PROTOTIPAGEM DE UM TERMÔMETO “WEB” VOCALIZADO PARA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL EM EXPERIMENTOS

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Silva, P.L.A. (UFG) ; Conceição, D.T. (UFG) ; Vargas, G.N. (UFG) ; Rodrigues, W.A. (UFG) ; França, F.A. (UFG) ; Benite, A.M.C. (UFG) ; Benite, C.R. (UFG)


RESUMO

O estudo versa sobre a construção e aplicação de um termômetro “web” vocalizado de laboratório que se conecta a dispositivos móveis via Tecnologias de Informação e comunicação para a inclusão de alunos com deficiência visual (DV) em experimentos. Com elementos da Pesquisa Participante, professores em formação refletem aulas de apoio a DV para a identificação de barreiras impostas pela deficiência em experimentos demandando prototipagem das ferramentas culturais da química pautadas da visão. Nossos resultados evidenciam que o design e prototipagem do equipamento podem contribuir para a participação autônoma dos DV em experimentos que envolvem mudança de temperatura nas aulas de Química bem como para a formação docente ao estimular os professores a refletirem sobre ferramentas inclusivas.


Palavras Chaves

Ensino de Química; Experimentação; Prototipagem

Introdução

A inclusão escolar orienta que os alunos devem aprender juntos sempre que possível e independente de suas especificidades (BENITE et al., 2017b). Fomentar um ambiente adequado ao desenvolvimento de competências e aprendizagem necessárias para a significação da realidade de alunos com deficiência abarca diversos desafios considerando a importância de preparar esses sujeitos para o exercício da cidadania e sua inserção social. Pesquisas atuais no campo da educação especial (Giroto, Poker e Omote, 2012; Galvão filho, 2012; Benite et al., 2017a) sinalizam a importância do uso de recursos tecnológicos para a promoção de ações pedagógicas mais inclusivas, isso porque esses recursos permitem o acesso ao conteúdo previsto no programa de ensino. Os recursos tecnológicos pensados para a inclusão de alunos com deficiência podem promover a realização de atividades até então excludentes, viabilizando tanto a interação entre os envolvidos no processo de aprendizagem quanto à conexão com outros recursos técnicos e/ou tecnológicos ampliando, assim, as possibilidades para o docente no processo. No ensino de Química, os experimentos geralmente são pautados na visão, dessa forma, no ensino para alunos com deficiência visual (DV) a coleta das informações fica comprometida quando utilizadas ferramentas convencionais (BENITE et al., 2017b). Diante do exposto, este estudo versa sobre a prototipagem e aplicação de um termômetro “Web” por professores em formação que, enquanto tecnologia assistiva (TA), atua como ferramenta cultural da Química para medida de temperatura das soluções vocalizando as informações para a inclusão de DV em aulas experimentais.


Material e métodos

Este estudo se caracteriza com elementos da pesquisa participante (PP) e nasce de um problema da prática docente: ensinar Química por meio de experimentos para alunos com deficiência visual. Na perspectiva da PP, os pesquisadores se comprometem politicamente com o desenvolvimento do grupo na qual o estudo se instaura, neste caso, a participação de DV em aulas experimentais envolvendo medida de temperatura. Pautados em Le Boterf (1999), a organização metodológica desta investigação, que visou o desenvolvimento de TA para a experimentação no ensino de Química, foi estruturada em quatro fases: Elaboração do projeto com foco na experimentação inclusiva; estudo das dificuldades enfrentadas pelos sujeitos pesquisados em experimentos envolvendo mudanças de temperatura; Planejamento, design e prototipagem do equipamento com base nas barreiras impostas pela deficiência; validação do protótipo em aulas experimentais ministradas numa Instituição Pública de Apoio a Pessoas com Deficiência Visual do Estado de Goiás, parceira do nosso Laboratório de Pesquisas, gravadas em áudio e vídeo para posterior transcrição e análise da conversação com foco nas contribuições inclusivas oferecidas pela funcionalidade do equipamento. Participaram da prototipagem do equipamento quatro alunos de iniciação científica (dois licenciandos em Química; um licenciando em Física e; um bacharel em Design Computacional), da validação em aula experimental uma professora em formação continuada (PFC) e oito estudantes com graus variados de deficiência visual e cegueira total.


