ÁREA
Ensino de Química
Autores
Santos Barros, A.J. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - CAMPUS MARACANAÚ) ; Moreira Rebouças, L. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - CAMPUS MARACANAÚ) ; Pereira Moreira, A. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - CAMPUS MARACANAÚ) ; Pinheiro da Silva, M.S. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - CAMPUS MARACANAÚ)
RESUMO
A Educação Inclusiva, baseada na Constituição de 1988, busca atender pessoas com diversas deficiências, exigindo que as escolas ofereçam serviços adequados, como políticas, estrutura física, materiais e formação para alunos com NEEs. Este estudo visa tornar o Laboratório de Química acessível a alunos com deficiência auditiva. Foram realizadas adaptações, incluindo uma Tabela Periódica inclusiva, nomenclatura de equipamentos e placas de segurança. O estudo ocorreu em duas etapas: na primeira, adaptou-se o laboratório com uma Tabela Periódica inclusiva, datilologia em equipamentos e placas de segurança inclusivas. Na segunda, alunos surdos, proficientes em Libras, avaliaram essas adaptações por meio de um questionário de satisfação.A pesquisa revelou que todas as adaptações foram bem aceitas
Palavras Chaves
Acessibilidade; Laboratório de química; Deficiência auditiva
Introdução
A função primordial da educação é garantir que os alunos possam aplicar o conhecimento científico estabelecido pelos seres humanos, capacitando-os a compreender e interpretar o mundo que os cerca. No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), também conhecida como LDB, , é a legislação que estabelece as diretrizes e bases da educação. A Constituição Federal do Brasil de 1988 em seu artigo 205, estabelece que a educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família. Pessoas com deficiências (PCD) são aquelas que têm impedimento de longo prazo de natureza, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (IBGE,2010). A surdez, segundo o Ministério da Educação (MEC) em 2006, é caracterizada por uma variedade de perdas na capacidade de ouvir sons, com diferentes tipos de surdez dependendo do nível da perda auditiva. A presença de pessoas com deficiência auditiva é constatada em diversos ambientes, abrangendo desde supermercados até emissoras de televisão e, evidentemente, o contexto educacional. Portanto, é de fundamental importância adequar os espaços educacionais, tanto em termos de estrutura física, quanto em suas abordagens pedagógicas, e garantir uma formação profissional adequada para melhor atender a estes indivíduos. Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo propor medidas de acessibilidade para o Laboratório de Química Orgânica e Inorgânica (LQOI) destinadas aos alunos com deficiência auditiva que possam participar das disciplinas oferecidas nos cursos técnicos integrados em Química do ensino médio e na licenciatura em Química do IFCE, campus Maracanaú.
Material e métodos
Este trabalho foi efetuado em duas etapas. Na primeira etapa, foram conduzidas algumas adaptações pedagógicas no LQOI tais como: a formatação de uma tabela periódica inclusiva (TPI); datilologia para equipamentos laboratoriais e placas de segurança inclusiva. A tabela periódica inclusiva (TPI) foi construída, a partir de adaptações do modelo proposto por Santos (2019), uma professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais – Campus Bambuí, e utilizando-se também como referência a versão atual da tabela periódica preconizada pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC, 2022). A tabela proposta pela autora é uma representação visual de elementos químicos adaptada para a língua de sinais. Foram produzidas etiquetas com os nomes e respectivas datilologias para os principais equipamentos do laboratório, uma vez que estes não possuem um sinal em libras. Estas etiquetas foram fixadas nos equipamentos de modo a permitir a visualização adequada. Nas placas de segurança foram acrescentadas no canto inferior um Código Qr que dá acesso a vídeos explicativos em libras sobre as informações de segurança contidas nas placas de segurança. Todos os vídeos foram hospedados em um canal do Youtube chamado “LQOI laboratório”. Na segunda etapa deste trabalho, foi realizada uma pesquisa de satisfação em relação as adaptações efetuadas.O questionário foi elaborado a partir dos pressupostos da Escala Likert que ao invés de uma pergunta, usa uma afirmativa e propõe cinco alternativas para o entrevistado. A pesquisa de satisfação contou com a participação de dois alunos do 2° ano do ensino médio da escola de EEMTI Prof. Antônio Martins Filho, localizada em Maracanaú e um aluno do ensino superior do curso de licenciatura em Química do IFCE.
