ÁREA
Ensino de Química
Autores
Santos, E.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Fernandes, A.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)
RESUMO
O presente trabalho possui o objetivo de apresentar um estudo de caso de melhoria de aprendizagem utilizando um livreto desenvolvido com estratégias para potencializar a aprendizagem de alunos que apresentam distúrbio do processamento auditivo central (DPAC). O livreto envolve tarefas que associam símbolos, aplicações, estudo e resolução de problemas. Foram realizadas observações e análises com base no desempenho dos alunos nas atividades. A partir dos resultados obtidos, concluiu-se que o material desenvolvido apresentou, nesse caso, resultados significativos para aprendizagem de alunos com DPAC.
Palavras Chaves
Radioatividade; DPAC; Ensino de Química
Introdução
O ensino de química pode estabelecer um vínculo entre alunos e o contexto científico, desenvolvendo sua capacidade de perceber e de interpretar fenômenos científicos. É responsabilidade do professor criar abordagens envolventes para um ensino de qualidade, recorrendo a diversas estratégias. Os desafios no aprendizado da química estão relacionados à falta de interesse, exigência de conhecimentos prévios em matemática e métodos de ensino descontextualizados (DELIZOICOV e ANGOTTI, 2000). O Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) é frequentemente confundido com displicência. Existe uma série de processos para interpretar e utilizar as informações captadas, caso aconteça algum problema no processamento cerebral ou na transmissão dos sons, a mensagem pode ser parcialmente ou completamente perdida, resultando em alguns tipos de distúrbio. O DPAC é caracterizado como uma dificuldade em lidar com as informações auditivas, os sons são detectados, mas a interpretação apresenta falhas, resultando assim em dificuldades na transmissão de informações (CIVITELLA et al., 2020). O trabalho é um estudo de caso que visa potencializar a aprendizagem de alunos com DPAC através de um livreto. Foram utilizadas estratégias neurocientíficas de exemplos concretos, dupla codificação e elaboração, assim como técnicas específicas para o ensino desses alunos como metodologias variadas para leitura, escrita, interpretação e raciocínio lógico-matemático, avaliando-se por meio de observação, conversas e questionários (SILVA et al., 2019). Estabelecer objetivos de aprendizagem prévios é essencial para tarefas que promovam a aprendizagem (FERNANDES, 2009), por esse motivo a interpretação dos resultados considera a compreensão do assunto, linguagem científica, resolução de problemas e interesse.
Material e métodos
O estudo de caso busca compreender amplamente as causas de um caso específico, fornecendo dados para estudos similares (CARVALHO et al., 2019, p. 44). Neste estudo, adotou-se uma abordagem qualitativa para avaliar a aprendizagem em reações nucleares e radioatividade. A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação se relaciona com conhecimentos prévios do aluno (AUSUBEL, 1963), para conhecer os conhecimentos existentes, um questionário diagnóstico foi aplicado (Figura 1-A). O livreto (Figura 1-B) foi elaborado com o uso de exemplos concretos que visam criar uma representação multimodal, ou seja, uma representação que combina várias formas de uma informação (RAWSON et al., 2014), técnica de dupla codificação, que constrói conexões e padrões representacionais utilizando dois estímulos ao mesmo tempo, associando imagens com palavras (MAYER e ANDERSON, 1992) e prática de elaboração que baseia-se em fazer ou responder perguntas para incentivar a elaboração de hipóteses (MCDANIEL e DONNELY, 1996). Inicialmente, o livreto aborda o acidente nuclear de Chernobyl, seguido pelo funcionamento de usinas e a introdução dos conceitos de fusão, fissão e emissões radioativas. São apresentadas aplicações da energia nuclear e radiações em diferentes contextos, com exemplos ilustrados. O livreto contém questões subjetivas (Figura 1-C), relacionadas ao conteúdo científico e suas influências e questões de cálculos de radioatividade para a linguagem química. Os alunos foram diagnosticados por fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas, possuem faixa etária de 15 a 17 anos, apenas um apresenta transtorno de déficit de atenção, foram identificados com nomes fictícios para preservar suas identidades nas análises. A atividade foi realizada em uma instituição de apoio educacional.
