Educação Especial na formação inicial de professores de Química: em foco as Altas Habilidades/Superdotação

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Machado, A.P.A.F. (UFG) ; Santos, L.A. (UFG) ; Nobrega, L.N.N. (UFG) ; Benite, C.R.M. (UFG)


RESUMO

Os alunos com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), por vezes, não são reconhecidos nas salas de aula. Defendemos que a formação docente focada na inclusão escolar é o princípio para que sejam identificados e recebam atendimento especializado. Assim, apresentamos um breve estudo, a partir de um minicurso em vento científico, sobre das necessidades formativas de licenciandos em Química acerca das AH/SD. Como instrumento, utilizamos um questionário inicial e final, por meio da ferramenta Google Forms. As respostas revelam a ausência de conhecimento sobre a inclusão escolar desses alunos, o que aponta para a carência de ações formativas nessa direção, as quais desconstroem equívocos formadores de barreiras para a identificação desse público.


Palavras Chaves

Ensino de Química; Formação docente; Altas habilidades

Introdução

A Educação Especial (EE) na concepção da educação inclusiva (EI) abrange alunos com necessidades educacionais específicas, inclusive os com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), exigindo do professor conhecimentos e estratégias variadas para elaborar atividades pedagógicas que favoreçam seu desenvolvimento escolar (BRASIL, 2008). Sabendo que as AH/SD se expressam por comportamentos nem sempre mensuráveis por testes de inteligência padronizados e que avaliam apenas habilidades cognitivas (NEGRINI, 2015), defendemos ser necessário que o professor desenvolva a capacidade de perceber tais comportamentos nos alunos, por serem bons informantes devido à proximidade que mantêm com eles (VIRGOLIM, 2014). Nesse sentido, enfatizamos que as AH/SD se manifestam em áreas, afastando o mito de que esses alunos se destacam em todas as disciplinas escolares e que não precisam da mediação do professor (ALENCAR; FLEITH, 2001; PÉREZ, 2017; BRUNETTI, 2022). Entendemos que a falta de reconhecimento e identificação deles leva a consequências, como: a dificuldade de socialização e a rejeição de seus pares (GROSS, 2002). Neste estudo adotamos o “Modelo dos Três Anéis” de Renzulli (2004), definindo superdotação como a interação entre três características: habilidade acima da média, entendida como o nível de capacidade intelectual superior ao de seus pares; envolvimento com a tarefa, sendo um grande empenho diante de atividades relacionadas à sua área de interesse e a criatividade, associada à capacidade de pensar de forma inovadora. Assim, objetivamos investigar as necessidades formativas de licenciandos em Química para reconhecerem alunos com AH/SD nessa área e para isso questionamos: Quais conhecimentos sobre AH/SD eles acessam na formação inicial?


Material e métodos

Contendo elementos da pesquisa participante, este estudo coloca o professor na posição de pesquisador e pesquisado, pois investigará a própria prática com vistas à compreensão da heterogeneidade de sala de aula. Participaram da pesquisa 15 cursistas do minicurso ofertado em um evento de licenciatura em Química de uma universidade pública, com o tema “Conhecimentos acerca das AH/SD no Ensino de Ciências”. Utilizamos como instrumento questionários, inicial e final, acessados pelos participantes por QR Code que os direcionou a questões no Google Forms. Os professores organizam suas práticas de ensino de acordo com suas percepções sobre o tipo de aluno que tem, por isso as perguntas buscavam compreender as percepções que os futuros docentes possuem acerca das características de alunos com AH/SD nessa área, bem como analisar o que eles conhecem sobre tal especificidade e se existe a discussão acerca do tema durante a formação inicial nesse curso. Para analisar os dados optamos pela Análise de Conteúdo de Bardin (2016) que nos permitiu sistematizar as ideias preliminares diante da investigação, bem como construir o texto de análise deste estudo. As respostas dos cursistas aos questionários foram os elementos de análise desse estudo, de onde foram estabelecidas categorias (Bardin, 2016) a partir dos objetivos da pesquisa (Quadro 1). Tais categorias foram: 1. Motivação para conhecer o tema AH/SD 2. Conhecimento sobre o tema 3. Percepções sobre AH/SD 4. Problemas na formação inicial referente às AH/SD


