LUDICIDADE: TEATRO CIENTÍFICO COMO RECURSO DIDÁTICO PARA O APRENDIZADO DE QUÍMICA

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Xavier Miranda, A. (IFPB JOÃO PESSOA) ; Cauã Klaiwert Assis da Silva, J. (IFPB JOÃO PESSOA) ; Ferreira da Silva, G. (IFPB JOÃO PESSOA) ; Raquel da Costa Agra Amaral, F. (IFPB JOÃO PESSOA) ; Hevyllen Tamara Freitas da Silva, K. (IFPB JOÃO PESSOA) ; Sandy Guimarães Melo, K. (IFPB JOÃO PESSOA) ; Manuella de Melo Silva, R. (IFPB JOÃO PESSOA) ; Marcone Tavares Alves de Figueiredo, A. (IFPB JOÃO PESSOA)


RESUMO

A cultura científica embarca fatores que estão muito além do ambiente acadêmico, sendo possível divulgar e aprender as ciências naturais em uma peça teatral ou nas atividades cotidianas. Dessa forma, este trabalho objetivou a utilização de novas metodologias de ensino, utilizando a atividade teatral intitulada “QUIMIQARTE” como recurso lúdico para o ensino de Química. A metodologia teve uma abordagem quantitativa e qualitativa. A atividade foi aplicada no 1º ano do Curso Técnico de Instrumento Musical do Instituto Federal da Paraíba – IFPB, Campus João Pessoa. Por meio dos resultados obtidos, percebeu-se que a atividade promoveu aos estudantes uma dinâmica diferente, desenvolvendo um pensamento crítico e despertando o interesse e a capacidade de reconhecer conceitos químicos.


Palavras Chaves

ENSINO; QUÍMICA; ARTE

Introdução

A atual situação da educação brasileira configura-se como uma realidade que possui desafios a serem superados pelos futuros professores. Nessa linha de pensamento, faz-se necessário que os atuais licenciandos busquem meios e ações simbólicas voltadas para o aprimoramento da divulgação científica. No que se refere ao ensino da Química, a autora Pauletti (2017) afirma que os professores dessa disciplina pouco têm contribuído na formação de jovens críticos e autônomos, que possuam a competência de julgar com propriedade as informações oriundas do contexto cultural e as que se relacionam com essa ciência. Sob esse viés, surge a necessidade de criar uma visão social de ampliação da cultura científica e das metodologias empregadas nos foros educacionais, para desmembrar a ideia de que o ensino de ciências ocorre somente em situações formais de ensino dentro da sala de aula ou no laboratório. Nessa perspectiva, os autores Moreira e Marandino (2015) relatam que a educação das ciências requer um processo contínuo, ao longo de toda a vida, e que não deve se limitar ao universo da escola, da educação tradicional. Portanto, entende-se que a cultura científica embarca fatores que estão muito além do ambiente acadêmico, sendo possível divulgar e aprender as ciências naturais em uma simples conversa, uma peça teatral ou nas atividades cotidianas de cada indivíduo. A apresentação teatral de temática científica ainda é um acontecimento recente no Brasil. Ela representa uma espécie de teatro que possui o objetivo de favorecer a divulgação e a educação científica. Embora não existam muitas pesquisas acadêmicas acerca desse tema, o Teatro Científico (TC) tem sido uma ferramenta de ensino utilizado pelos professores de todos os níveis de ensino, bem como de âmbitos não formais de educação (MOREIRA; MARANDINO, 2015). Considerando a prática da contextualização como um fator primordial para uma aprendizagem significativa dos mais diversos conceitos, principalmente os científicos, as autoras Oliveira e Stoltz (2010), discorrem que o teatro é um canal que promove a divulgação da ciência de maneira contextualizada com a sociedade. Quando se trabalha sobre assuntos científicos, tais como história e filosofia da ciência unida ao teatro, os integrantes refletem sobre o papel do cidadão, gerando um ambiente para repensar suas atitudes, e o papel da ciência e do cientista na sociedade. Assim sendo, a ausência de acatar o contexto envolvido na construção do conhecimento científico durante a sua evolução, faz com que os alunos apresentem dificuldades em relacionar às implicações sociais, ambientais, econômicas e políticas imbricadas na Química e na sociedade (BRASIL, 2006). Posto isso, e sabendo o quanto é importante a inovação nos processos de ensino e aprendizagem, o teatro científico se caracteriza como um recurso que, mesmo que não possua uma constância, é um momento rico de aprendizagem, pois aponta como objetivos, promover a divulgação científica, a aproximação e o entendimento do público de conceitos científicos abordados nas peças de forma lúdica (DE FATIMA SANT’ANA; MOREIRA, 2021). Diante disso, o trabalho em tela teve como objetivo apresentar uma atividade lúdica denominada “QUIMQARTE”, em uma turma do 1º ano do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio de Instrumento Musical.


