Prototipagem STEAM: design de adaptador de pipetador para a inclusão de alunos com deficiência visual em experimento

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Rodovalho, F.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; Faustino, G.A.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; Benite, I.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; Benite, T.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; França, F.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; Ruela, B.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; Vargas, G.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; Benite, A.M.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG) ; Benite, C.R.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFG)


RESUMO

A pipeta, tubo longo e estreito com abertura nas extremidades é um equipamento muito usado em laboratório para medidas precisas de volumes de reagentes, no entanto impróprio para ser manuseado por alunos com deficiência visual, pois a precisão está associada à acuidade visual conferida pela posição do menisco em relação à graduação do volume no instrumento. Pautados na pesquisa participante, este estudo trata do design e prototipagem de um adaptador para um pipetador manual objetivando a inclusão de alunos com deficiência visual em experimentos que exijam medidas de volume.


Palavras Chaves

Prototipagem; Tecnologia Assistiva; Pipeta acessível

Introdução

Na inclusão escolar os alunos devem aprender juntos sempre que possível e independente de suas especificidades (Galvão Filho, 2012). Diante disso, assoma o desafio de fomentar um ambiente adequado ao desenvolvimento de competências e aprendizagem para a significação da realidade desses alunos, preparando-os para atuarem em relações sociais vastas e diversificadas essenciais para o exercício da cidadania. Pesquisas (Galvão Filho, 2012; Benite et al., 2017a) apontam a necessidade de recursos tecnológicos para ações pedagógicas mais inclusivas, como o ensino de Química experimental para alunos com deficiência visual (DV), pois a tecnologia contribui para o acesso aos conteúdos das aulas, possibilitam a interação com experimentos até então excludentes e ampliam a conexão entre recursos técnicos e tecnológicos. Nos experimentos, a pipeta é um instrumento usado para medida e transferência de líquidos com precisão. A substância deve ser sorvida pela pipeta com a ajuda de um pompete, também conhecido como pera, até alcançar a quantidade necessária que é aferida visualmente à parte inferior da curva formada pelo líquido, conhecida por menisco (efeito provocado pela atração intermolecular entre as moléculas do vidro e do líquido). Pautados na abordagem STEAM (acrônimo de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), este estudo usa da cultura maker para a prototipagem de um adaptador de pipetador para a inclusão de DV em experimentos envolvendo medida de volume.


Material e métodos

A Química é uma Ciência experimental que usa de instrumentos culturais específicos (vidrarias, equipamentos e modelos) para a obtenção de dados empíricos que contribuam para a construção do conhecimento, estudos e desenvolvimento de habilidades técnicas. Pautados na Pesquisa Participante (Le Boterf, 1999), o fio condutor deste estudo é refletir sobre as barreiras que impedem a participação de DV em experimentos de medidas de volume como pressupostos para o planejamento de aulas práticas inclusivas. Considerando que a pipetagem de substâncias demanda precisão e essa é realizada a partir da observação visual, isto é, da aferição da posição do menisco em relação à graduação da pipeta, apresentamos neste estudo o design e a prototipagem de um adaptador para pipetador manual que atue como tecnologia assistiva (TA) em experimentos que necessitem de transferências de líquidos e medidas precisas. A TA é uma área do conhecimento que envolve estratégias, produtos, recursos e serviços que “objetivam promover a participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (Benite et al., 2017a, p.99). A prototipagem foi realizada a partir da reflexão docente acerca da necessidade de inclusão de DV em aulas experimentais ofertadas pelo curso de Química da Uninversidade Federal de Goiás. Diante da necessidade de incluir alunos com deficiência no ensino superior, o Núcleo de Tecnologia Assistiva do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI) estuda, projeta e constrói protótipos que disponibilizam informações em display digital e vocalização, viabilizando a independência na coleta de dados no experimento para alunos com ou sem deficiência (Benite et al., 2017a; 2017b). O Núcleo conta com o auxílio de uma equipe multidisciplinar que dá suporte ao ensino básico e superior e a formação de professores de Química, numa abordagem STEAM integrando a cultura maker à formação docente como proposta multidisciplinar, tecnológica e inclusiva.


