ÁREA
Química de Produtos Naturais
Autores
Corrêa, T.A. (UEMG- FRUTAL) ; Costa, G.H.G. (UEMG- FRUTAL) ; Alcantara, G.U. (UEMG- FRUTAL) ; Rocha, L.P. (UEMG- FRUTAL) ; Libera, F.B.D. (UEMG- FRUTAL)
RESUMO
O óleo de Neem tem exibido diferentes aplicações em decorrência de seus múltiplos usos e ações terapêuticas, entretanto há poucos estudos sobre sua atividade antimicrobiana. Neste contexto, o trabalho objetivou caracterizar quatro diferentes óleos de Neem comerciais, avaliando a composição química por Espectroscopia na Região do Infravermelho (FTIR) e a ação antimicrobiana pelo teste antibiograma, empregando bactérias láticas isoladas de caldo de cana. Os ensaios foram realizados na UEMG Frutal durante o ano de 2023, com quatro óleos de Neem. Os produtos apresentam semelhança na composição química evidenciando a presença de ésteres graxos saturados e insaturados, bem como do limonóide - azadiractina. O teste de antibiograma não apresentou ação ante a bactérias láticas.
Palavras Chaves
Óleo de Neem; Bactérias laticas; ATR-FTIR
Introdução
Popularmente conhecida no Brasil como Neem ou Nim indiano, a espécie Azadirachta indica A. Juss, nativa da índia, é considerada uma “farmácia viva”, devido aos seus múltiplos usos e atividades terapêuticas, apresentando ação antiviral, anti-inflamatória, inseticida, antimalárico, antidiabético, antioxidante e efeito antitumoral (GUEDES et al., 2022). Além disso, deve-se destacar ainda a ação antimicrobiana das suas cascas e folhas frente as bactérias: S. aureus, E. coli, P. aeruginosa (MAIA, 2021), S. mitis e S. mutans (GALEANE, 2013). Entretanto, não há estudos na literatura que avaliam o efeito do óleo de Neem sobre bactérias láticas, que são prejudiciais a diversos bioprocessos industriais, tais como produção de etanol, bebidas alcoólicas, ácidos, entre outros. O óleo da semente de Neem contém mais de 100 compostos biologicamente ativos. Entre eles, destacam-se os triterpenos, mais conhecidos como limonoides, sendo a azadiractina a principal responsável pelos efeitos tóxicos aos insetos. Outros componentes incluem o meliantriol, nimbina, ácidos graxos (oleico, esteárico e palmítico) e salanina (CAMPOS et al., 2016). Uma análise frequentemente usada na caracterização dos óleos vegetais é a espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), que tem como objetivo a identificação dos grupos funcionais de um dado material, em função da frequência de vibração característica das ligações químicas diante da radiação no infravermelho (ATKINS; JONES, 2006). Neste contexto, o objetivo do trabalho foi avaliar a composição química de óleos de Neem comerciais por FTIR, bem como a ação antimicrobiana dos mesmos ante a bactérias láticas isoladas do caldo de cana.
Material e métodos
Foram adquiridos 4 óleos de Neem comerciais de diferentes marcas no ano de 2023, os quais foram extraídos a partir das sementes da planta. Os mesmos foram identificados como óleo 1, óleo 2, óleo 3 e óleo 4, sendo posteriormente encaminhados para os Laboratório de Produtos Naturais e de Pesquisas Ambientais da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), unidade de Frutal. Os óleos foram analisados em espectrômetro de reflexão total atenuada (ATR) Cary 630 FTIR (Agilent) e os espectros obtidos na região do infravermelho médio de 4000 a 650 cm-1, após 32 varreduras por amostra. Os espectrogramas foram plotados utilizando software Origin (Origin 2018b – Graphing & Analysis) e os principais grupos funcionais identificados por comparação de dados da literatura. Para a avaliação antimicrobiana, realizou-se o teste de antibiograma, pipetando- se os óleos essenciais diretamente em discos de difusão, os quais foram dispostos sobre a placa de petri contendo ágar Mueller-Hinton, com inoculação de bactéria lática isolada de caldo de cana. As placas foram incubadas em B.O.D. à 34ºC por 24h, procedendo-se a contagem (SEJAS et al., 2003). Utilizou-se o antibiótico sintético estreptomicina como controle positivo, e água destilada como controle negativo. Os testes foram feitos com cinco repetições.