Resultado e discussão
O desenvolvimento da TPI foi feito através de um modelo proposto por Santos
(2019) e da IUPAC (2022). Em cada representação possui o nome do elemento,
símbolo em libras, número atômico, massa atômica, classe e estado físico.
Algumas representações foram feitas por imagem, como: classe e estado físico.
O uso da datilologia ocorre com bastante frequência em áreas que possuem uma
carência de sinais, como é o caso da Química. Foi realizada a nomenclatura do
equipamento e logo abaixo, apresentou-se a datilologia. Estas etiquetas foram
fixadas nos principais equipamentos presentes no laboratório conforme disposto
no lado direito da Figura 2.
Outra adaptação que foi realizada no laboratório foi em relação às placas de
segurança. Dentro do LQOI, existem placas onde estão nomeados alguns avisos,
instruções e modos de como se deve comportar dentro do laboratório. Conforme
apresentado nas Figura 02, à esquerda, tem-se representado um modelo de placa de
segurança adaptada, onde pode-se observar a presença do símbolo de
acessibilidade em libras e o Código Qr, onde a partir deste, o usuário tem
acesso a plataforma do Youtube.
Foi efetuado um levantamento em relação ao grau de surdez dos três alunos
entrevistados onde constatou-se que os Alunos 1 e 2 são totalmente surdos e o
Aluno 3 é parcialmente surdo.
Em relação a pesquisa de satisfação realizada sobre as adaptações desenvolvidas
no laboratório, ao questionar se estes “em relação à TPI, sentiram alguma
dificuldade quanto a visualização e compreensão dos caracteres?”, Na pergunta
seguinte: ‘Quanto ao nome dos equipamentos, a datilologia de sua nomenclatura
está adequada?”,“Em relação às placas de segurança, sentiu alguma dificuldade
para compreender as sinalizações?", os alunos não sentiram dificuldades quanto
as adaptações.
Tabela Periódica Inclusiva
Nomenclatura do equipamento, juntamente com sua \r\ndatilologia (direita) e placa de segurança adaptada \r\n(esquerda).
Conclusões
Diante dos resultados obtidos com as adaptações realizadas no LQOI, em relação à TPI, pode-se afirmar que os alunos surdos e com deficiência auditiva, não tiveram dificuldade de compreensão e visualização da mesma. As placas de segurança e a datilologia dos principais equipamentos foram feitas de tamanhos adequados que puderam ser visualizadas de modo adequado por quaisquer alunos, com NEE ou não. Todas as adaptações foram aprovadas pelos alunos surdos e com deficiência auditiva, e com o anseio destes, futuras adaptações venham a ser implementadas no LQOI.
Agradecimentos
Um agradecimento especial aos alunos da escola de EEMTI Prof. Antônio Martins Filho, localizada em Maracanaú (Ceará) que se dispuseram a participar da pesquisa.
Referências
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Capítulo V – Da Educação Especial. Lei nº 9.394 de 20/12/96.
BRASIL. Constituição 1988: Texto Constitucional de 5 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 22/99 e Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94. Ed. atualizada em 1999. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 1999. XIV, 360p.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística: Censo Demográfico e mapeamento das pessoas com deficiência, 2010. Acesso:https://www.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cpd/arquivos/cinthia-ministerio-da-saude
SANTOS, Alda Ernestina. Tabela Periódica Inclusiva. Instituto federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais Campus Bambuí,2019.
MELLO, H. B. P. Produção e validação da Caixa Tátil-Sonora como ferramenta educacional de Tecnologia Assistiva para alunos deficientes visuais. Dissertação de Mestrado submetida à Universidade Federal Fluminense visando à obtenção do grau de Mestre em Diversidade e Inclusão, Niterói. p.86, 2018.