TÍTULO: MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE UNIDADE SUCROALCOOLEIRA, VISANDO EVITAR A CONTAMINAÇÃO POR EFLUENTE NÃO TRATADO

AUTORES: Santos, E.C.L. (UFAL) ; Silva, K.F.S. (UFAL) ; López, A.M.Q. (UFAL)

RESUMO:Este trabalho visou monitorar os parâmetros físico-químicos da água subterrânea em poço de coleta, estrategicamente implantado às margens da lagoa de decantação secundária da estação de tratamento de efluentes (ETE) de uma indústria sucroalcooleira da região sul do Estado de Alagoas. O objetivo foi rastrear qualquer foco de contaminação e associá-lo a possível infiltração do efluente. Assim, quinzenalmente, realizaram-se 14 coletas de amostras do poço e da lagoa de decantação, e respectivas análises, antes do início e durante todo o processo de moagem de cana da safra 2011/12, conforme métodos preconizados pelas agências ambientais. Alguns parâmetros específicos de certas amostras extrapolaram os limites de aceitabilidade da legislação CONAMA 357/05, sendo discutidas as possíveis causas.

PALAVRAS CHAVES: Água subterrânea; Qualidade de águas; Agroindústria

INTRODUÇÃO:Agricultura, mineração, energia nuclear, disposição de resíduos industriais e urbanos, entre outras atividades humanas, contribuem para a contaminação da água subterrânea. Segundo Dorigon e Tassaro (2010), esgotos domésticos, comerciais e industriais não tratados são responsáveis pela poluição de corpos hídricos. A disposição desses despejos diretamente no solo também traz sérias consequências, em particular para a qualidade da água subterrânea. Em face disso, alguns países da Comunidade Européia, além dos Estados Unidos e Japão, criaram, há mais de 20 anos, legislação específica requerendo o sistema de tratamento e recirculação de efluentes (Leitão, 1999 apud Morelli, 2005).No Brasil, tal atividade ainda não apresenta regulamentação nacional homogênea, o que compromete a disponibilidade de água potável. Por outro lado, uma das principais indústrias a colaborar com o dinamismo da economia brasileira nos últimos 40 anos, a do setor sucroalcooleiro, utiliza grandes volumes de água em inúmeros processos de produção e cultivo da cana, gerando elevada quantidade de águas poluídas, sejam as provenientes dos condensadores, da lavagem de cana e máquinas, ou mesmo as do processamento do sumo da cana (vinhaça). A infiltração/percolação de efluentes no solo, através de lagoas não revestidas das ETEs, possibilita a migração de compostos químicos orgânicos e inorgânicos, podendo alguns desses atingir a zona saturada e, com isso, contaminar o aquífero. Portanto, o monitoramento das águas subterrâneas no entorno de uma ETE próxima ao lençol freático e não revestida é essencial, por se tratar de uma fonte potencialmente poluidora e foi esse o alvo do presente estudo, através da comparação com a qualidade das águas da lagoa de recepção de efluentes não tratados da indústria.

