ÁREA
Ensino de Química
Autores
Sousa, J.N. (INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS IPORÁ.) ; Dias, C.V.S. (INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS IPORÁ.) ; Carvalho, J.P.R. (INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS IPORÁ.) ; de Morais, E.G.M. (INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS IPORÁ.) ; Silva, V.B. (INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS IPORÁ.) ; Nobre-da-silva, N.A. (INSTITUTO FEDERAL GOIANO CAMPUS IPORÁ.)
RESUMO
As oficinas temáticas auxiliam no processo de ensino aprendizagem, estimulando a contextualização e abordagem de diferentes estratégias didáticas. Assim, o trabalho tem como objetivo apresentar uma proposição didática com o tema alimentação saudável promovendo a contextualização dos conteúdos da tabela periódica em uma oficina. A mesma foi dividida em quatro partes descritas a seguir: 1- apresentação do tema e divisão de grupos de trabalho; 2- preparação das frutas para a execução da salada; 3- explicações dos conhecimento obtidos de um grupo para outro; 4- realização de um bingo químico e a degustação da salada de frutas produzida. Os resultados apontam para a interação do que é uma alimentação saudável e reforça conteúdos previstos para a disciplina de Ciências, como tabela periódica.
Palavras Chaves
Atividade lúdica; Ensino de química ; Oficinas temáticas
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposição didática que utiliza o tema alimentação saudável para promover o ensino contextualizado do conteúdo de elementos químicos e da tabela periódica durante uma oficina temática. A proposta foi desenvolvida como parte das atividades previstas pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) Subprojeto Química de uma Instituição Federal do interior de Goiás. Destaca-se que o PIBID, tem se mostrado relevante para a formação docente inicial, visa qualificar o futuro educador para que o mesmo possa aplicar os conhecimentos obtidos por meio dos projetos realizados, construindo assim uma educação básica de qualidade (BURGGREVER; MORMUL, 2017). As oficinas temáticas são metodologias utilizadas para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. Tal metodologia faz com que o aluno tome para si um papel ativo no seu processo de aprendizagem, onde o mesmo será capaz de desenvolver capacidades de raciocínio crítico além de aprimorar significativamente sua atividade de pesquisa a fim de aprofundar seus conhecimentos (GAIA, 2008). Ainda nessa perspectiva, Gaia (2008) aponta as oficinas como sendo atividades práticas realizadas a fim de instigar o pensamento reflexivo e interdisciplinar do estudante, sendo o professor responsável exclusivamente por nortear os conhecimentos prévios apresentados pelos alunos, visando uma organização e apropriação das informações explanadas posteriormente. No ensino de Ciências é preciso ter cautela para que o conhecimento não se torne mecânico de forma que o aluno apenas memorize os conteúdos para a realização de atividades. Desse modo, o uso de metodologias alternativas é um grande aliado do processo de ensino, a interdisciplinaridade e contextualização são fundamentais para a melhor compreensão dos estudantes (MARCONDES, 2008). Neste ínterim, a oficina com a temática alimentação saudável se faz necessária e potencializadora da aprendizagem. Por sua vez, Zanuzzo, Locatelli e Mistura (2022) debatem que o tema alimentação saudável é necessário para que o estudante desenvolva a capacidade crítica de optar por uma alimentação regulada, visando a melhoria do seu bem-estar e saúde. Entretanto, tal escolha se baseia na realidade vivenciada por cada um, existindo diversos fatores que contribuem para uma prática alimentar desbalanceada, podendo ser uma delas questões econômicas que restringe a inclusão de alimentos variados. Sabe-se ainda que a alimentação saudável não se trata apenas do consumo de frutas e legumes, mas abrange em termos tanto quantitativos como qualitativos, de forma que é necessário balancear a ingestão desses alimentos assim como conhecer os principais componentes químicos presentes e seus benefícios para a saúde do corpo e da mente. No que se refere aos Direitos Humanos amparados pela Constituição Federal, é direito de todo ser humano à alimentação adequada, dessa forma o governo deve promover programas que beneficiem as famílias carentes que não tem acesso a uma alimentação