ESTIMATIVA DA CAPACIDADE ENERGÉTICA DO RESÍDUO BORRA DE CAFÉ VISANDO SEU REAPROVEITAMENTO

ÁREA

Química Verde


Autores

Silva, N.E. (IFRN) ; Medeiros, J.G.F.S. (IFRN) ; Tavares, M.L.A. (IFRN) ; Bertini, L.M. (IFRN) ; Alves, L.A. (IFRN) ; Nascimento, T.L. (IFRN)


RESUMO

No âmbito das fontes de energia, em que ainda predominam os combustíveis fósseis, não renováveis e poluentes, a biomassa pode ser explorada de forma eficaz para que um equilíbrio entre o ambiental, o econômico e o social seja atingido, convertendo resíduos vegetais em insumo para geração energética. Nesta pesquisa busca-se avaliar o potencial energético do resíduo borra de café visando a sua reutilização para produção de energia renovável. Nesse sentido, foi obtida a estimativa do Poder Calorífico Superior (PCS) a partir de uma equação matemática, utilizando dados das análises dos teores de Materiais Voláteis (MV), Cinzas (C) e Carbono Fixo (CF) da borra de café. Após a análise, os resultados demonstraram-se válidos e positivos.


Palavras Chaves

Biomassa; Poder Calorífico; Borra de Café

Introdução

Atualmente, a biomassa tem sido considerada uma alternativa potencial por diversas empresas do Brasil, levando em consideração seus aspectos ambientais sustentáveis, tendo em vista o aumento dos problemas relacionados ao aquecimento global, especialmente do efeito estufa, decorrente do consumo elevado dos combustíveis fósseis. A partir disso, a biomassa é uma forte alternativa, mediante à sua grande abrangência de recursos, desde os potenciais solar, hidráulico e eólico, até os resíduos orgânicos passíveis de combustão. A energia de biomassa é aquela fornecida por materiais de origem vegetal renovável ou obtida pela decomposição de dejetos. Hoje, são utilizadas inúmeras fontes de biomassa renovável. O Brasil tem desenvolvido tecnologia há vários anos para a utilização da biomassa como fonte geradora de energia, gerando empregos com muito pouco recurso financeiro (DINIZ, 2014). O país está em posição de aumentar sua utilização da energia da biomassa, oferecendo potencial considerável para a diversificação da energia, sendo berço mundial da agricultura, portanto tem enorme potencial para a geração de energia através do uso de culturas energéticas e resíduos agrícolas (ZERBINATTI, 2012). Segundo o Boletim da Safra de Café de 2021, publicado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foram produzidas aproximadamente 48 milhões de sacas desse produto no Brasil e o consumo do café acaba gerando um resíduo denominado borra do café. A constituição da borra quanto à sua composição elementar, segundo as análises de Batista Júnior (2017), é: 49,00% de carbono, 7,02 de hidrogênio, 2,86% de nitrogênio, 1,43% de enxofre e 36,69% de Oxigênio. Ademais, Soares et al. (2015) afirma que a borra em pó é um material rico em lipídios, no qual, segundo Andrade (2011), as principais classes encontradas são os triglicerídeos e ésteres de álcool diterpeno, os quais geram a possibilidade do uso de óleo extraído da borra para a produção de biodiesel de alta qualidade, por exemplo. A borra de café costuma ser descartada e encaminhada aos aterros sem nenhum tratamento ou valorização e pode ocasionar efeitos negativos ao meio ambiente, já que de acordo com Hermann (2019), o resíduo não apresenta valor comercial, devido à presença de produtos como taninos e cafeína, pois são considerados antinutricionais para a alimentação animal e quando em concentração acima de 2,5 % são tóxicos para as plantas e microorganismos do solo. Além disso, Andrade (2011) ainda aponta que em uma indústria de café solúvel, para cada tonelada de café produzida são geradas 4,5 t de borra, com aproximadamente 80% de umidade, mesmo assim, apenas uma pequena porcentagem é aproveitada em razão do desconhecimento do potencial energético e pela falta de equipamentos apropriados para sua utilização. Dessa forma, nesta pesquisa busca-se avaliar a potencialidade energética da borra de café, visando uma possibilidade econômica e sustentável de reduzir a grande quantidade de resíduos acumulados reutilizando os resíduos gerados para a produção de energia renovável.


