MICROPLÁSTICOS NO ENSINO INTERDISCIPLINAR DE QUÍMICA: ABORDAGEM ATRAVÉS DA PRODUÇÃO DE CHARGES

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Silva Júnior, J.R. (UFRN) ; Santos, L.M. (UFRN) ; Souza, H.C.T.D. (UFRN) ; Silva Júnior, L.A. (UFRN)


RESUMO

Este trabalho tem por finalidade apresentar uma sequência de aulas em torno do desenvolvimento de charges com uma turma de 2° ano do ensino médio, buscando relacionar o conteúdo de microplásticos com sua constituição química e o impacto social, permitindo que os alunos elaborem, dentro deste recurso, um pensamento crítico acerca de como um material tão invisível aos olhos humanos, como o microplástico, pode impactar no âmbito social, ao mesmo tempo que seus efeitos químicos estão associados à decomposição e a retenção de produtos tóxicos. Na execução do trabalho, seguido de um questionário e comparação com respostas iniciais, é possível observar o desenvolvimento de concepções dos alunos associando os efeitos das cadeias de polímeros, os microplásticos e a sociedade.


Palavras Chaves

Microplásticos; Charges; Polímeros

Introdução

O início da prática docente é um desafio aos alunos de licenciatura, principalmente ao que se refere no controle de atividades e os crescentes trabalhos em torno da interdisciplinaridade do campo de conhecimento de domínio com outras áreas que são pertinentes à vida da sociedade como um todo, o que diz respeito a temas como a poluição, gestão de recursos, exploração da natureza e cuidado ambiental, possibilitando a redução de uma visão fragmentada do ensino ao passo que trabalha na óptica de um tema em comum entre diferentes disciplinas, sendo um ponto pertinente no estudo da natureza, tendo em vista sua complexidade inerente que não é limitada a um único campo de estudo (GOMES, PUGGIAN e ALBUQUERQUE, 2013). Tais pontos são levados em consideração nas aulas da trilha de aprofundamento da disciplina de química que trabalha em conjunto com a disciplina de biologia com o tema abrangente “Mais gente, mais lixo”, em consonância com o Referencial Curricular Potiguar vigente no ano de 2023, onde traz à tona as reflexões acerca dos crescentes problemas ambientais decorrentes do descarte incorreto de diferentes produtos, os impactos socioambientais e a natureza química e biológica de tais materiais que estão presentes em diferentes espaços da natureza e podem apresentar potenciais danos ao ser humano e o ecossistema. No espectro de temas que estão proeminentes no cuidado ambiental, o tópico de microplásticos é explorado devido à sua ocorrência, muitas vezes, sutil ao longo do ambiente e presente na fabricação de sacolas plásticas e embalagens, onde tais materiais que são constituídos por cadeias poliméricas e de tamanho inferior a 5 mm podem ser passadas através de métodos mais comuns de separação, como em filtração ou tratamento de resíduos (VARGAS et al, 2022), que, aliado às grandes linhas de produção de produtos plásticos e o descarte incorreto, o acúmulo deste microplásticos se tornou um tópico evidente na mídia e notícias, sendo responsável por danos ao ecossistema e contaminações decorrentes de suas propriedades de adsorção de metais pesados como Chumbo (Pb) e Níquel (Ni), permitindo a concentração de poluentes (VASCONCELOS NETO, 2020). Exposta a problemática, dentro da trilha de aprofundamento é necessária a abordagem deste tema para o conhecimento da natureza e o desenvolvimento de futuras ações que estejam voltadas na diminuição do fenômeno poluente dos microplásticos. Para tal, considerando os eixos científicos e econômicos, é orientada a atividade de elaboração de charges para integração dos conhecimentos e reflexões sobre o seu impacto nos eixos citados, que é evidenciada como uma estratégia adequada para o ensino de ciências e, principalmente, em uma abordagem interdisciplinar explorando a formação da visão crítica em um assunto relevante ao cotidiano (DUARTE, SARAIVA e BARROS, 2017). Diante do exposto, o objetivo é analisar o ensino do tema de microplásticos no eixo de química e o âmbito crítico-social através da construção de charges.


Material e métodos

A atividade consistiu em uma sequência de quatro aulas de 50 minutos em uma turma de 2° ano na Escola Estadual Berilo Wanderley na cidade de Natal - Rio Grande do Norte, onde inicialmente ocorreu uma aula onde os alunos iriam fazer uma reflexão prévia acerca do tema de microplásticos e dizer o que compreendiam a partir de suas concepções e respostas para três perguntas iniciais. A segunda aula é expositiva, retomando os conceitos que os alunos responderam na aula anterior e explicitando acerca do microplástico dentro da perspectiva da química e seus impactos ambientais, onde os também é orientada atividade da elaboração das charges para a terceira aula, onde foi esperado que relacionassem os conteúdos vistos de química, como polímeros e as propriedades dos microplásticos com os metais nas charges produzidas. Após essa elaboração, é aplicado um questionário na quarta aula para os alunos da turma acerca do tema trabalhado, possibilitando extrair informações dos alunos acerca do desenvolvimento da atividade e seu desenvolvimento.


