akthar e Rui, in press,2017). Neste sentido, a proposta deste trabalho é a de que o polissacarídeo do caju-arbóreo-do-Cerrado ( A. othonianum ) é um suporte capaz de imobilizar peroxidase de extrato de abobrinha verde (Cucurbita pepo L) e ser aplicado (complexo polissacarídeo-peroxidase) para a remoção de compostos fenólicos.

MATERIAL E MÉTODOS: Os nódulos exsudados dos cajueiros foram recolhidos, triturados e dissolvidos em água (20% (p/v)) (Rinaudo-Milas, 1991). A solução foi filtrada e precipitada com etanol absoluto (1:3, v/v). O polissacarídeo (PEJU) foi triturado e armazenado a 4 °C até utilização. Para o PEJU tratado com periodato de sódio (PEJUp), 0,05 g de PEJU foram agitados (30 min) com 2,0 mL de periodato de sódio 0,1 mol L -1 e 10 mL de tampão fosfato de sódio 0,1 mol L -1, pH 7,0. O PEJUp foi precipitado com etanol absoluto (1:3, v/v) por 24h. A análise morfológica de PEJU e PEJUp foi realizada por microscopia eletrônica de varredura (Shimadzu, modelo SSx 550, Japão) em 1000x. As amostras de abobrinha foram cortadas e trituradas em tampão fosfato de sódio monobásico 0,1 mol L-1, pH 7,0 (1:1 (p/v), filtrada e armazenada a 4°C. A presença de proteínas no EBA foi determinada por Bradford (1976). A atividade enzimática de peroxidase (POX) foi determinada segundo Halpin e Lee (1987), sendo uma unidade de POX considerada como um aumento de 0,1 absorvância/min. Para as técnicas de imobilização foram variadas as concentrações de PEJU, PEJUp, EBA, pH de imobilização, tempo, uso repetido, termoestabilidade e estabilidade em armazenamento. Os testes com compostos fenólicos foram realizados conforme Ramalho et al (2016). O EBA, PEJU-EBA e PEJUp-EBA foram incubados com pirogalol, catecol, fenol, bromofenol, nitrofenol (1,0 mmol L-1) e peróxido de hidrogênio (0,05 mol L -1). A concentração residual de fenóis foi realizada conforme Lowry et al (1951). Teste T foi aplicado utilizando o Software R Studio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O PEJU apresentou superfície porosa irregular e cristalina (Fig. 1),com massa extensa e amorfa, relevos ou depressões semelhantes ao polissacarídeo de A. occidentale (Ramalho, 2014), favorecendo a aplicação deste em processos como a imobilização de enzima. A atividade da POX de EBA foi de 23 U mL -1) e proteína de 2, 69.10 -5). gmL -1). Na Tabela 1 encontram-se as melhores condições de imobilização por adsorção e ligação covalente. A tecnologia de imobilização de enzimas envolve a escolha de um suporte e método que resultem num imobilizado ativo, estável e eficaz em condições variadas; sob este aspecto percebe-se tanto via adsorção física (7 ciclos, 28% de atividade enzimática (AE)) quanto ligação covalente (8 ciclos, 21% de AE) mostraram eficazes no processo de uso repetido para o complexo EBA-PEJU e EBA-PEJUp, respectivamente, fazendo destes, materiais promissores para aplicação biotecnológica. A capacidade de remoção de fenóis através dos complexos EBA- PEJU e EBA-PEJUp está mostrada na Tabela 2. EBA-PEJU e EBA-PEJUp são eficazes para a remoção de fenóis, com remoção superior a 20% após 10 min de reação. Não houve diferença estatística entre os tratamentos (p> 0,05)sendo as duas técnicas eficientes na remoção dos fenóis. Singh e Singh (p. 127, 2002) através de HRP em pérolas de vidro via adsorção física obtiveram resultados capazes de remover 95% dos compostos fenólicos após 30 min de tratamento (Singh e Singh, p. 127, 2002) e 25% via imobilização por ligação covalente (Lai e Lin, p. 1167, 2005).O uso de EBA e PEJU será benefício no desenvolvimento de produtos novos com caraterísticas sustentáveis.

Figura 1. Eletromicrografia de polissacarídeo de Caju Arbóreo do Cerra



Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Condições de imobilização de EBA em PEJU (Adsorção física) e PEJUp (Ligação covalente). Tabela 2. Remoção de fenóis pelo método de Lowry.

CONCLUSÕES: A Abobrinha Verde (Cucurbita pepo L.) apresentou atividade da peroxidase, o que a torna fonte alternativa para aplicação em tecnologia enzimática; além disso, o polissacarídeo de Caju arbóreo do Cerrado mostra-se um material para imobilização de enzimas por adsorção física e ligação covalente em diferentes condições de pH, baixo custo, biodegradável, não- tóxico e extraído de forma sustentável. A redução de compostos fenólicos através do sistema de enzima imobilizada apresentou alta eficiência para os dois métodos propostos, desempenhando um papel significativo como bioremediador.

AGRADECIMENTOS: A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de doutorado concedida a Thâmara Machado e Silva.

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