A MONTAGEM E O USO DE UM CONDUTIVÍMETRO ALTERNATIVO EM SALA DE AULA: associando o cotidiano à prática no ensino de ciências da natureza

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Silva, A.N.S.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Caldas, M.V.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Cardoso, J.V.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Mendes, G.H.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Dias, V.L.N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Santos, A.J.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO)


RESUMO

A educação brasileira tem passado por inúmeras problemáticas que refletem diretamente nos alunos. Esses problemas são facilmente encontrados quando professores de química tentam explorar as atividades experimentais em sala de aula como falta de espaço físico adequado e falta de tempo de preparação que são os mais comuns. O objetivo dessa pesquisa foi de estimular o desenvolvimento de atividades científicas investigativas, partido da construção de instrumentos pelos próprios alunos. A proposta foi desenvolvida na escola pública de educação básica, com turmas de 1º ano do ensino médio de São Luís, MA. A pesquisa mostrou que, dos 45 alunos envolvidos 77,8% deles obtiveram nível máximo de satisfação em relação a confecção e uso do condutivímetro.


Palavras Chaves

atividade investigativa; condutivímetro; aprendizagem

Introdução

No Brasil a educação básica sofre com inúmeras problemáticas, onde os professores tentam a todo custo trazer ou até mesmo produzir recursos didáticos para que os alunos consigam ter uma educação de qualidade. Por mais que os docentes e discentes se esforcem para conseguir mudar essa rotina, o comodismo acaba se tornando um looping, onde é mais fácil e prático fazer o que já está na rotina do que tentar algo novo. As aulas exclusivamente expositivas, sempre se tornam o caminho mais viável, uma vez que exige menos recursos para que o trabalho em sala de aula ocorra. Porém, está cada dia mais difícil conseguir a concentração e entendimento dos alunos em sala de aula e essa metodologia traz consigo um conhecimento superficial para os alunos, fazendo com que eles compreendam o mínimo e não desenvolvam o senso crítico de perguntar e questionar tal ação. Essa concepção de aprendizagem vai ferir muito os princípios de Paulo Freire (1996) que acredita que o ato de ensinar vai muito além de transferir conhecimento; o professor deve apresentar a seus alunos a possibilidade para a construção e a produção de seu próprio saber. Afinal, os estudantes possuem conhecimentos prévios antes mesmo de serem apresentados aos conteúdos escolares, o professor se torna mediador para que se aprenda mais no ambiente escolar. E quando falamos especificamente do ensino de ciências da natureza, o ambiente escolar deve possibilitar aos alunos um ensino investigativo e esclarecedor, onde o professor consiga expor o conteúdo e o principalmente, que o aluno consiga compreender, questionar e desenvolver o senso crítico em determinado assunto dentro da sala de aula. Diante disso, as novas reformas curriculares promovidas pela Base Nacional Comum Curricular – BNCC, trazem a investigação científica como elemento central no ensino de ciências, lembrando sempre que as adaptações das aulas devem estar relacionadas às necessidades da turma, observando não só o ambiente interno, como também o externo. As atividades experimentais foram inseridas nas escolas, devido à forte influência de trabalhos desenvolvidos nas universidades cujo objetivo era o de melhorar a aprendizagem do conhecimento científico através da aplicação do que foi aprendido (Galiazzi et al., 2001). É de conhecimento mundial, que a educação mesmo sendo um direito de todos, não está sempre no topo das prioridades brasileiras, levando em consideração infraestruturas e a falta de materiais básicos para a educação. Diante desse fato, os professores buscam meios alternativos para que as aulas sejam dinâmicas e atrativas, principalmente na área de química que necessita em partes, de um ambiente laboratorial. Seja na formação inicial ou continuada, a literatura tem discutido sobre a realidade das aulas experimentais nas escolas públicas, sendo comum nos depararmos com falas angustiantes, pois o que se percebe é o interesse em fazer uso da prática científica em sala de aula, porém obstáculos como a falta de equipamentos adequados, instruções insuficientes, ou mesmo ausência de um espaço físico adequado comprometem significativamente o desenvolvimento desse tipo atividade. (WYZYKOWSKI et al., 2016). Levando em consideração estes pontos, o projeto tem como finalidade, associar os conteúdos vistos em sala de aula com práticas experimentais a partir da montagem de instrumentos usados no dia a dia, através de uma atividade científica investigativa, com o propósito de incentivar o lado criativo do aluno, desenvolvendo o pensamento crítico e científico, além de reutilizar materiais para confecção dos instrumentos feitos na própria sala de aula.