Resultado e discussão

Os alunos apresentaram os trabalhos e mostraram suas produções. Ao todo, foram 27 alunos em grupos que variaram de dois a quatro alunos. O questionário aplicado consistia em quatro questões: 1. A partir de seus conhecimentos, qual a relação da química com os microplásticos? 2. Quais os pontos que você considera positivos e negativos na execução da atividade da charge? 3. Quais as suas maiores dificuldades encontradas na elaboração do trabalho? 4. O que você acha que poderia ser modificado para melhorar o trabalho? Os 27 alunos responderam as questões na quarta aula, onde foi constatado, para a primeira pergunta, que boa parte dos alunos consideram que a relação entre a química e os microplásticos esteja na decomposição do plástico e nas alterações causadas no meio ambiente. Outros acreditam que essa relação está na forma como os microplásticos agem no organismo e os efeitos causados pelo mesmo, tanto em seres humanos quanto em animais. Houve ainda um grupo de alunos que relacionou a composição do microplástico com a química, tendo em vista que são compostos por polímeros. Comparando com as perguntas que tinham sido feitas na primeira aula, é possível constatar que o trabalho permitiu que estes alunos observassem uma relação de transformação dos plásticos para microplásticos em um aspecto além das transformações físicas ou associadas apenas ao seu tamanho, como ressaltado no primeiro momento, o que possibilitou compreender que as cadeias de polímeros e a quebra nestas ligações formavam os microplásticos. Na segunda pergunta, a maioria considerou como ponto positivo o conhecimento adquirido ao longo do processo e a forma lúdica como o conteúdo foi abordado. Outro ponto positivo apontado pelos alunos foi a conscientização, pois conseguiram compreender as consequências que esse material causa no meio ambiente. Já os pontos negativos mais citados foram "falta de criatividade", criação da arte e dificuldade de trabalhar em grupo. Com relação às dificuldades na elaboração do trabalho, questionadas na pergunta 3, boa parte dos alunos relataram dificuldades na elaboração das frases e na criação do desenho. Outra dificuldade comum foi a falta de materiais que abordassem o tema, tornando difícil para os alunos conseguir relacionar a química com os microplásticos na criação da charge. Na quarta pergunta, ao serem questionados sobre o que poderia ser melhorado, alguns alunos relataram que gostariam de acrescentar mais informações, associar mais a química com o assunto e relacionar com o meio ambiente. Outros gostariam de ter mais tempo para elaborar a charge, enquanto alguns disseram que não mudariam nada. Um dos pontos que se torna possível afirmar acerca do trabalho, com base nas respostas, é que o trabalho da charge conseguiu colocar os alunos em uma situação diferente por terem que elaborar desenhos e reflexões acerca do tema de microplásticos, onde as maiores dificuldades estão na elaboração de desenhos e conseguir relacionar eles com alguma reflexão crítica que associe tanto a química nos microplásticos quanto a relação social, o que poderia ser melhor desenvolvido caso fosse feita uma sequência didática com mais aulas, pautando o desenvolvimento das charges e das discussões acerca da relação entre o macroscópico e o microscópico dentro das próprias aulas.

Conclusões

A aplicação do trabalho, comparando com as respostas inicialmente apresentadas pelos alunos, evidenciaram uma maior segurança e clareza ao descrever como os microplásticos estavam associados na constituição química dos microplásticos, entretanto foi possível constatar dificuldades ao produzir um trabalho de reflexão crítica do impacto ambiental dos microplásticos juntamente com os aspectos químicos destes materiais, necessitando de momentos além das quatro aulas que permitam desenvolver e fazer maiores correções antes da apresentação final.


Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.


Referências

DUARTE, I. E; SARAIVA, R. C. S.; BARROS, M. D. M. A utilização de charges como estratégias para o ensino de ciências. Educação & Pesquisa, v.15, n.1, p.8-26, 2017.
GOMES, V. P.; ALBUQUERQUE, G. G.; PUGGIAN, C. Os Enfrentamentos Em Busca Pela Interdisciplinaridade Escolar. Nucleus, Ituverava, v. 10, n. 1, abr. 2013.
VARGAS, J.G. M. et al. Microplásticos: uso na indústria cosmética e impactos no ambiente aquático. Química Nova, v. 45, n. 6, p. 705-711, 2022.
VASCONCELOS NETO, J. R. Estudo do fenômeno de adsorção dos metais Pb 2+, Cu 2+ e Ni 2+ em microplástico de polietileno. 2020. 85 f. Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2020.

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