EXPECTATIVAS E INFLUÊNCIAS DAS TIC’s NA FORMAÇÃO DOCENTE DO CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Matos, T.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Gomes, G.T. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Santos, L.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Oliveira, D.G. (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO PARÁ) ; Lima, A.H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)


RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar a formação docente na perspectiva de alunos do PIBID, enfocando a estrutura formativa do ensino superior para futuros docentes em relação ao uso de TICs. O estudo adota uma abordagem qualitativa de análise documental, examinando os projetos políticos pedagógicos e as estruturas curriculares de uma IES. Observamos que apesar de prevê o uso de TICs nos documentos analisados existem lacunas na estrutura curricular do curso de licenciatura em Química, necessitando assim de maior alinhamento entre TICs e a formação docente para lidar com as demandas tecnológicas no ambiente educacional atual. Portanto, é essencial revisar continuamente a formação docente, buscando promover o letramento digital e a atualização curricular no contexto do ensino superior.


Palavras Chaves

Formação docente; TICs; Educação em química

Introdução

Na perspectiva das condições formativas ideais, a formação docente deve preparar o futuro docente de acordo com organizações metodológicas para estabelecer uma aprendizagem significativa, fator essencial para a formação de cidadãos (ZEICHNER, 2008). Isso implica possuir também uma bagagem teórica adquirida durante a formação para conseguir desenvolver diferentes tipos de metodologias que possibilitem ao que chamaremos de discente da educação básica, compreender o conhecimento científico de forma significativa. Das diversas abordagens metodológicas, está incluído o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) no ensino. A educação encontra-se em constante transformação, esse é um reflexo próprio da sociedade a qual cabe o sistema educacional, assim, os discentes, parte deste sistema são seus principais reguladores, nesse sentido, existe uma constante busca pelo processo educacional mais eficiente que dialogue com os discentes e proporcione a estes estímulos e promova uma educação significativa. Essa perspectiva revela o caráter indissociável das TICs com a educação. Vemos que o âmbito tecnológico é mutável e está em constante aprimoramento, esse paralelo com os nativos digitais que compõem a educação básica é compatível com o que se propõem para a educação atual (FERREIRA e SÁ, 2018). A influência de TIC's no cotidiano e no ambiente escolar/universitário atingiu proporções imensuráveis em comparação com o século XX, a necessidade de estabelecer uma conceituação para uma tendência educacional é um indicativo de tal relação. Portanto, faz-se necessário estabelecer condições formativas sólidas, para que o graduando seja capaz, em sua formação, de realizar tarefas tecnológicas. Assim como os demais tipos de metodologias, as tecnologias educativas assumem um papel importante para a educação, sobretudo para as expectativas mundiais pautadas em crescimento científico tecnológico ininterrupto, nesse sentido, todas as esferas sociais são afetadas, isso inclui o ambiente educacional, logo é impossível dissociar a educação dos avanços tecnológicos (LEITE, 2019). Logo, a presente pesquisa se justifica na busca por compreender os impactos na formação docente referente às TICs aplicadas à Química, além de tratar da importância dessas ferramentas durante a educação básica, visto que a educação necessita acompanhar os avanços tecnológicos atuais e os novos indivíduos a serem formados por esta. Os objetivos da pesquisa consistem em apresentar reflexões no entorno das expectativas para a formação docente na perspectiva de alunos de iniciação à docência, bem como avaliar o aspecto formativo do ensino superior.


Material e métodos

A pesquisa desenvolvida se dá através de uma abordagem qualitativa de análise documental. A pesquisa de abordagem qualitativa do tipo análise documental é uma metodologia amplamente utilizada para analisar e interpretar dados qualitativos a partir de documentos contendo textos, vídeos, imagens e demais elementos textuais e iconográficos. Além disso, essa metodologia segue uma abordagem pragma dialética que permite a liberdade argumentativa para uma série de fenômenos com precisão acerca dos seus valores agregados, assim o pesquisador é capaz de compartilhar suas experiências e perspectivas (TAQUETE e BORGES, 2021; CARDANO, 2017). O imprescindível da análise documental é definir problemas e objetivos e a partir destes fundamentar a pesquisa considerando os contextos, autores, a quem é direcionado o documento analisado e qual o público atingido por este. Durante o desenvolvimento da análise o pesquisador identifica os trechos mais importantes e categoriza as informações relacionando com dados da literatura para garantir a correta interpretação dos dados obtidos no documento analisado (CECHINEL, 2016). Nesse sentido, foram analisados os projetos políticos pedagógicos de uma instituição de ensino superior e suas estruturas curriculares desde o início do curso até a atualidade. Vale ressaltar que durante esse período foram realizadas 5 modificações curriculares, portanto foram analisadas as 5 versões dos documentos, dos anos de 1976, 1993, 2004, 2008 e 2022. A partir dos documentos analisados foram observadas quais disciplinas possuíam relações diretas com TICs e verificadas nas ementas se outras disciplinas possuíam conexões com as TICs. A partir de então foram feitas as discussões acerca dos dados obtidos. Em suma, a pesquisa desenvolvida realizou a análise dos documentos escolhidos investigando trechos que relacionavam as TICs como ferramentas de conhecimento para os discentes do ensino superior, buscando fontes de informação secundárias na literatura para fins de interpretação dos dados obtidos nos documentos analisados.


