ÁREA
Química de Produtos Naturais
Autores
Lima, R.B.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Silva, A.N.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Caldas, M.V.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Khan, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Fernandes, R.M.T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO)
RESUMO
As plantas são seres vivos complexos e, como tais, apresentam um metabolismo extraordinário, que leva à produção de uma grande variedade de substâncias químicas. O cultivo de plantas ornamentais desempenha um papel crucial na decoração de espaços, porém algumas delas são tóxicas, o que requer precauções essenciais para garantir a segurança. Este estudo teve como objetivo divulgar a toxicidade de plantas ornamentais comercializadas e frequentemente cultivadas pela população do município de São Luís-MA. Os desfechos finais englobam a utilização de literatura pertinente ao projeto, o mapeamento geográfico da Ilha de São Luís para a delimitação da região e a identificação das dez plantas mais tóxicas catalogadas pela Fio Cruz.
Palavras Chaves
Plantas Ornamentais; Toxidade; Cultivo
Introdução
As plantas são seres vivos complexos e, como tais, apresentam um metabolismo extraordinário, que leva à produção de uma grande variedade de substâncias químicas. Algumas dessas substâncias como as proteínas, os lipídios, os carboidratos e os ácidos nucléicos são comuns a todos os seres vivos e usadas no crescimento, na reprodução e na manutenção dos vegetais. No entanto, um número elevado de compostos químicos produzidos pelos vegetais serve a outros propósitos (Silva, 2009). Os pigmentos (flavonóides, antocianinas e betalaínas) e os óleos essenciais (monoterpenos, sesquiterpenos e fenilpropanóides) atraem polinizadores, enquanto algumas outras substâncias, como os taninos, lactonas sesquiterpênicas, alcalóides e iridóides além de apresentarem sabores desagradáveis, podem ser tóxicas e irritantes para outros organismos. Essas substâncias funcionam como dissuasórios alimentares e protegem as plantas contra predadores e patógenos (Poser, Mentz, 2001). Plantas ornamentais distinguem-se pelo florescimento, pelo colorido ou pelo formato das folhas e pela forma e aspecto geral da planta. Os vegetais são seres vivos complexos produtores de várias substâncias químicas e muitas delas quando ingeridas ou manipuladas imprudentemente podem trazer graves intoxicações, principalmente em crianças e animais (Silva, 2009). Um dos principais problemas relacionado à ação das plantas medicinais no Brasil é a ideia do que vem da natureza não faz mal, excluindo a possibilidade de uma planta causar uma reação adversa ou efeito tóxico (Rates, 2014). Toda planta apresenta alguma toxicidade em determinada dosagem, porém a denominação de plantas tóxicas se conceitua a todos os vegetais que, através do contato, inalação ou ingestão, acarretam danos à saúde, tanto para o homem como para animais, podendo inclusive levá-los a óbito (Turolla Nascimento, 2014). As plantas tóxicas são assim denominadas por apresentarem substâncias biodisponíveis capazes de causar alterações metabólicas. Tais alterações são reconhecidas como sintomas de intoxicação. No Brasil, a cada dez casos de intoxicação por plantas, seis ocorrem em crianças menores de nove anos, devido à presença comum em ambientes públicos, inclusive em escolas (Vasconcelos e Vieira, 2009). Sendo assim objetivou-se divulgar a toxicidade de plantas ornamentais comercializadas e frequentemente cultivadas pela população do município de São Luís-MA. Para isso, foi necessária a realização do mapeamento da área (locais com alta frequência de vendas dessas plantas), registro fotográfico e revisão de literatura. Neste projeto foi feito uma cartilha educativa e informativa na qual foi distribuída nos locais públicos de São Luís, na UEMA e para a comunidade em geral. O trabalho foi concluído com realização de palestras em escolas, locais de venda de plantas ornamentais e a distribuição da cartilha para os participantes com o intuito de trazer benefícios para a referida Universidade, acadêmicos e sociedade.