Material e métodos

A borra de café foi coletada nas residências da cidade de Apodi, no estado do Rio Grande do Norte. Durante o processo de coleta a borra foi armazenada em um recipiente fechado sob refrigeração, para a prevenção da proliferação de micro- organismos e, posteriormente, foram realizadas as análises imediatas para a obtenção dos teores de Carbono Fixo (CF), Cinzas (C) e Materiais Voláteis (MV) para a realização do cálculo da estimativa do Poder Calorífico Superior do material analisado. PODER CALORÍFICO SUPERIOR (PCS) Para calcular a estimativa do Poder Calorífico Superior da borra de café, utilizou-se dos valores encontrados na análise imediata e da equação 1, descrita por Ferreira et al. (2014), desenvolvida pelos autores a partir de uma modelagem da análise imediata das equações utilizadas nos demais teores da borra, assim como do poder calorífico de diversas biomassas carbonáceas sólidas. PCS (Kcal/kg)=84,5104 x (CF%)+37,2601 x (MV%)-1,8642 (C%) (1) Em que: CF% → teor de Carbono Fixo (CF) MV% → teor Materiais Voláteis (MV) C% → teor Cinzas (C)


Resultado e discussão

Os resultados obtidos nas análises imediatas realizadas na borra de café estão descritos foram: materiais voláteis (89,55%), cinzas (2,24%) e carbono fixo (8,20%). PODER CALORÍFICO SUPERIOR (PCS) O PCS é a quantidade de calor liberada na combustão de um material considerando a energia utilizada pela água de formação e de umidade (CORTEZ, LORA e GÓMEZ, 2008). Dessa forma, esse dado está diretamente relacionado com o potencial energético do material por indicar sua geração calorífica, sendo caracterizado como uma das principais propriedades utilizadas para a caracterização energética de biomassas em geral. O poder calorífico é influenciado pelos teores de CF, C e MV, pois quanto menor a água e matéria não combustível, e quanto maior o índice de materiais inflamáveis, mais eficiente será a combustão. No trabalho de Soares et al. (2015) é apresentado um PCS médio de 20,08 MJ/kg, em um briquete inteiramente de borra. Enquanto nessa pesquisa, o valor encontrado para o PCS foi de 4025,62 Kcal/kg que equivale à 16,8545 MJ/kg, um valor inferior, mas que pode ser explicado pela variedade do café, pela variabilidade dos métodos empregados para a obtenção do valor, e, principalmente, pela análise ter sido efetuada com base no pó da borra, considerando o aumento do potencial. Ademais, Soares et al. comenta sobre o PCS de outras potenciais biomassas encontradas na literatura, como a da casca de arroz, com 14,0 MJ/kg; 16,78MJ/kg a 18,96 MJ/kg para briquetes contendo serragem; e 15,77 MJ/kg a 18,19 MJ/kg para briquetes contendo bagaço de cana e glicerina, valores que, de modo geral, aproximam-se do resultado obtido, alguns inclusive menores, sendo favoráveis à viabilidade da borra do café como matéria- prima na produção de lenha ecológica (briquetes) para a geração de energia.

Conclusões

A avaliação energética do resíduo borra de café realizada no presente trabalho apresentou resultados satisfatórios, e condizentes com o observado na literatura. De modo geral, o valor alcançado na estimativa do poder calorífico da borra de café demonstra a viabilidade da reutilização do resíduo para a produção de energia renovável através de biomassa pela grande disponibilidade do resíduo, devido a sua constante geração. Assim, conclui-se que há um alto potencial de liberação de calor a ser explorado na borra de café e, com isso, a sua exploração em setores que utilizam do calor para a geração energética e, principalmente, em maquinários que utilizam da queima do carvão, torna-se possível.


Agradecimentos

Ao IFRN – campus Apodi; Grupo de Inovações Tecnológicas e Especialidades Químicas (GRINTEQUI) da UFC; CNPQ.


Referências

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CORTEZ, Luís Augusto B.; LORA, Electo Eduardo S.; GÓMEZ, Edgardo O. Biomassa para energia. Campinas: Editora UNICAMP, 2008. Disponível em: <https://www.nipe.unicamp.br/docs/publicacoes/inte-biomassa-energia070814.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2023.

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SOARES, Larissa de Souza et al. Utilização de Resíduos de Borra de Café e Serragem na Moldagem de Briquetes e Avaliação de Propriedades, Matéria, v. 20, n. 02, p. 550 - 560, 2015. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rmat/a/3crnHzYmkJFNVHWXzSyLxGf/abstract/?lang=pt> Acesso em: 1 abr. 2023.

ZERBINATTI, Oberdan Everton. Briquetagem de Resíduos de Café Cultivado no Sistema Safra Zero. 2012. 42 f. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Produção na Agropecuária) - Universidade José do Rosário Vellano, Alfenas. Disponível em: <http://tede2.unifenas.br:8080/jspui/handle/jspui/63>. Acesso em: 1 abr. 2023.

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