CONECTANDO SABERES: EXPERIÊNCIAS DE QUÍMICA NA ALDEIA UMUTINA, NA ESCOLA RURAL DE ASSARI

ÁREA

Ensino de Química


Autores

Zavitoski, M.W. (UNEMAT) ; Onofre, B.M. (UNEMAT) ; Cunha, A.F.C.V. (UNEMAT) ; Guedes, S.F. (UNEMAT)


RESUMO

o trabalho teve como objetivo apresentar e analisar uma experiência educacional baseada em uma sequência didática com abordagem lúdica. O objetivo geral dessa proposta foi compreender como o uso de jogos e experiências práticas como recursos pedagógicos pode auxiliar no processo de construção do conhecimento, especialmente em relação à compreensão e associação das transformações físicas e químicas que ocorrem no cotidiano. Além disso, buscou-se observar e avaliar o uso de jogos como materiais alternativos para a compreensão de outros conteúdos, como reações de combustão, termodinâmica, cinética química, entre outros. Reconhece-se que o aspecto lúdico é de extrema importância como recurso para a aprendizagem e interação entre alunos e professores.


Palavras Chaves

Materiais alternativos; Aspectos lúdicos; Ritmo de aprendizagem

Introdução

No ensino dos fenômenos físicos e químicos é essencial compreender as bases teóricas que fundamentam as práticas pedagógicas. Diversos estudos destacam a importância de abordagens práticas e contextualizadas para facilitar a compreensão e a aplicação desses conceitos pelos alunos (KRASILCHIK, 2004). Dessa forma, é importante considerar as abordagens práticas e contextualizadas no ensino de fenômenos físicos e químicos. Isso implica em conectar os conceitos científicos a situações do cotidiano, fornecendo exemplos relevantes e aplicando-os a contextos reais. A aprendizagem por meio de experimentação e observação direta dos fenômenos, também desempenha um papel crucial nesse processo, permitindo que os alunos vivenciem os fenômenos físicos e químicos de forma concreta (SANTOS e SCHNETZLER, 2000). A aprendizagem baseada em atividades lúdicas tem se mostrado uma abordagem eficaz no ensino de fenômenos físicos e químicos. Ao utilizar jogos, experimentos práticos e simulações interativas, os alunos são engajados de forma ativa e motivadora, o que facilita a compreensão e a aplicação dos conceitos científicos (LUCKESI, 2014 e MASSA, 2015). Através do aspecto lúdico, os estudantes têm a oportunidade de explorar e experimentar de forma criativa os fenômenos físicos e químicos, desenvolvendo habilidades de investigação, resolução de problemas e pensamento crítico. Além disso, as atividades lúdicas proporcionam um ambiente seguro para os alunos errarem, refletirem sobre suas ações e construírem o conhecimento de forma significativa (LEITE e ROTTA, 2015). Ao combinar abordagens práticas, contextualizadas, interdisciplinares e lúdicas, os professores podem promover um ensino mais atrativo e envolvente, que estimula o interesse dos alunos pela ciência e fortalece suas habilidades científicas. Durante a oficina objetivou-se apresentar aos participantes conceitos de transformações físicas e químicas a partir de experimentos realizados com materiais do seu cotidiano, levando-os a relacionar com suas vivências e reforçar sua aprendizagem a partir de uma atividade lúdica.


