8º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Vitória/ES, de 09 a 11 de Setembro de 2015.
ISBN: ISBN 978-85-85905-13-2

TÍTULO: Influência do volume de solvente e uso de microondas como fonte alternativa de aquecimento na catálise quimioenzimática de monooleatos de xilitol

AUTORES: Rufino, A.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Teixeira, R.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Moraes, A.R.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Biaggio, F.C. (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ; de Castro, H.F. (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)

RESUMO: Os métodos químicos de acilação do xilitol utilizam solventes tóxicos, ácidos fortes e elevadas temperaturas. A síntese enzimática é uma alternativa que atende aos apelos da Química Verde. Entretanto, a maior conversão na obtenção de monoésteres somente é atingida em um tempo reacional de aproximadamente 24 horas. Foi proposto neste trabalho a variação do volume de solvente e a utilização de microondas como fonte alternativa de aquecimento, obtendo-se rendimentos maiores, em menor tempo reacional, com a vantagem de manter a integridade do derivado, o que não ocorreu com o uso de ultrassom. Todas as esterificações foram realizadas com a lipase de Penicillium camembertii. A maior conversão molar do monooleato de xilitol foi obtida numa temperatura de 50°C após 6 horas de reação.

PALAVRAS CHAVES: Química Verde; Microondas; Monooleato de Xilitol

INTRODUÇÃO: Os ésteres de açúcares são biossurfatantes que apresentam uma variável aplicação industrial (GUMEL et al, 2011). O monooleato de xilitol pode ser obtido via catálise enzimática, realizada em temperaturas relativamente baixas, reagentes menos agressivos e com uma alta seletividade promovida pela eficiência e versatilidade característica das lipases. Embora realizadas em condições mais suaves, as tecnologias enzimáticas com aquecimento convencional levam a reações consideravelmente mais lentas (RUFINO et al, 2009), o que faz deste um método pouco atrativo, justificando-se a necessidade de pesquisar outras fontes de aquecimento. A irradiação de microondas é descrita pela literatura como uma fonte de aquecimento limpa e rápida, que promove melhores rendimentos com redução do número de etapas reacionais (KHAN et al, 2015; YU et al, 2007). O microondas tem vasta aplicação na aceleração de processos biológicos, campo no qual se inclui a catálise enzimática, onde a aplicação dessa tecnologia vem mostrando melhorias na atividade das lipases que também apresentam maior estabilidade quando comparado aos métodos de aquecimento tradicionais (BACHU et al, 2007; LEADBEATER et al, 2007). Tendo por base os estudos anteriores das reações de obtenção do monooleato de xilitol e as investigações em busca de formas alternativas de aquecimento é proposto neste trabalho o aprimoramento dessa síntese estudando o efeito da variação do volume de solvente, utilizando o microondas comparativamente ao aquecimento tradicional e ultrassom, tendo por objetivo primário de desenvolver reações ambientalmente amigáveis seguindo os fundamentos da Química Verde.

