Compreendendo a reatividade da molécula diarsina: um estudo computacional.




Área

Catálise

Autores

Zicolau Modolo, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS) ; de Oliveira Santos, D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS) ; Bezerra Viana, R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS)

Resumo

Os hidretos diarsênicos são os sistemas moleculares mais simples com uma ligação arsênio-arsênio. O objetivo desta investigação é demonstrar uma caracterização da reatividade da molécula diarsina (H2AsAsH2). O perfil energético calculado no nível CCSD(T)/CBS indicou o a diarsina como a configuração mais estável entre os tetra-hidretos demonstrando uma diferença de energia acima de 30 kcal mol1 em relação ao isômero H3AsAsH. As possíveis rotas de desidrogenação também foram realizadas neste estudo.

Palavras chaves

diarsina; arsenio; modelagem molecular

Introdução

O tetrahidreto diarsênico mais conhecido é a diarsina (H2AsAsH2). A primeira síntese de diarsina foi realizada em 1941 (NAST, 1948). Estudos adicionais também foram realizados para estimar a energia de ionização e a afinidade eletrônica (D’ULIVO et al., 2011; SAALFELD; SVEC, 1963), assim como as propriedades termodinâmicas da diarsina (ALDRIDGE; DOWNS, 2001; LAUBENGAYER, 1957; WILKINSON,1972). No nível estrutural, outros estudos relataram a caracterização por difração de elétrons (BECKER et al., 1999; DOWNS et al., 1991) e difração de raios-X (BECKER et al., 1999; GROBE et al., 2006) de análogo da diarsina. No campo teórico, Spinney et al. (SPINNEY; PIRO; CUMMINS, 2009) estudou a estrutura da diarsina, enquanto os esforços de outros grupos de pesquisa concentraram-se em caracterizar sua energia de ionização por valência externa (GALASSO, 1983) e em compreender o processo de dimerização da diarsina (HIMMEL, 2003; HIMMEL; SCHNÖCKEL, 2003). Em contrapartida, até o momento não há qualquer investigação considerando o isômero H3AsAsH e o processo de isomerização. A diferença de energia relativa entre os isômeros H2AsAsH2 e H3AsAsH também não foi elucidada até o momento. Portanto, o objetivo deste estudo é fornecer uma análise química quântica da reatividade da diarsina, avaliando as possíveis rotas de isomerização e as reações de desidrogenação.

Material e métodos

Todos os cálculos foram realizados no programa Gaussian 09. Na otimização das estruturas foi empregado o método MP2/cc-pVQZ. Na análise dos estados de transição (TS) também foi realizado um cálculo das frequências vibracionais que nos permitiu determinar a frequência imaginária relacionada ao caminho da reação. A conexão dos mínimos e do estado de transição foi verificada através do estudo do IRC (intrinsic reaction coordinate). Na avaliação das energias relativas foi empregada a metodologia CCSD(T) empregando a extrapolação de dois pontos para extrapolar o efeito de base completa a partir das funções de base aug-cc-pVTZ e aug-cc-pVTQZ.

Resultado e discussão

O perfil energético das estruturas de tetrahidreto no estado fundamental pode ser representado pelas reações abaixo (R1-R6). Com base nas energias relativas calculadas, é possível concluir que a diarsina é o ponto estacionário mínimo global separado por uma diferença de energia de 33 kcal mol^-1 abaixo do isômero H3AsAsH. O processo de isomerização (R1) entre os dois isômeros é controlado por um estado de transição, que reside em uma barreira energética de 58,9 kcal mol^-1 acima da diarsina. Por outro lado, a reação reversa (H3AsAsH → H2AsAsH2) pode ocorrer superando uma barreira de 25,5 kcal mol^-1. Voltando a atenção para os processos de eliminação de H2, a partir da estrutura H3AsAsH (R5 e R6), observa-se que estas reações são governadas por duas estruturas de estado de transição apertadas (TSR5 e TS R6) com frequências imaginárias acima de 500 cm^-1. Estas rotas de desidrogenação do isômero H3AsAsH (R5 e R6) podem prosseguir por barreiras de energia em torno de 40 kcal mol^-1, produzindo as estruturas de dihidretos HAsAsH com configurações cis e trans. Além disso, a eliminação de H2 da diarsina (R2) pode produzir o diarseno (AsAsH2) passando uma barreira de 61.5 kcal mol^-1. Outro canal de desidrogenação pode ocorrer através da ejeção de H produzindo o radical H2AsAsH (R4). De fato, a dissociação de hidrogênio (R4) pode ser uma rota competitiva com as vias de eliminação de H2 da diarsina (R2), no entanto a dissociação da ligação arsênio-arsênio seguida pela formação de duas moléculas de AsH2 pode ocorrer a partir de uma quantidade de energia menor de 43.5 kcal mol^-1 (R3). H2AsAsH2→H3AsAsH (R1) H2AsAsH2→AsAsH2 + H2 (R2) H2AsAsH2→AsH2 + AsH2 (R3) H2AsAsH2→H2AsAsH + H (R4) H3AsAsH→cis-HAsAsH + H2 (R5) H3AsAsH→trans-HAsAsH + H2 (R6)

Conclusões

Com o uso dos métodos pós-Hartree-Fock CCSD(T) e MP2, caracterizamos a pirólise da diarsina. Os resultados indicaram que a dissociação da ligação química As-As, formando duas moléculas de AsH2 é uma das rotas mais favoráveis. Quanto a desidrogenação, o mecanismo que leva à formação da molécula diarseno (AsAsH2) é uma das rotas com menores barreiras de energia.

Agradecimentos

M.Z. Modolo gostaria de agradecer a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado.

Referências

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