Caracterização Físico-química do Óleo de Sapucaia (Lecythis pisonis): uma análise a partir do Índice de Acidez e do Índice de Saponificação.

ÁREA

Química de Produtos Naturais


Autores

Pereira, T.M. (IFMA) ; Santos, D.S. (IFMA) ; Cantanhede, L.B. (IFMA)


RESUMO

Este estudo teve como objetivo determinar os índices de acidez e saponificação do óleo extraído da sapucaia (Lecythis pisonis Camb.), espécie abundante na região dos Cocais-MA. A determinação dos índices de acidez e saponificação seguiu as diretrizes estabelecidas pelo Instituto Adolfo Lutz (2008). Os resultados obtidos revelaram que o óleo apresentou um índice de acidez médio de 1,23±0,00 (Eq-g KOH/g). Para a acidez em solução molar, a média foi de 21,9±0,01%(v/m) e a acidez em ácidos graxos livres, a média foi de 0,61±0,00%(m/m). O índice de saponificação apresentou uma média de 155,2±19,9 (mg KOH/g). A determinação das propriedades físico-químicas é fundamental para conhecer e caracterizar adequadamente o óleo de sapucaia fornecendo informações sobre sua composição e qualidade.


Palavras Chaves

Lecythis pisonis; óleo; propriedades

Introdução

A Região dos Cocais, conhecida como Mata de Cocais, está inserida na bacia hidrográfica do Rio Itapecuru no estado do Maranhão (BARBOSA et al., 2020). Nessa região existem algumas espécies que possuem potencialidades promissoras para o mercado de amêndoas (SOUZA et al., 2008). Entre essas espécies destaca- se a sapucaia (Lecythis pisonis Camb.). Suas sementes são caracterizadas por serem oleaginosas, com alto teor de lipídios que pode chegar a 63%, além da presença de ácidos graxos insaturados e compostos fenólicos com propriedades antioxidantes (DENADAI et al., 2007). Tanto a casca quanto o óleo da sapucaia demonstraram possuir propriedades medicinais que podem ser benéficas no tratamento da diabetes. Além disso, ambos são reconhecidos por suas propriedades diuréticas, que auxiliam na eliminação de líquidos do organismo. Essas características tornam a casca e o óleo da sapucaia potenciais recursos terapêuticos para o tratamento da diabetes e a promoção da saúde renal (CARVALHO, 2006). A Figura 1 apresenta os frutos da sapucaia (Lecythis pisonis Camb.).Pesquisas demonstram que a composição química dessa espécie apresenta diversas propriedades biológicas, como atividade citotóxica contra células tumorais humanas, efeitos antipruriginosos, antioxidantes, antinociceptivos e anti-inflamatórios (GOMES et al., 2020), reduz dores musculares (OLIVEIRA et al., 2012) e pode atuar na diminuição do processo de envelhecimento da pele (ALMEIDA, 2022). Segundo Teixeira et al., (2018), a composição química da castanha de sapucaia pode variar dependendo de fatores como o local de cultivo, método de colheita e condições de produção. Assim, este trabalho teve como objetivo determinar o índice de acidez e saponificação do óleo de sapucaia oriundo da cidade de Codó, Estado do Maranhão.


Material e métodos

Foram coletadas amostras de óleo de sapucaia, no município de Codó/MA e realizadas análises físico-químicas para determinar os índices de acidez e de saponificação. Para o índice de acidez, foram preparados frascos de Erlenmeyer de 125 mL e adicionados exatamente 2 g de óleo em cada um deles. Em seguida, foi adicionada uma solução de éter-álcool em quantidade de 25 mL, juntamente com duas gotas do indicador fenolftaleína. A titulação foi realizada utilizando uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 M, sendo adicionado até o surgimento da coloração rósea, indicando o ponto de equivalência. Todos os ensaios foram realizados em triplicata para garantir a precisão dos resultados obtidos. Para a determinação do índice de saponificação, foram pesados exatamente 2 g de óleo em frascos de Erlenmeyer de 125 mL com juntas esmerilhadas. Em seguida, foi adicionada, por meio de uma proveta, uma solução metabólica de hidróxido de potássio (KOH) a 4% m/v, na quantidade de 20 mL. O Erlenmeyer contendo a amostra foi acoplado a um condensador de refluxo vertical com entrada e saída de água, e aquecido a 50°C por uma hora em uma chapa aquecedora. Após esse período, o sistema de aquecimento foi desligado e o Erlenmeyer foi deixado para resfriar até atingir a temperatura ambiente. Após o resfriamento completo, adicionou-se 1 mL de fenolftaleína a 1% como indicador e realizou-se a titulação utilizando uma solução padronizada de ácido clorídrico (HCl) a 0,5 M até a completa perda da cor rósea. Um ensaio em branco, sob as mesmas condições, foi realizado simultaneamente ao ensaio da amostra de óleo. Todos os ensaios foram realizados em triplicata, conforme método descrito em 325/IV determinação da acidez e 328/IV determinação do índice de saponificação disponível no Instituto Adolfo Lutz (2008).