Resultado e discussão

Após várias discussões no Núcleo sobre as barreiras enfrentadas pelos DV no processo de pipetagem foi feita uma busca na internet e um pipetador comercial foi escolhido para ser adaptado levando em conta suas características de manuseio, custo, facilidade de adaptação e disponibilidade no mercado. A adaptação consiste em um aparato desenvolvido e confeccionado em impressora 3D utilizando o software modelador FreeCAD (Figura 1), um software livre de código aberto. Figura 1: Captura de tela do software FreeCAD utilizado no desenvolvimento do projeto. Fonte: LPEQI, 2023. Na figura 2 é possível observar o pipetador já com o protótipo desenvolvido, mecanismo que necessita ser calibrado previamente pelo técnico ou professor de acordo com a demanda de volume previsto no experimento. Para efetuar a sucção do líquido, o operador deve movimentar a roldana no sentido horário até sentir que a haste atingiu a trava. Dessa maneira, o aluno consegue perceber o exato momento em que o curso do aparelho chega à trava, identificando o ponto em que a sucção é finalizada. Já para escoar o líquido é necessário mover a roldana no sentido inverso até que a haste alcance o fim do curso, indicando o término do processo. Figura 2: Pipetador com adaptação. Fonte: LPEQI, 2023. Para que os DV aprendam é necessário que as informações recebidas sejam decodificadas e internalizadas pelos demais sentidos, que não a visão, tais como o olfato, o tato e a audição (Benite et al., 2017a). Esta proposta sinaliza que ferramentas culturais adaptadas ou produzidas com o propósito de atuarem como TA podem auxiliar no acesso às informações do experimento contribuindo para a participação autônoma dos DV, tanto na coleta quanto na interpretação dos dados empíricos, visando a aprendizagem dos conteúdos previstos na atividade (Benite et al., 2017b).

Figura 1: Captura de tela do software FreeCAD utilizado no desenvolvim

Figura 1: Captura de tela do software FreeCAD utilizado \r\nno desenvolvimento do projeto.

Figura 2: Pipetador com adaptação.

Figura 2: Pipetador com adaptação.

Conclusões

A Química é uma Ciência teórico-prática e um dos papéis do professor é criar propostas que possibilitem um ensino igualitário, inclusivo e de qualidade a todos os estudantes. Os resultados desta proposta salientam que apesar dos experimentos convencionais dependerem do sentido visual como principal canal de coleta e interpretação teórica dos dados, a criação de instrumentos adaptados que atuem como tecnologia assistiva pode contribuir para participações autônomas de alunos com deficiência visual nessas atividades que há tempos possui caráter excludente.


Agradecimentos

PPGECM/UFG, CNPq, CAPES e ao Fundo Baobá.


Referências

BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; BONOMO, F.A.F.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S e ALVES, D.R. Observação inclusiva: o uso da tecnologia assistiva na experimentação no ensino de Química. Experiências em Ensino de Ciências, v.12, n.2, p.94-103, 2017a.
BENITE, C. R. M.; BENITE, A. M. C.; FRANÇA, F. A.; VARGAS, G. N.; ARAÚJO, R. J. S. e ALVES, D. R. A experimentação no ensino de química para deficientes visuais com o uso de tecnologia assistiva: o termômetro vocalizado. Química Nova na Escola, v.39, n.3, 245-249 2017b.
GALVÃO FILHO, T.A. Tecnologia assistiva: Favorecendo o desenvolvimento e a aprendizagem em contextos educacionais inclusivos. In: GIROTO, C.R.M.; POKER, R.B.; OMETE, S. (Org.) As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. Cutura Acadêmica Editora. Marília, 2012.
LE BOTERF, G. Pesquisa participante: propostas e reflexões metodológicas. In: BRANDÃO, C.R. (Org.). Repensando a Pesquisa Participante. 3. Ed. São Paulo: Brasiliense, pp.52-81, 1999.

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