Análise da Formação de Técnicos com conhecimentos de Química Verde: revelações dos projetos dos cursos




Área

Gestão ambiental

Autores

Gomes, L.S. (IF FLUMINENSE - CAMPUS CABO FRIO) ; Rocha, H.A.B.P. (IF FLUMINENSE - CAMPUS CABO FRIO) ; Nunes, R.C. (IF FLUMINENSE - CAMPUS CABO FRIO)

Resumo

A Química Verde (QV) pode ser definida como a prática de promover tecnologias químicas inovadoras que reduzam ou eliminem o uso ou geração de substâncias tóxicas no desenvolvimento, produção e utilização de substâncias químicas. É necessário que cada vez mais sejam formados profissionais com conhecimento na área. Os conceitos da QV devem ser incluídos em cursos técnicos, graduação e pós-graduação. Estima-se que em 2020 10% dos processos Petroquímicos serão alinhados com a Química Verde. Nesse trabalho, objetivou-se investigar como a QV vem sendo apresentada em alguns cursos técnicos de nível médio que possam atuar na indústria ofertados pelos Institutos Federais. De forma geral, observa-se que a presença dos conceitos de QV nos projetos dos cursos analisados ainda é muito baixa.

Palavras chaves

Química Verde; Institutos Federais; Cursos técnicos

Introdução

Química Verde (QV) pode ser definida como “a invenção, o desenvolvimento e a aplicação de produtos e processos químicos visando reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias perigosas” (Anastas e Kirchhoff (2002) apud Maximiano et al (2009)). Gomes et al (2018) destaca que em 2020 haverá uma participação da Química Verde em pelo menos 10% no conjunto da oferta de produtos petroquímicos (que poderá alcançar, no caso específico das resinas termoplásticas, 240 milhões de toneladas). Segundo Goes (2013) “A importância da QV no atual cenário do desenvolvimento mundial não pode ser minimizada. A demanda por profissionais capacitados nas diversas áreas da química tende a crescer, e para que sejam protagonistas do processo de crescimento sustentável, sua capacitação deve incluir a incorporação da QV como parte indissociável de sua prática profissional. Isso somente será possível com a difusão da QV nas diversas instâncias da formação de químicos, professores de química e engenheiros químicos.” Os conceitos de QV podem ser inseridos de formas diversas nos currículos acadêmicos, como mostra Burmeister et al (2012): em procedimentos experimentais, estratégicas sustentáveis como conteúdo no currículo de química e, por fim, uso de questões de sustentabilidade associadas a aspectos sócio-científicos. Segundo Moreira et al (2017) “QV possibilita aos estudantes desenvolverem a criticidade, a responsabilidade pelas suas ações, bem como visualizarem a relevância da sua aplicação quando se trata de solucionar os problemas ambientais.” Sendo assim, o objetivo desse trabalho é analisar os projetos dos cursos técnicos em Química, Petróleo e Gás/Petroquímica e Mecânica ofertados nos Institutos Federais (IF) propiciam o aos estudantes alguma formação na área de QV.

Material e métodos

Através do portal do MEC, foram identificados todos os Institutos Federais (IF´s) e seus respectivos campus que oferecem os cursos técnicos em Química, Petróleo e Gás/Petroquímica e Mecânica/Mecânica Industrial, independente da modalidade (integrado, concomitante ou subsequente). Na etapa seguinte, foram acessados todos os sites dos IF´s e baixados os Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC´s) dos cursos de interesse. Dentro desses projetos foram pesquisados os seguintes termos: Química Verde, Química Ambiental, Catálise, Eficiência atômica, prevenção da poluição, energia limpa, biomassa, sustentabilidade, monitorização e detecção ambiental, tratamento e gerenciamento de resíduos, toxicologia, legislação ambiental, economia atômica, poluição da água e matriz energética. Nesse trabalho, foram analisados 54 ofertas do curso técnico em Química em 42 campi de todo país. Dessas 54 ofertas, 17 não disponibilizam o projeto pedagógico do curso. Sendo assim, foi possível realizar a análise em 37 documentos. Todos os projetos pedagógicos analisados foram aprovados entre os anos de 2005 a 2019. Para o curso técnico em Petróleo e Gás e o curso Técnico em Petroquímica, que foram analisados juntos, foram encontrados 14 Campi que oferecem os cursos, cada campus em uma modalidade apenas, desses apenas 9 disponibilizam pelo site. Em relação ao curso técnico em Mecânica e Mecânica Industrial foram encontrados 67 campi que oferecem o curso, todavia alguns campus oferecem em mais de uma modalidade totalizando assim 98 ofertas do curso. Analisaram-se 64 documentos e 34 não estavam disponíveis no site.