Resultado e discussão

Os dados obtidos a partir das análises físico-químicas são essenciais para compreender a composição e características deste óleo. A Tabela 1 apresenta os dados obtidos a partir das análises físico-químicas realizada no óleo de Sapucaia. Os resultados obtidos revelaram que o óleo de sapucaia apresentou um índice de acidez com média de 1,23±0,00 Eq-g KOH/g. Essa medição se assemelha ao valor apresentado por Santos et al., (2013) que analisou o óleo de sapucaia da cidade de Belém/PA, obtendo um índice de acidez de 1,25±0,85 Eq-g KOH/g. Vale ressaltar que esses valores estão dentro dos limites estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), conforme estabelecido pela normativa n°87, de 15/03/2021, que indica um valor máximo de acidez até 4,0 mg KOH/g para óleos prensados a frio e não refinados. Em relação à determinação da acidez em solução molar do óleo de sapucaia, obteve-se uma média de 21,7±0,01% v/m. Já a análise da acidez em ácidos graxos livres no óleo de sapucaia revelou uma média de 0,61±0,00% m/m. Este valor foi maior do que o apresentado por Costa (2011), que obteve uma média de 0,16±0,01% m/m em ácidos graxos livres. O índice de saponificação do óleo de sapucaia foi obtido um valor médio de 155,2±19,91 mg KOH/g. Esse valor foi inferior ao obtido por Santos et al., (2013) que foi de 186,8±2,41 mg KOH/g e por Costa (2011), com valor de 188,83±0,38 mg KOH/g para o óleo de sapucaia. A ANVISA, conforme estabelecido na RDC nº 498, de 20 de maio de 2021, recomenda que o índice de saponificação esteja entre 180-200 (mg KOH/g). As características avaliadas fazem do óleo de sapucaia uma alternativa interessante para a indústria cosmética e contribui para a diversidade da oferta de produtos da região dos Cocais e outras áreas com essas espécies.

Tabela 1 – Resultados das análises físico-químicas do óleo de Sapucaia



Figura1 – Frutos da sapucaia a partir de diferentes perspectivas



Conclusões

O óleo de sapucaia está dentro dos limites estabelecidos pela legislação vigente para os índices de acidez em óleos vegetais. No entanto, o índice de saponificação do óleo de sapucaia foi inferior aos valores recomendados pelas normas atuais para óleos vegetais. Essas características sugerem que o óleo de sapucaia possui potencial como matéria-prima para aplicações industriais, especialmente na produção de produtos químicos e cosméticos. É importante destacar a necessidade de mais estudos e análises para melhor compreensão e exploração das propriedades do óleo de Sapucaia em diferentes contextos industriais.


Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA, Campus Codó, ao Grupo de Estudos em Inorgânica e Catálise do Maranhão do IFMA - Campus Codó.


Referências

ALMEIDA, LETICIA DANTAS DE. Caracterização físico-química de emulsões cosméticas acrescidas de óleos vegetais. 2022. 34 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia), Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2022.

BARBOSA, B. B.; COELHO, C. J. da C.; MORAES, L. A.; SANTOS, L. A. Conservation Units in Brazil: a study of case from Region of Cocais, in the East of Maranhão. Research, Society and Development, v. 9, n. 9, p.1-29, 2020.

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BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Ministério da Saúde-MS.
Resolução de diretoria colegiada - RDC nº 498, de 20 de maio de
2021. Brasília DF: Diário Oficial da União, 2021.

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SOUZA, V. A. B. et al. Características físicas de frutos e amêndoas e características químico-nutricionais de amêndoas de acessos de sapucaia.
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