Material e métodos
São Luís é a capital do estado do Maranhão, localizada na ilha de Upaon-Açu no Atlântico Sul, entre as baías de São Marcos e São José de Ribamar, no Golfão Maranhense, com uma população de 1.108.975 habitantes. Sua área é de 834. 827 km², com latitude Sul 2° 31’ 47” e longitude Oeste 44° 18’ 10”. (IBGE, 2010). É comum a presença de plantas ornamentais em locais públicos e propriedades privadas (jardins de casa). No entanto, os responsáveis pelo local, na sua maioria, não possuem informações sobre a composição química de tais espécies e acabam utilizando-as como adorno apenas por seu belo poder ornamental e facilidade de manejo, não levando em consideração os danos que alguns vegetais podem causar quando são manuseados de forma incorreta (Silva, 2009). O clima em São Luís é tropical semi-úmido sendo fortemente influenciado pelo mar e pela Zona de Convergência Intertropical. A cidade apresenta grande quantidade de coqueiros e muita vegetação litorânea. Há pequenas áreas de Floresta Amazônica que resistiram ao processo de urbanização da cidade, todas protegidas por parques ambientais (Ministério do Meio Ambiente, 2006). Foram selecionadas dez espécies que mais causam intoxicação segundo a Fio Cruz (Fundação Oswaldo Cruz): 1.Comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia picta Schott); 2.Espirradeira (Nerium oleander L.); 3.Coroa-de-Cristo (Euphorbia milii); 4.Alamanda amarela (Allamanda catártica); 5.Bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima); 6.Copo-De-Leite (Zantedeschia aethiopica); 7.Espada de São Jorge (Sansevieria trifasciata); 8.Saia-branca (Brugmansia suaveolens.); 9.Pinhão-Roxo (Jatropha gossypifolia); 10.Chapéu-de-Napoleão (Thevetia peruviana). Resolveu-se então construir uma cartilha, explicando que parte da planta é tóxica e como elas podem prejudicar a saúde humana. Essa, por sua vez, foi distribuída nos locais onde foi realizada a pesquisa e nas escolas públicas de São Luís. Além de realizar palestras alertando o perigo que elas podem trazer caso não tenha a orientação de um profissional. Foram elaboradas 09 perguntas do tipo objetivas e subjetivas, onde continham assuntos sobre conhecimento de plantas ornamentais, primeiros socorros e o modo de divulgação para orientação dos consumidores sobre as toxicidades dessas plantas. Foram realizadas palestras em parceria com o “circuito sala verde- AGA” da UEMA nas escolas Aluísio de Azevedo, MASTER e IFMA. Nas duas primeiras escolas, o público-alvo foram alunos do ensino fundamental I e II. Para que as crianças ficassem atentas ao que fora ministrado, foi realizada uma dinâmica de forma que as mesmas participassem. Além disso, foram feitas perguntas sobre o assunto abordado, e o resultado foi positivo, pois as respostas foram coerentes. A segunda foi para o público jovem, 2º ano do ensino médio do curso de designer em gráfico, todos mantiveram-se atentos à palestra e muito curiosos a ponto de realizar perguntas interessantes.
Resultado e discussão
Comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia picta Schott) é bastante encontrada em todo o
Brasil, originada da Índia Ocidental e da América tropical. Pertence à família
Araceae e é conhecida popularmente como comigo-ninguém-pode ou aninaga-do-pará.
Devido a sua importância e perigo, essa planta é uma das cadastrada no programa
de prevenção de acidentes de plantas da Fundação Oswaldo Cruz (Rocha, 2006). A
planta se caracteriza por ter folhas grandes, oblongas, látex de coloração
semelhante ao leite e manchas brancas nas folhas. A Dieffenbachiapicta
Schott.,acaba sendo um risco para crianças, que podem ser atraídas por sua
beleza e pelo látex que sai da mesma. Quando ingerida, ocorre um aumento
salivar, dor na região bucal, inchaço, náuseas e vômitos. Quando em contato com
os olhos, pode causar irritação, lacrimejamento e desconforto com a luz. (Silva,
2006).
