7º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Vitória/ES, de 17 a 19 de Setembro de 2014.
ISBN: 978-85-85905-08-8

TÍTULO: EFEITOS DA APLICAÇÃO DO EXTRATO ÁCIDO PROVENIENTE DA MADEIRA DE ESPÉCIE EUCALYPTUS GRANDIS COMO ADUBO FOLIAR

AUTORES: Lidoino, V.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Palma, L.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ; Vieira, R.P. (1UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ; Halasz, M.R.T. (FACULDADES INTEGRADAS DE ARACRUZ)

RESUMO: O extrato ácido é a fração de compostos orgânicos voláteis condensados durante a carbonização da madeira, e apresenta diversas aplicações,como adubo foliar. Logo, o presente trabalho expõe efeitos da aplicação do extrato ácido em uma plantação de alface(Lactuca sativa).Este extrato foi obtido na carbonização de madeira da espécie Eucalyptus grandis. A aplicação foi feita na forma pura e nas diluições 1:50 e 1:100. Para a avaliação do resultado final, foram consideradas a massa e o número de folhas de cada alface. Assim, nota-se que as plantas que receberam amostras puras se desenvolveram menos do que as que não receberam nenhum tipo de aplicação. Já, as alfaces que receberam amostras diluídas, obtiveram maior massa e número de folhas que as plantas que não receberam aplicação do extrato.

PALAVRAS CHAVES: extrato ácido; carbonização; adubo foliar

INTRODUÇÃO: Segundo a ABRAF (2010), em 2009 o Brasil somou 6.782.500 ha de florestas plantadas, entre as áreas com pinus, eucalipto e outros. Sendo possível observar que o eucalipto continua correspondendo à grande maioria no país, com 66,5% do total. Um dos destinos possíveis para esta madeira é a produção de carvão. Embora o carvão vegetal seja produzido em grande escala no Brasil, pouco se fala na recuperação dos condensáveis e na exploração de seus produtos. Haja em vista que apenas uma fração da madeira é convertida em carvão e que grande parte se transforma em gases e vapores, torna-se interessante estudar a recuperação desse subproduto. Martins (2007) atribui à Pirólise uma atraente alternativa, tendo em vista que além da produção do carvão há a geração adicional de subprodutos de apreciável valor econômico. A este subproduto dá-se o nome de bioóleo, que é subdividido numa parte ácida (extrato ácido ou pirolenhoso) e uma parte composta por hidrocarbonetos aromáticos, o chamado alcatrão (Elliott, 2007). Schnitzer et al. (2010) verificou que o extrato ácido adicionado a alguns substratos aumentam o desenvolvimento vegetativo e radicular de algumas espécies e, além disso, existem indícios de que o extrato ácido, devido a sua composição química, possa formar complexos estáveis com alguns nutrientes e torná-los mais facilmente absorvidos pelas plantas (Mascarenhas, 2006). Desta forma, a respeito do extrato ácido obtido no processo de carbonização, faz-se o seguinte questionamento:Como seria a sua utilização na agricultura e quais os possíveis efeitos que causaria na planta? Destarte, este artigo expõe os resultados de um estudo sobre a aplicação em diferentes diluições do extrato ácido obtido a partir do eucalipto (Eucalyptus grandis) em uma plantação de alface(Lactuca sativa).