MATERIAL E MÉTODOS:O trabalho foi realizado na área da estação de tratamento de efluentes de uma indústria sucroalcooleira, situada no município de Coruripe-AL, sendo as amostras coletadas de efluentes gerados na safra de 2011/2012, presentes na lagoa de decantação secundária da estação, e água subterrânea em poço próximo à mesma. Para iniciar o monitoramento, fez-se necessário a implantação de um poço artesiano implantado de forma artesanal, a trado, sem especificações técnicas construtivas. O revestimento utilizado foi de PVC azul, com diâmetros de 100 mm, com uma profundidade de 3,5 m, a 4 m de distância lateral e 10 m do início da lagoa de decantação secundária (A), a qual recebe o efluente reutilizado 2 vezes na lavagem da cana da agroindústria alvo do estudo.A amostragem de água subterrânea foi realizada com "amostrador descartável" (bailer), no mesmo dia em que eram coletadas amostras do efluente da lagoa “A”. Todas as amostras foram armazenadas em caixa de isopor com gelo, e encaminhadas para laboratório de Bioquímica do Parasitismo e Microbiologia Ambiental, do Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de Alagoas As coletas foram realizadas quinzenalmente durante a safra 2011/12. Caracterização físico-química das águas estudadas (poços de monitoramento e ETE de agroindústria sucroalcooleira) e respectivos métodos analíticos.pH,Condutividade elétrica,Turbidez,Dureza total,O.D,Sólidos Totais dissolvidos, Nitrito,Nitrato,DQO,Temperatura,Fosfato e Amônia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:O pH (Figura 1) das amostras do poço apresentou uma variação entre 4,0 a 6,5, já nas amostras de efluentes a variável apresentou valores superiores, pois variou entre 6,5 e 7,2. Segundo Santos (2000), o pH de águas subterrâneas varia entre 5,5 e 8,5, sendo que em casos especiais o mesmo pode oscilar entre 3 e 11. Portanto, constatou-se que o pH das amostras do poço encontrou-se dentro do limite preconizado pela legislação CONAMA 357/05, para águas de classe III (pH entre 6 e 9). Já para as amostras de efluentes, esse parâmetro situou-se no limite estabelecido pela legislação CONAMA 430/11 para efluentes lançados. A condutividade elétrica das amostras do poço de monitoramento apresentou valores entre 500 µS/mL a 1300 µS/mL, sendo o valor recomendado pela legislação CONAMA 357/05 < 750 µS/mL. Em relação às amostras do efluente coletado, a mesma apresentou variações entre 2000 µS/mL e 2500 µS/mL, portanto, bastante superior. A concentração de OD é de fundamental importância para avaliar as condições naturais da água e detectar impactos ambientais como a eutrofização e poluição orgânica. Esta variou entre 3,5 e 5,9 mg.L-1 nas amostras do poço, sendo o limite preconizado para águas de classe III (CONAMA 357/05) ≥ 4 mg.L-1. Para as amostras da lagoa de decantação “A” a análise realizada no mesmo período mostrou concentrações de OD variando entre 0,3 e 2,0 mg.L-1, ainda inferior ao limite mínimo preconizado pela legislação para águas de classe III. A DQO (Figura 2) corresponde à quantidade de oxigênio requerida para estabilizar quimicamente a matéria-orgânica carbonácea utilizando fortes agentes químicos oxidantes, sendo um dos parâmetros de maior importância na caracterização do grau de poluição de um corpo d’água por matéria-orgânica (von SPERLING 2005)

Figura 2

Variação da Demanda Química de Oxigênio das águas do poço de monitoramento (PMX) e do efluente coletado da lagoa de decantação “A” da ETE.

Figura 1

Variação do pH das águas do poço de monitoramento (PMX) e do efluente coletado da lagoa de decantação “A” da ETE de agroindústria sucroalcooleira AL.

CONCLUSÕES:Os resultados das análises físico-químicas das amostragens, tanto da água subterrânea como do efluente, evidenciam que eventualmente ocorreram níveis superiores aos permissíveis pela legislação CONAMA 357/2005 e 430/11 em ambas as águas, ainda que em períodos de chuvas, as quais carream muita matéria orgânica. No entanto, em geral, não se verificou má qualidade da água do poço de monitoramento, e, portanto, não se pode afirmar que nos momentos em que alguns parâmetros estavam alterados, isso deveu-se a infiltração e percolagem dos efluentes da lagoa não revestida, mas revela uma preocupação.

AGRADECIMENTOS: À S.A. Usina Coruripe Açúcar e Álcool

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA:APHA. (1995). Standard methods. 19. ed. American Public Health Association, Washington, DC.

CONAMA. (2006). Livro das Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. 1ª ed. Brasília: MMA, 808p.
DORIGON, E. B.; TASSARO, P. (2010). Caracterização dos efluentes da lavação automotiva em postos de atividade exclusiva na região AMAI – Oeste catarinense. Unoesc & Ciência – ACBS, Joaçaba, v. 1, n. 1, p. 13-22, jan./jun.

MACEDO, J. A. B. (2001). Águas & Águas - Métodos Laboratoriais de Análises Físico-Químicas & Microbiológicas. 1 ed. Juiz de Fora - MG.

MORELLI, E. B. (2005). Reúso de água na lavagem de veículos. Dissertação (Mestrado em Engenharia)–Escola Politécnica da Universidade de São Paulo- SP. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/ 107 f.

SANTOS, A C. (2000). Noções de hidroquímica. In: Hidrogeologia-conceitos e aplicações. 2 ed. Fortaleza: CPRM/REFO, LABHID-UFPB, cap.5, p. 81-108.

Von SPERLING, M. (2005). Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: Ed. da UFMG.