Por que algumas plantas têm ação medicinal e/ou tóxica?

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Pessoa, D.C.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ) ; Castro, M.V.C.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ) ; Almeida, P.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ) ; Martins, F.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ)


RESUMO

Os documentos norteadores da educação fomentam e reforçam práticas de ensino que buscam contextualizar o conhecimento do dia-a-dia com os saberes científico para tornar a aprendizagem satisfatória. Pensando nisso, o objetivo deste estudo foi desenvolver uma sequência de ensino (SE) para trabalhar fitoquímica. A SE teve duração de 8h e foi dividida em 4 momentos: problematização, investigação, exploração e conclusão. A mesma foi aplicada a um grupo de alunos do curso de ciências biológicas, os quais foram avaliados por meio da observação e análise das falas a partir das transcrições das gravações de áudio realizadas. Os resultados demonstraram que a SE permitiu a ampliação do conhecimento, ressignificando conceitos errôneos ou incompletos de uma forma contextualizada e divertida.


Palavras Chaves

Jogo; Fitoquímica; Ensino de Química

Introdução

As plantas são largamente utilizadas no cotidiano para o tratamento de eventuais enfermidades ou até para a prevenção de algumas mazelas. Segundo o Ministério da Saúde (2012), cerca de 25% de todos os medicamentos têm como princípio ativo, diretamente ou indiretamente os vegetais. Apesar disso, o campo de estudo da fitoquímica não possui estudos em abundância que consigam abranger todos os atributos vegetais, desse modo, devem ser reforçados o ensino de técnicas e práticas que buscam promover o conhecimento das propriedades das plantas (COSTA et al, 2020). Os vegetais tendem a possuir propriedades tóxicas ou medicinais devido à presença de substâncias que não pertencem às vias metabólicas principais e são denominados como metabólitos secundários (MENEZES et al., 2020). Metabólitos secundários são moléculas ativas encontradas em plantas provindas a partir do metabolismo primário que pertencem a uma das três grandes classes: terpenos, compostos fenólicos e os compostos nitrogenados, sendo estes responsáveis pelos efeitos medicinais e/ou tóxicos das plantas (BARRETO et al., 2020). O ensino dessas propriedades fitoquímicas tem benefícios sociais e econômicos, todavia, ainda tem sido predominante descontextualizado e fragmentado, o que dificulta uma aprendizagem significativa que relacione os conhecimentos fitoquímicos com o dia a dia (VOLKWEIS et al., 2019). Assim, o presente estudo teve como objetivo desenvolver um Sequência de Ensino (SE), visando proporcionar a ampliação do conhecimento científico acerca da química das plantas de forma interdisciplinar com alunos de graduação.


Material e métodos

A pesquisa foi previamente autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer nº 5.397.627) e aplicada a um grupo de 13 alunos regularmente matriculados no curso de ciências biológicas da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). A sequência de ensino (SE) foi planejada em 4 momentos e aplicada em 2 encontros de 4h cada. No momento 1 foi realizada a problematização. Os alunos foram provocados com uma sequência de imagens que traziam imagens de notícias populares, séries e filmes que faziam o uso de plantas. A cada imagem, os alunos eram convidados a se expressar, dessa forma foi possível levantar conhecimentos prévios deles. Ao final da sequência de imagens, foi proposta a questão problema: “Por que algumas plantas têm ação medicinal e/ou tóxica?”. No papel, os alunos registraram suas hipóteses as quais foram discutidas em seguida. No 2º momento, os alunos foram divididos em 3 grupos, com o objetivo de investigar as 3 classes de metabólitos secundários: terpenos, compostos fenólicos ou compostos nitrogenados. A pesquisa focou nas vias de biossíntese, estrutura química e uso. A partir das informações levantadas, as equipes prepararam uma apresentação aos colegas. No momento 3 os estudantes expuseram os resultados da pesquisa em forma de seminário e para explorar ainda mais o conhecimento se divertiram com um jogo de tabuleiro, uma adaptação do Jogo Perfil Grow. Foram elaboradas 21 cartas com 10 dicas cada sobre plantas e metabólitos secundários. No 4º momento, os alunos retomaram a questão problema e tiveram a oportunidade de respondê-la novamente adicionando os conhecimentos adquiridos. Todas as etapas da pesquisa foram gravadas e a avaliação foi realizada de forma qualitativa por meio da análise das falas dos participantes e da participação durante as atividades.


