O ENSINAR E O APRENDER QUÍMICA: O QUE PENSAM OS ESTUDANTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE BELÉM-PA

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Bezerra, M.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA) ; Souza, C.A.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA) ; Santos, D.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA) ; Machado, J.R.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA)


RESUMO

o presente trabalho, no contexto do Programa Residência Pedagógica, possui como objetivo a necessidade de apresentar as noções que os alunos estão adquirindo sobre a Ciência Química no decorrer do Ensino Médio. A metodologia utilizada consiste em duas vertentes, de início um levantamento quantitativo por meio de porcentagens das respostas obtidas dos alunos, em seguida uma análise qualitativa, correlacionando as respostas dos alunos com a literatura pertinente da área de pesquisa.Dentre os principais resultados, destaca-se como exemplo a carência de atividades experimentais para complementação às aulas de Química. Conclui-se, dessa forma, a urgente necessidade de se dar voz e ouvidos àqueles que estão e são impactados diretamente com o processo de ensino e aprendizagem em Química


Palavras Chaves

Ensino de Química; Experimentação; Ensino Médio

Introdução

O Ensino de Química é considerado como difícil pela maioria dos alunos da Educação Básica, mesmo onde professores dispõem de toda a estrutura escolar necessária para ministrar esta disciplina como pode ser verificado nos estudos de Silva (2011), o qual aborda que, dentre as disciplinas ministradas tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio, a Química é citada pelos alunos como uma das mais difíceis e complicadas de estudar, e um dos motivos que a torna complicada é por conta de ser abstrata e complexa. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB 9394/96), a disciplina de Química no Ensino Médio deve contribuir na educação de forma a ajudar na construção do conhecimento científico do aluno. Entretanto, tal afirmação da Lei não é garantida na sua essência. Segundo Mizukami (1986), o Ensino de Química, historicamente, apresenta uma perspectiva que está relacionada a uma abordagem tradicional, com aulas expositivas e estudantes passivos, tendo o professor como o detentor do conhecimento que trata o conhecimento como algo pronto e acabado. Alinhado com o pensamento anterior, por sua vez, Da Silva (Apud Schollmeier et al, 2021), especifica que as dificuldades em desenvolver a disciplina de Química em sala de aula podem ser agravadas pela maneira como a disciplina é apresentada aos alunos. De forma descontextualizada e sem relação com o dia-a-dia do educando, que direciona o aluno a se dedicar em memorizar o conhecimento científico por meio da repetição de nomes, fórmulas, cálculos e outros assuntos para obter êxito na aprendizagem. Nesse ínterim, é possível perceber a cultura de um ensino mais teórico e pouco contextualizado da disciplina de Química, o que, por sinal, muitas instituições de ensino acabam por promover esse tipo de cultura. É o que afirma Marcondes (2008), o qual também direciona o insucesso dos estudantes nos estudos da disciplina de Química para a ausência de uma estrutura escolar favorável ao aprendizado dos alunos e o desempenho pífio do professor em sala de aula. Por outro lado, a fragilidade do processo de formação de professores de Química na graduação é outra situação a ser discutida. Viana (2014) afirma que as Licenciaturas de modo geral não apresentam tempo pedagógico suficiente para o aprofundamento necessário para a formação de professores. Em consequência, esses professores acabam priorizando os aspectos específicos em detrimento dos pedagógicos. Assim, os estudos acerca de novas propostas pedagógicas ficam em segundo plano, fazendo com que as aulas tomem uma configuração de abordagem tradicional. Logo, percebe-se que, para se chegar a uma solução, é preciso dar destaque a pesquisas nesse campo, e entender diversos fatores que rodeiam essas dificuldades. Sendo assim, esta pesquisa centraliza sua abordagem no que alunos da Educação Básica do Ensino Médio pensam a respeito do Ensino de Química em uma escola pública da Região Metropolitana de Belém-PA. Para isso, partimos dos seguintes questionamentos de pesquisa: Como os alunos de uma turma da 2ª série do Ensino Médio avaliam as aulas de Química? O que se pode considerar desta avaliação? Assim, esperamos contribuir com a discussão sobre o tema.