Espirradeira (Nerium oleander L.) pertence à família Apocynaceae, caracteriza-se
por ser um arbusto perene de alta toxicidade, originada do Mediterrâneo e Ásia é
bastante encontrada em regiões tropicais e subtropicais, sendo muito resistente
a climas subtropicais é considerada como a planta ornamental mais tóxica, tendo
já municípios no Brasil que estão desaconselhando publicamente o seu plantio
(Biodi, 2008). Dentre as plantas ornamentais com propriedades nocivas, a Nerium
oleander é considerada como a planta ornamental mais tóxica, tendo já municípios
no Brasil que estão desaconselhando publicamente o seu plantio. O nível de
toxicidade varia com a parte da planta, apesar de todas as partes terem
toxicidade, as sementes e as folhas são consideradas as partes mais tóxicas. A
toxicidade é causada devido à presença de glicosídeos cardiotóxicos em toda a
planta (Biondi, 2008).
Coroa-De-Cristo (Euphorbia milii) faz parte da família das Euforbiáceas, tem sua
origem na ilha de Madagascar, típica de lugares secos, sendo conhecida
popularmente no Brasil como coroa-de-cristo, dois irmãos e bem-casados.
Botanicamente é um arbusto com cerca de 1,5m de altura, ramificado, com caules
tortos e espinhos. Suas folhas são verdes e possui flores pequenas de cores
avermelhadas, cor-de-rosa e ou amarelas. Em períodos de inverno seco as folhas
são quase inexistentes, já as flores permanecem em todas as estações (Maciel,
2005). Quanto à toxicologia, as substâncias nocivas dessa planta se encontram no
seu látex, onde pode-se relatar componentes como ésteres do forbol, que são
substâncias que agem sobre os tecidos e causam reações inflamatórias. Todas as
partes da planta apresentam potencial tóxico (Lopes, 2009).
Alamanda amarela (Allamanda catártica) é uma planta arbustiva ornamental, possui
látex, bastante tóxica pertencente à família Apocynaceae e nativa do Brasil.
Essa espécie é conhecida devido à produção de princípios ativos, na qual
destacam-se os iridóides, que apresentam citotoxicidade (Lopes, 2009).Estudos
relatam que o uso popular como purgativo, acarreta um possível efeito tóxico.
Todas as partes da planta tem toxicidade, destacando-se o látex que se ingerido
pode causar náuseas, alterações hidroeletrolíticas, diarreia e fortes dores de
barriga. Para casos de óbito, a dose letal teria que ser bastante alta, o que
dificilmente aconteceria. Nos casos de tratamento da intoxicação, deve-se ter
cautela na lavagem gástrica, pois essa planta possui propriedades cáusticas
(Medeiros, 2008).
Bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima) é uma planta muito utilizada para fins
decorativos, especialmente na época do Natal, devido às suas folhas semelhantes
a pétalas de flores vermelhas. Como é uma planta de dia curto, floresce
exatamente no solstício de inverno que coincide com o Natal (no hemisfério norte
– o que explicaria porque essa planta não é tão identificada com o Natal no
Brasil) (Sinitox, 2013). O princípio tóxico provavelmente está relacionado a
toxoalbuminas, saponinas e frações solúveis em água, que causa irritações
gastrintestinais, além de distúrbios hidroeletrolíticos. Euphorbia pulcherrima é
uma das principais plantas que estão envolvidas em casos de intoxicação. O
contato com o látex causa lesões na pele, coceira, inflamação nos olhos e edema
da língua. A ingestão da planta também pode causar distúrbios como náuseas e
vômitos (Riboldi, 2015).
Copo-De-Leite (Zantedeschia aethiopica) pertence à família Araceae bastante
apreciada devido a beleza da sua flor é muito buscada para ornamentação de
jardins. É uma espécie de origem africana e popularmente conhecida como copo-
de-leite, arum ou lírio de Calla (Ribeiro, 2009). É uma planta que contém na sua
estrutura ráfides e cristais de oxalato de cálcio. Quando ocorre o contato com a
pele, boca ou olhos de uma pessoa, esses componentes são literalmente expulsos
da planta e causam perfurações nesses locais.
Espada de São Jorge (Sansevieria trifasciata) é uma espécie da família
Ruscaceae, originária da África é conhecida popularmente no Brasil como espada-
de-são-jorge, língua de vaca, planta de serpente, entre outros. A Sansevieria
trifasciata possui grande importância econômica e é muito comercializada no
mundo inteiro (Pérez, 2013). Apesar de ser muito comum em jardins, muitas
pessoas não sabem que a Sansevieria trifasciata é uma planta tóxica, onde todas
as suas partes possuem potencial tóxico. Essa espécie possui cristais de oxalato
de cálcio e ácidos orgânicos tóxicos em toda sua constituição, além disso se
caracteriza de acumular esses ácidos em seus vacúolos (Silva, 2009).