Resultado e discussão

Objetivando investigar as necessidades formativas de licenciandos em Química para reconhecerem alunos com AH/SD, logo na resposta á primeira questão revelaram o despreparo como motivação para realizar o minicurso, sendo confirmado pela maioria das respostas à pergunta seguinte, que não abordam EE na graduação e sequer AH/SD. Tais evidências repetem a falta de estudo da diversidade nos cursos de licenciatura em Química constatada por Vilela-Ribeiro e Benite (2011) em uma Instituição de Ensino Superior pública de Goiás, mesmo o estado sendo pioneiro na implementação de políticas de EE. O silenciamento das universidades quanto às AH/SD perpetua ideias equivocadas sobre o tema, fato evidenciado ao indagarmos: Quando falamos em AH/SD, qual a primeira palavra em que pensam? Foram 11 menções ao termo gênio, impactando na ação docente, pois “a ideia implícita nessa crença é a de que, por ser superdotado, tudo é muito fácil para o indivíduo e, dessa forma, para que proporcionar um atendimento diferenciado?” (ANTIPOFF, 2010, p. 307). Assim, concluímos a pesquisa questionando sobre as lacunas na formação que impedem reconhecer indícios de AH/SD nos alunos. Novamente a falta de discussão sobre o tema durante a graduação se revelou, como descrito no Quadro 2. Os extratos mostram a necessidade de debater a formação inicial em Química, pleiteando mudanças nos currículos das licenciaturas, inserindo ações voltadas à EE e ampliando o conhecimento sobre o Ensino de Química numa perspectiva inclusiva. Essa investigação reforça ser importante criar espaços de diálogo onde os graduandos possam expor suas percepções sobre AH/SD, desconstruir visões equivocadas e refletir sobre os desafios e possibilidades contemporâneos da educação.

Quadro 1: Categorias analisadas



Quadro 2: Respostas dos licenciandos



Conclusões

Este estudo evidência que as necessidades formativas de licenciandos em Química para reconhecerem alunos com AH/SD se configuram na falta de suporte teórico e metodológico sobre o tema, o que causa barreiras para práticas inclusivas nas salas de aula. Por outro lado, ações formativas voltadas para a diversidade minimizam equívocos sobre as AH/SD e ampliam o olhar dos futuros docentes para lidar com a complexidade do Ensino de Química na atualidade.


Agradecimentos

Ao CNPQ


Referências

Alencar, E. M. L. S.; Fleith, D. S. Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. São Paulo, 2001.
ANTIPOFF, C.A; CAMPOS, R.H.F. Superdotação e seus mitos. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, Volume 14, Número 2, Jul/dez. São Paulo, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/ SEESP, 2008.
GROSS, M. U. M. Nurturing the talents of exceptionally gifted individuals. In: HELLER, K. A.; MÖNKS, F. J.; PASSOW, A. H. (Eds.). International handbook of research and development of giftedness and talent. Oxford: Pargamon. p. 473- 490, 2002.
MESQUITA, N. A. DA S.; SOARES, M. H. F. B. Relações entre concepções epistemológicas e perfil profissional presentes em projetos pedagógicos de cursos de Licenciaturas em Química do Estado de Goiás. Química Nova na Escola, v. 31, n. 2, p. 123–131, 2009.
NEGRINI, T. Problematizações e perspectivas curriculares na educação de alunos com altas habilidades/superdotação. Tese de doutorado. Santa Maria, 2015.
RENZULLI, J. S. O Que é Esta Coisa Chamada Superdotação, e Como a Desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. Revista Educação. Porto Alegre –RS, Ano XXVII, n. 1 (52), Jan./Abr. 2004.
VIEIRA, C.M; OMOTE, S. Atitudes Sociais de Professores em Relação Inclusão: Formação e Mudança. Revista Brasileira de Educação Especial [online], v. 27, 2021.
VILLELA, E.B.; BENITE, A.M.C. Professores Formadores de Professores de Ciências: o que influencia suas concepções sobre Inclusão? Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.4, n.2, p.127-147, novembro, 2011.
VIRGOLIM, A.M.R. Altas habilidade/superdotação: encorajando potenciais. Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2007.
VIRGOLIM, A.M.R. A contribuição dos instrumentos de investigação de Joseph Renzulli para a identificação de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação. Revista Educação Especial, v. 27, n. 50, set./dez. Santa Maria, 2014.

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