ÁREA
Química de Produtos Naturais
Autores
Sá, A.L.F. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ) ; Sampaio, C.G. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ) ; Martins, V.E.P. (UNILAB) ; Souza, J.S.N. (UFPI)
RESUMO
Este estudo investigou a composição fitoquímica, atividade antioxidante e teor de compostos fenólicos nas flores da espécie pouco explorada Triplaris gardneriana. A triagem fitoquímica revelou a presença consistente de Flavanonas, Flavonóis, Flavanonóis, Xantonas e Flavonoides destacando a presença constante dessas substâncias em várias partes da planta. O teor total de compostos fenólicos foi de 414,82 mg EAG/g de extrato, superior a outras partes da planta. Nos testes antioxidantes, o IC50 no ensaio DPPH foi de 82,81 ± 1,08 µg EQ/mL e no ensaio ABTS foi de 2852,48 ± 78,63 µM de Trolox/g de extrato. Em síntese, as flores de T. gardneriana exibiram notável perfil de compostos fenólicos e promissora atividade antioxidante conforme demonstrado nos ensaios DPPH e ABTS.
Palavras Chaves
Composição fitoquímica; Antioxidante; Triplaris gardneriana
Introdução
A utilização de plantas com propósitos medicinais remonta a tempos ancestrais e constitui uma das práticas mais antigas da humanidade mais antigas da humanidade. Ao longo do tempo, o emprego terapêutico de plantas medicinais tem atraído um interesse crescente por parte da comunidade científica, em virtude dos seus componentes naturais que revelam grande potencial biológico. A investigação de plantas medicinais abrange a identificação e quantificação de compostos resultantes do seu metabolismo secundário. Já se constatou que muitas propriedades benéficas decorrem dessa via metabólica, incluindo mecanismos de defesa e contribuição para o desenvolvimento saudável da própria planta (AMEH, 2010). As substâncias produzidas através de vias metabólicas secundárias desempenham um papel vital para as plantas, proporcionando-lhes adaptabilidade perante fatores bióticos e abióticos. Essas substâncias têm a capacidade de atuar como protetoras contra poluentes ambientais, radiação ultravioleta e situações de stress hídrico. Além disso, elas também podem funcionar como sinalizadores, atraindo ou repelindo polinizadores (COSTA, 2021; CASTRO-MORETTI et al, 2020). As pesquisas direcionadas à compreensão das espécies vegetais frequentemente se concentram na identificação e quantificação de compostos fenólicos. Esses compostos podem ser agrupados em categorias como alcalóides, esteroides, flavonoides, entre outros. Eles têm conquistado uma crescente atenção devido às suas diversas atividades farmacológicas e ao papel fundamental que desempenham na prevenção e tratamento de doenças degenerativas (DE ANDRADE, TELES et al., 2018), bem como de condições cardiovasculares (MANACH et al, 2017), entre outras. A família botânica Polygonaceae abarca mais de 40 gêneros, compreendendo um número superior a 1000 espécies, com distribuição preponderante no Hemisfério Norte (SANCHEZ et al., 2011). Muitas dessas espécies são reconhecidas por suas propriedades medicinais, sendo frequentemente utilizadas na redução de inflamações, no tratamento de hemorróidas e diarreia (CARTAXO, 2010; VILELA, 2011). Diversos estudos têm evidenciado que várias espécies pertencentes a essa família são ricas fontes de flavonoides e outros compostos (MACÊDO et al., 2015), ao passo que também têm revelado o potencial biológico dos extratos obtidos das sementes e folhas da espécie Triplaris gardneriana Wedd, que demonstraram atividades antibacterianas, antioxidantes e fotoprotetoras (FARIAS et al., 2013; MACÊDO et al., 2015). Esses compostos demonstram uma notável eficácia na interrupção das reações em cadeia causadas pelos radicais livres, pois podem atuar de duas maneiras: como doadores de elétrons e como doadores de hidrogênio, resultando na formação de substâncias estáveis. Esse efeito é particularmente atribuído à presença dos anéis aromáticos contidos nesses compostos. (LOPES NETO et al., 2017). No âmbito deste estudo, o objetivo principal consistiu em analisar a composição fitoquímica, e atividade antioxidante e o teor total de fenóis do extrato etanólico obtido das flores da espécie Triplaris gardneriana.