Material e métodos

O presente trabalho possui natureza quanti-qualitativa. Quantitativa por se utilizar de porcentagens como análise do instrumento de coleta de dados, e qualitativa, uma vez que buscam compreender os aspectos subjetivos dos dados coletados numa perspectiva narrativa, correlacionando as respostas dos alunos com a literatura pertinente da área de pesquisa. A pesquisa foi realizada na EEEM Pedro Amazonas Pedroso, instituição da rede pública da cidade de Belém, capital do Estado do Pará, no contexto do Programa Residência Pedagógica. Os sujeitos foram discentes do 2° ano do Ensino Médio do turno matutino. Um total de três turmas participou de forma voluntária e anônima através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contabilizando um total de 74 alunos envolvidos. A técnica de pesquisa adotada para a elaboração da referida análise consistiu na aplicação de um questionário semiestruturado com sete questões, entre elas seis objetivas e uma subjetiva. Sobre as questões objetivas, as mesmas continham alternativas de múltipla escolha com um espaço para o comentário/justificativa do aluno acerca da resposta selecionada por ele(a). Quanto à questão subjetiva, esta foi apresentada de forma clara e sucinta, solicitando a exposição das opiniões do alunado a respeito de como estes desejam que as aulas de Química sejam ministradas pelo seu professor.


