ÁREA
Ensino de Química
Autores
Costa, P.S. (INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO) ; Ribeiro, A.L.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Khan, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO) ; Fernandes, R.M.T. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO)
RESUMO
Com os avanços tecnológicos, a sociedade passou por diversas transformações. No meio educacional, não diferente, houve a necessidade de mudar as formas e práticas no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que as aulas, anteriormente tradicionais, com pouca utilização de recursos e professor sendo o único detentor dos conhecimentos, passaram a ser vistas como atuações de pouca absorção de conhecimento pelos alunos. Necessitou-se, então de utilizar novos métodos no ensino, tornando este cada vez mais interativo e atraente para os estudantes. Portanto, o trabalho objetivou desenvolver e aplicar metodologias para facilitar o ensino de Química, além de apresentar aos professores algumas formas de ensinar Química e incentivá-los a trabalharem com outros recursos metodológicos em sala de aula.
Palavras Chaves
Metodologias; Jogos didáticos; Ensino de Química
Introdução
O simples ato de transmitir conteúdos não é suficiente para a garantia de uma aprendizagem significativa e boa absorção dos conhecimentos. Portanto, torna-se necessário que o professor busque formas de inovar e diversificar em suas aulas e metodologias de ensino, tendo assim, o intuito de despertar esse interesse e facilitar a aprendizagem dos estudantes. Apesar dos avanços contínuos nos meios tecnológicos, grande maioria das escolas continua sem utilizar novas formas de ensinar de maneiras mais dinâmicas, onde os professores, algumas vezes motivados por comodismo, ou até por falta de estímulo e recursos vindos da escola, prefere continuar com suas formas tradicionais de ensino, apenas passando os conteúdos de maneira sequencial dos livros didáticos. Tais práticas, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - PCNEM (BRASIL, 2002), não devem se resumir à mera transmissão de informações, os quais não apresentam qualquer relação com o cotidiano do aluno, com seus interesses e suas vivências. No ensino de Química, percebe-se que as aulas tradicionais e expositivas, que utilizam apenas o quadro e livro didático, como recursos para o fornecimento de ensino, não são vistos como os melhores métodos e mais produtivos para assimilação da matéria. É notório que, diversas vezes, os alunos não aprendem e nem conseguem fazer associações dos conteúdos estudados com seu cotidiano, causando assim, grande desinteresse em aprender Química. GUIMARÃES (2009), defende que deve haver uma estratégia eficiente para a criação de problemas reais que permitam a contextualização e o estímulo de questionamentos de investigação levantados pelo professor aos alunos. Isso nos leva a uma busca incessante por alternativas que possam reverter ou modificar essa realidade, portanto, muitos estudos têm sido realizados, com o objetivo de encontrar essas alternativas que possam melhorar o ensino de Química (WANDERLEY et. al., 2005). Perante isto, é importante que os professores de Química busquem formas e fontes que ajudem os alunos a terem uma visão crítica da Química, voltada para a realidade. BERNARDELLI (2004), defende que o ensino da química seria mais simples e agradável se fossem abandonadas as metodologias ultrapassadas muito utilizadas no ensino tradicional e houvesse investimentos nos procedimentos didáticos alternativos. Essa diversificação metodológica, garante então, ao docente, resultados cada vez mais positivos com o desempenho e envolvimento dos alunos, o que não é visto com tanta frequência em práticas tradicionais. Logo, essa dinamização do ensino, passa a unificar os conhecimentos teóricos com o cotidiano e dia a dia dos alunos. Para isso, deve haver busca e adaptação de novas alternativas e recursos inovadores que possibilitem aos educandos criarem seus próprios conceitos, descobrirem novos meios para se chegar a um resultado e aprender de forma dinâmica, assim como tornar as aulas mais atrativas, promovendo a produção e empolgação acerca dos conhecimentos adquiridos nas salas de aula, uma vez que há mais interesse e empenho nas aulas. O jogo didático é aquele fabricado com a pretensão de proporcionar determinada aprendizagem significativa, diferenciando-se da aula tradicional, por apresentar aspecto lúdico (CUNHA, 1988). Atividades lúdicas são utilizadas como materiais didáticos alternativos, pois tornam o processo de ensino-aprendizagem mais divertido e espontâneo, uma vez que os estudantes se envolvem fisicamente e cognitivamente com a atividade (MARCELINO-Jr. et. al., 2004). Dessa forma, a finalidade do trabalho foi de apresentar aos professores algumas formas de ensinar a Química e incentivá-los a trabalharem com outros recursos metodológicos em sala de aula, assim como demonstrar que, através das aulas experimentais os alunos podem assimilar os conteúdos e relacionar a teoria com a prática dentro da sala de aula.