de qualidade. Um exemplo que Rodrigues, Oliveira e Kauchakje (2023) citam em seus estudos voltados a essa perspectiva é a crise ocasionada pela pandemia mundial da Covid-19, onde pôde-se vivenciar o aumento da desigualdade social bem como o número de pessoas que precisaram mudar os hábitos alimentares em consequência do desemprego gerado durante esse período. Cabe ressaltar o papel governamental no que diz respeito ao combate à fome e a garantia de alimentação, elaborando projetos de auxílio financeiro ou realizando mapeamentos para identificar os principais pontos de crescimento populacional da fome, visando diminuir esse quantitativo. O tema alimentação torna-se cada vez mais objeto de estudo dos pesquisadores, visto que, a alimentação é uma necessidade básica de todo ser humano. Desta forma, estudiosos como Rodrigues et al (2019) trazem uma abordagem da temática de maneira multidisciplinar englobando as disciplinas de Biologia, Física, Química e Matemática que leva os estudantes a compreenderem a importância da prática da alimentação saudável bem como os estudos direcionados aos conceitos abrangidos pelas diversas áreas. Os sistemas alimentares atuais são os principais fatores que têm contribuído para a degradação ambiental, de modo que se torna necessário realizar a abordagem ambiental tratando-se de alimentação saudável. A educação ambiental está em constante crescimento, buscando desenvolver formas de preservação dos recursos naturais, logo, a alimentação é uma grande aliada nesse processo, uma vez que, a mesma só se torna saudável quando é sustentável (ZANUZZO; LOCATELLI; MISTURA, 2022). Daí a necessidade de que o tema seja articulado no ensino formal. Adiante, destacamos os procedimentos metodológicos para o desenvolvimento da oficina temática.
Material e métodos
O presente trabalho tem como pressuposto uma abordagem qualitativa, cuja centralidade está na descrição do processo de planejamento, desenvolvimento e, nos aspectos relacionados às diferentes estratégias de ensino e envolvimento dos participantes durante uma oficina temática. A oficina supracitada teve como título “A química de uma salada de frutas nutritiva”, e os participantes foram 23 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública do interior de Goiás. As etapas de Planejamento e Desenvolvimento da oficina ocorreram da seguinte forma: Planejamento: inicialmente foi feito um levantamento teórico sobre Alimentação Saudável. Para debater o tema optou-se por explorar apenas frutas e suas propriedades, dando ênfase para os aspectos químicos e seus benefícios para a saúde. Assim, construiu-se os materiais a serem utilizados na oficina, sendo os mesmos: material de apoio falando de cinco frutas (laranja, banana, mamão, abacaxi e maçã); confecção de um bingo com símbolos dos elementos químicos; receita para preparo de uma salada de frutas. Desenvolvimento: a oficina foi realizada no dia 15 de junho de 2023 e dividida em quatro momentos: 1) divisão da turma em 4 grupos para estudo das propriedades das frutas: Grupo 1- laranja; Grupo 2- abacaxi; Grupo 3- maçã e mamão; Grupo 4- banana; 2) preparo das frutas para produzir a salada; 3) apresentação do grupo acerca da fruta estudada; 3) bingo dos elementos químicos; 4) socialização e degustação da salada de frutas. Durante a oficina, para coleta de dados, foram utilizados registros fotográficos e anotações em caderno de campo. Os dados foram interpretados de forma analítico-descritiva e são apresentados a seguir.
Resultado e discussão
A oficina intitulada “A química de uma salada de frutas nutritiva” teve como
objetivo discutir a importância da alimentação saudável e promover o ensino
contextualizado do conteúdo de elementos químicos e da tabela periódica. Para
estudantes no nono ano do Ensino Fundamental. A contextualização é uma abordagem
educacional que estimula o estudante a desenvolver o pensamento crítico e a
curiosidade quando se relaciona um conteúdo a partir da realidade social,
política, econômica e cultural. Para o ensino de química é de suma relevância,
uma vez que a mesma possui diversos conceitos abstratos, sendo melhor
interpretados e compreendidos quando conectados com situações da vida do
indivíduo. Desta forma, a contextualização pode promover um processo de ensino
aprendizagem com maior eficiência, facilitando a aprendizagem e tornando-a mais
significativa (WARTHA; SILVA; BEJARANO, 2013).