Material e métodos
4.1. Amostras As flores de Triplaris gardneriana foram secas (a 40°C), em seguida foram trituradas e o material foi submetido a extração a frio, utilizando o etanol como solvente. Realizou-se sucessivas etapas de extração e concentração, utilizando evaporador rotativo, de modo a obter o extrato etanólico seco das flores de Triplaris gardneriana, fornecida pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). 4.2. Composição Fitoquímico do extrato etanólico da espécie O extrato da flor de Triplaris gardneriana passou por um processo de análise fitoquímica, seguindo os procedimentos qualitativos descritos por Matos (2009) para a identificação das principais classes de metabólitos secundários. A avaliação da intensidade das amostras foi interpretada de acordo com os critérios qualitativos estabelecidos por Mendes (2002) e classificada como forte (+++), moderada (++), fraca (+) ou ausente (-). 4.3. Avaliação da atividade antioxidante pelo método de DPPH A avaliação da atividade antioxidante pelo método do radical livre 2,2 diphenil- 1-picrilhidrazil (DPPH) foi realizada seguindo metodologia de Brand-Williams et al. (1995) com modificações de Alves et al. (2008), monitorando-se o consumo do radical livre DPPH. Foi realizada uma curva de calibração com concentração do padrão quercetina, variando de 0,01 a 0,3 mmol/L. O extrato estudado foi dissolvido em metanol, na concentração de 1 g/L, em duplicata. Foi utilizado o volume de 0,1 mL da amostra ou padrão misturados com 3,9 mL da solução de DPPH 0,06 mmol/L. As análises foram feitas em espectrofotômetro UV-Vis (Modelo Varian 1E), no comprimento de onda 515 nm, com o tempo de espera de reação de 30 minutos na ausência de luz. 4.4.1 Determinação da capacidade antioxidante pelo método do radical ABTS. A avaliação da capacidade antioxidante pelo método da captura do radical 2,2´- azinobis(3-etilbenzotiazolina-6-ácido sulfônico) (ABTS) foi realizada seguindo metodologia de o Re et al. (1999), adaptado por Embrapa (2007). Foi utilizado o Trolox como padrão e a curva de calibração variou de 100 a 2000 µmol/L. O extrato foi preparado nas concentrações 100 mg/L, 500 mg/L, 1.000 mg/L dissolvidos em etanol. Na ausência de luz, foram transferidos 30µL da amostra ou padrão misturados com 3,0 mL da solução do ABTS, em duplicata. As análises foram feitas em espectrofotômetro UV-VIS (Shimadzu 1900i), no comprimento de onda 734 nm, após o tempo de espera de reação de 6 minutos. 4.5 Determinação do teor de fenóis totais Utilizou-se o método colorimétrico de Folin Ciocalteau, de acordo com a metodologia descrita por Bonoli et al. (2004). Utilizou-se o ácido gálico como padrão, variando a concentração de 10 a 100 mg/L.Completou-se o volume de 10 mL com água destilada, os ensaios foram realizados em duplicata e em em espectrofotômetro UV-Vis (Modelo Varian 1E), a 750 nm. Os resultados foram expressos como mg de EAG (equivalentes de ácido gálico) por g de extrato.
Resultado e discussão
5.1 Triagem fitoquímica
A triagem fitoquímica tem como objetivo identificar classes de compostos
químicos presentes nos extratos etanólicos do Pajaú. Na família Polygonaceae,
diversos estudos têm indicado a ocorrência de várias substâncias, dentre as
classes, as mais frequentemente encontradas nesta espécie são as Flavanonas,
Flavonóis, Flavanonóis, Xantonas e Flavonoides. Estudos anteriores, como o de
Macêdo et al. (2015), observaram a presença de flavonoides em extratos de folhas
da espécie Triplaris gardneriana Wedd. Além disso, Farias et al. (2013)
encontraram taninos e flavonoides nos extratos etanólicos de sementes. Os
resultados dos estudos indicam que a mesma planta (Pajaú) pode conter a
predominância das mesmas classes de compostos químicos em diferentes partes.
Portanto, os resultados obtidos nesta pesquisa estão em conformidade com a
literatura existente, confirmando que o extrato da flor da planta Pajaú
apresenta predominantemente as classes de Flavanonas, Flavonóis, Flavanonóis,
Xantonas e Flavonoides, reforçando assim a presença consistente dessas
substâncias em diferentes partes da mesma planta.
Os resultados qualitativos da triagem fitoquímica do extrato da flor de
Triplaris gardneriana são mostrados na Tabela 1.
5.2 Fenólicos totais e potencial antioxidante do extrato da flor Triplaris
gardneriana
Ao analisar a capacidade antioxidante dos extratos da flor Triplaris gardneriana
observa-se que os resultados são promissores e compatíveis com outras partes da
planta, visto que em extratos de sementes e folhas a atividade antioxidante
também é alta. A capacidade antioxidante das flores de Triplaris gardneriana são
maiores devido uma maior concentração de compostos fenólicos dos quais estão
diretamente relacionados com o potencial antioxidante e sua atuação contra
diversas doenças conforme descrito na literatura (LOPES NETO et al., 2017;
MACÊDO et al. 2015).
