QUANTIFICAÇÃO DE QUERCETINA EM EXTRATO DE ALFACE, VARIANDO TEMPO, TEMPERATURA E SOLVENTE

ÁREA

Química de Produtos Naturais


Autores

Rosa, M.F.R. (UNIOESTE TOLEDO) ; Alves, A.C. (UTFPR TOLEDO) ; Matos, C. (UTFPR TOLEDO) ; Pires, R. (UTFPR TOLEDO) ; Cerri, C. (BIOPARK / UTFPR TD) ; Lobo, V. (UTFPR TOLEDO)


RESUMO

Na sociedade contemporânea, que está em constante evolução, se observa um crescente interesse pela alimentação saudável. A alface, Lactuca sativa, torna- se objeto de avaliação de sua qualidade nutracêutica por alto consumo. O objetivo desta pesquisa foi quantificar a concentração de compostos fenólicos no extrato de alface, específicamente a quercetina. Os extratos de alface foram preparados por meio de uma solução de água destilada e etanol, em concentrações de 100:0 e 50:50. As amostras foram mantidas em agitação constante de 200 rpm por 6 e 24 h em uma incubadora Shaker, em temperatura controlada de 40 e 60°C, e a concentração de quercetina foi determinada por UV-Vis a 440 nm. O processo com maior concentração de quercetina foi com 50% de etanol, no tempo de 24 h, a 60 °C.


Palavras Chaves

alface; extrato; quercitina

Introdução

À medida que a sociedade se torna cada vez mais complexa, os padrões de vida são modificados, impactando diretamente às pessoas. De acordo com Moraes e Colla (2006), essa realidade leva ao surgimento de sintomas como cansaço, depressão e irritação, sendo o estresse uma forma comum de manifestação. Visto o surgimento de novas doenças na atualidade, a preocupação com uma boa alimentação está se tornando cada vez mais comum dentre as pessoas. O consumo de alimentos naturais, como frutas e vegetais, é mais recorrente por conta dos incentivos da comunidade científica, uma vez que estudos apontam os riscos que alimentos industrializados podem trazer ao serem consumidos frequentemente em excesso. Segundo Silva (2016), desde a última década, fontes naturais de compostos com atividades antioxidante são mais procuradas devido aos benefícios proporcionados à saúde, uma vez que têm propriedades capazes de proteger o organismo e células contra o dano causado por estresse oxidativo. Machado, Puton e Bertol (2019) afirmaram que uma alimentação balanceada pode prevenir e tratar muitas doenças, pois há uma estreita relação entre nutrientes e saúde. De acordo com os autores, alimentos nutracêuticos possuem diversas definições, uma das mais aceitas seria a contração dos termos nutrientes + farmacêuticos, ou seja, alimentos, ou parte de alimentos, ou nutrientes, administrados em formas farmacêuticas. As classes de nutracêuticos incluem fibras dietéticas, ácidos graxos poli-insaturados, proteínas, peptídeos, aminoácidos ou cetoácidos, minerais, vitaminas e antioxidantes (MACHADO; PUTON; BERTOL, 2019). Desta forma, a escolha da alface (Lactuca sativa) como objeto de estudo se justifica pelo fato desta ser uma das hortaliças mais cultivadas e consumidas tanto no Brasil quanto no mundo. Mesmo diante das diferenças climáticas encontradas em diversas regiões, a alface mantém sua relevância no cultivo e consumo (FILHO, 2017), o que ressalta a importância de investigar a composição nutracêutica dessa hortaliça. Moreira e Scatolin (2018) afirmaram que, em relação à classificação, o extrato de alface foi classificado como flavonoide e identificado em sua composição a presença de quantidades elevadas de quercetina. Ainda segundo os autores, a quercetina pertencente, mais especificamente, ao grupo de compostos polifenólicos ao qual se atribuem inúmeros benefícios à saúde, dentre eles a ação anti-inflamatória. Além disso, in vitro, os flavonoides são capazes de eliminar os radicais livres, inibindo a peroxidação lipídica, e também são responsáveis por inibir a agregação plaquetária, ou seja, é uma medida com eficácia demonstrada na prevenção de trombose arterial na enfermidade vascular. A quercetina é um dos flavonoides mais presentes na dieta humana, pois é encontrada em grande quantidade nas frutas, verduras e chás. Possui propriedades de grande interesse, entre elas estão seus efeitos anticarcinogênicos, protetores do sistema renal, cardiovascular e hepático (SIMÕES et al., 2013). Portanto, a quercetina tem despertado interesse cientifico devido a sua ampla gama de benefícios para a saúde e suas propriedades terapêuticas em várias condições clínicas. Considerando as informações mencionadas, destacando a relevância nutracêutica e os benefícios associados ao consumo da alface, este estudo concentrou-se primordialmente na quantificação dos flavonoides encontrados nessa planta, buscando contribuir para o conhecimento científico sobre a qualidade nutracêutica desse vegetal. Este estudo se justifica diante do cenário atual de surgimento de novas doenças e da crescente preocupação com uma alimentação saudável, que tem impulsionado a transformação dos padrões de vida. Nesse contexto, o interesse cada vez maior dos brasileiros pela alimentação saudável e o desenvolvimento de diferentes alimentos nutracêuticos evidencia a importância de avaliar a qualidade nutracêutica do extrato de alface, com foco nos flavonoides, em específico a quercetina.


