ÁREA
Ensino de Química
Autores
Franco Leão, M. (IFMT) ; Silva Almeida, P.J. (UBI)
RESUMO
Metodologias de ensino centradas no estudante podem dinamizar o processo educativo e favorecer a construção de aprendizagens com significado. Esse estudo teve por objetivo desenvolver a metodologia ativa da Open Space com estudantes do 4º semestre dos cursos de Licenciatura em Biologia, Física e Química, do IFMT Campus Confresa, como maneira de introduzir os estudantes nos estudos de Química Orgânica. Esse texto caracteriza-se como relato de experiência, de natureza básica, descritiva e exploratória com abordagem qualitativa.Foi desenvolvido em 2023, com 17 acadêmicos. Após o desenvolvimento dessa metodologia, foi entregue um questionário para que os participantes avaliassem a mesma.Todos gostaram dessa estratégia e entenderam que o estudante pode ser protagonista na aprendizagem
Palavras Chaves
Aprendizagem colaborativa; Estratégia de ensino; Prática pedagógica
Introdução
Atualmente, o ensino está em um processo de transformações, trazendo novas possibilidades de abordagens e metodologias, utilizando métodos diversos para aplicação do conteúdo e das avaliações. Com isso, pode ser visto que a metodologia de ensino sendo inovadora pode gerar uma aprendizagem significativa de forma que os estudantes possam compreender os conceitos, a ciência relacionando com o cotidiano deles. Uma metodologia diferenciada do tradicional é uma estratégia didática que pode promover diálogo e reflexão em sala de aula pelos estudantes, baseando em situações reais. Portanto, os estudantes estudam, analisam e avaliam os fatos de uma situação problematizada, se posicionando por meio de argumentos construídos por meio dos estudos realizados. É uma estratégia diferenciada que permite que os estudantes tenham discursos variados sobres várias temáticas diferentes, estimulando um senso crítico, participação, argumentações, reflexões e habilidades. Penaforte e Santos (2014) acredita que por meio das metodologias diferenciadas faz com que a teoria concilie com a realidade, proporcionando uma aprendizagem prazerosa e douradora. Muitas das metodologias diferenciadas permitem que o professor e o estudante tenham oportunidades de relacionar teoria e prática, no qual o professor apresente na prática pedagógica como uma metodologia facilitadora para a construção do saber através do conteúdo teórico e a realização da prática. As metodologias ativas tornam o estudante um sujeito ativo no processo que é voltado para o desenvolvimento de habilidades e competências para ser autônomo no pensar. Além disso, oportuniza aos mesmos importantes lições para sua vida: a comunicação efetiva, o discurso, o trabalho em equipe e, indiretamente a reflexão, tomada de decisões, criatividade e raciocínio lógico (DEWEY, 1973). Neste processo ativo de ensino, o professor é facilitador/mediador do ato educativo em que a aprendizagem vai sendo construída pelos estudantes, seja individualmente (construtivista) ou coletivamente (sociointeracionista)(DEMO, 2001). Open Space é uma metodologia ativa utilizada para mediar e discutir questões com grupos grandes e diversos. Ela é centrada nos estudantes, pois eles próprios que propõem e se responsabilizam pelos temas a serem abordados. O encontro em Espaço Aberto, ou Open Space (OS), criada por Harrison Owen nos anos 90 (OWEN, 1997). Geralmente, a Open Space é utilizado para planejamento de ações, resolução de conflitos e para a geração de novas ideias. Ou seja, trata-se de uma importante metodologia de ensino capaz de promover a reflexão individual e coletiva. De acordo com Owen (1997), para proporcionar o espaço aberto adota-se o seguinte procedimento: O ambiente de aprendizagem fica organizado de maneira a favorecer a formação de pequenos grupos aleatórios; Apresenta-se a temática e convida voluntários para secretariar; Todos os estudantes são motivados a participar das discussões em todos os grupos (passar por todos os voluntários relatores); Observa-se uma regra única (lei dos dois pés): “se você está em um lugar onde não esteja nem contribuindo, nem aprendendo, use os seus dois pés e vá para outro lugar”. Pereira e Figueiredo (2009) propuseram essa metodologia ativa no Ensino Superior por meio da realização de atividades baseadas em escrita colaborativa por computador, quer através da produção de documentos de grupo, após debate de temáticas relevantes para o contexto de aprendizagem e reflexões sobre as experiências individuais e coletivas. Em síntese, os estudantes agruparam-se em torno de temas do seu interesse, após circularem livremente pela sala, vendo os assuntos que já estavam afixados e falando com os colegas que os haviam proposto. Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivo desenvolver a metodologia ativa da Open Space com estudantes do 4º semestre dos cursos de Licenciatura em Biologia, Física e Química, do IFMT Campus Confresa, como maneira de introduzir os estudantes nos estudos de Química Orgânica.