O teor total de compostos fenólicos na flor resultou num valor de 414,82 mg EAG/
g extrato (Tabela 2). Tal resultado se mostra superior a de outras partes da
planta, Paiva (2018) encontrou em extratos de folhas o teor total de fenóis que
apresentou 333,44 ± 3,43 mg EAG/g de extrato, enquanto Macêdo et al. (2015)
encontrou em extratos etanólicos da semente 92,78 mg EAG/g.
Os compostos fenólicos são um grupo que contém pelo menos um anel aromático e
grupos hidroxila. Constantemente associados a funções importantes em vegetais e
no tratamento de diversas doenças devido sua bioatividade, apresentam ações
anti-inflamatória, antioxidante, atividades moluscicidas, antibacteriana. Para
essas características existem proposições de mecanismos para explicar a ação
antioxidante ocasionada pelos os mesmos, visto que são altamente eficientes na
quebra de reações em cadeia de radicais livres pois são facilmente ionizáveis
capazes de estabilizar os radicais livres através da doação de elétrons
estabilizando as estruturas aromáticas. (LOPES NETO et al., 2017).
Os extratos etanólicos foram avaliados nos ensaios antioxidantes de DPPH e ABTS
e os resultados estão apresentados na Tabela 2.
Foram observados resultados significativos nos ensaios antioxidantes realizados
com os extratos da flor de Triplaris gardneriana, indicando uma ampla atividade
antioxidante. No teste de captura do radical DPPH, a atividade antioxidante
ficou um pouco abaixo dos valores obtidos nos extratos etanólicos de sementes,
conforme relatado por Farias em 2013, que apresentaram um valor de IC50 de
111,99 ug⋅mL−1. Em contraste, o estudo conduzido por Macêdo et al. em 2015
sobre o extrato da semente não revelou evidências de atividade antioxidante
através do ensaio de DPPH. Os resultados promissores na atividade antioxidante
observados em Pajaú podem ser associados à presença de componentes como taninos,
flavonas, flavonoides e, notavelmente, fenóis. Esses compostos foram
identificados por meio da triagem fitoquímica e podem ser responsáveis pelo
efeito positivo observado.
A segunda metodologia utilizada para determinar a atividade antioxidante do
extrato foi através do ensaio com o radical livre 2,2-azino-bis(3-
etilbenzotiazolin) 6-ácido sulfônico (ABTS•+ ), onde o resultado do ensaio do
extrato de Pajaú apresentou uma capacidade de antioxidante de 2852,48 ± 78,63
(µM de Trolox/g de extrato), significando que cada 1g de extrato apresenta o
mesmo efeito que 2852,48µM de trolox, um valor aproximado ao comparar com o
extrato de sementes apresentado por Lopes Neto et al. (2017), de 2,63 ± 0,02
(µM de Trolox/mg de extrato).
Conclusões
A triagem fitoquímica desempenhou um papel fundamental na identificação dos principais grupos de compostos presentes nas flores dessa planta. A presença predominante de Flavanonas, Flavonóis, Flavanonóis, Xantonas e Flavonoides é notável. O fato de essas classes de compostos serem consistentemente encontradas em diferentes partes da planta sugere que elas desempenham papéis importantes em várias funções biológicas e fisiológicas da Triplaris gardneriana. Além disso, a descoberta de que as flores exibem um teor total de compostos fenólicos de 414,82 mg EAG/g de extrato, superando outras partes da mesma planta, corrobora a hipótese de que diferentes partes de uma planta podem abrigar concentrações distintas de compostos, possivelmente relacionadas a funções específicas. A avaliação da atividade antioxidante revelou resultados notáveis, sugerindo o potencial das flores de T. gardneriana, os valores obtidos nos ensaios DPPH e ABTS (82,81 ± 1,08 µg EQ/mL e 2852,48 ± 78,63 µM de Trolox/g de extrato, respectivamente) apontam para uma significativa capacidade de neutralizar radicais livres, um fator essencial na prevenção de danos oxidativos associados a várias doenças. Essas descobertas são de grande relevância para a ciência e para a indústria. A identificação das classes de compostos e a confirmação de sua presença em diferentes partes da planta, como as flores, ampliam nosso entendimento sobre a distribuição interna de metabólitos secundários. Adicionalmente, o destacado perfil de compostos fenólicos e a promissora atividade antioxidante abrem um leque de oportunidades em várias esferas de aplicação. Entretanto, é essencial ressaltar que mais estudos são necessários com o propósito de fornecer informações biologicamente relevantes.
Agradecimentos
Ao IFCE - Campus Maracanaú pela concessão de infraestrutura; Ao Laboratório de Tecnologia em Processos Ambientais - LTPA, por todo apoio e suporte dado durante o desenvolvimento da pesquisa.
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