Resultado e discussão

No momento 1, observou-se que as imagens apresentadas possibilitaram o compartilhamento do conhecimento empírico dos alunos (Figura 1). Com a contextualização, os estudantes têm uma percepção de que o saber não é apenas um acúmulo de conhecimentos e que é possível relacionar fatos e acontecimentos do cotidiano com o conteúdo visto dentro de sala de aula (MAFFI et al., 2019). Durante a discussão dos motivos pelos quais algumas plantas têm ação medicinal e praguicida, e outras não, todos os grupos atribuíram essas propriedades à presença de “substância produzidas pelas plantas para adaptação”, apenas um dos grupos nomeou os “metabólitos secundários” como os responsáveis por essas propriedades. No 2º encontro, cada grupo apresentou, na forma de seminário, as vias de biossíntese das classes de metabólitos investigadas, as características estruturais e funcionais do seu grupo, bem como as diversas aplicabilidades que a sociedade faz destes. Observou-se que os estudantes estavam motivados e percebeu-se a abrangência em relação às fontes de pesquisas adotadas, evidenciando que os estudantes foram em busca de muitos materiais, demonstrando um grande interesse no assunto. Durante o jogo de tabuleiro (figura 2) os estudantes se mostraram participativos, conseguindo relacionar os metabólitos secundários nos cartões com as dicas que eram fornecidas. Foi possível notar que algumas cartas exigiam mais de conhecimentos específicos, onde alguns estudantes demonstraram um pouco de dificuldade. Ademais, foi relatado pelos alunos que o jogo “trouxe dinamismo, despertou o interesse” foi “importante para fixação do conteúdo e socialização da turma”. Estes relatos evidenciaram os benefícios da utilização de jogos no ensino, proporcionando um aprendizado dinâmico e prazeroso (MIRANDA, 2022).

Figura 1

Manifestação dos alunos durante a exibição das \r\nimagens para contextualização da sequência de \r\nensino.

Figura 2

A - Imagem do jogo de tabuleiro; B - Exemplos e \r\ncartões utilizados

Conclusões

Os estudantes conseguiram desenvolver as atividades propostas sem grandes dificuldades, prosseguindo por todas as etapas da sequência de ensino proposta, ampliando seus conhecimentos acerca das propriedades químicas das plantas, ressignificando conceitos errôneos ou incompletos de uma forma contextualizada e divertida.


Agradecimentos

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Estadual do Piauí (PPGQ- UESPI).


Referências

BARRETO, S.; GASPI, F.; OLIVEIRA, C. Estudo químico das principais vias do metabolismo secundário vegetal: uma revisão bibliográfica. Revista Científica da FHO. Fundação Hermínio Ometto, v. 8, n. 1. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Práticas integrativas e complementares: plantas medicinais e fitoterapia na Atenção Básica. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
COSTA, J.; SILVA, F.; NICOLLI, A.; SILVA, A. Dos saberes tradicionais aos saberes escolares: como pensar as aulas de química a partir das propriedades medicinais das folhas da amora preta, atribuídas pelo saber popular consagrado. Revista de Estudios y Experiencias en Educación. v. 19, nº 41, dez, 2020 p. 345 - 357. Doi: 10.21703/rexe.20201941dasilva19.
MAFFI, C.; PREDIGER, T.; FILHO, J.; RAMOS, M. Contextualização na aprendizagem: percepções de docentes de ciências e matemática. Revista Conhecimento Online, [S. l.], v. 2, p. 75–92, 2019. DOI: 10.25112/rco.v2i0.1561. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline/article/view/1561. Acesso em: 16 jun. 2023.
MENEZES, S. Plantas e metabólitos secundários: uma proposta para o ensino de química orgânica. 2020. 127p. Dissertação (Mestrado em Química). Universidade tecnológica federal do paraná. Medianeira. 2020.
MIRANDA, A. Os jogos no processo educativo em uma escola do campo. 2022. 31p. Dissertação (Graduação em Pedagogia). Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa. 2022.
VOLKWEISS, A.; LIMA, V.; RAMOS, M.; FERRARO, J. Protagonismo e participação do estudante: desafios e possibilidades. Educação Por Escrito, [S. l.], v. 10, n. 1, 2019. DOI: 10.15448/2179-8435.2019.1.29112. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/porescrito/article/view/29112. Acesso em: 16 jun. 2023.

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