7º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Vitória/ES, de 17 a 19 de Setembro de 2014.
ISBN: 978-85-85905-08-8

TÍTULO: ESTUDO DA VIABILIDADE TÉCNICA DE REUTILIZAÇÃO DO EFLUENTE GERADO NA PRODUÇÃO DE DIÓXIDO DE CLORO PARA O BRANQUEAMENTO NA OBTENÇÃO DE CELULOSE

AUTORES: Schaeffer Caser, K. (FAACZ) ; Gauitolini, K. (FAACZ) ; Leite, J. (FAACZ) ; Siqueira Batista, F. (FAACZ) ; Cabral Sarmenghi, U. (FAACZ)

RESUMO: Efluentes líquidos industriais são produzidos em larga escala, logo, o tratamento adquire cada vez mais importância devido à legislação ambiental e a conscientização da sociedade. A escassez de água e o alto custo para tratamentos, proporcionam um maior investimento em estudos para o desenvolvimento de tecnologias de processo e reuso dos efluentes, que além de reduzir o volume gerado, pode chegar ao fechamento de circuitos produtivos. Esse estudo visa analisar as características do efluente gerado na produção do dióxido de cloro para reutilização na etapa ácida de branqueamento da polpa celulósica. Portanto, foram realizadas análises de acidez, concentração de clorato de sódio, de oxidantes e sulfato de sódio, cujos resultados permitiram avaliar a viabilidade técnica do reuso do efluente.

PALAVRAS CHAVES: Efluente; Dióxido de cloro; Branqueamento de celulose

INTRODUÇÃO: A indústria de celulose e papel é considerada uma grande consumidora de recursos naturais, especialmente fibras vegetais, energia e água, e tem sido considerada um exemplo de geração de poluentes do ar, da água e do solo (NOLASCO et al., 1997). O presente trabalho terá como objeto de estudo uma indústrias de celulose do Brasil. A matéria-prima para o processo de obtenção de celulose é proveniente do eucalipto, que ao chegar à fábrica é encaminhado à trituração para a formação de cavacos e da pasta celulósica (SENAI, 1988). Logo, ocorre a fase de deslignificação e a fase de branqueamento. Nesta última etapa, o pH é um fator determinante para o emprego dos agentes oxidantes, pois o uso deles proporciona uma maior eficiência no processo (SENAI, 1988). Vários estágios constituem essa etapa, podendo alternar condições ácidas e alcalinas (MÉNDEZ; ÁREA, 2009). Na etapa álcali, é adicionado uma substância básica oxidando a lignina. Na etapa ácida adiciona-se ácido obtendo uma redução de pH a fim de melhorar a ação do agente oxidante. Quando o pH é mantido constante por intermédio de um tampão, melhores resultados deveriam ser obtidos em pH abaixo de 4 (SENAI, 1988). Um agente oxidante utilizado é o dióxido de cloro (ClO2) que em sua produção gera um efluente composto por residuais de clorato de sódio (NaClO3), dióxido de cloro (ClO2), ácido sulfúrico (H2SO4) e sulfato de sódio (Na2SO4) que são destinados às estações de tratamento. E segundo Borges et al. (2001), o descarte dessas águas residuárias contendo organoclorados constitui problemas ambientais no setor de celulose. Diante disto, o trabalho irá abordar o estudo da viabilidade técnica do reaproveitamento do efluente gerado na produção de ClO2 para a etapa ácida de branqueamento da polpa celulósica.

MATERIAL E MÉTODOS: O efluente de interesse foi coletado durante dois meses a cada quinze dias na empresa em estudo para a realização das análises. Estas que foram realizadas no próprio laboratório da empresa. Para a determinação da acidez, ácido sulfúrico presente na amostra, utilizou-se titulação ácido-base, com solução de hidróxido de sódio 1N. Para análise da concentração de clorato de sódio titulou-se o excesso de sulfato ferroso (FeSO4) com solução de permanganato de potássio (KMnO4) 0,2N até obter leve coloração rósea na solução. Para a determinação de concentração de oxidantes totais titulou-se com tiossulfato de sódio (Na2S2O3) 0,05N até a coloração amarelo pálido. Adicionou-se o indicador amido a 1% e prosseguiu-se a titulação até o exato desaparecimento da coloração azul. A determinação de sulfato de sódio foi realizada através de espectrofotometria. A determinação do pH foi realizada através de um pHmetro portátil na área da empresa onde a amostra foi coletada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados das análises realizadas no laboratório e in loco são apresentadas na Tabela 1, com 4 amostras coletadas ao longo do tempo. Para determinar a possibilidade de reutilização do efluente no processo de branqueamento da polpa de celulose, caracterizou-se cada uma das amostras a partir de variáveis relacionadas com a qualidade do produto desejado. Esses resultados mostram que o comportamento dessas variáveis se mantém estável no decorrer das análises, ocorrendo pequenas variações devido às interferências operacionais do processo industrial. Dessa forma, o ponto de retorno desse efluente está adequado às condições da etapa ácida de branqueamento. A determinação da concentração de ácido sulfúrico (acidez), concentração de sulfato (SO4-2) e pH indicam o comportamento ácido do efluente, condizendo com os aspectos desejáveis do reaproveitamento do mesmo na etapa ácida de branqueamento. A determinação do clorato de sódio (matéria-prima do dióxido de cloro) e oxidantes totais (ClO2) mostra a concentração perdida durante o processo dessas substâncias, que seriam descartados juntamente com o efluente, para a estação de tratamento. O uso do dióxido de cloro na etapa de branqueamento da polpa celulósica é devido à alta seletividade deste agente para destruição da lignina e essa reação ocorre em meio ácido. Dessa forma, além do reaproveitamento do clorato de sódio também ocorre a diminuição da concentração de compostos organoclorados nos efluentes. É importante ressaltar que o clorato de sódio é inerte no processo de branqueamento, por isso pode ser reutilizado juntamente com o efluente em estudo, sem prejuízo na qualidade do produto.

Tabela 1



CONCLUSÕES: De acordo com o objetivo para o trabalho, verifica-se a possibilidade de reaproveitamento do efluente de uma planta de dióxido de cloro em uma etapa ácida do processo de obtenção de celulose, visto o comportamento estável, e considerando as interferências desprezadas. É percebido que o efluente contém apenas quantidades residuais dos compostos analisados, entretanto, o mesmo teria a capacidade de contribuir na acidificação de uma etapa ácida do processo de branqueamento da polpa celulósica, auxiliando também na diminuição de carga de efluente para a estação de tratamento.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem à empresa estudada, pelo apoio concedido para o estudo do processo e a realização das análises.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BORGES, B. L.; COLODETTE, L. J.; PILÓ-VELOSO, D. A utilização de perácidos na deslignificação e no branqueamento de polpas celulósicas. Química Nova, vol. 24, Nº 6, 2001.

MÉNDEZ, M. A.; ÁREA, C. M. Influência das variáveis de processo na etapa EP do branqueamento ECF. O Papel, 2009.

NOLASCO, A. M.; PIRES, C. E.; SPRINGER, M. A. Tratamento aeróbico de efluentes da indústria de Celulose e papel visando uma menor produção de lodo biológico. In: 19º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1997.

SENAI. Celulose e Papel – Tecnologia de Fabricação da Pasta Celulósica. Vol 1. 2 ed. São Paulo: Editora do IPT, 1988.