Resultado e discussão
A partir de respostas no questionário diagnóstico como: “energia nuclear é muito forte, mas perigosa”; “acidentes nucleares acontecem fora do planeta”; “existem radiações alfa, beta e gama”, observou-se que os alunos possuem conhecimento sobre o assunto, mas de forma descontextualizada, superficial e também confundem esse conteúdo com outros conceitos químicos.
O conhecimento científico pode despertar a criticidade e o entendimento dos fenômenos naturais, preparando os indivíduos para tomar decisões desmistificando noções equivocadas do cotidiano (CHASSOT, 2011). Após a aplicação do livreto foram resolvidas as questões de análise e elaboração, os alunos demonstraram compreender os riscos e consequências do contato constante com radiações, aplicando o conhecimento científico em situações práticas (BRASIL, 2018). Além disso, foram capazes de identificar as potencialidades e os riscos da radiação gama no cotidiano, bem como propor ações diante de um hipotético acidente nuclear, mostrando curiosidade e habilidades de resolução de problemas.
A química possui uma linguagem característica com termos e representações essenciais para a compreensão do conteúdo, apresentar essa linguagem requer sensibilidade, pois podem surgir dificuldades devido à falta de familiaridade (SILVA et al., 2019). Incluíram-se três questões sobre cálculos de decaimento radioativo, incluindo as propriedades das radiações à reação nuclear, utilizando tanto a linguagem química quanto a matemática para a resolução. As respostas de cálculo dos alunos foram registradas no quadro 01, mostrando acertos, erros e o comportamento observado durante a resolução da atividade. Com base nas informações obtidas, podemos perceber que os alunos, de maneira geral, compreenderam a relação entre os cálculos e os conceitos.
Respostas dos alunos referentes à segunda etapa das questões: cálculos de radioatividade.
A- Questionário diagnóstico; B- Exemplos concretos de aplicações de radiação; C- Primeira parte das questões subjetivas.
Conclusões
Com a dificuldade de assimilação da informação auditiva resultando em maior complexidade para consolidação de memória, o DPAC apresenta grandes desafios para métodos tradicionais de ensino. Porém, uma estratégia bem estruturada pode potencializar o aprendizado, com metas claras, avaliação contínua e conexão entre conhecimentos. O papel do professor é fundamental, observando todo o processo de aprendizagem. Com o apoio de um psicopedagogo, a partir dos resultados obtidos, conclui-se que o material teve papel significativo nesse caso e essa abordagem foi importante para esses alunos com DPAC.
Agradecimentos
Referências
AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D. y HANESIAN, H. Psicología educativa: um punto de vista cognoscitivo. 2ª Edição. México: Editorial Trillas. 1983.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
CARVALHO, L. O. R; DUARTE, F. R; MENEZES, A. H. N; SOUZA T. E. S. [et al.]. Metodologia científica: teoria e aplicação na educação a distância. Pernambuco: Petrolina, p.: 83, 2019.
CHASSOT, A. I. Alfabetização Científica: Questões E Desafios Para a Educação. 5ª ed. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2011.
CIVITELLA, M. M. et al. Guia de Orientação, Avaliação e Intervenção no Processamento Auditivo Central. Conselho federal de fonoaudiologia. p. 40. 2020.
DELIZOICOV, D; ANGOTTI, J. A. Metodologia do Ensino de Ciências. 1ª Edição. São Paulo: Cortez, 2000.
FERNANDES, D. Avaliar para aprender: fundamentos, práticas e políticas. São Paulo: UNESP, 2009.
RAWSON, K. A.; THOMAS, R. C.; JACOBY, L. L. The Power of Examples: Illustrative Examples Enhance Conceptual Learning of Declarative Concepts. Educ Psychol Rev. v.27(3), 483-504, 2015
SILVA, M. C.; DUHART, M. F. R.; PEREIRA, P. C. S. Práticas pedagógicas inclusivas: Desordem do Processamento Auditivo Central. Alfenas: UNIFENAS, 2019.
SILVA, I. C. T., SIQUEIRA, V. F., GOI, M. E. J. Relatos de Estágio Supervisionado no Ensino de Química. Revista Debates em Ensino de Química, v.5(2), 39-54, 2019.