Material e métodos
Para sua realização, o trabalho foi subdividido em três etapas: caracterização da área de atuação; produção dos materiais didáticos e jogos a serem utilizados; e, aplicação da metodologia de gamificação no ensino de Química na Educação de jovens e Adultos (EJA). A etapa inicial consistiu na escolha e determinação do local de estudo e atuação para implementação do projeto. Na maioria das escolas os recursos didáticos para ensino são apenas o livro didático, o discurso do professor e o quadro, o que dificulta o processo de aprendizagem. Por estes motivos, escolheu-se uma escola de ensino médio público para a aplicação deste projeto. Chegando assim, na localização do município de São Luís, capital do estado do Maranhão. O estudo ocorreu em uma escola da Educação Básica voltada à Educação de Jovens e Adultos, o Centro de Ensino Maria Mônica Vale. Após definir, caracterizar, conhecer e observar o campo de estudo, assim como serem feitas entrevistas e conversas com os professores da disciplina de Química da instituição, iniciou-se a etapa de preparo de aulas a serem aplicadas como recursos metodológicos para melhorar a assimilação dos alunos. Para tal, foram estudadas formas de elaborar jogos e materiais didáticas de maneira que estes se relacionassem com os conteúdos ministrados nas salas de aula pelos professores, para que então os alunos pudessem visualizar, de maneira prática e cotidiana, os conceitos. Por fim, os jogos foram aplicados, atuando como metodologia ativa de ensino denominada de “Gamificação”. Sendo assim, foi escolhido como primeiro jogo a ser aplicado, o “Dominó Químico”, este foi elaborado a partir de um jogo de dominó de plástico, que foi customizado com cartolina e outros matérias de fácil acesso e baixo custo financeiro. O jogo, que atuou como metodologia para somar com aos conceitos ministrados, teve como principais conteúdos o estudo e a identificação das funções orgânicas: Álcool, Éter e Cetona. O objetivo do jogo foi de fazer com que os alunos associassem as representações moleculares às suas respectivas funções orgânicas, podendo assim, fixar o assunto de maneira mais fácil e divertida. O segundo material criado e utilizado foi nomeado de “Tabuleiro Químico”, este foi fabricado utilizando uma caixa de pizza e envolvido com materiais alternativos. No jogo, contém perguntas relacionadas aos conceitos químicos vistos em todo o Ensino Médio. Com a prática, os alunos puderam observar e aplicar diversos assuntos em seus cotidianos de maneira espontânea. O último material didático aplicado foi produzido a partir da montagem de moléculas orgânicas, visando um melhor entendimento através da visualização e montagem das mesmas com peças de encaixe, para que os alunos visualizassem as ligações químicas e relações orgânicas.
Resultado e discussão
O trabalho apresentado teve como principal objetivo a melhora na percepção dos
alunos que frequentam as turmas do Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos
(EJA) do Centro de Ensino Maria Mônica Vale em relação à disciplina Química,
através da aplicação de Gamificação com recurso de Metodologias Ativas de Ensino
em sala de aula, assim como incentivar os professores da instituição a
desenvolverem mais atividades e materiais lúdicos para o benefício de suas
aulas.
Para que assim se sucedesse, foi necessário fazer observações e análises dos
alunos, professores, e práticas utilizadas nas aulas da escola, assim como
estudar quais as melhores metodologias de jogos poderiam ser aplicadas nas
turmas, observando as dificuldades dos alunos em determinados conteúdos e
estudando as melhores formas de aplicar a intervenção.
Logo, os procedimentos, jogos e materiais didáticos foram empregados em uma
turma do terceiro ano do Ensino Médio durante um período de quatro semanas (uma
vez por semana), onde esperou-se os professores regentes da instituição
ministrarem suas aulas, para então verificar onde os alunos precisariam de
reforço e quais conteúdos estavam com lacunas. Após observação, na aula seguinte
a metodologia era aplicada de maneira adaptada de acordo com as dúvidas dos
jovens estudantes. Por se tratar de apenas uma turma, foi possível um contato
mais direto com os alunos e realmente perceber quais as suas dificuldades com os
conceitos.
Um ponto de destaque, ao final das quatro semanas de intervenção na escola, foi
poder observar que os alunos passaram a estar mais empolgados e participativos
durante as aulas, interagindo mais com os professores, que também demonstraram
estar mais empolgados em ensiná-los, após perceber melhora significativa com a
utilização de materiais simples e básicos que podem ser produzidos na
instituição com um baixo custo, e que tiveram alto impacto nas aulas, passando
estas a serem mais descontraídas e interativas.
