9º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Goiânia/GO, de 19 a 21 de Setembro de 2016.
ISBN: 978-85-85905-20-0

TÍTULO: INFLUÊNCIA DO PH NA PRODUÇÃO DE PIGMENTOS PRODUZIDOS POR Monascus ruber MEDIANTE UTILIZAÇÃO DE LACTOSE COMO SUBSTRATO

AUTORES: Pires Vital da Costa, J. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Fernanda Dias de Oliveira, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Denner Bernardes de Araújo, W. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) ; Vendruscolo, F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS)

RESUMO: O presente estudo buscou avaliar a velocidade de crescimento radial do Monascus ruber CCT 3802 em cultivo sólido contendo lactose sob diferentes condições de pH. As velocidades de crescimento radial obtidas variaram de 0,0463 (pH 2,0) a 0,0726 mm h-1 (pH 4,0), o que corresponde a um aumento de 157% na velocidade, demonstrando que é possível dobrar a velocidade de crescimento do micro-organismo e, consequentemente, sua produção de pigmentos, apenas ajustando-se o pH do meio. Monascus ruber apresentou adaptação favorável ao seu desenvolvimento na presença de lactose, desde que submetido a pH acima de 4,0, condição em que obteve-se maior crescimento da colônia. Tal estudo sugere a utilização de resíduos agroindustriais contendo lactose para a produção de biopigmentos.

PALAVRAS CHAVES: Lactose; Monascus ruber; biopigmentos

INTRODUÇÃO: A escolha e aquisição dos alimentos está intimamente relacionada aos primeiros atributos sensoriais, como o aroma, o sabor e a textura. As cores são adicionadas aos alimentos, principalmente, para restituir a aparência original, tornar o alimento visualmente mais atraente, conferir coloração aos desprovidos de cor e reforçar as cores presentes nos alimentos (WIBOWO et al., 2015). Estudos demonstram a relação do consumo excessivo de corantes sintéticos com reações alérgicas, hiperatividade em crianças e problemas respiratórios (NETTO, 2009; ABEROUMAND, 2011). Pouco ainda se sabe sobre a utilização de pigmentos produzidos por micro- organismos, por isso, a produção biotecnológica para obtenção dos biopigmentos naturais em grande escala têm sido alvo de estudos no mundo científico. Dentre os micro-organismos produtores de pigmentos destaca-se o Monascus, que possui a capacidade de produzir pigmentos amarelo, laranja e vermelho (MAPARI et al., 2005).São fungos filamentosos que possuem capacidades extremas de adaptação. Embora, cresçam em baixo conteúdo de umidade, o cultivo sólido é afetado pelas composições dos meios, fontes de nitrogênio, concentração de oxigênio e o valor inicial do pH no sistema, o qual normalmente é de 4,0 a 7,0. Portanto, a escolha de uma boa fonte de substrato é importante no sucesso do crescimento dos micro-organismos. O substrato ideal é aquele que supre todos os nutrientes necessários aos fungos para sua função ótima (PANDEY et al, 2001; XU et al., 2006). O presente estudo busca, deste modo, evidenciar a lactose como substrato sob diferentes condições de pH para a produção de pigmentos naturais, determinando a velocidade de crescimento radial pelo fungo filamentoso Monascus ruber CCT 3802 em cultivo sólido.