Saia-branca (Brugmansia suaveolens) é uma planta tóxica da família Solanaceae,
conhecida popularmente como saia-branca, trombeteira-branca, aguadeira, babado,
sete-saias, entre outros nomes.Botanicamente essa espécie ornamental se
caracteriza por possuir folhas de aproximadamente 20 cm de comprimento, flores
brancas no formato de uma trombeta, em disposição semelhante a do copo-de-leite
e frutos em formato de cápsula com gomos (Barg, 2004).A Datura suaveleons possui
toxicidade em todas as suas partes, e isso se deve pela presença de alcalóides
do tipo tropânicos, como a escopolamina, hiosciamina e atropina. A causa da
intoxicação apenas com o contato (Barg, 2004).
Pinhão-Roxo (Jatropha gossypifolia) é uma planta da família Euphorbiceae,
originária da América Tropical, popularmente conhecida no Brasil como pinhão-
roxo. Essa espécie se caracteriza por formar muitas moitas, e ser de difícil
remoção de pastagens devido ao seu volume. Essa planta é composta por ácidos
orgânicos, alcalóides, albuminas tóxicas entre outros que se encontram em seu
látex. A toxicidade se encontra nas folhas e frutos. O látex é bastante cáustico
para a pele em caso de contato. Em casos de ingestão pode causar distúrbios no
sistema digestório, respiratório, renal e cardiovascular (Vasconcelos, 2011).
A Jatropha gossypiifolia L. (figura 1) é uma planta bastante discutida e de
opiniões controversas na literatura, pois alguns autores defendem resultados
farmacológicos positivos e outros demonstram resultados tóxicos que devem ser
levados em conta (Vasconcelos, 2011).
Chapéu-de-Napoleão (Thevetia peruviana) é uma espécie originária do México e da
Índia que pertence à família Apocynaceae e é bastante encontrada em países de
regiões tropicais e subtropicais. Popularmente é conhecida como chapéu-de-
Napoleão, peruviana, cerberia, nerófila, entre outros. Botanicamente se destaca
por ser um arbusto de rápido crescimento, pode chegar até três metros de altura.
Apesar de tóxica, essa planta pode ser encontrada na ornamentação de parques,
praças, shoppings, lugares onde o fluxo de crianças é grande. No Sudeste é
encontrada com facilidade em calçadas das ruas. Além disso, devido à sua beleza
e seu perfume, é uma planta que chama bastante atenção, o que desperta o
interesse das pessoas e o risco de intoxicação (Magalhães, 2013).
Já as palestras foram realizadas no período de maio e agosto de 2019 nas escolas
Aluísio de Azevedo, MASTER e IFMA (figura 2).
É uma planta da família Euphorbiceae, originária da \r\nAmérica Tropical, popularmente conhecida no Brasil \r\ncomo pinhão-roxo.
Palestra com o “circuito sala verde- AGA”.
Conclusões
As plantas são seres vivos complexos e, como tais, apresentam um metabolismo extraordinário, que leva à produção de uma grande variedade de substâncias químicas. Baseada nessa informação, a pesquisa foi concluída com sucesso e no momento tem como resultados finais o uso de literaturas com assuntos afins a esse projeto, o mapeamento da área com localização geográfica da ilha de São Luís e a identificação das dez plantas mais tóxicas catalogadas pela Fio Cruz. Além disso, foi feito uma cartilha informativa com as dez plantas mais usadas como ornamentais, mas que são tóxicas. Foram enviadas via WhatsApp para os que ouviram a palestra e por livre vontade se interessaram em receber. Atrelado a isso, foram feitas palestras para as escolas públicas e privadas em parceria com a AGA- circuito sala verde. Algumas foram ministradas na universidade e outra na própria escola, todos os alunos mostraram ter interesse no que foi ensinado, ao ponto de fazerem bastantes perguntas e comentários como: “tenho que falar para mamãe e vovó”. Ademais, esse trabalho veio para agregar conhecimento para a bolsista e enriquecer assim a sua experiência.
Agradecimentos
Referências
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