Material e métodos
Quanto aos procedimentos metodológicos, o estudo caracteriza-se como relato de experiência, de natureza básica, descritiva e exploratória com abordagem qualitativa. Seu desenvolvimento ocorreu no início do segundo semestre do ano letivo de 2023, durante as aulas da disciplina de Metodologia de Ensino de Ciências II. Participaram do estudo 17 estudantes matriculados no 4º semestre dos cursos de Licenciatura em Biologia, Física e Ciências da Natureza com Habilitação em Química (LCNQ), ofertados pelo IFMT Campus Confresa. Para verificar qual a percepção dos estudantes referentes às estratégias de ensino em que os estudantes são o centro do processo educativo, foi proposto o desenvolvimento de metodologias de ensino centradas nos estudantes, entre elas uma metodologia ativa denominada Open Space, que foi escolhida como objeto de investigação do presente estudo. *Motivação Inicial: Depois de saudar a turma, o professor perguntou quem gosta de batatas fritas com refrigerante. Em seguida, perguntou se batata é um produto orgânico bem como o refrigerante. *Problematização: Para constatar que utilizamos muitos produtos orgânicos em nossas vidas, o professor solicitou que os estudantes recordassem desses produtos bem como seus entendimentos sobre Química Orgânica. *Situação desafiadora: Sobre a mesa do professor, estavam disponíveis diversos materiais do cotidiano (medicamentos, produtos de limpeza e higiene, alimentos, bebidas, entre outros). O professor desafiará a turma para que separem todos esses produtos em dois: orgânicos e inorgânicos. Foi disponibilizado um tempo para que os estudantes de forma coletiva discutissem e realizassem a separação. Foram escolhidos dois representantes, sendo um para explicar porque consideraram os produtos em orgânicos e o outro para explicar a justificativa dos produtos serem considerados inorgânicos. *Conceitos âncoras: Com o auxílio de uma apresentação previamente elaborada (slides), o professor apresentou o histórico entorno do estudo da Química Orgânica, perpassando pela subdivisão da Química em Orgânica e Inorgânica, proposta por Bergmam (1777), a Teoria da Força Vital, defendida por Berzélius (1807), a síntese da ureia, realizada por Wöhler (1828) e os postulados de Kekulé (1858) sobre as características do elemento químico Carbono. O professor também abordou um breve histórico e definições sobre a produção orgânica de alimentos e por sistema convencional que geralmente utiliza agrotóxicos, além dos exemplos de combustíveis fósseis ou renováveis. *Atividade de conclusão: Em sala de aula, a turma foi desafiada a realizar uma dinâmica em que livremente os estudantes passarão por seis charges coloridas relacionadas com a temática da aula (Química Orgânica e o cotidiano) para emitir suas opiniões bem como escutar as opiniões dos colegas, posicionando-se criticamente frente a cada situação apresentada. Os estudantes expressaram os conhecimentos construídos sobre o assunto e avaliaram a aula.
Resultado e discussão
Pelo relato do desenvolvimento da aula (Figura 1), que teve como motivação
inicial o envolvimento com batata frita e refrigerante, a problematização que
utilizou produtos orgânicos do cotidiano (conhecimentos prévios), a situação
desafiadora que envolveu a separação dos produtos em orgânicos e inorgânicos, a
apresentação dos conceitos âncoras e a realização da atividade colaborativa da
Open Space, que envolveu a análise individual e coletivas das charges (Figura
2), percebe-se que esta metodologia de ensino torna os estudantes ativos no
processo educativo, que foram oportunizadas lições de vida (DEWEY, 1973).