MATERIAL E MÉTODOS: A presente pesquisa foi realizada no Laboratório de Microbiologia da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás. O micro-organismo utilizado foi o fungo filamentoso Monascus ruber CCT 3802, obtido da Coleção de Culturas Tropicais da Fundação André Tosello (Campinas, SP), mantido em ágar dextrose de batata (PDA) ou ágar extrato de malte (MEA).A determinação da velocidade do crescimento radial baseou-se na metodologia proposta por Gabiatti et al. (2006), seguindo algumas modificações de acordo com as condições experimentais. O procedimento realizou-se em meio de cultivo MEA adicionado de 10 g L-1 de lactose e variações de pH de 2,0 a 5,0, utilizando-se soluções de HCl ou NaOH. Os meios de cultivo contendo lactose também foram previamente autoclavados a 121°C por 15 minutos. A velocidade de crescimento radial das colônias cultivadas nos meios utilizados foi determinada pela declividade da regressão linear, conforme a Equação 1. r(t) = a + VCR . t (1) Em que r(t) é o raio da colônia (mm), a é o coeficiente linear, dado pelo raio do objeto inoculador, VCR é a velocidade de crescimento radial (mm.h-1) e t é o tempo de cultivo(h). Para as diferentes velocidades obtidas para os diferentes meios analisados, foram comparadas as declividades das retas em gráficos, utilizando-se o software Microsoft Excel® 2010. Para verificar se houve diferença significativa entre as velocidades obtidas das curvas de regressão, foi utilizado o teste-t pelo software STATISTICA 7.1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Figura 1 apresenta as curvas de crescimento radial do M. ruber sob diferentes valores de pH no meio de cultivo. A maior velocidade de crescimento radial do M. ruber foi obtida quando cultivado sob pH 4,0 (0,0726 + 0,0033 mm) e a menor, em pH 2,0 (0,0463 + 0,0034 mm), o que corresponde a um crescimento de 1,74 mm dia-1 e 1,11 mm dia-1, respectivamente. A variação de crescimento entre o menor valor e o maior valor corresponde a um aumento de 157% na velocidade, demonstrando que é possível dobrar a velocidade de crescimento do micro-organismo e, consequentemente, sua produção de pigmentos, apenas ajustando-se o pH do meio. Para avaliar se houve diferença significativa entre as velocidades de crescimento foi aplicada a análise de variância (ANOVA). O valor de F calculado foi de 8221,89, valor esse superior ao valor de F tabelado (F3,12 = 83,63), podendo-se afirmar, portanto, que há diferença significativa entre as curvas obtidas, ao nível de significância de 0,05. Assim, para identificar o quanto as amostras diferenciam- se significativamente, aplicou-se o teste-t ao nível de confiança de 95%. Houve crescimento do micro-organismo para todas as variações de pH estudadas e, de acordo com o teste de Tukey, há diferença significativa entre as velocidades de crescimento do fungo. No entanto, observa-se que, embora a velocidade de crescimento do fungo tenha sido maior para condições de pH 4,0, não há diferença significativa de crescimento das colônias para condições de pH 4,0 e 5,0 (p ≤ 0,05). A Figura 2 apresenta o aspecto visual das colônias de M. ruber observado neste estudo. É possível identificar que as colônias em pH 4,0 e 5,0 obtiveram crescimento semelhante após 14 dias de incubação.

Figura 1

Curvas de crescimento radial das colônias de M. ruber cultivadas em meio de cultivo contendo lactose, sob diferentes valores de pH.

Figura 2

Aspecto visual das colônias de Monascus ruber CCT 3802 cultivadas em meio de cultivo contendo lactose (10 g L- 1), sob diferentes valores de pH.

CONCLUSÕES: Monascus ruber apresentou adaptação favorável ao seu desenvolvimento na presença de lactose, desde que submetido a valor de pH acima de 4,0, condição em que obteve-se maior crescimento da colônia. Ressalta-se, portanto, que condições variáveis de pH e substrato influenciam diretamente o crescimento e produção de pigmentos por M. ruber. Meio de cultivo contendo lactose sugere que o fungo é capaz de produzir enzimas (lactase) capazes de hidrolisar esse açúcar redutor, possibilitando a utilização dessa fonte de carbono.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ABEROUMAND, A. A Review Article on Edible Pigments Properties and Sources as natural Biocolorants in Foodstuff and Food Industry. World Journal of Dairy & Food Sciences, v.6, n.1, p.71-78, 2011.
GABIATTI, JR. C.; VENDRUSCOLO, F.; PIAIA, J. C. Z.; RODRIGUES, R. C.; DURRANT, L. R.; COSTA, J. A. V. Radial growth rate as a tool for the selection of filamentous fungi for use in bioremediations. Brazilian Archives of Biology and Technology, v.49, p.29-34, 2006.
GARBER, L. L.; HYATT, E.M.; STARR, R. G. The effects of food color on perceived flavor. Journal of Marketing: Theory and Pratice, p. 60-72, 2000.
KONGRUANG, S. Growth kinetics of biopigment production by Thai isolated Monascus purpureus in a stirred tank bioreactor. Journal of Industrial Microbiology & Biotechnology, v. 2, n. 12, p. 93-99, 2011.
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VENDRUSCOLO, F.; PITOL, L. O.; CARCIOFI, B. A.; MORITZ, D. E.; LAURINDO, J. B.; SCHMIDELL, W.; NINOW, J. L.; BARBI, I. Construction and application a vane system in a rotational rheometer for determination of the rheological properties of Monascus ruber CCT 3802. Journal of Biomolecular, v. 24, p. 29-35, 2010.
VENDRUSCOLO, F.; SCHMIDELL, W.; MORITZ, D. E.; BÜHLER, R. M. M.; DE OLIVEIRA, D.; NINOW, J. L. Isoelectric point of amino acid: Importance for Monascus pigment production. Biocatalysis and Agricultural Biotechnology, v. 5, p. 179–185, 2016.
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