A Formação de Professores de Química e a Psicologia : Mapeamento das emoções em uma Experiência Prática

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Angeles, L. (UFRPE) ; Conceição, F. (UFRPE) ; Santana, A. (UFRPE) ; Lima, A. (UFRPE) ; Nanes, G. (UFRPE)


RESUMO

O objetivo deste trabalho é refletir acerca das emoções vivenciadas por universitários do Curso de Licenciatura em Química, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, suscitadas por uma experiência prática com estudantes da Educação Básica. A proposta envolveu 60 graduandos e 146 estudantes do Ensino Médio. Foram aplicados questionários estruturado com 27 graduandos. Inicialmente foram mapeadas prevalências de emoções tais como medo, ansiedade e nervosismo, especialmente devido à necessidade de protagonismo e autonomia pedagógica, exigida pela experiência. No entanto, após a realização das oficinas, predominaram relatos de alegria, satisfação e prazer. É preciso estimular o desenvolvimento de habilidades e competências emocionais dos futuros professores de Química.


Palavras Chaves

professor de química; psicologia; emoções

Introdução

Os aspectos da subjetividade humana - afeto e pensamento - estão associados intrinsecamente (BOCK; FURTADO; TEXEIRA, 2019). Estudos comprovam que as emoções e os sentimentos são indissociáveis dos processos de aprendizagem, seja de crianças, adolescentes, adultos ou idosos (FONSECA, 2016). Os afetos influenciam a percepção das situações vividas e todas as interações comportamentais dos professores e estudantes em uma sala de aula, seja na escola ou na universidade. Apreender as relações entre a Psicologia e a Educação é tarefa fundamental na formação de futuros docentes. A compreensão adequada dos processos psicológicos pela ótica das abordagens teóricas e experimentais (Teoria Psicanalítica, Teoria Behaviorista, Epistemologia Genética de Piaget, Teoria Sócio-Histórica de Vygotsky, Psicogênese de Wallon, Teoria das Inteligências Múltiplas, Vida Afetiva…) fornece instrumentos para uma melhor atuação e análise das situações educativas (SANTA-CLARA, 2012). O objetivo deste trabalho é refletir acerca das emoções vivenciadas por graduandos do Curso de Licenciatura em Química, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, suscitadas por uma experiência prática com estudantes da Educação Básica. A experiência exigia protagonismo pedagógico dos universitários frente às turmas de adolescentes/jovens, em escolas públicas. Em contexto de supervalorização de uma formação inicial conteudista (cognitivo- racional) de professores de Química, o trabalho favorece discussões sobre a valorização de experiências práticas, no âmbito de disciplinas da Psicologia da Educação, que promovam o desenvolvimento de habilidades e competências emocionais (JENNINGS; GREENBERG, 2009), enriquecendo a formação universitária dentro de uma perspectiva holística da formação docente.


Material e métodos

O objetivo geral da disciplina de Psicologia da Educação II, lecionada no Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), é estudar abordagens teóricas da aprendizagem e suas influências nas práticas pedagógicas. No ano de 2023, em duas turmas do 2º ano do Curso, foi proposta uma experiência prática em escolas públicas, como requisito de trabalho de conclusão da disciplina. A proposta visava oportunizar atividades pedagógicas para a formação de futuros professores e a troca de conhecimentos com estudantes da Educação Básica. As duas turmas compuseram um total de 60 (sessenta) graduandos, os quais foram organizados em pequenos grupos e conseguiram executar 10 oficinas temáticas, com uma participação total de 146 (cento e quarenta e seis) estudantes, em diferentes escolas da Região Metropolitana do Recife. As oficinas foram realizadas entre fevereiro e março de 2023, em turmas do ensino médio, com os seguintes temas: identidade juvenil, famílias, projetos de vida e escolha profissional. O formato incentiva o protagonismo pedagógico dos universitários em proposição de atividades dinâmicas e lúdicas. No processo de organização das oficinas foram observadas apreensões e emoções contraditórias (excitação e retração) nas turmas. Assim, surgiu a necessidade de mapear as emoções vivenciadas durante a experiência e discutir os seus impactos no processo de formação desses futuros professores de Química. Foi aplicado um questionário avaliativo, com 27 estudantes. Para fins deste trabalho foram mencionadas apenas questões, as quais permitem uma análise sincrônica (antes, durante e depois da realização) da atividade.


Resultado e discussão

A proposição de uma experiência prática da disciplina de Psicologia da Educação, que visava a realização de oficina com adolescentes/jovens em escolas, foi recebida inicialmente, por mais de 80% dos 27 estudantes com um misto de emoções/sentimentos que transitavam, de forma concomitante, entre polos de animação e preocupação/ansiedade. No tocante ao momento específico de realização das oficinas foram relatadas prioritariamente emoções relacionadas com o medo. Diante da pergunta [Qual foi o seu maior desafio, em relação aos sentimentos/emoções, durante a realização da oficina prática, com os estudantes, na escola?] as respostas sinalizam que os estudantes tiveram que encarar emoções e reações orgânicas desagradáveis, tais como as respostas apontam: “Controlar a ansiedade e o nervosismo”; “O medo de não saber se expressar ou deixar de passar as informações com clareza e reverberar na atividade”; “Por ter pouco domínio sobre a turma, fiquei um pouco aflito, pensando que não conseguiríamos terminar”. O formato da experiência prática exigia um protagonismo pedagógico e autonomia dos graduandos, o que certamente reverberou de forma intensa na vivência das emoções/sentimentos relatados. No entanto, após a realização das oficinas os relatos apontam primazia de emoções e sentimentos agradáveis tais como: alegria, satisfação e prazer (88% dos relatos), em detrimento de frustração, indignação e indiferença (12% dos relatos). Os dados apresentados reforçam importância de tais práticas, que incentivam o desenvolvimento e reflexões sobre as habilidades e competências emocionais (JENNINGS; GREENBERG, 2009) que os professores de Química terão que vivenciar e que extrapolam os conhecimentos sobre o ensino e o aprendizado de fórmulas químicas, equações, tabelas e cálculo em sala.

Conclusões

A escola é lócus exponencial das interações e subjetividades humanas. É preciso uma formação em que o professor de Química seja estimulado a considerar as suas próprias demandas psicológicas (afetivas e subjetivas); bem como, as dos estudantes, conseguindo integrá-las às práticas pedagógicas. Nesse sentido, as vivências e experiências, subsidiadas pelos saberes da Psicologia da Educação, favorecem, aos universitários do Curso de Química, um melhor entendimento de suas emoções para que assim tornem-se mais qualificados para enfrentar os desafios da vida docente.


Agradecimentos


Referências

BOCK, Ana.; FURTADO, Odair.; TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 19ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

FONSECA, Vitor da. Importância das emoções na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 33, n. 102, p. 365-384, 2016 .

JENNINGS, P. A., & GREENBERG, M. T.The Prosocial Classroom: Teacher Social and Emotional Competence in Relation to Student and Classroom Outcomes. Source: Review of Educational Research, 79(1),491-525. (2009).

SANTA-CLARA, Angela. Por que estudamos Psicologia em cursos de Educação? In: MONTEIRO,Carlos Eduardo; CHIARO Sylvia de. Fundamentos Psicológicos do Ensino e da Aprendizagem. Recife: Editora Universitária, p.117-128, 2012.

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