Constata-se também que, além de planejar a atividade, o professor é fundamental,
pois mediou todo o processo, proporcionando mementos individuais(cognitivismo) e
coletivamente (sociointeracionismo)(DEMO, 2001).
Na sequência foi disponibilizado um formulário eletrônico para avaliar os
aprendizados e a metodologia de ensino. Para garantir o anonimato dos
participantes do estudo, os nomes dos estudantes participantes foram
substituídos por termos alfanuméricos: E1 (Estudante 1), E2 (Estudante 2), E3
(Estudante 3) e assim sucessivamente.
A primeira pergunta foi: O que você compreendeu por Química Orgânica? Algumas
respostas foram: "Estuda compostos carbônicos naturais e sintéticos" (E2). "É o
estudo de estruturas orgânicas, que possuem o Carbono em sua estrutura" (E3).
"São materiais retirados de seres vivos, tanto animal como vegetal" (E5). "São
substâncias que contém C carbono" (E6). "É a parte que estuda as moléculas
orgânicas e suas interações"(E7). "Tudo que está em nosso dia a dia muito mais
que imaginava" (E9). "É tudo aquilo que tem carbono em sua composição" (E12).
"Química orgânica estuda as estruturas moleculares e suas intenções" (E13). "É o
estudo de substâncias existentes naturalmente" (E17). Percebe-se que para alguns
o real significado de Química Orgânica foi alcançado, porém ainda persiste o
pensamento em alguns de que substâncias orgânicas são oriunda exclusivamente de
organismos vivos.
Quando questionados sobre qual foi o evento realizado por Wöhler, em 1828, que
esclareceu sobre o que é Química Orgânica e contrapôs a Teoria da Força Vital,
todos foram unânimes em mencionar a síntese da ureia.
Sobre o entendimento que possuem sobre alimentos orgânicos, algumas respostas
foram: "Alimentos orgânicos são livres de agrotóxicos" (E1). "Alimentos de
produção orgânica, aqueles que são cultivados sem o uso de agrotóxicos" (E3).
"Alimentos orgânicos são aqueles produzidos sem o uso de agrotóxicos e
fertilizantes" (E4). "São alimentos tanto da matéria viva e morta, tendo na sua
composição química carbono" (E7). "Que não são só os alimentos que não usa
agrotóxicos" (E8). "São alimentos cultivados sem agrotóxicos" (E11). "Que são
alimentos produzidos de forma orgânica, sem adição de produtos para
melhoramento, agrotóxicos" (E16). "São apenas aqueles que passam por um processo
de produção 100% sustentável e que não prejudica o ecossistema local" (E17).
Sobre o entendimento que possuem sobre produtos longa vida: "Não é cem por cento
natural, existe uma mistura sintética" (E1). "Produtos que recebem substâncias
químicas para prolongar sua validade, aumentar seu tempo de prateleira"
(E2)."São produtos que duram mais tempo para ser decompor na natureza" (E5).
"São produtos que são adiantado aditivos para tem uma vida mais longa" (E7).
"Produtos que bastante conservantes, que acaba fazendo mal a saúde de seus
consumidores" (E8). "Que adicionados produtos químicos estendem a validade, o
que acaba tendo uma durabilidade maior. O que não aconteceu em produtos em
natura" (E9). "Produtos de longa duração sem estragar" (E10). "São alimentos que
tem adição de produtos químicos para prolongar seu tempo de vida" (E13).
Foi então solicitado que os acadêmicos relacionassem combustíveis fósseis e
combustíveis renováveis com o estudo que tivemos sobre Química Orgânica:
"Combustíveis fósseis são petróleo, metano. Combustíveis renováveis são cana de
açúcar, amendoim, entre outros" (E1). "Os Combustíveis tem a finalidade de
fornecer energia que precisamos para desenvolver algumas tarefas, por exemplo
nos locomover com um carro pelas ruas. O que torna os combustíveis fósseis e
renováveis parecidos é sua estrutura orgânica" (E3). "Combustíveis fósseis são
originado do homem já os renováveis são originados de recursos naturais" (E4).