Resultado e discussão
A avaliação dos espectros dos óleos comerciais de Neem (Figura 1) demonstrou que
as amostras apresentaram semelhança na composição química, devido a presença de
bandas vibracionais em comprimento de onda próximos. Dentre essas, destacam-se:
uma banda em 3007 cm-1, compatível ao estiramento C-H sp2 de alcenos, bandas em
2925, 2851, 1457e 1375 cm-1 atribuídas ao grupo funcional C-H do esqueleto
hidrocarbônico. Absorção em torno de 1740 cm-1 atribuídas a carbonila (C=O) do
grupo éster, confirmado pelas bandas de estiramento em 1237 e 1115 cm-1
referentes a ligações C-O (PAVIA et al., 2010).
As bandas observadas podem ser atribuídas a presença de ésteres derivados de
ácidos graxos saturados e insaturados, bem como da azadiractina (Figura 2).
Menezes Filho et al (2019) evidenciaram a presença de ésteres derivados dos
ácidos: palmítico, linoleico, oleico e esteárico, através da presença das
absorções em 3009 e 2853 cm-1 (ligações C-H de hidrocarbonetos), além de banda
de absorção em 1744 cm-1 (C=O de ésteres), em óleo extraído das sementes de
Jatobá-do-Cerrado. Sharma et al (2017) observaram bandas designadas a
azadiractina em 2851, 1734 e 1375 cm-1 o que corrobora com a possível presença
deste composto nas amostras analisadas. Entretanto, ressalta-se que não foram
observadas a presença de sinais característicos de hidroxilas, devido a ausência
de bandas entre 3600-3100 cm-1 (PAVIA et al., 2010).
Para o teste antimicrobiano, não houve formação de halos de inibição para os
quatro óleos avaliados. Entretanto, Guedes et al. (2022) apresentou uma revisão
integrativa sobre o efeito antimicrobiano de extratos de Neem sobre bactérias
que causadores de patologias em humanos, entretanto não há relatos do efeito
sobre bactérias láticas.
Espectrogramas ATR-FTIR para os óleos comerciais de \r\nNeem.
Estrutura química dos principais ácidos graxos dos \r\nóleos vegetais e do limoide azadiractina
Conclusões
Os óleos comerciais de Neem apresentam composição química semelhante, evidenciando a presença de ésteres de ácidos graxos saturados e instaurados, e do limonóide - azadiractina. Embora os óleos não tenham exibido ação antimicrobiana contra bactérias láticas, estudos anteriores sugeriram efeito antimicrobiano em bactérias patogênicas.
Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES, ao Programa de Apoio a Pós-graduação (PROAP/CAPES), aos Programas Institucionais de Apoio à Pesquisa (PAPq/UEMG), Produtividade (PQ/UEMG) e Participação de Docentes em Eventos (PAPEV).
Referências
ATKINS, P., JONES, L. Princípios de Química, 3ª ed., Editora Bookman, 2006.
CAMPOS, E.V.R.; FRACETO, L. F.; PASCOLI, M.; DE LIMA, R.;, DE OLIVEIRA, J. L. Neem Oil and Crop Protection: From Now to the Future. Frontiers in Plant Science, v.7, 2016. https://doi.org/10.3389/fpls.2016.01494
GALEANE, M. C. Prospecção fitoquímica de ativos em extratos e frações originados de folhas de Azadirachta indica A. Juss. visando atividade antimicrobiana. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas, 2013.
GUEDES, E. M., MENDONÇA, C. M. S., NUNES, L. E, ARAÚJO, I.D.R. Atividade antimicrobiana da planta Azadirachta indica (nim indiano) – uma revisão integrativa. Diversitas Journal, v.7, n.4, 2022. https://doi.org/10.48017/dj.v7i4.2350
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SHARMA, R.; KUMARI, R., PRABHA, A.; KUMARI, A.; PATANJALI, P. K. Stabilization of azadirachtin in neem oil using prosopisjuliflora(leguminoseae) as a botanical synergist. International Research Journal of Natural and Applied Sciences, V. 4, N. 7, 2017.
