AULAS EXPERIMENTAIS NO ENSINO DE QUÍMICA: ÓTICA DOS DOCENTES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE ITAPETINGA-BA

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Souza, H.S. (UNIVERSIDADE DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB) ; Silva, N.O. (UNIVERSIDADE DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB) ; Alexandrino, D.M. (UNIVERSIDADE DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB)


RESUMO

A experimentação no ensino de Química é constantemente debatida pelos professores/pesquisadores pela forma que vem sendo utilizada no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, foi conduzida uma pesquisa de levantamento com professores do componente curricular de Química, que lecionam na rede pública de ensino de Itapetinga-BA. Os dados obtidos por meio da aplicação de um questionário mostraram que nas escolas vêm sofrendo com a má infraestrutura de laboratórios, falta de equipamentos, técnicos de laboratório e até a capacitação dos próprios docentes. Com isso, faz-se necessário investimentos nessas áreas a ponto de modificar a realidade presente encontrada nas escolas públicas do Brasil.


Palavras Chaves

Aulas práticas; Estágio supervisionado; Ensino médio

Introdução

Quando é debatido a respeito do ensino de Química é imprescindível falar da Experimentação e suas relações no processo de ensino-aprendizado. Essa tem o papel de promover a participação ativa do aluno, possibilitando uma formação cidadã alicerçada na capacidade de participação e tomada de decisões (SCHNETZLER; SANTOS, 1996). Já o professor tem um papel de transformar a sociedade por meio da educação. As interações dentro da sala de aula transformam a vida e o pensamento daqueles que os cercam. Essa é a única via de acesso à integração social para todos, promovendo uma ascensão social das camadas mais pobres da população (SAVIANI, 2000). A qualificação em sua área de atuação é essencial para um trabalho de excelência, contudo o que vemos em muitas escolas são docentes ministrando disciplinas distintas da sua formação acadêmica, processo esse denominado como desvio de função docente. Entre os motivos para o panorama presente estão os problemas financeiros e a escassez de professores que acaba trazendo consequências tanto para os alunos quanto para os docentes (SOSSAI; BARBOSA, 2017). Agregado a isso, as mudanças ocorridas com a implantação do Novo Ensino Médio torna inviável a experimentação devido a redução da carga horária para 1.800h das disciplinas ligadas às Ciências Exatas e Naturais (BRASIL, 2018). A junção desses fatores apresentados, fazem com que o ensino se torne desinteressante e pouco atrativo para os alunos, assim, segundo Oliveira (2010) e Santos e Menezes (2020) indicam que a utilização de estratégias baseadas em atividades práticas/experimentais, no lúdico e na demonstração tem sido recursos didáticos eficientes no processo de ensino e aprendizagem, porque criam um ambiente favorável para o aprendizado de conceitos teóricos de formas multivariadas.


Material e métodos

A pesquisa foi conduzida durante o período de estágio supervisionado do programa de graduação em Química na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em 2022, no município de Itapetinga-BA. O estudo contou com a participação de dez professores que lecionam a disciplina de Química na rede pública de ensino. O componente curricular é ministrado para o Ensino Médio Regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA). O presente trabalho adota uma abordagem metodológica que integra elementos qualitativos e quantitativos. Ao unir as técnicas analíticas de ambos buscando proporcionar uma compreensão mais completa e precisa do cenário em análise, como discutido por (SCHNEIDEE; FUJII; CORAZZA, 2017). Configura-se como uma pesquisa de campo, seguindo a tipologia delineada (GIL, 2001). A coleta de dados ocorreu por meio de questionário disponibilizado na plataforma do Google Forms. O formulário continha perguntas tanto objetivas, de múltipla escolha, quanto dissertativas. As alternativas continham um enfoque na Experimentação como parte do processo de ensino-aprendizagem. O presente trabalho tem como principal objetivo apresentar as dificuldades enfrentadas pelos professores da rede pública de ensino em relação ao ensino de Química com foco na experimentação.


Resultado e discussão

O questionário empregado adotou uma abordagem mais ampla, entretanto, aqui apresentaremos apenas um recorte relacionado às práticas experimentais aplicadas pelos docentes. As questões abordaram: (a) A(s) escola(s) possui(em) Laboratório(s)?. (b) Você utiliza o Laboratório em suas aulas?.(c) Há incentivo, por parte da administração ou coordenação pedagógica da escola, para a realização de aulas experimentais?. (d) Fez alguma formação em Química? Os resultados estão ilustrados na Figura 1. Podemos observar na Figura 1 (a) que 60% dos docentes não contam com espaços laboratoriais em suas unidades escolares, e ainda, 26% dos respondentes relataram que contam com a estrutura, todavia, não há equipamentos suficientes para todos os discentes. Esse panorama fica evidente quando analisamos a Figura 1 (b), ficando claro que a maioria professores/as 80% não utiliza esses espaços em suas aulas, mesmo que haja incentivos da administração ou coordenação pedagógica. Isso se deve, muitas vezes, à falta de técnicos em laboratórios que o auxiliem nessas tarefas, a falta de equipamentos/vidrarias ou simplesmente tempo hábil para sua realização, impossibilitando a realização das mesmas. Outro fator é a falta de formação específica na área de Química, conforme mostrado na Figura 1 (d), pois 50% dos docentes não são licenciados em Química ou sequer tiveram contato com a mesma em sua graduação. Assim, apresentam caso claro de desvio de função docente culminando em dificuldades de abordar tais conteúdos de forma mais aprofundada, optando muitas das vezes pela superficialidade trazida pelos livros didáticos em suas aulas e a não utilização de experiências como forma de auxiliar e facilitador do aprendizado.

Figura 1 - Respostas dos professores aos questionários.



Conclusões

Em suma, a realidade apresentada neste trabalho não se limita somente ao município de Itapetinga, mas sim a várias escolas do Brasil. É imprescindível que haja investimentos urgentes que perpassam na infraestrutura de toda a rede de educação, assim como na capacitação e formação de docentes, juntamente com remunerações mais justas e condizentes com a importância da profissão, como também em incentivos em pesquisas alternativas de baixo custo. Caso contrário, o cenário tenderá a um agravamento que implicará em maiores índices de desinteresse dos alunos e analfabetismo científico no Brasil.


Agradecimentos

Agradeço à UESB pelo auxílio financeiro, à CAPES pela bolsa da Residência Pedagógica e à orientadora pela realização desta pesquisa.


Referências

BRASIL. Instituto Nacional De Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo Escolar Básico- 2018. Brasília, 1 de Jan. 2019. Disponível em: <https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/censo-escolar/resultados> . Acessado em: 31 de Out. 2022.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas. 2000

OLIVEIRA, J. R. S. Contribuições e abordagens das atividades experimentais no ensino de ciências:reunindo elementos para a prática docente. Acta Scientiae, v.12, n.1, p. 139-153,2010.

SAVIANI, O. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 7. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.

SANTOS, L. R.; MENEZES, J. A. Pesquiseduca, v. 12, n. 26, p. 180-207, 2020.
SCHNEIDER, E. M.; FUJII, R. A. X.; CORAZZA, M. J. Pesquisas quali-quantitativas: contribuições para a pesquisa em ensino de ciências. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 5, n. 9, p. 569-584, 2017.

SOSSAI, O.; BARBOSA, J. B. A PRÁTICA DOCENTE E O DESVIO DE FUNÇÃO. South American Journal of Basic Education, Technical and Technological , [S. l.], v. 4, n. 2, 2017. Disponível em: https://teste-periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/view/1085. Acesso em: 7 set. 2023.

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