Para incentivar a participação dos estudantes optou-se por trabalho em grupo e
uso de uma atividade lúdica, conforme ilustra os diferentes momentos da oficina:
Primeiro momento:
Inicialmente apresentou-se o tema e o objetivo da oficina, e seguiu-se com
questionamentos para interagir e envolver os estudantes, em primeiro momento os
mesmos se demonstraram tímidos e com pouca participação, o que foi se desfazendo
ao longo da oficina. Para uma melhor percepção dos conhecimentos prévios foram
realizadas perguntas como: O que é alimentação saudável? Tendo como resposta de
alguns estudantes que é comer frutas e verduras, outros disseram que é comer
menos alimentos industrializados.
De certa forma a visão geral dos estudantes está parcialmente correta,
entretanto existem inúmeros fatores que devem ser levados em consideração quando
se fala de uma alimentação saudável. Como mencionado anteriormente, a
alimentação saudável precisa ser sustentável. Logo, uma rotina alimentar que
beneficia apenas a saúde humana não pode ser considerada saudável, uma vez que
não está atendendo aos requisitos ambientais.
Segundo momento:
Após uma explanação geral acerca da importância de uma alimentação saudável, a
turma foi dividida em grupos. Cada grupo ficou com uma fruta (Grupo 1- laranja;
Grupo 2- abacaxi; Grupo 3- maçã e mamão; Grupo 4- banana) . Assim, os
participantes do PIBID se dividiram para a explicação aprofundada sobre cada
fruta aos grupos, sendo que ao final da apresentação os grupos deveriam
apresentar os conhecimentos obtidos aos demais estudantes presentes, com
centralidade nas principais composições químicas, curiosidades, cultivo e
benefícios à saúde.
Para esse momento foi utilizada a metodologia sala de aula invertida, os alunos
puderam ser protagonistas no processo de apropriação do conhecimento. O uso da
sala de aula invertida tem tido um aumento significativo, pois a partir dela é
possível que o estudante deixe o papel de agente passivo e passe a ser ativo,
potencializando o desenvolvimento do pensamento crítico e habilidades de
pesquisas. Essa metodologia pode ser aplicada tanto em horário extracurricular,
em que o aluno deverá realizar os estudos em casa, tanto em sala de aula de
maneira, na qual o professor apresenta informações que serão relevantes para o
estudo do aluno. Ao final, ele deve apresentar o conhecimento que apropriou no
decorrer dos estudos (SCHNEIDERS, 2018).
No decorrer das atividades os estudantes registraram seus conhecimentos acerca
das frutas, e durante as apresentações conseguiram citar propriedades das
frutas, por exemplo, a vitamina C presente na laranja, o Potássio que é
encontrado em grande quantidade na composição da banana, dentre outros.
Terceiro momento:
Em seguida, os estudantes, com auxílio dos pibidianos, puderam preparar a
salada de frutas utilizando banana, mamão, maçã, abacaxi e laranja. Durante a
execução foi possível sanar dúvidas relacionadas às explicações apresentadas
pelos colegas em relação às propriedades presentes nas frutas e sua
aplicabilidade na saúde alimentar.
No decorrer das explicações foi possível notar que apesar de serem alunos de 8°
e 9° Ano do ensino fundamental, eles demonstraram um excelente domínio sobre a
tabela periódica, sabendo diferenciar grupos e períodos. Alguns estudantes se
destacaram ao responder questões do tipo "Como os elementos são distribuídos na
tabela periódica? O potássio pertence a qual grupo e a qual período da tabela
periódica? Qual a importância do Ferro para o corpo humano?. Esses
questionamentos foram realizados durante a explicação, sendo possível
identificar que uma quantidade significativa de estudantes apresentavam
conhecimentos prévios aprofundados sobre a tabela periódica, e outra parte
apenas conhecimentos básicos, possivelmente por se tratar de alunos do 8° Ano do
nível fundamental que ainda não possuem alguns conceitos bem definidos.