Resultado e discussão

A possiblidade de ministrar aulas para DV pode contribuir para a formação no âmbito da inclusão. Em aula envolvendo medidas de temperatura, PFC identificou a necessidade de um termômetro que possibilitasse a participação autônoma dos DV no experimento e, com a demanda enviada ao Núcleo de Tecnologia Assistiva de nosso Laboratório de Pesquisas, foi criado o termômetro “Web” (Figura 1) com dimensões de 8cmx5cmx3cm que vocaliza a medida via smartphone, atuando como TA. O circuito eletrônico foi desenvolvido a partir de uma plataforma acoplada com sensor Wi-fi utilizando um sensor externo de temperatura que representa uma integração inovadora entre a eletrônica de medição e a conectividade à internet. Essa composição viabiliza a conexão do dispositivo com um mostrador virtual de temperatura localizado em um endereço online. A vocalização das informações obtidas pelo dispositivo é realizada por meio do recurso de acessibilidade dos smartphones dos estudantes capazes de lerem informações presentes na tela e muito utilizado por DV. Apresentamos na Figura 2 um extrato de diálogo de uma aula em que os DV aprendem a conectar seus smartphones no equipamento via Wi-fi para, posteriormente, usá-lo no experimento. O equipamento foi criado para ser um instrumento de laboratório com característica inclusiva que transcende os limites convencionais da medição de temperatura enquanto possibilidade de comunicação sonora. A integração de tecnologias (equipamento e tecnologia móvel), aliada a sua capacidade de proporcionar segurança, independência e aprendizado interativo, aponta para um potencial promissor na promoção da inclusão de DV em ambientes de laboratório. Destaque para a abordagem inovadora que interliga as tecnologias de informação e comunicação, a educação e a acessibilidade.

Figura 1: Termômetro \"Web\" vocalizado



Figura 2: Extrato de diálogo



Conclusões

O desenvolvimento do termômetro vocalizado para alunos cegos demonstrou o poder da tecnologia como uma ferramenta para a inclusão permitindo que os alunos com deficiências participassem plenamente das atividades experimentais relacionadas ao Ensino de Química/Ciências. A presente pesquisa contribuiu para a criação de um ambiente educacional inclusivo e sensível às necessidades dos envolvidos. Através da sua utilização, os alunos foram capazes de interagir de maneira ativa estabelecendo um senso de pertencimento na sala de aula.


Agradecimentos

Ao CNPq


Referências

BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; BONOMO, F.A.F.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. Observação inclusiva: o uso da Tecnologia Assistiva na experimentação no ensino de química. Experiências em Ensino de Ciências, v.12, n.2, 94-103, 2017a.
BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; FRANÇA, F.A.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. A experimentação no ensino de química para deficientes visuais com o uso de tecnologia assistiva: o termômetro vocalizado. Química Nova na Escola, v.39, n.3, 245-249 2017b.
GALVÃO FILHO, T.A. Tecnologia assistiva: favorecendo o desenvolvimento e a aprendizagem em contextos educacionais inclusivos. In: GIROTO, C.R.M.; POKER, R.B. e OMOTE, S. As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.
GIROTO, C.R.M.; POKER, R.B. e OMOTE, S. Educação Especial, formação de professores e o uso das tecnologias de informação e comunicação: a construção de práticas pedagógicas inclusivas. In: GIROTO, C.R.M.; POKER, R.B. e OMOTE, S. As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.
LE BOTERF, G. Pesquisa participante: propostas e reflexões metodológicas. In: BRANDÃO, C.R. (Org.). Repensando a pesquisa participante. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999, pp.52-81.
Vargas, G.N.; Rodrigues, W.A; Xavier, J.L.G.; Benite, A.M.C.; Benite, C.R.M. Formação docente STEAM: design de balança semianalítica vocalizada para a inclusão de cegos em experimentos. Anais 35º CLAQ - Congresso Latinoamericano de Química e 61º CBQ - Congresso Brasileiro de Química, Rio de Janeiro, RJ, 2023.

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