Resultado e discussão

O curso de licenciatura em química da IES investigada está em vigência desde 1976 até o ano de 2023 e passou por 5 reformulações da estrutura curricular ao longo deste período. Dentre as reformulações da estrutura curricular é possível destacar as disciplinas disponíveis para a formação docente que apresentam relação direta com TICs. Na estrutura curricular de 1993 existia uma única disciplina intimamente relacionada à TICs, intitulada Programação I. A posterior estrutura curricular de 2004 incluiu a disciplina Métodos Computacionais Aplicados ao Ensino de Química e excluiu a Programação I. No entanto, desde 2004 apesar de haverem 2 novas atualizações curriculares em 2008 e 2022, não houve nenhuma mudança e a estrutura curricular permanece a mesma de 2004. De acordo com a ementa de 2022, a disciplina de Métodos Computacionais Aplicados ao Ensino de Química prevê que o discente universitário domine conceitos básicos de informática, sistemas operacionais e editores de texto, softwares de apresentação, planilhas eletrônicas e internet, bem como deve compreender a utilização de recursos de informática no ensino de Química, softwares educacionais, sistemas tutoriais, simulações e a interação entre a internet e a Química. É válido ressaltar que a disciplina é ministrada somente no 8° bloco, logo espera-se que o aluno desenvolva esses conhecimentos durante este período de curso. Porém, em paralelo, a estrutura curricular estabelece que a partir do 5° bloco o universitário comece a atuar em estágios nas escolas. Esse início de atuação docente exige do discente o domínio de diferentes conhecimentos relacionados à metodologias educacionais, incluindo TICs. Portanto, os parâmetros formativos então assumem a responsabilidade de direcionar o discente para lidar com a realidade escolar assumindo o papel docente antes mesmo da sua formação. É perceptível a árdua tarefa que o discente em formação precisa desempenhar para acompanhar e atuar em vivências para as quais não foi preparado. Esse é um aspecto que transcende a formação docente, já que a educação básica (EB) do atual futuro docente também não compreendia, em sua totalidade, o modelo de ensino estabelecido como ideal na atualidade. Consoante a isto, não devemos nos prender a ideais pessimistas quanto ao modelo de ensino vigente para a formação docente, porém as críticas ao sistema são essenciais para que não se perpetuem condições formativas desatualizadas, afinal o processo de ensino aprendizagem não é estático. Não existem fórmulas corretas que transcendem o tempo quando se trata de princípios formativos, deve-se esperar que a passagem de tempo revele novos cenários e que essa dinamização da realidade educacional renove as concepções atuais e futuras e que esse processo seja contínuo (LOPES e BORGES, 2015). Diante a dinâmica tecno-científica no campo educacional, é possível desenvolver um constante sentimento de atraso, já que a todo momento novas tecnologias surgem e diversas produções educacionais relacionadas a isto também seguem esse movimento. O docente em formação pode desenvolver esse sentimento, mas essa não é uma exclusividade do universitário, o discente escolar também é alvo do crescimento tecnológico, porém em um movimento inverso, enquanto o universitário recebe uma gama ampla de possibilidades de ensino, o discente da EB recebe um ensino tradicionalista em uma realidade de crescentes informações e possibilidades (OLIVEIRA, TEIXEIRA e CHAGAS, 2019). Assim, o discente não se sente integrado à sua vivência atual, com muitas informações a sua disposição, porém sem direcionamento a estas, pois ao fazer parte do cotidiano na educação básica, este constrói uma breve realidade alternativa que não é atraente ao aluno, quanto maior a distância do ensino para o aluno, menor a significância que a escola representa a ele, este é um fator que não se limita aos discentes da educação básica (KATO e KAWASAKI, 2011). Porém, a aplicação das tecnologias como metodologias de ensino não se restringe à vontade docente, existe uma série de fatores que antecedem a aplicação desse tipo de metodologia, além disso a situação do ambiente escolar pode ser determinante para a não utilização desta metodologia. Neste ponto é necessário retomarmos a realidade, diferentes tecnologias, e com elas diferentes informações novas surgem todos os dias, é impossível não sermos afetados por esses fatores, porém não necessariamente estamos inseridos a esta realidade (ROSA, 2013). Enquanto docentes em formação, é comum que estes não sejam portadores de complexos aparatos tecnológicos ou de conhecimentos que os permitam manuseá-los, mesmo que fora de sua propriedade particular. O ambiente universitário é alvo de grandes expectativas quanto a estes fatores formativos que envolvem o manuseio e o "adquirir conhecimento" tecnológico, estas costumam ser quebradas logo no início da sua formação (PINTO, 2001; DE CAMARGOS JÚNIOR, 2019). A formação da licenciatura em química é uma evidência deste fato, onde os aspectos tecnológicos só são evidenciados ao fim do curso, sabendo que o discente é obrigado a adquirir certos conhecimentos para poder cumprir as etapas anteriores sem qualquer direcionamento formativo, porém isto é imposto a ele como um requisito básico para o seu ingresso ao ambiente universitário. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) determina que desde a educação básica é importante desenvolver habilidades críticas em TICs para a informação, conhecimento e solução de problemas em diversos contextos sociais. Novamente retornamos a educação básica, desconexa da realidade e ainda sem possuir a capacidade de formar cidadãos preparados para a vida, como prevê a BNCC atual. O discente universitário, alvo do ensino básico, cujos objetivos não foram plenamente alcançados, tentará mudar este cenário em sua formação e após esta, porém não consegue se integrar ao ambiente universitário, que já é portador de pré requisitos que não são esclarecidos previamente, já que o projeto de ensino prevê este preparo apenas para a formação continuada (RESENDE, 2014). Como foi explicitado anteriormente, a formação docente exige certos domínios tecnológicos que não necessariamente o discente será portador destes conhecimentos, portanto o domínio tecnológico se torna uma obrigação para o discente, mesmo que a universidade não proporcione isso para o discente (RODRIGUES, 2022; BERALDO e MACIEL, 2016). Da mesma maneira, é exigido que o professor em formação se torne portador de conhecimentos tecnológicos para atuação no ambiente escolar, torna-se necessária uma busca individualizada e pessoal para que o discente consiga permanecer e interagir no ambiente escolar, desenvolvendo abordagens metodológicas que envolvam condições relacionadas às TICs ou TDICs (SILVA, DE FARIA e ALMEIDA, 2018). Nem sempre será possível, esta é uma questão a refletir, nem sempre será necessário ou mesmo adequado ministrar aulas ou estar em interação tecnológica, porém é necessário que se esteja minimamente preparado para lidar com isto caso seja exigido. Da mesma maneira, as TICs e TDICs são metodologias como quaisquer outras, logo não revolucionarão o ensino ou serão o ponto principal para que o sistema educacional melhore em sua totalidade (GALIZIA, 2022; VELOSO & SILVA, 2016). Portanto, é importante possuir conhecimentos tecnológicos e estar em integração com a realidade atual, isso não é um fator determinante para revoluções no ensino, tratar do ensino com ideais revolucionários ou salvadores não trará as mudanças necessárias, muito menos solucionará as problemáticas no sistema educacional brasileiro, estes são ideais utópicos influenciados pelo crescente sentimento salvador que a educação carrega em sua íntima existência (SILVA, DE FARIA e ALMEIDA, 2018).

