A Gestão de Risco Aplicada no Gerenciamento de Materiais Perigosos
Área
Gestão ambiental
Autores
Borges de Siqueira Santiago, C. (UNESA) ; Sayão Vieira, D. (UNESA) ; Ramos Guimarães, F. (FIOCRUZ)
Resumo
Os Materiais Perigosos englobam produtos químicos, gases e saneantes, identificados conforme periculosidade e normativas vigentes. O estudo de caso foi realizado na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), englobando as etapas do gerenciamento de materiais perigosos com a realização do mapeamento de processos e a gestão de risco para avaliação dos eventos identificados. Ao todo, foram realizados 14 mapeamentos e identificados 32 riscos. A identificação dos riscos possibilita a revisão do processo de trabalho e a tomada de decisão. Foi considerado que as melhorias propostas atendem aos princípios da sustentabilidade, com a redução do risco de acidentes envolvendo trabalhadores, usuários e ambiente, bem como a preservação da integridade do próprio processo administrativo.
Palavras chaves
Sustentabilidade; Materiais Perigosos; Gestão de Risco
Introdução
Devido ao atual cenário de impactos ambientais originados de produtos e processos, diversas instituições avaliam a necessidade de ações que envolvam a sustentabilidade como norteadora de suas atividades de gestão. (DEI-PRÁ et al., 2018). O setor da saúde é um dos principais consumidores de substâncias químicas, inclusive as substâncias que causam impactos sobre a saúde e o meio ambiente, devido suas atividades ambulatoriais e laboratoriais (AGHVS, 2020). Segundo Carvalho (1999), acredita-se que tudo aquilo que está presente dentro de um laboratório é uma potencial fonte de risco. Conforme Burmester (2013), risco é a probabilidade de ocorrer um determinado evento indesejado ou acidentes. A Gestão de riscos é uma ferramenta de avaliação dos riscos existentes nos processos de trabalho, para evita-los ou minimizá-los. A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) é uma unidade técnico científica da Fiocruz e possui atividades voltadas ao ensino, pesquisa e atendimento na área da saúde pública (ENSP, 2020e). A ENSP emitiu o Plano de Gerenciamento de Materiais Perigosos (PGMP) estabelecendo a definição de materiais perigosos como uma classificação englobando produtos químicos, gases e saneantes utilizados na instituição (ENSP, 2020d). A escolha da ferramenta gestão de risco foi decidida a partir da necessidade de avaliação do processo global de gerenciamento de materiais perigosos e de seus subprocessos. O presente trabalho apresenta o estudo de caso do gerenciamento de materiais perigosos (GMP) utilizados na ENSP visando avaliar o GMP/ENSP e sugerir oportunidades de melhorias para nas etapas do processo e consequentemente, a minimização de riscos.
Material e métodos
O presente trabalho utilizou como fonte de estudo o GMP/ENSP. A ENSP/FIOCRUZ, como unidade técnico científica, possui vinte e uma edificações físicas e é estruturada em cinco vice direções, três centros de saúde/ambulatórios, nove departamentos e dezesseis laboratórios, com cerca de mil trabalhadores e quinhentos estudantes. A metodologia elegida inicia-se com o mapeamento dos processos de trabalho utilizando o Software Bizagi Modeler, baseado na versão 3.4.0.062/2019 para apresentação de forma clara e objetiva da organização do processo de gerenciamento de materiais perigosos, abrangendo o fluxo, etapas e responsáveis para todas as tipologias de materiais definidas no GMP/ENSP. A aplicação da metodologia de gestão de riscos foi realizada à partir dos mapeamentos dos processos de trabalho do GMP utilizando a metodologia descrita no Guia de Gestão de Riscos da Fiocruz com planilha adaptada e adotada pela ENSP sendo composta pelas etapas de identificação, análise, avaliação e tratamento do risco. O Guia de Gestão de Riscos da Fiocruz considera que todos os níveis de riscos são importantes para a avaliação do processo, mas determina o apetite de risco institucional, considerando como prioridade de ação e/ou tratamento aqueles apresentarem apetites de risco classificados como alto e muito alto.
Resultado e discussão
Foram realizados 14 mapeamentos de processo abordando desde a aquisição até
a destinação de cada tipo de material perigoso. Foram identificados 32
riscos negativos para os 14 processos mapeados, englobando os três tipos de
materiais perigosos, com a classificação do risco nos níveis: baixo, médio,
alto e muito alto, conforme demonstrado na figura 1.
No presente estudo foi estabelecido a ação “aceitar” para o risco
classificado como “risco baixo” e “risco médio”, pois se encontraram dentro
da faixa aceitável para o apetite de risco institucional, não sendo
necessária a indicação de nenhum novo controle para mitigação, mas sendo
indicado a manutenção do monitoramento periódico para os processos
considerados “risco médio”.
Os riscos classificados como “risco alto” e “muito alto” obtiveram como ação
compartilhar/transferir (22%), mitigar (43%) ou evitar (35%), pois estavam
acima das faixas aceitáveis para o apetite de risco. A figura 2 apresenta a
análise dos riscos, conforme classificação já descrita.
Com a utilização das ferramentas propostas no estudo de caso foi possível
identificar níveis de risco classificados como “risco alto” e “muito alto”
na etapa de armazenamento de materiais, principalmente pela possibilidade de
ocorrências como a guarda de um grande quantitativo de material, acúmulo de
produtos vencidos, aquisições equivocada ou desnecessárias e guarda
inadequada. Como melhoria do processo de trabalho podem ser realizadas
alterações como o redimensionamento da compra anual, a doação dos materiais
que não serão mais necessários e a destinação adequada dos resíduos
vencidos. A ferramenta de gestão do risco permite a classificação do risco e
evidencia a necessidade da realização das ações indicadas subsidiando os
gestores na tomada de decisões.
Conclusões
Atendendo aos requisitos obtidos na gestão de risco e realizando os pontos de melhoria espera-se que as etapas do gerenciamento de materiais perigosos possam ser revisadas e atualizadas, com medidas de comunicação eficaz, reuniões para elaboração do plano de ação, tomada de decisões e monitoramento periódico. Considera-se que as melhorias propostas atendem aos princípios da sustentabilidade, minimizando impactos socioambientais, com a redução do risco de acidentes envolvendo trabalhadores, usuários e ambiente, bem como a preservação da integridade do próprio processo administrativo.
Agradecimentos
Referências
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