Resultado e discussão

Na perspectiva quantitativa, a pergunta 01 Você sabe a importância de se estudar Química? mais de 80% dos alunos das três turmas envolvidas na pesquisa afirmaram saber a importância de se estudar essa disciplina. O restante afirmou não saber sua importância. Já na pergunta 02 Você consegue identificar a Química no seu cotidiano?, ocorreu divergência entre a porcentagem das respostas obtidas em uma das turmas. Para duas turmas, que vamos denominar aqui de turma A e turma B, cerca de 74% e 65% dos alunos, respectivamente, afirmaram conseguir identificá-la no seu dia-a-dia. Já para a turma C, chamou a atenção o fato da grande maioria dos discentes dessa turma (cerca de 60%) responderem a alternativa “não”. Santos e Schnetzler (2003) descrevem que o Ensino da Química deve ser dado por meio de uma contextualização dos conteúdos para que o aluno possa compreender melhor sobre o que está sendo estudado. Ao relacionar o conteúdo químico com o que eles já conhecem em seu cotidiano, a compreensão sobre o conhecimento novo que se está apresentando é amplamente facilitada. Percebe-se, nesse sentido, a importância que é a associação de eventos do cotidiano para a aprendizagem do público escolar. Sobre a pergunta 02, para aqueles que responderam “sim”, os mesmos citaram os produtos de limpeza, como água sanitária e sabão, produtos químicos para cabelo e fumaça de ônibus como forma de identificar a Química presente em seu dia a dia, mas uma resposta que fugiu esse aspecto pontual foi a do aluno que afirmou:“Quando estou lavando roupa para saber a quantidade ideal do produto”. Em relação à pergunta 03 Qual sua visão sobre a disciplina de Química?, houve convergência das respostas obtidas entre as turmas. De um modo geral, uma parcela significativa dos alunos nas três turmas disseram se tratar de uma “disciplina de difícil compreensão”. Destaque para as turmas B e C, cuja porcentagem de alunos que escolheram essa alternativa foi de 84% para ambas as turmas. Já na turma A, cerca de 65% escolheram esta alternativa. Isso corrobora com o estudo do químico Chang (2010, p.2), que afirma “comparando com outros assuntos, tem-se a noção de que a disciplina de Química é mais difícil que outras matérias, pelo menos em nível introdutório”. Isto se deve em parte à linguagem abstrata e à compreensão do aspecto microscópico que em sua grande maioria torna a aprendizagem de conceitos químicos um tanto quanto complicados. Nota-se a necessidade do professor em utilizar novas metodologias de ensino para tornar esta disciplina mais atrativa aos alunos. A respeito da pergunta 04 você gosta de estudar Química? em caso negativo, justifique, assim como a pergunta de número 02, houve divergências entre as respostas obtidas nas turmas. Destaque para a turma C, o qual 84% dos alunos que responderam o questionário afirmaram gostar de estudar Química. Já na turma B, cerca de 57% dos discentes responderam de forma semelhante à turma C, o que por sua vez não foi possível observar na turma A, haja vista que mais de 60% dessa turma afirmou não gostar de estudar Química. Aos discentes que responderam não gostar de estudar Química, dentre os motivos relatados para tal resposta, destaca-se a dificuldade em aprender cálculo e a própria natureza da disciplina, sendo uma matéria de difícil compreensão, o que pode ser verificado na resposta de um aluno quando justificou a escolha da alternativa b (Não): “Não gosto de estudar Química, pois é uma matéria que precisa de muitos conceitos básicos e muita interpretação para se ter entendimento”. O relato de um dos alunos acima é alinhado de forma semelhante com o pensamento descrito por Maldaner (2006), o qual aponta o não entendimento ou a não compreensão de conceitos básicos de Química aplicados em sala de aula como problemas que geram a falta de interesse dessa disciplina pelos alunos. Maldaner (2006) também afirma que, a partir do momento em que o ensino trata de conceitos variados, a Ciência pode se tornar mais complexa de ser compreendida. Isto explica o porquê da “muita interpretação” citada pelo aluno na resposta descrita por este. No que diz respeito à pergunta 05 Marque a alternativa que explica a forma como a disciplina de Química é ministrada em sala de aula, respostas diferentes foram obtidas para as turmas. Na turma A, pouco mais de 60% dos alunos escolheram a alternativa que descreve que a disciplina de Química é ministrada somente na base da teoria, sem a realização de atividades experimentais ou atividades lúdicas, como jogos de aprendizagem, dinâmicas extraclasses, dentre outras metodologias. Para as turmas B e C, 50% e 40% do alunado responderam a alternativa que descreve que as aulas de Química são ministradas tanto de forma teórica quanto experimental, com a presença em algumas situações de atividades lúdicas, como jogos de aprendizagem e dinâmicas extraclasses. Para a pergunta 06 Como você classifica o ensino de Química em sala de aula?, mais da metade dos alunos em ambas as turmas classificou o ensino de Química como “ótimo” ou “bom”. Destaque para os 80% da turma C que classificaram o ensino desta disciplina neste patamar.As imagens a seguir especificam os gráficos obtidos de acordo com as respostas dos alunos via questionário nas três turmas analisadas: Quanto à última pergunta do questionário Como você deseja que suas aulas de Química sejam ministradas pelo seu professor?, para ambas as turmas, houve uma grande parcela de discentes que afirmaram a necessidade de mais aulas experimentais. Alguns alunos manifestaram o interesse por mais atividades e trabalhos de pesquisa, o que pode ser observado nas falas dos alunos abaixo: “Gostaria que fossem (as aulas) mais explicativas e de forma mais divertida” Aluno Turma A “Acho que seria uma ótima experiência ter aulas no laboratório. Gostaria de ter aulas práticas em relação à Química” Aluno Turma B Tal linha de raciocínio condiz com o que é dito por Rubinger e Braathen (2012, p. 11), os quais afirmam a Química como “uma ciência experimental, portanto, um Curso de Química sem experimentos não faz sentido para a maioria dos estudantes”. Imagina quando isso se volta para a Educação Básica. É possível concluir, mediante a isso, que atividades práticas contribuem para o interesse e aprendizagem em ciências, especialmente na Química. E o professor em exercício na Educação Básica e o professor formador da Universidade precisam estar atentos a este aspecto tanto no planejamento de aulas quanto no processo formativo em si. Ainda a respeito da necessidade de atividades experimentais como complemento às aulas de Química, tais atividades tornam-se omissas em função de diversas demandas, o qual se limita à apresentação dos chamados produtos de ciência. Krasilchik (2000), citado por Lima e Leite (2012), chama a atenção para três aspectos concretos sobre a aprendizagem. Um deles, o primeiro por sinal, relaciona-se à questão de que, na maioria das vezes a escola possui um laboratório de Química, todavia, não disponibiliza os materiais necessários para atividades práticas, ou o professor tem uma carga horária muito pesada e não consegue levar os alunos para o laboratório, mesmo que tenha os materiais disponíveis, ou ainda a dinâmica do calendário escolar e ambiente escolar ou por aspectos pessoais do professor relacionado à sua formação ou não, O que prejudica não somente o processo de aprendizagem, mas de ensino na perspectiva de uma educação significativa e de qualidade a todos os envolvidos no processo e ambiente escolar, o que deixaremos em aberto para trabalhos futuros.