O uso de oficinas temáticas tem sido uma grande aliada do processo de ensino
visto que, é uma maneira experimental de fazer com que os alunos participem
ativamente na construção do conhecimento, despertando interesse em buscar por
informações mais aprofundadas e não somente receber informações expostas pelo
professor (GAIA, 2008).
Para a finalização da oficina foi realizado um bingo químico, que tinha por
finalidade integrar os estudantes e reforçar os elementos químicos da tabela
periódica. Sabe-se que o uso de atividades lúdicas vem crescendo constantemente
no âmbito escolar, mostrando a sua potencialidade e eficácia no processo de
ensino e aprendizagem. Por sua vez, o bingo químico tem sido uma atividade
lúdica muito utilizada, ainda que passando por variações estéticas e de regras.
Sousa, Loja e Pires (2018) também fizeram um bingo, formato analógico e digital,
denominado bingo periódico, para ensinar distribuição eletrônica e localização
dos elementos na tabela periódica. Para isso, utilizam o esboço de uma tabela
periódica em branco, e os resultados apontam para a satisfação dos alunos de
ensino médio e superior.
Quarto momento:
Partindo para o final das atividades, o quarto momento foi destinado a
degustação da salada de frutas e socialização dos estudantes com professores e
estagiários. Foi feito uma devolutiva por parte dos alunos e professores que os
acompanhavam, onde os mesmos relataram ter sido uma experiência dinâmica e muito
atrativa, tendo por parte dos alunos comentários como: “Queremos voltar outras
vezes” “A aula foi muito interessante e a nossa salada ficou deliciosa”. Podendo
concluir que a oficina teve uma grande participação dos estudantes e alcançou
grande parte dos objetivos esperados.
Conclusões
Diante do exposto, conclui-se que a proposta de utilização da temática de alimentação saudável para promover o ensino contextualizado dos conteúdos de elementos químicos e da tabela periódica por meio de uma oficina temática foi eficaz e enriquecedora para os estudantes. Foi possível envolver os alunos de forma ativa em seu processo de aprendizagem, estimulando o pensamento crítico, o raciocínio e a pesquisa. Além disso, a metodologia utilizada, como a sala de aula invertida, atividades em grupo e o uso de atividades lúdicas, contribuíram para estimular a participação. A temática alimentação saudável foi relevante não apenas na compreensão dos elementos químicos, mas também para a sensibilização dos estudantes sobre a importância de uma alimentação equilibrada. Portanto, a realização da oficina temática “A química de uma salada de frutas nutritiva” se mostrou uma experiência enriquecedora e eficaz, possibilitando aos estudantes uma maior compreensão dos elementos químicos, bem como uma reflexão sobre a importância de uma alimentação saudável. Tal proposta ressalta a importância de abordagens pedagógicas inovadoras e contextualizadas, que incentivam a participação ativa dos estudantes e contribuem para uma formação integral e cidadã. Assim, ressalta–se a relevância do tema alimentação saudável no contexto atual, onde a desigualdade social e a falta de acesso a uma alimentação adequada são problemas recorrentes. A educação desempenha um papel fundamental na sensibilização e no combate a essas questões, e a abordagem da temática durante a oficina contribuiu para o desenvolvimento de uma consciência crítica dos estudantes, incentivando a adoção de hábitos alimentares saudáveis. Para uma segunda aplicação da Oficina, a ideia seria ampliar a abordagem da temática alimentação saudável, incluindo aspectos ambientais, a fim de promover uma educação alimentar sustentável.
Agradecimentos
Agradecemos ao Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Campus Iporá-GO, ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), à escola e estudantes participantes, e demais colaboradores.
Referências
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