"São os dois proveniente de substâncias orgânicas" (E6). "Os combustíveis
fósseis são proveniente da decomposição da matéria morta, sendo uma fonte não
renovável. Os combustíveis renovável ele agridem bem menos o meio ambiente e são
proveniente de compostos orgânicos" (E10). "Fósseis vem da decomposição e
renováveis vem de fontes renováveis. Mas ambos estão ligados à Química Orgânica
(E12). "Combustíveis fósseis, por exemplo, petróleo. Renováveis, por exemplo,
álcool (E14). "Que são considerados orgânicos por serem constituídos de restos
de animais e vegetais" (E16). "São formados por compostos de carbono: petróleo,
carvão e gás natural. Biomassa: material de origem orgânica (animal ou vegetal)
que pode ser usado para gerar energia" (E 17).
Um último questionamento foi referente se utilizariam essa metodologia de ensino
no futuro, quando forem atuar na Educação Básica. Todos foram unânimes em
afirmar que sim, principalmente para introduzir um determinado conceito. Após
análise dos resultados, percebeu-se que foi unânime o posicionamento dos
estudantes quanto ao seu uso na profissão docente.
Conforme os resultados supracitados, o estudo vem ao encontro do pensamento de
Owen (1997), que propôs essa metodologia e defende seus benefícios para o
processo educativo, ao reforçar o trabalho em equipe e dar ênfase aos
aspectos colaborativos. Isso favorece a aprendizagem social, cognitiva e
construtivista (DEMO, 2001).
Além disso, a metodologia ativa adoptada permitiu que os acadêmicos se auto
organizassem e concretizassem as tarefas de forma autónoma e satisfeitos com as
aprendizagens que construíram (PEREIRA; FIGUEIREDO, 2009).
Após a motivação inicial e problematização, os \r\nacadêmicos foram desafiados. Também foram \r\napresentados conceitos âncoras e realizada a Open \r\nSpace.
Essas charges foram analisadas individualmente e \r\ncoletivamente pelos acadêmicos, momento em que foram \r\nestabelecidas relações com o cotidiano.
Conclusões
A utilização da Open Space como metodologia para o ensino de Química Orgânica proporcionou que os acadêmicos participantes fossem o centro do processo educativo, bem como coube ao professor assumir a função de mediador nas situações de aprendizagem. Essa metodologia de ensino centrada no estudante propicia o desenvolvimento de várias habilidades, tais como o trabalho em equipe, a comunicação, a socialização dos saberes e a criatividade. O deslocamento livre dos acadêmicos até os relatores com as charges permite a capacidade de construir novas aprendizagens por meio da análise individual e da avaliação colaborativa com os colegas com os quais interagiu ao se posicionar (ensinar) e ao escutar (aprender). Além disso, os estudantes dos cursos de Licenciatura do IFMT Campus Confresa entendem que a metodologia ativa da Open Space pode ser utilizada para introduzir novos conceitos científicos. Portanto, o desenvolvimento de novas práticas educacionais, com o uso de metodologias ativas, centradas nos estudantes, favorece o processo educativo para que ocorram aprendizagens com significado.
Agradecimentos
Ao IFMT, por ter viabilizado a continuidade dos estudos com a realização deste estágio pós-doutoral na Universidade da Beira Interior (UBI), de Portugal.
Referências
DEMO, Pedro. Saber pensar. 2. ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2001.
DEWEY, John. Vida e educação. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1973.
OWEN, H. Open Space Technology - A user's guide. Benett-Koechler Publications, 1997.
PENAFORTE, G. S.; SANTOS, V. S. O ensino de química por meio de atividades
experimentais: aplicação de um novo indicador natural de pH com alternativa no processo de construção do conhecimento no ensino de ácidos e bases. EDUCAmazônia, v. XIII, n.2, p. 8-21, 2014.
PEREIRA, I. E FIGUEIREDO, A. D. Um Contexto de Aprendizagem Promotor da Participação de Alunos do Ensino Superior. Atas do XI Simpósio Internacional de Informática Educativa (SIIE 09). Coimbra, Nov. 18-20, 2009.