MATERIAL E MÉTODOS: Todos os experimentos foram realizados com a lipase de Penicillium camembertii (Lipase G), imobilizada em um suporte híbrido POS-PVA (polissiloxano-álcool polivinílico) pela técnica sol- gel, como proposto na metodologia descrita na literatura (SANTOS et al, 2008). Outros reagentes utilizados foram xilitol (Sigma-Aldrich), ácido oleico (Reagen), acetona (Synth), epicloridrina (Sigma), hexano (Cromolime), éter de petróleo (Reagen), hidróxido de potássio (Merck), ácido polivinílico (Acrós), t-butanol e tetraetilortosilicato (Sigma-Aldrich). Para melhor solubilidade do xilitol em meio orgânico e maior seletividade na preparação do seu respectivo monoéster, foi realizada uma reação de proteção de quatro das cinco hidroxilas do açúcar, conforme metodologia estabelecida em trabalhos anteriores (RUFINO et al, 2009). As reações para obtenção do monooleato de xilitol foram realizadas em microondas (Discover, modelo PN # CE-925SB235- SPB-PLUG) com potência máxima do aparelho ajustada em 15 Watts para estabilizar em 50ºC. Os parâmetros reacionais consistiram em razão molar 1:4 de xilitol protegido/ácido oleico, partindo de 60 mmol do açúcar protegido, t-butanol como solvente e 400 mg do derivado imobilizado. Outro parâmetro estudado foi o volume de solvente, que variou em escala de 2,5 até alcançar o volume de 10 mL. O progresso da síntese foi acompanhado pela variação da relação das áreas ácido oléico/Decano, das amostras retiradas no decorrer das reações, obtidas por cromatografia em fase gasosa, utilizando- se um cromatógrafo Varian modelo CP 3380, coluna capilar CP-Sil8CB. O produto final foi caracterizado por IR e RMN.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em trabalhos anteriores foram desenvolvidos experimentos com uso de banho de ultrassom para aquecimento do meio reacional com rendimento máximo alcançado de 94% de conversão para uma razão molar de 1:4 (xilitol protegido/ácido graxo) em 6 h de reação, utilizando-se 400 mg de enzima Lipase G como catalisador, 2,5 mL de t-butanol como solvente e 50ºC de temperatura reacional. Neste trabalho as mesmas reações foram realizadas com aquecimento em microondas, variando-se o volume de solvente como observado na Tabela 1. As reações realizadas com irradiação de microondas alcançaram um rendimento de 91% utilizando 2,5 mL de solvente com tempo reacional de apenas 6h (Figura 1), valores estes aproximados aos das reações realizadas com aquecimento ultrassom e maiores que os obtidos com aquecimento convencional (59,0%). Os resultados apresentados evidenciam a eficiência do microondas em concordância com estudos descritos na literatura que relatam o mesmo como tecnologia útil para acelerar síntese enzimática de ésteres de açúcar em meio orgânico. Reações em ambos equipamentos (Tabela 2) utilizando-se um volume de solvente superior a 5 mL, mostraram que os rendimentos das reações conduzidas em microondas são ligeiramente superiores aos do ultrassom, fato que sugere que a agitação do ultrassom seja mais eficiente que a do aparelho microondas para volumes pequenos de solvente. Após 6 horas de reação com uso de 2,5 mL de solvente, ambas as fontes forneceram bons resultados (Figura 2), contudo, o aquecimento por ultrassom danificou o suporte utilizado para imobilização da enzima, evento que não ocorreu no aquecimento microondas, fazendo deste último uma fonte mais recomendável para possível reutilização do derivado imobilizado, sem o risco da inativação da enzima empregada.









CONCLUSÕES: O microondas mostrou-se promissor para conduzir reações enzimáticas, comparado com os métodos de aquecimento tradicional e por ultrassom. Na síntese do monooleato de xilitol esta fonte de aquecimento, elevou em 31% o rendimento reacional com redução de 75% no volume de solvente em 1/4 do tempo. O aquecimento por micro-ondas, apresentou ainda a vantagem de não causar danos ao derivado imobilizado, como ocorreu com o ultrassom. A economia energética e redução do uso de solvente com aumento do rendimento reacional satisfazem os principais parâmetros estabelecidos na Química Verde.

AGRADECIMENTOS: FAPERJ e CNPq

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BACHU, P.; GIBSON, J.S.; SPERRY, J.; BRIMBLE, M.A. The influence of microwave irradiation on lipase-catalyzed kinetic resolution of racemic secondary alcohols. Tetrahedron: Asymmetry, nº 18, 1618-1624, 2007.
GUMEL, A. M.; ANNUAR, M. S. M.; HEIDELBERG, T.; CHISTI, Y.; Lipase Mediated Synthesis of Sugar Fatty Acid Esters; Process Biochemistry; v.46, p.2079-2090; 2011.
KHAN, N. A.; JHUNG, S. H.; Synthesis of Metal-Organic Frameworks (MOFs) With Microwave Ultrasond: Reapid Reaction, Phase-Selectivity, and Size Reduction; Coordination Chemistry Reviews; v.285, p.11-23; 2015.
LEADBEATER,, N.E.; STENCEL, L.M.; WOOD, E.C. Probing the effects of microwave irradiation on enzyme-catalysed organic transfomations: the case of lipase-catalysed transesterification reactions. Organic and Biomecular Chemistry, nº 5, 1052-1055, 2007.
RUFINO, A. R.; BIAGGIO, F. C.; SANTOS, J. C.; CASTRO H. F. Chemoenzymatic synthesis: a strategy to obtain xylitol monoesters. Journal of Chemical Technology and Biotechnology, nº 84, 957-960, 2009.
SANTOS, J. C.; PAULA, A. V.; NUNES, G. F. M.; DE CASTRO, H. F. Pseudomonas fluorescents lipase immobilization on polysiloxane-polyvinyl alcohol composite chemically modified with epichlorohydrin. Journal of Molecular Catalysis. B Enzymatic, nº 52-53, 49-57, 2008.
YU, D.; WANG, Z.; CHEN, P.; JIN, L.; CHENG, Y.; ZHOU, J.; CAO, S. Microwave-assisted resolution of (R,S)-2-octanol by enzymatic transesterification. Journal of Molecular Catalysis B: Enzymatic, nº 48, 51-57, 2007.