ÁREA
Ensino de Química
Autores
Souza, H.S. (UNIVERSIDADE DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Silva, N.O. (UNIVERSIDADE DO SUDOESTE DA BAHIA) ; Alexandrino, D.M. (UNIVERSIDADE DO SUDOESTE DA BAHIA)
RESUMO
A disciplina de Química é fundamental para a construção do conhecimento científico, uma vez que estimula o caráter investigativo, a tomada de decisão, contribuindo para a formação da cidadania, além de estar presente na vida cotidiana. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa de natureza quali- quantitativa conduzida com os alunos do Ensino Médio, nas modalidades: Regular, Técnico e EJA, da rede pública em Itapetinga-BA. A investigação ocorreu em 2022 por meio de um questionário com perguntas com enfoque na percepção sobre a disciplina de Química. Os dados mostraram que os alunos não consideram que esteja presente no seu dia a dia, que faz parte do cotidiano e para resolução de problemas. Também não conseguem relacionar o conhecimento químico com o matemático e linguístico.
Palavras Chaves
resolução de problemas; estágio supervisionado; cotidiano
Introdução
A tentativa de levar o aluno à aprendizagem tem sido um verdadeiro desafio enfrentado pelo professor e a dificuldade tem se tornado ainda maior quando se trata do ensino de Química no Ensino Médio. Atualmente, lida-se com diversos fatores que contribuem para essa realidade, entre eles, podemos citar: a falta de interesse e a desmotivação, a difícil linguagem científica, a metodologia conteudista, a descontextualização, a falta de relação dos conteúdos com o cotidiano, tais situações tornam-se grandes empecilhos para a aprendizagem. O problema do modelo de Educação presente no Brasil é que se põe de lado não apenas o conhecimento prévio do aluno, mas a construção do “pensamento científico”, fundamental para a construção da aprendizagem de Química. O que Freire (1974, p. 37) define como “educação bancária”, é o retrato do retrocesso na arte de “educar”. Segundo ele, esse modelo de educação dá aos estudantes apenas a condição de: [...] receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fixadores das coisas que arquivam. A existência deste tipo de atitude impede a construção do conhecimento científico e, consequentemente, a aprendizagem. Segundo Neri (2018, p. 10) “Apesar da grande quantidade de informações científicas disponíveis, um dos grandes responsáveis por fazer esse link entre a ciência e o público em geral é a educação formal. Assim, é na escola que deveríamos ter contato mais próximo com o mundo científico”. Entretanto, não é novidade alguma que a educação no Brasil tem sérios problemas, que vão, desde falta de vagas em escolas, a baixa qualidade dos cursos de formação de professores, os baixíssimos salários dos docentes, até a falta de políticas públicas para implantar melhorias em todo sistema educacional.
Material e métodos
Realizamos uma investigação de abordagem quali-quantitativa, combinando as técnicas de análise de cada modelo para oferecer uma visão mais precisa e abrangente da realidade em questão (SCHNEIDEE; FUJII; CORAZZA, 2017). O trabalho apresenta como tipologia de pesquisa de levantamento, no qual os dados foram coletados por meio de questionários (GIL, 2001). O estudo envolveu uma amostra de 154 participantes, composta por alunos de três instituições de ensino públicas situadas em Itapetinga-Bahia. Destes, 56 frequentavam os cursos regulares do 1.° ao 3.° ano, 56 estavam matriculados em programas de Ensino Técnico, quatro integravam o Ensino Técnico Integrado e 38 na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Médio, correspondentes ao ano de 2022. Os estudantes foram submetidos a um questionário aplicado tanto em formato impresso como por meio da plataforma Google Forms. O formulário continha um conjunto de perguntas que abordavam as percepções relativas à disciplina de Química, a saber: 1. opinião sobre a disciplina; 2. relacioná-la com outros conteúdos/disciplinas; 3. habilidade e receptividade do professor; 4. a importância dos conteúdos abordados; 5. sobre a(s) sua(s) dificuldade(s) em aprender os conteúdos; 6. sobre as aulas práticas. Apresentaremos apenas um recorte relacionado às perguntas 1 e 2. Após a coleta dos dados foi realizado um processo de compilação e organização desses. Com as respostas dos questionários foram representadas graficamente para melhor visualização. O propósito foi não apenas simplificar a apresentação dos resultados, mas também torná-los mais acessíveis e compreensíveis para a análise.
Resultado e discussão
A Figura 1 ilustra a distribuição das respostas dos estudantes “Sobre a
disciplina de Química”, já a Figura 2 apresenta a distribuição das respostas dos
estudantes: “Como você relaciona a Química com outros conteúdos/disciplinas?".
Podemos observar na Figura 1 que no item “seu gosto pela disciplina” que a houve
pouca diferença na distribuição cerca de um terço (1/3) dos respondentes optaram
pelas alternativas "gostar”, “moderado” e “não gostar”. Quase a mesma
distribuição ficou para o item 2 “a importância no cotidiano” 35,0% acreditam
que há, enquanto 35,8% que não há. No item 3 “sobre o grau de dificuldade” a
maioria (61,7%) atribui grau moderado, enquanto 32,5% consideram ruim ou
péssimo. Em relação ao rendimento/nota, 44,1% consideram ruim e péssimo,
enquanto 16,9% classificam como muito bom e excelente. Já no item 4 sobre “nível
de dedicação aos estudos”, quase a metade (45,4%) considera que se dedicam
moderadamente.
É possível observar na Figura 2 que a distribuição das respostas nos itens
apresentados foi cerca de um quinto (~20%) que conseguem relacionar a Química,
com outros conteúdos, disciplinas ou em seu cotidiano. No item “para entender
alguma situação do dia a dia”, apenas 20,7% dos respondentes atribuem que sim,
enquanto 39% dizem que não. No item “uso do cotidiano”, 18,8% conseguem
visualizar o emprego da Química. No item “para resolução de problemas”, as
respostas foram a mesma distribuição do item 1 (20,8%) utilizando a Química para
esse fim. No item “interpretação de textos” 22% responderam que o conhecimento é
utilizado. Já no item “com os conhecimentos de Matemática”, apenas 18,8%
vislumbram essa relação.
Conclusões
Os alunos desconsideram que o entendimento em Química é necessário para o entendimento do cotidiano e na resolução de problemas, também não conseguem relacioná-lo com a Matemática e nem com a interpretação de textos. Os resultados corroboram PISA 2015 e 2018, que apontam que “os alunos conseguem identificar relações causais ou correlações simples e interpretar dados em gráficos e em imagens que exijam baixo nível de demanda cognitiva”, ou seja, não conseguem utilizar os conceitos científicos para resolução de problemas, apresentam baixo domínio linguístico e de conhecimentos de matemática.
Agradecimentos
Agradeço à UESB pelo auxílio financeiro, à CAPES pela bolsa da Residência Pedagógica e à orientadora pela realização desta pesquisa.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974. FREIRE, Paulo.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas. 2000
NERI, J. F. B. Analfabetismo científico dentro da escola. 2018. Monografia (Especialização em Ensino de Ciências) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2018.
SCHNEIDER, E. M.; FUJII, R. A. X.; CORAZZA, M. J. Pesquisas quali-quantitativas: contribuições para a pesquisa em ensino de ciências. Revista Pesquisa Qualitativa, v. 5, n. 9, p. 569-584, 2017.