Gráficos Ilustrando a Porcentagem das Respostas \r\nObtidas nas Perguntas 1, 2 e 3 Para as Turmas A, B \r\ne C


Gráficos Ilustrando a Porcentagem das Respostas \r\nObtidas nas Perguntas 4, 5 e 6 Para as Turmas A, B \r\ne C

Conclusões

Diante dos resultados obtidos nesta produção, foi possível identificar quais as visões dos estudantes sobre como se dá o Ensino de Química em uma escola pública da cidade de Belém/Pará. Dessa forma, diversos pontos a respeito desta disciplina escolar puderam ser mais bem observados na análise das respostas dos alunos e levados a problematização, onde pretendemos em trabalhos futuros apresentar possíveis soluções no contexto em que estamos inseridos. Como ponto positivo, podemos destacar a relação professor-aluno, o qual se observou uma harmonia entre ambas as partes. Embora as respostas obtidas possam inferir na necessidade de mudança ao modelo de ensino já proposto em sala de aula,foi possível concluir nesta experiência que o professor participante da disciplina de Química opera em sintonia com seus alunos. Como pontos negativos, por sua vez, é importante situar a dificuldade dos alunos em aprender conceitos da disciplina de Química, o que pode ser observado como uma disciplina de difícil compreensão. Tal dificuldade é o reflexo de problemas apontados pelos próprios estudantes (Química enquanto ciência abstrata e complexa, ausência de novas metodologias de aprendizagem em sala de aula e ausência de atividades experimentais). Portanto, no que diz respeito à falta de atividades experimentais, torna-se necessário à experimentação no Ensino de Química na Educação Básica. Isto deve servir como uma sugestão de estratégia de ensino que certamente pode contribuir para motivar o aluno no processo de aprendizagem pela necessidade do professor em contextualizar os conteúdos em sala de aula.


Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado tendo como contexto formativo o Programa Residência Pedagógica (PRP),fomentado pela CAPES,o qual contou com o auxílio dos professores Jorge Ricardo Coutinho Machado e Cintia Aliny Silva de Souza


Referências

CHANG, Raymond. Química geral: conceitos essenciais. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010.

LIMA J. O. G.; LEITE, L. R. O processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Química: o caso das escolas do Ensino Médio de Crateús/Ceará/Brasil, Revista Eléctronica Investigación em Educación en Ciencias, v. 7, p. 72-85, 2012.

MALDANER, O. A. A formação inicial e continuada de professores de química: professor/pesquisador, Ijuí: Unijuí, 2006.

MARCONDES, M. E. R. Proposições Metodológicas para o Ensino de Química: oficinas temáticas para a aprendizagem da ciência e o desenvolvimento da cidadania. Em Extensão, v.7, p. 67-77, 2008.

MIZUKAMI, M. G. M., Ensino: As abordagens do processo. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária (EPU), 1986.

SANTOS, W. L. P. S; SCHNETZLER, R.P. Educação em química: compromisso com a cidadania. 3.ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003, 144p.

SCHOLLMEIER, Ana M. Da L., Lampe, Leandro., Barin, Cláudia Smaniotto. Mapas Conceituais como Instrumento de Avaliação em Tempos de COVID 19. Revista Debates em Ensino de Química. V 7, n.3, 2021. p.156-170.

RUBINGER, Mayura Marques Magalhães; BRAATHEN, Per Chistian. Ação e reação: ideias para aulas especiais de Química. Belo Horizonte: RHJ, 2012.

SILVA, Francisco Edivanio. A Interdisciplinaridade nos livros de Química no Ensino Médio. Monografia (Curso de Licenciatura em Química). Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza-CE, 2011.

VIANA, K. S. L. Avaliação da Experiência: uma nova perspectiva de Avaliação para o ensino das Ciências da Natureza. Recife, 2014. 202f. Tese (Ensino de Ciências e Matemática – Modalidade Física e Química) – Departamento de Educação, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Recife, 2014.

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