Material e métodos

As oficinas de fenômenos físicos e químicos foram realizadas com um grupo de 13 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental (idades entre 14 e 15 anos) vespertino da Escola Estadual 7 de Setembro, localizada no município de Barra do Bugres, distrito de Assari e com 13 alunos (16 e 18 anos) na Escola Estadual Indígena Jula Pare, localizada na aldeia Umutina, município de Barra do Bugres-MT. Durante a oficina de fenômenos físicos e químicos, foram utilizadas diversas estratégias pedagógicas para engajar os alunos e promover uma aprendizagem mais significativa. Inicialmente, foi realizada uma contextualização teórica, apresentando conceitos básicos sobre fenômenos físicos e químicos, suas características e exemplos práticos. Essa etapa teórica serviu como base para as atividades práticas que se seguiram. As atividades lúdicas desempenharam um papel central na oficina, proporcionando aos alunos a oportunidade de explorar, investigar e interagir com os fenômenos físicos e químicos de forma divertida e envolvente. Jogos educacionais, experimentos simples e demonstrações foram utilizados para ilustrar os conceitos e estimular o pensamento crítico dos alunos. Foram realizadas várias oficinas, entre elas vulcão de bicarbonato de sódio e vinagre, em que os alunos puderam observar uma reação química ocorrendo, com a liberação de gás e formação de espuma. A Figura 1 em anexo apresenta imagens de alguns dos experimentos realizados. Após essa familiarização, onde 13 dos alunos presentes puderam participar realizando um experimento, foi aplicado um “jogo da memória”, confeccionado em material rígido e plastificado manualmente, de forma a ser reaproveitado nas demais oficinas (Figura 2). Na organização da prática do jogo, os alunos se dispuseram em círculo com suas cadeiras, ao redor da mesa contendo o jogo. Cada aluno individualmente retirava 2 cartas e era necessário acertar um exemplo e a denominação Fenômeno Físico ou Fenômeno Químico. Cada aluno que acertava ia ganhando uma prenda, aumentando a iniciativa dos mesmos em querer participar novamente. Ao final cada aluno acertou ao menos uma alternativa correta, sendo satisfatório para todos, inclusive nós produtores da oficina. Além disso, foram propostos desafios e problemas contextualizados, nos quais os alunos precisavam aplicar os conhecimentos adquiridos para resolver situações do cotidiano relacionadas aos fenômenos físicos e químicos. Essas atividades estimularam o raciocínio dos alunos, a capacidade de análise e a conexão entre a teoria e a prática. Ao final da oficina, foi realizada uma discussão em grupo para que os alunos pudessem expressar suas percepções, dúvidas e aprendizados. Essa reflexão conjunta permitiu uma consolidação dos conhecimentos adquiridos e promoveu uma maior interação e colaboração entre os participantes.


Resultado e discussão

A oficina de fenômenos físicos e químicos proporcionou aos alunos uma abordagem prática e lúdica para o aprendizado desses conceitos. Através da experimentação, jogos e discussões, os alunos puderam desenvolver uma compreensão mais profunda dos fenômenos físicos e químicos, além de adquirir habilidades importantes, como observação, análise e resolução de problemas. Aprender de forma prazerosa é fundamental. As técnicas lúdicas fazem com que a criança aprenda com prazer, alegria e entretenimento, sendo relevante ressaltar que a educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial (DALLABONA e MENDES, 2004). Ao realizar a oficina na aldeia, foi possível promover uma educação inclusiva e diversificada, considerando as especificidades culturais e territoriais das comunidades indígenas. Durante a realização da oficina, foi possível estabelecer uma conexão mais próxima com os estudantes indígenas, considerando suas vivências e conhecimentos tradicionais. A participação dos alunos da aldeia Umutina na oficina permitiu que eles também pudessem explorar e compreender os fenômenos físicos e químicos de forma prática e significativa. Dessa forma, a aprendizagem não se restringe apenas aos conceitos teóricos, mas também valoriza a relação entre ciência e cultura, promovendo um diálogo intercultural enriquecedor. A inserção de atividades como essa em territórios indígenas contribui para fortalecer a identidade cultural dos estudantes, valorizando seus saberes ancestrais e estimulando o protagonismo dos jovens indígenas no campo científico. Além disso, essa abordagem possibilita o fortalecimento da autoestima e da confiança dos alunos, ao perceberem que sua cultura e conhecimentos são valorizados e integrados ao ensino de fenômenos físicos e químicos. Embora a sequência didática tenha sido inicialmente direcionada às teorias e conceitos relacionados aos fenômenos físicos e químicos, é importante destacar que a abordagem prática e lúdica desempenhou um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem. A teoria forneceu o embasamento necessário, mas foi por meio das atividades práticas e lúdicas que os alunos puderam vivenciar de forma concreta e significativa os fenômenos estudados. Podemos assim dizer, que todas as turmas que participaram das oficinas ficaram atentos às explicações e se dispuseram a participar das atividades, sendo também sempre respeitosos conosco e entre si. De um modo geral, toda a turma demonstrou domínio quanto aos conteúdos abordados.