Material e métodos

Os experimentos foram realizados no laboratório do grupo de pesquisa GPTEQ, localizado no BIOPARK, Toledo/PR, no qual o objeto de estudo foi a alface crespa. O material foi comprado em supermercado local da cidade de Toledo/PR de um único produtor, uma quantidade suficiente para a realização de todos os experimentos. O sistema de produção do alface escolhida foi a do tipo convencional. Inicialmente, as alfaces foram devidamente lavadas sob água corrente e posteriormente com água destilada, para reduzir as impurezas. Em seguida, foram cortadas manualmente in natura, pesadas, separadas e adequadamente identificadas conforme iria proceder-se as extrações. Para a preparação do extrato alcoólico, foi utilizada uma adaptação da metodologia de Lutz (2008). Antes de cada extração, o material teve o teor de umidade medido, utilizando o equipamento balança de infravermelho. Inicialmente foram pesados 250 g da amostra de alface preparada anteriormente (limpa e triturada), em um Erlenmeyer. Em seguida, foram adicionados 250 mL de um solvente preparado com as concentrações de 100% aquosa e 50% etanólica, medidos em proveta graduada. Toda amostra de alface foi totalmente submersa em solução. Em seguida, as amostras foram mantidas em agitação por 6 e 24 em uma Incubadora Shaker, em temperatura controlada de 40°C e 60°C com agitação de 200 rpm. Para a concentração de todos os extratos obtidos, após término das condições de extração, filtrou-se as amostras por meio de sistema de filtração a vácuo, utilizando papel de filtro qualitativo. Para a quantificação de quercetina total foi utilizada a metodologia descrita no trabalho de Granato e Nunes (2016), seguindo com algumas adaptações. O processo de quantificação foi realizado utilizando 1,2 mL de extratos em um tubo de ensaio, acrescentado 1,2 mL de uma solução aquosa de cloreto de alumínio hexaidratado 2% e 1,8 mL de uma solução aquosa de acetato de sódio (50 g L-1), medidos com pipeta graduada de 2 mL, realizado em triplicata. Após 15 min, foi realizada a leitura de absorção da solução em 440 nm de comprimento de onda em espectrofotômetro UV-Vis faixa 190-900. Para a preparação da solução estoque padrão foi diluído 0,0021 g de padrão de quercetina (marca Sigma) em 5 mL de etanol absoluto PA em um balão volumétrico com capacidade de 25 mL, volume completado com água destilada/deionizada, obtendo uma solução com concentração de 80 mg L-1. A partir dessa solução foram realizados diluições seriadas para então obter 8 concentrações diferentes. A partir da curva analítica obtêve-se a equação de regressão e R2, que empregou para quantificar a concentração de quercetina nas amostras extraídas da alface.