Material e métodos

O processo metodológico adotado para o levantamento de dados teve caráter qualitativo e quantitativo, isto é, uma metodologia mista. Augusto (2014), ressalta a importância que o pesquisador precisa ter ao selecionar sua abordagem metodológica, pois cada aspecto do processo de observação, análise e coleta de informações detém sua importância. Matter e Ramos (2021) sugerem que o pesquisador por meio do conhecimento das diferentes opções metodológicas defina uma ou mais metodologias que possua uma relação e alinhamento com as etapas do projeto e o levantamento de dados. Morais e Neves (2007) salientam a importância da utilização de uma metodologia mista, quando apontam que esse tipo de metodologia de investigação denota possuir potencialidades para ser aplicada em diversos contextos de estudos acadêmicos. O trabalho foi desenvolvido no Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Campus João Pessoa, no primeiro semestre letivo de 2023 pelos membros do Programa de Educação Tutorial – PET Química, da mencionada instituição de ensino. Dessa forma, a aplicação da atividade ocorreu na turma do 1º ano do Curso Técnico de Instrumento Musical, sob supervisão do professor de Química, tendo como público- alvo 40 (quarenta) discentes. A priori, houve um planejamento da abordagem que seria adotada para a realização da atividade. Nesse contexto, a atividade foi executada em 2 (duas) etapas: a primeira etapa foi a aplicação de um Questionário de Sondagem Inicial (QSI) contendo 4 (quatro) perguntas, cujo intuito foi coletar informações acerca do ensino da Química, da divulgação das ciências e do teatro científico; a segunda etapa foi desenvolvido um teatro lúdico e humorizado intitulado “QUIMIQARTE” norteado pelos temas “Radioatividade, Matéria e suas Transformações e Tabela Periódica”.


Resultado e discussão

Na primeira etapa, com o objetivo de colher dados sobre o ensino de Química, sobre divulgação científica e teatro científico, foi aplicado o Questionário de Sondagem Inicial contendo 4 (quatro) questões. A questão 1 indagava: “Você conhece ou já ouviu falar do Teatro de Temática Científica ou Teatro Científico (TC)?” As respostas somaram um quantitativo de 100% “Não”. Isso indica que os alunos não tiveram contato com apresentações teatrais artísticas durante sua vivência escolar. A questão 2 perguntava: “As suas aulas de Química são contextualizadas e/ou lúdicas/divertidas? (i) Contextualizadas; (ii) Lúdicas/Divertidas; (iii) Ambos; (iv) Nenhum.” Os alunos consideram que possuem aulas “Contextualizadas” e 22,5% aulas “Lúdicas”. Enquanto que 7,5% dos respondentes disseram que as aulas tanto eram “Contextualizadas”, como “Lúdicas”. Já 17,5% dos discentes responderam que não há aulas com nenhum dos elementos pedagógicos. Essa porcentagem ainda é alta e preocupante, pois a presença de fatores tão importantes como a contextualização e a ludicidade para a construção de uma aprendizagem significativa sobre os conteúdos químicos, ainda são insuficientes no ambiente escolar. Nessa ótica, Martins e Dos Santos Fernandes (2020) apontam que a ideia é de o teatro apresentar-se como uma estratégia didática que auxilie a romper a supremacia do método tradicional de ensino, pautado exclusivamente em conteúdos conceituais de maneira contextualizada. Assim, os estudantes se sentiram bem mais motivados a buscarem mais informações acerca de determinado conteúdo que é relatado durante a peça. Da Silva, Ferreira e Da Silva (2020), relatam que a ludicidade pode ser pensada como um instrumento que serve para potencializar o ensino na busca de uma aprendizagem de qualidade, tanto na formação de professores, quanto no desenvolvimento de estratégias e recursos didáticos. O questionamento 3 discorria: Como você classifica a dificuldade na sua aprendizagem dos conceitos químicos? (i) Muito Fácil; (ii) Fácil; (iii) Moderado; (iv) Difícil (v) Muito Difícil. Concernente as respostas, 42,5% dos estudantes apontam a disciplina como “Difícil”, 37,5% “Muito Difícil”, 12,5% “Moderado”, 5% “Fácil” e 2,5% “Muito Fácil”. Percebe-se que os estudantes consideram difíceis os conteúdos Químicos. Isso já é esperado, uma vez que essa disciplina é considerada abstrata, todavia, o teatro pode ser um recurso didático que ajude a dar sentido às aulas mencionadas. A questão 4 indagava: “Você já ouviu falar sobre Divulgação Científica?” As respostas estão ilustradas no Gráfico 1. Em alusão ao Gráfico 3, 95% dos sujeitos responderam “Não” e 5% “Sim”. Com base nesses resultados, pode-se inferir que os estudantes infelizmente não conhecem os cientistas que trabalharam nas formulações teóricas pertinentes a essa Ciência e em suas implicações na vida e na sociedade. Esse cenário possibilita que o ensino de Química não seja visto como objeto de interesse, pois os alunos não conseguem adquirir uma compreensão integral dos significados das proposições científicas. Na segunda etapa, foi desenvolvido um teatro lúdico e humorizado denominado “QUIMIQARTE” que abarcou os seguintes temas: “Radioatividade, Matéria e suas Transformações e Tabela Periódica”. A exposição da “QUIMIQARTE” como peça teatral, durou 40 (quarenta) minutos e seguiu o modelo de uma entrevista comum, a peça foi intitulada “Roda de Cientistas” e foi composta pelo apresentador e entrevistador, 3 (três) cientistas (Marie Curie, Dmitri Mendeleiev e Antoine Lavoisier) e a plateia, que eram os próprios estudantes (Figura 1). A interação e a participação dos alunos durante o percurso da peça teatral foi enaltecedora, com muitos debates e discussões sobre os conceitos químicos abordados. Houve também, a realização de um experimento químico simples chamado “Gênio” (H2O2 + KI em solução), durante a entrevista com a pesquisadora Marie Curie, no qual a participante convidada explanou os conceitos químicos pertinentes ao experimento. Nessa conjuntura, Da Silva et al. (2019) relata que a utilização do teatro de maneira lúdica pode potencializar o interesse dos estudantes e instigá-los a conhecer mais, tanto em relação ao conteúdo químico mencionado quanto aos cientistas e seus trabalhos. Dessarte, a utilização da contextualização e da ludicidade, fazendo uso de uma peça teatral, no ensino de Química, corroboraram efetivamente para o processo de ensino e aprendizagem dos discentes do Ensino Médio, os mantendo interessados e instigados a aprender os conceitos abstratos com criticidade.