MATERIAL E MÉTODOS: Para a realização do experimento utilizou-se 3 amostras de extrato ácido. A amostra 1 consiste no extrato obtido numa temperatura de até 80°C. Já a amostra 2 foi coletada na faixa de 80 à 108°C. E a 3ª representa o intervalo de 108 à 150°C. Todas as amostras foram destiladas durante a Fase 1 com o objetivo de retirar o alcatrão, que é prejudicial às plantas. E em seguida, construiu-se uma horta (3.1 x 3.3 m). A terra foi afofada até uma profundidade de aproximadamente 20 cm e adubo orgânico foi adicionado à superfície da terra de forma homogênea. Um total de seis leiras foram preparadas para o plantio das mudas. Na Fase 2, foi realizado o plantio e a preparação das amostras nas diluições 1:100 e 1:50. Nesta fase foi preparada a Amostra Total que é a junção das amostras 1, 2 e 3. Foi plantado um total de 65 mudas mantendo uma distância de 25 cm entre elas. A Fase 3 correspondeu ao período de 17 dias que foi usado para adaptação das mudas ao novo solo. Já a Fase 4, consistiu na aplicação semanal das amostras. As aplicações foram feitas na parte da manhã quando o sol ainda estava fraco. Um total de 3 aplicações foram realizadas, e a colheita foi feita sete dias após a última aplicação, na Fase 5. No mesmo dia, a Fase 6 foi efetivada. Nesta, as alfaces foram lavadas para retirar o excesso de terra, e em seguida foram pesadas com a raiz. Terminada a pesagem, cada planta foi desfolhada e as folhas foram contadas sem critério de tamanho. Na Fase 7 foram obtidos a massa e número de folhas das alfaces. Em seguida, foi realizado o cálculo da variância e do desvio padrão de cada média. A avaliação do resultado será baseada em: crescimento (massa) e desenvolvimento (número de folhas).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram selecionadas 52 mudas em grupos de 4. Naqueles onde foi aplicada a amostra sem diluição verificou-se queimaduras nas folhas de alface e menor desenvolvimento do que o grupo sem aplicação (testemunha). Uma possível explicação pode ser o baixo pH das amostras puras, em geral próximo a 3,2. Na amostra 3 sem diluição ocorreu a morte de todas as mudas. A explicação pode estar na acidez total titulável, que foi analisado como sendo 3,2 enquanto as amostras 1 e 2 apresentaram valores de 1,2 e 1,4 respectivamente. Já as mudas que receberam o produto diluído, obtiveram maior desenvolvimento que as testemunhas. Destacam-se a amostra total 1:100 com 281,25g e a amostra total 1:50 com 37,75 folhas. A Tabela1 expõe o resultado para as amostras. É importante citar que a Amostra Total - 1:100 obteve uma massa média 85% superior à média do grupo sem aplicação. Todos os grupos que receberam amostra diluída obtiveram uma média de massa e número de folhas superior ao grupo sem aplicação. Isto indica que todas as amostras nas suas formas diluídas influenciam positivamente o desenvolvimento da planta, estando de acordo com Trivellato et al. (2006), que concluiu que o extrato pirolenhoso traz incrementos na produtividade dessa hortaliça, representando um potencial fertilizante foliar. Logo, é possível verificar que o extrato pirolenhoso produz resultados positivos quando utilizado na sua forma diluída e não na forma pura, visto que, segundo Luengo & Cencig (1991), esta causa prejuízos ao crescimento e desenvolvimento da planta. Schnitzer (2010) afirma que há indícios de que as características físicas e químicas do extrato pirolenhoso, poderiam potencializar a eficiência dos produtos fitossanitários e a absorção de nutrientes em pulverizações foliares.

Tabela 1

Porcentagem e desvio padrão da massa e do número de folhas.

CONCLUSÕES: Com os resultados das aplicações em alface, pôde-se observar que a aplicação das amostras na sua forma pura prejudica o desenvolvimento e crescimento da planta, além de causar queimaduras nas folhas. Porém, quando usado na sua forma diluída, o extrato gera resultados positivos na colheita. Além disso, a diluição escolhida influencia no resultado esperado. Entretanto com as informações disponíveis ainda não é possível explicar detalhadamente a ação benéfica do extrato na planta. Mais estudos devem ser conduzidos visando entender este fenômeno.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ABRAF – Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Anuário estatístico da ABRAF: Ano base 2009. Brasília: ABRAF, 2010. 130p.

Elliott, D. C. Historical developments in hydroprocessing bio-oils. Energy and Fuels, v. 21, p. 1792-1815, 2007.

Luengo, C. A., Cencig, M. O. Biomass Pyrolysis in Brazil: Biomass pyrolysis Liquids Upgrading and Utilization. Elsevier Applied Science, v. 1, p. 299-310, 1991.

Martins, A. F.; Diniz, J.; Stahl, J. A.; Cardoso, A. L. Caracterização dos produtos líquidos e do carvão da pirólise de serragem de eucalipto. Química Nova, v. 30, p. 873-878, 2007.

Mascarenhas, M. H. T.; Lara, J. F. R.; Purcino, H. M. A.; Simões, J. C.; Moreira, D. C.; Facios, C. E. Efeito da utilização do extrato pirolenhoso na produtividade da alface. Revista Brasileira de Horticultura, v. 24, p. 3122-3125, 2006.

Schnitzer, J. A.; Faria, R. T.; Ventura, M. U.; Sorace, M. Substratos e extrato pirolenhoso no cultivo de orquídeas brasileiras Cattleya intermedia (John Lindley) e Miltoniaclowesii (John Lindley) (Orchidaceae). Acta Scientiarum. Agronomy, v. 32, p. 139-143, 2010.

Trivellato, G. F.; Leão, M. M.; Brito, J. O. Determinação da capacidade fitotônica do extrato pirolenhoso em plantas de alface. São Paulo: USP, 2006. 1p.