Conclusões

O docente em formação é portador de uma série de expectativas acerca da sua formação, no entanto, essas expectativas podem não ser supridas, esta é uma realidade do ensino educacional brasileiro, é comum que determinações político- pedagógicas não sejam alcançadas, seja por déficits estruturais, curriculares ou em aspectos subjetivos que correlacionam esses 2 fatores anteriores. Visto que o ensino e a formação docente são construções discutidas na atualidade, não podemos deixar de reconhecer que o sistema de ensino está sujeito a mudanças e os aspectos aqui levantados podem apresentar divergências quando em comparação com outras instituições de ensino, é essencial que estas concepções estejam sujeitas à reflexão, tratando assim a reflexão como um item imprescindível no ato da educação formativa docente. Porém, é inegável a influência tecnológica na atualidade formativa, seja em aspectos básicos, como acesso à internet e domínio de ferramentas digitais utilizados durante as disciplinas em curso, como nas vivências dos estágios obrigatórios, entrando em contato com outras gerações mais informatizadas. Ainda que esta seja uma realidade, a própria formação não compreende esses fatores em sua trajetória estudantil, ou faz isso em um momento onde o aluno já teve contato o suficiente com questões que deveriam ter sido antevistas, como é o caso da estrutura curricular do curso de licenciatura em química. No âmbito da formação docente estão 3 figuras principais; o professor universitário, o docente em formação e o discente escolar, todos em sua natureza humana diretamente relacionada ao cultural são os responsáveis por essas mudanças constantes da pesquisa no ensino, o que não significa que a formação docente será pautada em inconstâncias, mas sim em diferentes visões e abordagens focalizando em análises qualitativas.


Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, através do programa de iniciação à docência (PIBID)


Referências


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CECHINEL, A., et al. Estudo/análise documental: uma revisão teórica e metodológica. Criar Educação, v. 5, n. 1, 2016.

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VELOSO, M. R. R; SILVA, V. L. Desafios e dificuldades na inserção e aplicação das tecnologias da informação e comunicação no desenvolvimento da prática docente em escolas da rede pública. 2016.

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