Material e métodos

A pesquisa é de natureza qualitativa e foi realizada na escola pública de educação básica, Centro Educa Mais Sousândrade, em São Luís - MA, com duas turmas do 1º ano do ensino médio, com 45 alunos ao todo. Preliminarmente, realizou-se o acompanhamento e observação das aulas de ciências da natureza, mais especificamente na disciplina de química. Em seguida, juntamente com a professora da disciplina, desenvolveu-se um planejamento definindo o tema ligações químicas e a metodologia a ser abordada. Como segundo passo, ministrou-se a aula sobre ligações químicas, como parte teórica para que os alunos compreendessem primeiro a base para a produção da proposta de atividade prática, que consistia na montagem de um condutivímetro. O condutivímetro é um instrumento utilizado para medir a condutividade elétrica de uma solução, ou seja, ele mede a capacidade que uma solução tem de conduzir corrente elétrica devido a presença de íons. Na etapa da construção do condutivímetro (figura 1), os alunos foram divididos em grupos de maneira que cada grupo produzisse o seu instrumento e todos os integrantes participassem dessa etapa, a fim de compreender como ele funciona, sempre seguindo as instruções dadas pelo professor em sala de aula. Para este dispositivo feito pelos estudantes, foram necessários 4 componentes: suporte de pilhas, pilhas, fios de cobre e lâmpadas de LED (máximo 5 volts). Para a montagem do aparelho os alunos seguiram as seguintes etapas: I. Pegou-se de pilhas AAA, suportes para pilhas, fios de cobre e lâmpadas de LED; II. Utilizando o suporte como ponto de partida, os alunos usaram os dois polos (fios vermelho e preto) para conectar-se com os fios de cobre soltos; III. No fio vermelho (lado positivo), conectou-se um pedaço do fio de cobre (por questão de extensões do aparelho) e com a outra extremidade do fio conectado, envolveu-se na parte positiva do led (lado maior ou com o símbolo + mostrado) enquanto o outro polo da led (lado negativo, de menor tamanho) também envolve outro pedaço de fio de cobre; IV. Voltando ao polo negativo do suporte, também pode-se utilizar mais um pedaço do fio de cobre por questão de segurança e extensão do aparelho, após envolver os fios verificar se todas as partes estão ‘bem conectadas’; V.Para iniciar o teste de funcionamento do circuito elétrico (figura), colocando as pilhas no suporte e logo em seguida, encostando as extremidades do polo positivo (lado com a led e o fio vermelho) com a extremidade do polo negativo (lado do fio preto). Como instrumento de coleta de dados foi aplicado um questionário misto, contendo 5 perguntas objetivas sobre o nível de satisfação dos alunos envolvidos na prática, em relação ao conteúdo teórico ministrado, as instruções dadas sobre a construção do condutivímetro, a assimilação da prática com a teoria, a clareza em relação às práticas e a praticidade de produzir e manusear o aparelho. E por fim, uma pergunta discursiva para descrever como foi a realização dessa atividade.


Resultado e discussão

As turmas produziram 4 condutivímetros durante a aula prática, além disso tiveram também 2 aparelhos reservas, que foram utilizados para demonstração e visualização geral do funcionamento do circuito elétrico. As turmas foram divididas em grupos para que ao final da produção do aparelho os alunos pudessem avaliar e expor as suas considerações finais através da entrega do formulário de satisfação em relação às aulas teóricas e a aula prática. Através do questionário, os alunos puderam expor suas opiniões acerca de alguns aspectos. Em relação ao conteúdo unicamente teórico, dos 45 alunos, mais de 68,9% sentiram-se muito satisfeitos em relação à didática teórica abordada, enquanto 8,9% informaram que sentiram-se moderadamente satisfeitos nesse quesito. Segundo Nogueira e Sachs (2013) “É necessário que o ensino seja contextualizado, pois estes desejam ver a aplicação prática do que estão aprendendo e a relação com suas vidas.” Não necessariamente precisa-se aplicar aulas práticas para ajudar na compreensão do aprendizado, pois neste caso, a aula prática acaba tornando-se obsoleta sem a dinâmica mútua com a aula teórica, tendo em vista que as aulas se complementam como podemos observar ao decorrer dos resultados. Partindo para as opiniões sobre as instruções durante a prática, 73,3% dos alunos ficaram muito satisfeitos com as instruções da produção do condutivímetro, enquanto apenas 6,7% opinaram que estavam moderadamente satisfeitos. Quando questionados sobre a relação da prática com o conteúdo teórico, 68,9% e 17,8% responderam, respectivamente, que estavam muito satisfeitos e satisfeitos. Com esse resultado podemos perceber que ocorreu uma facilidade dos alunos em relacionar a teoria com a prática e compreender alguns aspectos. Entretanto, 13,3% dos 45 alunos responderam que sentiram-se moderadamente satisfeitos, demonstrando alguma dificuldade nessa correlação. Como ressalta Santos et al. (2017) “A experimentação por si só não é totalmente eficaz para a aprendizagem do aluno, o que requer fazermos a mediação entre teoria e prática de forma construtiva para o conhecimento científico”. Ainda que, escolheu-se uma metodologia mais ativa e autônoma para se trabalhar em sala de aula, visto que os estudantes foram instigados a observar além da prática mais mecânica, uma investigação que trabalhem as atividades em grupos e as curiosidades do nosso cotidiano que envolvam os assuntos discutidos dentro de sala de aula. No quesito da clareza que os alunos tiveram em relação a prática da produção do condutivímetro, 71,1% dos alunos sentiram-se muito satisfeitos com a prática, 15,6% opinaram que sentiram-se satisfeitos, 11,1% tiveram um grau moderado na compreensão da aula prática e 2,2% dos estudantes sentiram-se pouco satisfeitos, onde esses alunos podem ter sentido dificuldade em compreender alguma etapa da produção do aparelho ou tiveram dificuldade em assimilar tal prática com o conteúdo ministrado. Como última avaliação de satisfação, 77,8% dos alunos demonstraram nível máximo de satisfação em relação à confecção e uso do aparelho alternativo na prática. Isso nos mostra que a autonomia dos alunos é um ponto importante quando trata-se de aulas práticas, uma vez que desenvolver o seu próprio material da liberdade e responsabilidade ao aluno de demonstrar a sua compreensão e entendimento sobre determinado assunto, corroborando com a BNCC quando propõe que os discentes devem ser protagonistas nas aulas de ciências da natureza, desenvolvendo atividades de investigação científica, sendo protagonistas no processo de descobertas (BRASIL, 2018). Já no satisfatório, 17,8% dos estudantes compreenderam a atividade e a sua finalidade. E apenas 4,4% dos alunos sentiram- se moderadamente satisfeitos com a montagem do aparelho. E como descrição da experiência que os alunos tiveram em relação à prática experimental, os alunos descreveram como uma “boa prática”, “divertida”, “muito explicativa”, “diferente”, “legal”, que as diferenças com as práticas habituais foi justamente utilizar um aparelho simples dentro de um laboratório utilizando equipamentos alternativos. Além das palavras, alguns alunos optaram pelas frases curtas como foi o exemplo do aluno Mario Pereira da turma 101 que além de elogiar a aula, espera que possa acontecer mais aulas desse tipo.