Resultado e discussão

Inicialmente, com as amostras de alface já preparadas, determinou-se a umidade do vegetal pela balança de infravermelho, apresentando valor em torno de 95%, cada amostra. Em seguida, foram preparados os extratos de alface, variando-se concentração da solução água:etanol (100:0, 75:25, 50:50 e 0:100), temperatura (40°C e 60°C) e tempo de extração (4, 6, 24, 48, 72 e 96 horas), mantendo a agitação constante (200 rpm). A partir dos extratos obtidos, foi realizada a quantificação de quercetina existente em cada um pela metodologia de UV-Vis a partir dos valores de absorção no comprimento de onde 440 nm, utilizando como base uma curva padrão de calibração com quercetina padrão, variando-se a concentração. A curva padrão de determinação de flavonóides tipo quercetina (FIGURA 1) foi determinada utilizando os valores de absorbância obtidos na análise espectrofotométrica das soluções com o padrão quercetina como pode observar na Figura 2. FIGURAS 1 e 2 A equação foi obtida a partir da curva padrão de quercetina, determinada utilizando os valores de absorbância obtidos na análise espectrofotométrica UV- Vis das soluções diluidas com o padrão quercetina, obtendo-se o R2 = 0,9993, indicando uma equação de reta com baixa dispersão dos pontos: y = 0,0109x - 0,0092. A partir da equação obtida na curva de calibração, foi possível quantificar a concentração de quercetina em cada amostra de extrato de alface in natura, de cultivo tradicional na região oeste do Paraná. As amostras de extratos foram preparados para a leitura no equipamento UV-Vis, utilizando 1,2 mL de extratos em um tubo de ensaio, acrescentado com 1,2 mL de cloreto de alumínio hexaidratado 2% e 1,8 mL de acetato de sódio (50 g L-1). Após 15 min, foi realizada a leitura do máximo de absorção da solução em 440 nm de comprimento de onda, e o branco utilizado foi a mistura todos os solventes, exceto o extrato, no procedimento anterior. As Tabelas 1e 2 apresentam os resultados médios de leitura de absorbância a 440 nm para cada extrato, considerando concentração da solução extratora, temperatura e tempo de extração, bem como concentrações em mg L-1 calculadas, além do desvio padrão da média das absorbâncias. TABELAS 1 e 2 Comparando-se a concentração de quercetina em cada extrato, mantendo-se a mesma temperatura, observa-se que há uma tendência de aumento da concentração com o aumento da concentração de etanol na solução extratora. Isso pode ser explicado pela polaridade do álcool, sendo um pouco menor do que a polaridade da água, e pelo possível aumento na formação de ligação de hidrogênio com a quercetina. Dessa forma, pode indicar uma melhor solubilidade do substrato no solvente, aumentando significamente a concentração na solução quando comparado 100 % e 50% de água. Quando se compara os resultados mantendo a temperatura e a concentração da solução água:etanol constantes, observa-se que há variação quando se tem maior concentração de etanol na solução com o aumento do tempo de extração. Dessa forma, pode-se afirmar que há uma maior quantidade de quercetina em solução quando se usa maior quantidade de etanol como solvente extrato da alface. Os valores, que não resultaram como o esperado, podem ser explicados devido ao fato de as amostras serem heterogênias. Por serem amostras in natura, é importante considerar essa heterogeneidade natural das amostras que levaram a alguns resultados não serem conforme previsto, visto que há uma correlação entre a intensidade da cor da folha e a concentração de quercetina.

Figuras 1 e 2 - Alface

Figura 1: Estrutura química da quercetina\r\nFigura 2: Curva de calibração da quecetina

Tabela 1 e 2 - Alface

Tabela 1: Quantificação de quercetina em diferentes \r\nconcentrações e tempos a 60 oC\r\nTabela 2: Quantificação de quercetina em 40 oC

Conclusões

Considerando a relevância nutracêutica e os benefícios associados ao consumo da alface, este estudo concentrou-se primordialmente na quantificação dos flavonoides em especifico a quercetina encontrados nessa planta, buscando contribuir para o conhecimento científico sobre a qualidade nutracêutica desse vegetal. A partir dos resultados obtidos, foi possível quantificar a quercetina presente no extrato de alface das amostras analisadas via UV-Vis. Observando-se que a condição, que proporciou o melhor resultado durante o processo de extração, foi com uma maior quantidade de etanol na proporção de água destilada:etanol, no tempo de extração de 24 horas, a 60 °C. Considerando os resultados iniciais desta pesquisa virifica-se que têm o potencial de contribuição de estudos subsequentes na área de extratos nutracêuticos. Como sugestão para continuação do trabalho, seria análises em diferentes espécies de alface e comparando sistemas de cultivos, afim de análisar qual proporciona melhores resultados com relação a quantidade de quercetina no extrato.


Agradecimentos

À UTFPR. AO BIOPARK/Toledo.


Referências

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SIMÕES, V. N. Síntese, Caracterização E Estudo Das Propriedades De Um Novo Complexo Mononuclear Contendo Quercetina E Íon Ga(iii). Quim. Nova, Vol. 36, No. 4, 495-501, 2013.

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