O total de participantes no estudo foi de trinta alunos, com idades variadas,
que participaram da implementação das Metodologias. Após aplicações, foram
levantados questionamentos aos mesmos sobre as práticas. Dentre estes trinta
alunos questionados, vinte e sete afirmaram que compreenderam e consolidaram
melhor o assunto abordado no momento da aplicação dos materiais didáticos e
jogos conteudistas. Três, do total de trinta alunos, afirmaram que ainda com a
utilização dos recursos, tiveram dificuldades com os assuntos, mas que
perceberam as aplicações como maneiras de condução das aulas mais dinâmicas e
prazerosas de assistir.
Outro levantamento feito com os discentes, foi o questionamento acerca de qual
material ou jogo foi tido por eles como mais didático. 56,6% dos alunos
escolheram o jogo de tabuleiro como mais eficiente; 23,3% das respostas
escolheram o jogo “Dominó Químico”; enquanto 20% dos alunos afirmaram que
preferiram o jogo das moléculas.
Sendo assim, pôde-se observar que a Gamificação sendo utilizada como recurso
metodológico no ensino de Química apresenta diversas vantagens para o ensino da
disciplina, além de reduzir dificuldades de assimilação e estimular uma melhor
participação dos alunos nas aulas, uma vez que foi observada maior aprendizagem
de vinte e sete alunos, estes representam um quantitativo de 90% do total de
alunos estudados. Enquanto os três alunos que ainda relataram dificuldades
correspondem a apenas 10% da turma. Diante dos resultados, constatou-se que a
aplicação apresentou resultados positivos e alcançou os principais objetivos da
pesquisa, assim como confirmam os dados levantados inicialmente nas literaturas
acerca do ensino com aplicação de metodologias.
A- Dominó Químico; B- Tabuleiro Químico; C- \r\nMoléculas orgânicas com material alternativo; D- \r\nAlunos jogando o jogo “Tabuleiro Químico”.
Conclusões
Ao fim da pesquisa, pudemos observar e concluir que, mediante as aplicações de jogos lúdicos e materiais didáticos voltados ao ensino de Química, os recursos auxiliaram e melhoraram significativamente no processo de ensino-aprendizagem, tanto voltado aos alunos, quanto observando o lado dos professores do Centro de Ensino Maria Mônica Vale, uma vez que foram alcançados os objetivos de demonstrar aos docentes que os recursos podem ser facilmente produzidos e melhorar enormemente na condução e empenho nas aulas. Além disso, os relatos dos alunos foram positivos. Todos afirmaram que gostaram das propostas levantadas e dos jogos e materiais produzidos durante o período de atuação. Apesar de nem todos os alunos apresentarem 100% de aproveitamento das práticas implementadas na escola, os três alunos que não absorveram completamente os assuntos também relataram gostar dos materiais e que as aulas ficaram mais interessantes depois da intervenção, logo, aumentaram o interesse na disciplina de Química.
Agradecimentos
À Universidade Estadual do Maranhão e PIBEX pelo incentivo à pesquisa. À Dra. Raquel Maria Trindade Fernandes e colegas de pesquisa pelo apoio, e orientações durante a realização deste trabalho.
Referências
BERNARDELLI, M. S., Encantar para ensinar – um procedimento alternativo para o ensino da química. In: Convenção Brasil Latino América, Congresso Brasileiro e encontro paranaense de psicoterapias corporais. Foz do Iguaçu, 2004.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997.
CUNHA, N. Brinquedo, desafio e descoberta. Rio de Janeiro: FAE. 1988. FREIRE, Paulo. Entrevista concedida à repórter Amália Rocha da TV Cultura, em 1993, (gravada em vídeo).
GUIMARÃES, C. C. Experimentação no ensino de química: caminhos e descaminhos rumo à aprendizagem significativa. Química nova na escola, v. 31, n. 3, p. 198-202, 2009.
MARCELINO-JR, C.A.C.; BARBOSA, R.M.N.; CAMPOS, A.F.; LEÃO, M.B.C.; CUNHA, H.S. e PAVÃO, A.C. Perfumes e essências: a utilização de um vídeo na abordagem de funções orgânicas. Química Nova na Escola, n. 19, 2004.
WANDERLEY, K. A.; SOUZA, D. J. P. de; BARROS, L. A. O.; SANTOS, A.; SILVA, P. B.; SOUZA, A. M. A. de. Pra gostar de química: um estudo das motivações e interesses dos alunos da 8a série do ensino fundamental sobre química. Resultados preliminares. Resumo do I CNNQ: 2005.