Resultado e discussão

As indústrias apesar de sua indiscutível relevância para a sociedade moderna, ao longo do tempo, vem causando em grandes dimensões impactos ambientais e, consequentemente, prejudicando a saúde humana e o meio ambiente. A QV propõe que os processos sejam modificados para minimizar esses impactos, ao invés de remediar, o que nem sempre pode ser possível por aspectos técnicos e/ou financeiros. Os resultados encontrados nos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC´s) encontram-se na Figura 1. Como pode ser observado, de forma geral, a ocorrência dos termos buscados é baixa nos documentos analisados. O termo mais recorrente é "tratamento de resíduos", que aparece em 34 cursos técnicos em Química, o que representa mais de 50% dos cursos analisados. Entretanto, é importante frisar que a QV defende a minimização da geração de resíduos. Nos cursos técnicos em Mecânica e Petróleo, o termo mais frequente é sustentabilidade, com 22 e 6 ocorrências, respectivamente. O termo “eficiência atômica” não aparece em nenhum PPC analisado dos três cursos. As expressões "Química Verde" e "Economia Atômica" ocorrem em apenas um curso técnico em Química cada. Diante dessa análise levantamos a hipótese que os Institutos Federais não tem ofertado de forma suficiente os conteúdos de Química Verde. É necessário que estes conceitos sejam incluídos nos cursos, de maneira formal ou informal, essa última não é possível inferir nesse trabalho que não está ocorrendo através de palestras, workshops, etc. A química verde deve deixar de ser apenas um conceito, para ser uma atitude responsável,[...]. Para tanto precisamos “inocular” nos estudantes e profissionais o “comportamento verde”. (Pinto et al, 2009 apud Zuin, 2011)

Figura 1:

Análise de conceitos de QV nos projetos dos cursos técnicos em Química, Petróleo e Gás/Petroquímica e Mecânica ofertados pelos IF´s.

Conclusões

Apesar dos esforços que alguns setores industriais vem empenhando para tornar os processos mais verdes, ainda há um longo caminho a ser trilhado. Nesse sentido, destacamos a importância da reformulação dos cursos técnicos que formam profissionais com potencial atuação na indústria, pois, como foi observado, os conceitos ainda não encontram uma ampla inserção nas matrizes curriculares. Outras ações podem incluir visitas técnicas a empresas mais verdes, palestras, dentre outras.

Agradecimentos

CNPq

Referências

BURMEISTER, M. et al. Education for sustainable development (ESD) and chemistry education. Chemistry Education Research and Practice, v. 13, n. 2, p. 59-68, 2012.
GOES, Luciane Fernandes et al. Aspectos do conhecimento pedagógico do conteúdo de química verde em professores universitários de química. Educación Química, [S. l.], p. 113-123, 28 jan. 2020. Disponível em: https://www.elsevier.es/index.php?p=revista&pRevista=pdf-simple&pii=S0187893X13725047. Acesso em: 11 mar. 2020.
GOMES, Rachel Novaes et al. Desenvolvimento da química verde no cenário industrial brasileiro. Revista Fitos, [S.l.], p. 80-89, set. 2018. ISSN 2446-4775. Disponível em: <http://revistafitos.far.fiocruz.br/index.php/revista-fitos/article/view/580>. Acesso em: 03 março 2020.
MAXIMIANO, Flavio A. et al . Química Ambiental e Química Verde no conjunto do conhecimento químico: concepções de alunos de graduação em Química da Universidade de São Paulo. Educación Química, México , v. 20, n. 4, p. 398-404, 2009 . Disponível em <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0187-893X2009000400002&lng=es&nrm=iso>. Acesso em 30 de março de 2020.
MOREIRA, Amanda M et al. Abordagem CTS e o conceito de Química Verde: possíveis contribuições para o ensino de química. ACTIO, Curitiba, v. 2, n. 2, p. 193-210, jul./set. 2017.

SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. A Pesquisa Científica. In: GERHARDT, T. E. SILVEIRA, D. T. (Org.). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. (Série Educação a Distância). Disponível em: <http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2020.
Zuin, V.G. A inserção da dimensão ambiental na formação de professores de química. Campinas, SP: Editora Átomo, 2011.

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