Demosntração do jogo

Demonstração das cartas do jogo da memória

Jogos lúdicos

Os alunos indígenas realizando a atividade lúdica \r\ncom o jogo da memória

Conclusões

A aprendizagem baseada em atividades lúdicas possibilita uma maior interação e engajamento dos alunos, tornando o processo educativo mais atrativo e prazeroso. Ao envolver os estudantes em jogos, experimentos e situações reais, eles são desafiados a colocar em prática os conhecimentos teóricos adquiridos, o que fortalece sua compreensão e retenção dos conteúdos. Além disso, as atividades lúdicas permitem que os alunos explorem diferentes aspectos dos fenômenos físicos e químicos, como suas propriedades, transformações e aplicações no cotidiano. Essa abordagem proporciona uma compreensão mais ampla e contextualizada dos conceitos, promovendo uma aprendizagem mais significativa e duradoura. Durante as atividades lúdicas, os alunos foram desafiados a resolver problemas e a observar atentamente os fenômenos físicos e químicos em ação. Essa abordagem proporcionou uma oportunidade única para os estudantes aplicassem os conceitos teóricos aprendidos em situações práticas e concretas. Ao resolver problemas durante as atividades lúdicas, os alunos foram estimulados a utilizar o pensamento crítico e criativo para encontrar soluções. Eles foram encorajados a analisar os diferentes elementos envolvidos nos fenômenos físicos e químicos, identificar as variáveis relevantes e buscar estratégias adequadas para a resolução dos desafios propostos.Essas competências são essenciais para a formação integral dos estudantes, preparando-os para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Portanto, a combinação entre teoria e prática, por meio das atividades lúdicas, proporcionou uma abordagem abrangente e enriquecedora no ensino dos fenômenos físicos e químicos. Ao unir o embasamento teórico às experiências práticas, os alunos tiveram a oportunidade de construir conhecimentos de forma ativa e participativa, consolidando sua compreensão dos fenômenos estudados e desenvolvendo habilidades importantes para sua formação acadêmica e pessoal.


Agradecimentos

A profª Dra Fátima Iocca por possibilitar-nos essa experiência, aos diretores das escolas onde desenvolvemos as oficinas e a profª Dra Sumaya por nos auxiliar no desenvolvimento desse relato para participação neste Congresso.


Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
DALLABONA, Sandra Regina e MENDES, Sueli Maria - O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educar, 2004 - Disponível em: https://www.inesul.edu.br/professor/arquivos_alunos/doc_1311627172.pdf acesso em junho de 2023.
INÊS, M. et al. A INVESTIGAÇÃO-AÇÃO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS Actim -research at the Science teacher’s continuous education. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ciedu/a/Dks7MmfcDS3BXBCPGM9swgx/?format=pdf&lang=pt
LEITE, L. M.; ROTTA, J. C. G. Digerindo a Química Biologicamente: A Ressignificação de Conteúdos a Partir de Um Jogo. Química Nova na Escola, v. 38, n. 1, 2016.
LUCKESI, Cipriano Carlos. - Ludicidade e Atividades Lúdicas: uma abordagem a partir de experiências internas. Disponível em www.luckesi.com.br - acessado em:18 de setembro de 2020.
PIAGET, J. A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
PIAGET, J. (2007). A Construção do Real na Criança. Ática Editora.
VYGOTSKY, L. S. (2001). A Construção do Pensamento e da Linguagem. Martins Fontes.
VYGOTSKY, L. S. (1978). A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Martins Fontes.
Pesquisa em ensino Marcia Borin da Cunha. [s.l: s.n.]. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc34_2/07-PE-53-11.pdf .

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