Conclusões

Com base nos dados coletados pelo questionário e até mesmo durante as aulas teóricas e práticas é notório o desempenho e questionamento dos alunos em relação ao assunto ministrado. Encontrar uma maneira alternativa e totalmente diferente da didática tradicional, oferece aos estudantes uma metodologia limpa e assertiva acerca de tal conteúdo. A escolha da produção de um condutivímetro com materiais alternativos é apenas uma das milhares de opções que os professores possuem e buscam para apresentar aos estudantes uma aula diferente do que eles estão acostumados e também elevar o pensamento e imaginação deles, mostrando que a ciência está em cada parte da nossa vivência e que eles podem e conseguem relacionar os assuntos ensinados em sala de aula com o dia a dia deles. Durante a realização da atividade investigativa observou-se também como os alunos conseguiram desenvolver o pensamento científico, partindo do ponto inicial de como montar um condutivímetro passando por várias ideias, pela construção de hipóteses, pelos testes, privilegiando a análise crítica e despontando para a busca de uma solução criativa que foi relevante para realização da aula. O presente trabalho mostra também o quanto as atividades práticas estimulam o protagonismo dos discentes e como são importantes em sala de aula, pois apontam um caminho em que a ciência é algo acessível a todos e feito por todos, não sendo algo distante da nossa realidade.


Agradecimentos


Referências

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NOGUEIRA, Marcia Cristhina Dejuli; SACHS, Dr. Luís Guilherme. A química do cotidiano na educação de jovens e adultos mediante a prática social. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE, 2013. Curitiba: SEED/PR., 2016. V.1. (Cadernos PDE). Disponível em:
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SILVA, T.P.S; COSTA, A.S.; CARVALHO, L.M.; FERNANDES, K.A.; GARRETO, M.S.E. A utilização de materiais alternativos como auxílio no ensino - aprendizagem de química. VI Congresso nacional de educação. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2019/TRABALHO_EV127_MD1_SA17_ID636_20032019194924.pdf. Acesso em: 24 de agosto de 2023.
SILVA, Vinícius Gomes da. A importância da experimentação no ensino de química e ciências. Orientadora: Silvia Zuliani. 2016, 42. Graduação, Licenciatura em Química, Departamento de Química, Universidade Estadual Paulista - Unesp Bauru. 2016. Disponível em:https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/136634/000860513.pdf. Acesso em: 24 de agosto de 2023.

SILVA, E.L.; MENEZES, E.M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis, SC: Laboratório de Ensino à Distância da UFSC, 2000.

WYZYKOWSKI, T.; GÜLLICH, R. I. C.; HEMEL, E. E. S.; PANSERA-DE-ARAÚJO, M. C. A experimentação no ensino fundamental de ciências: a reflexão em contexto formativo. 2016. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/136634/000860513.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2023.

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