Gráfico 1: Questão 4 do QSI.

Gráfico 1: Questão 4 do QSI.

Figura 1: Apresentação da peça teatral.

Figura 1: Apresentação da peça teatral.

Conclusões

Perante o que foi exposto, nota-se que os alunos do Ensino Médio não tiveram contato com peças teatrais no ambiente escolar, seja de qualquer assunto em específico. Além disso, os discentes também manifestaram que a disciplina de Química é considerada difícil de ser compreendida e, consequentemente, é necessário o uso da contextualização e ludicidade, para alcançar que a aprendizagem seja relevante. Contudo, a atividade promoveu aos estudantes uma dinâmica diferente, desenvolveu um pensamento crítico, despertou interesse e a capacidade de reconhecer conceitos químicos. A aplicação dessa atividade beneficiou a compreensão dos conteúdos de forma atrativa e, assim, promoveu mais engajamento nas aulas de Química. Destarte, a atividade “QUIMIQARTE” é de suma importância para divulgar os cientistas transcendentes da área de Química, visto que acarreta aos discentes uma facilidade no processo de ensino e aprendizagem e legitima o cruzamento entre a encenação do teatro científico e o conteúdo abordado.


Agradecimentos


Referências

AUGUSTO, Amélia. Metodologias quantitativas/metodologias qualitativas: mais do que uma questão de preferência. In: Forum Sociológico. Série II. CESNOVA, 2014. p. 73-77.
BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília, v. 2, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_02_internet.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2022.
DE FATIMA SANT’ANA, Camila; MOREIRA, Leonardo Maciel. Possibilidades do teatro científico no ensino de química: uma revisão de pesquisas nacionais dos últimos 5 anos. Scientia Naturalis, v. 3, n. 2, 2021.
DA SILVA, Mara Aparecida Alves; FERREIRA, Lúcia Gracia; DA SILVA, José Gilberto. A ludicidade e/ou lúdico no ensino de Química: uma investigação nos trabalhos apresentados no Eneq. 2020.

MARTINS, Steffany Temóteo; DOS SANTOS FERNANDES, Carolina. O teatro científico: uma estratégia didática para o ensino de química. Revista Pedagógica, v. 22, p. 1-20, 2020.
MATTAR, João; RAMOS, Daniela Karine. Metodologia da pesquisa em educação: abordagens qualitativas, quantitativas e mistas. Grupo Almedina, 2021.
MORAIS, Ana Maria; NEVES, Isabel Pestana. Fazer investigação usando uma abordagem metodológica mista. Revista Portuguesa de Educação, v. 20, n. 2, p. 75-104, 2007.
MOREIRA, Leonardo Maciel; MARANDINO, Martha. Teatro de temática científica: conceituação, conflitos, papel pedagógico e contexto brasileiro. Ciência & Educação (Bauru), v. 21, p. 511-523, 2015
OLIVEIRA, Maria Eunice de; STOLTZ, Tania. Teatro na escola: considerações a partir de Vygotsky. Educar em revista, p. 77-93, 2010.

PAULETTI, Fabiana. Entraves ao ensino de química: apontando meios para potencializar este ensino. Revista Areté| Revista Amazônica de Ensino de Ciências, v. 5, n. 8, p. 98-107, 2017.
DA SILVA, Isadora Regina Galdino et al. Percepções de Professores do Ensino Médio Sobre o Uso do Teatro Científico no Ensino de Química. 2019.

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