ÁREA
Ensino de Química
Autores
Oliveira, B.R.M. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA)
RESUMO
O presente trabalho discute aspectos de um Estudo de Caso produzido por pós-graduandos de uma universidade de Santa Catarina para o ensino de termoquímica, considerando dois elementos principais: o conflito gerado pela situação problema, e o seu potencial pedagógico. Os resultados apontam para o potencial dessa estratégia no ensino de conceitos químicos e na melhora do engajamento e interesse dos estudantes.
Palavras Chaves
Ensino de Química; Caso Investigativo; Formação de Professores
Introdução
Ensinar química é desafiador para muitos professores, seja na educação básica ou no ensino superior, uma vez que o alto nível de abstração de vários conceitos exige o uso criativo de estratégias e ferramentas de ensino, que estimulem a aprendizagem e o engajamento dos estudantes. No entanto, nem sempre a formação dos professores dá possibilidades para a exploração desses caminhos, levando-os, muitas vezes, a uma abordagem meramente conceitual e expositiva ou baseada na reprodução acrítica do que consta no livro didático. É fundamental enriquecer o repertório docente dos professores durante seu caminho formativo e possibilitar momentos em que possam exercitar sua capacidade criativa, além dos aspectos teórico-metodológicos dos pressupostos de ensino. Queiroz e Cabral (2016) discutem o uso de Estudo de Caso (EC) nas ciências naturais como forma de estabelecer condições favoráveis para o ensino e a aprendizagem. Para Sá e Queiroz (2010) o EC é uma alternativa mais pontual da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), em que o estudante é protagonista na aprendizagem e desenvolve pensamento crítico e habilidade de resolver problemas. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo apresentar um estudo de caso, produzido por estudantes de um curso de mestrado, enquanto ferramenta para o ensino de termoquímica e refletir sobre as possibilidades e desdobramentos da proposta. Essa discussão se faz relevante no cenário das pesquisas em ensino de Química e na formação de professores, pois valoriza práticas formativas que oportunizam não apenas o arcabouço teórico, mas também o exercício prático de planejar e refletir, no âmbito das particularidades inerentes a cada conceito químico.
Material e métodos
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, pois preocupa-se em compreender um universo de significados, que vai além de dados quantificáveis (MINAYO, 2014). Tal pesquisa foi realizada no âmbito de uma disciplina de mestrado em uma universidade pública de Santa Catarina. Ao longo da disciplina, os estudantes discutiram e refletiram sobre aspectos conceituais de conteúdos básicos da Química, aspectos teóricos de metodologias e abordagens de ensino de forma geral, e aspectos didáticos específicos de cada assunto, tais como algumas dificuldades dos estudantes e estratégias/recursos com potencial uso. Diante dessa dinâmica, os pós-graduandos vivenciaram momentos de explorar a relação entre as esferas conceituais e didáticas por meio do planejamento de atividades. No presente trabalho será apresentado um recorte dos dados coletados, ou seja, o EC produzido por um grupo nesse contexto da disciplina de pós-graduação ao discutirem sobre o ensino de termoquímica. Herreid (1998) elenca que um bom caso: 1) narra uma história; 2) desperta o interesse pela questão; 3) deve ser atual; 4) cria empatia com os personagens centrais; 5) inclui diálogos; 6) é relevante ao leitor; 7) tem utilidade pedagógica; 8) provoca um conflito; 9) força uma decisão; 10) tem generalizações; 11) é curto. No presente trabalho, o EC intitulado como “Preço abaixo da média: o barato saiu caro”, elaborado por 4 pós-graduandos (dois licenciados em química, um licenciado em ciências biológicas e um engenheiro ambiental), será analisado a partir de dois desses elementos: I - Provocar um conflito; II - Ter utilidade pedagógica.
Resultado e discussão
O EC narra a história de um motorista que abasteceu o carro em um posto de combustível onde o litro da gasolina estava bem mais barato, e que, depois disso, percebeu que o carro passou a fazer uma quilometragem por litro de combustível mais baixa do que a que estava acostumado. Ao comentar com seu filho, soube que essa gasolina poderia estar adulterada, com um teor de etanol superior ao permitido. Assim, os estudantes são desafiados no EC a emitir um laudo, enquanto integrantes de uma comissão técnica da Agência Nacional de Petróleo, que considere aspectos químicos do teste de proveta, do poder calorífico e da densidade dos combustíveis, que conduzam a uma reflexão sobre os danos da adulteração. Em relação ao elemento I, o EC apresenta grande potencial ao desafiar os estudantes, pois propõe uma situação problema possível a qualquer indivíduo (SANTOS e ALEXANDRINO, 2016), estimulando a troca de vivências e a discussão coletiva entre os estudantes. Além disso, potencializa a investigação sobre os motivos que explicam o fato observado pelo motorista, conduzindo à busca de novas informações (HERREID, 2011) e ao estudo acerca da composição da gasolina e do etanol, da reação de combustão, da entalpia e do poder calorífico dos combustíveis. Em relação ao elemento II, o EC pode ser explorado no levantamento de hipóteses e na identificação de conhecimentos prévios dos alunos, como utilizado por Santos e Danelon (2016), bem como para conduzir os estudos e atividades subsequentes como, por exemplo, atividades experimentais na determinação do teor de etanol na gasolina, estudo sobre a densidade das substâncias, determinação do poder calorífico de combustíveis, estudo sobre a reação de combustão e entalpias envolvidas, denotando um bom potencial pedagógico.
Conclusões
O EC elaborado pelos pós-graduandos dá aplicabilidade aos conceitos químicos e promove o envolvimento do aprendiz que é desafiado em um contexto específico, gerando maior engajamento e interesse no que está sendo estudado (PAZINATO e BRAIBANTE, 2014). Assim, configura-se como uma estratégia de grande potencial no ensino de química, pois pode ser adaptada tanto para a problematização dos conhecimentos prévios, quanto para conduzir os estudos por meio de atividades que auxiliem na organização dos conhecimentos científicos que subsidiarão a resolução do caso proposto.
Agradecimentos
Referências
HERREID, C. F. Case study teaching. New directions for teaching and learning, v.2011, n.128, p.31-40, 2011.
HERREID, C. F. What makes a good case? Journal of College Science Teaching, v. 27, n. 3, p. 163-169, 1998.
MINAYO, M. C. de S. (Org.). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. Rio de Janeiro: Hucitec, 2014. 408 p.
PAZINATO, M. S.; BRAIBANTE, M. E. F. O estudo de caso como estratégia metodológica para o ensino de Química no nível médio. Revista Ciências & Ideias, v.5, n.2, p.1-18, 2014.
QUEIROZ, S. L.; CABRAL, P. F. de O. (orgs). Estudos de caso no ensino de ciências naturais. São Carlos: Art Point Gráfica e Editora, 2016. 116 p.
SÁ, L. P.; QUEIROZ, S. L. Estudo de casos no ensino de química. 2 ed. Campinas: Átomo, 2010. 93 p.
SANTOS, E. P. dos.; DANELON, J. B. Estudo de caso: ‘Troca na maternidade?’ In: QUEIROZ, S. L.; CABRAL, P. F. de O. (orgs). Estudos de caso no ensino de ciências naturais. São Carlos: Art Point Gráfica e Editora, 2016. 116 p.
SANTOS, R. L. da S.; ALEXANDRINO, D. M. Estudo de caso: ‘Mariza lagarta’. In: QUEIROZ, S. L.; CABRAL, P. F. de O. (orgs). Estudos de caso no ensino de ciências naturais. São Carlos: Art Point Gráfica e Editora, 2016. 116 p.