Avaliação das concentrações de macro e microelementos em camarão da Região Amazônica por MIP OES

ÁREA

Química Analítica


Autores

Melo, V.A.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Lemos, M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo a determinação das concentrações de Cu, Fe, K, Mg, Mn e Zn em amostras de camarão (Macrobrachium amazonicum) adquiridos em feiras localizadas em Belém (PA, Brasil), usando a espectrometria de emissão óptica com plasma induzido por micro-ondas (MIP OES). As amostras foram analisadas após digestão em forno de micro-ondas com cavidade usando uma mistura oxidante diluída de ácido nítrico e peróxido de hidrogênio. Os resultados indicaram a presença de elementos essenciais à dieta humana como K, Mg, e Fe em quantidade considerável nas amostras estudadas. Em relação à Ingestão diária recomendada, Cu e Fe apresentaram as maiores contribuições (33,7% e 36,7%, respectivamente), indicando que o camarão pode ser considerado uma boa fonte desses elementos.


Palavras Chaves

MIP OES; determinação elementar; camarão-da-amazônia

Introdução

Os peixes e frutos do mar são reconhecidos como alimentos que contribuem para uma dieta equilibrada, já que são excelentes fontes de proteínas, vitaminas e minerais (FREITAS et al, 2022). Devido a isto, peixes e outros animais aquáticos desempenham um papel crucial na segurança alimentar e nutricional global (FAO, 2022). Dentre os frutos do mar, destacam-se a ordem Decapoda, tais como o caranguejo, camarão e lagosta, por sua importância ecológica e econômica. Na região amazônica, o camarão-da-amazônia (Macrobrachium amazonicum) trata-se de uma espécie de camarão bastante conhecida e amplamente consumida pela população local (LEMOS et al, 2019). Sabe-se que alguns organismos aquáticos, tais como os crustáceos podem sofrer o fenômeno da bioacumulação, podendo acumular elementos químicos através da ingestão de alimentos, partículas em suspensão na água ou por adsorção nos tecidos e membranas (FERREIRA et al, 2019). Considerando que certos elementos são vitais à saúde humana, enquanto outros em excesso representam risco de contaminação, a investigação dos constituintes inorgânicos presentes nos alimentos torna-se essencial para a avaliação da qualidade e segurança alimentar da população consumidora.


Material e métodos

Todos os reagentes utilizados foram de grau analítico. As soluções foram preparadas com água ultrapura obtida a partir de um sistema de purificação Sinergy-UV (Millipore, Bedford, EUA) com resistividade de 18.2 MΩ cm. As curvas de calibração analíticas foram preparadas diariamente a partir de soluções estoque contendo 1000 mg L-1 de cada analito (Sigma-aldrich, MO, EUA). Um total de três amostras de camarão (cada amostra corresponde a um pool de 20 indivíduos) foram adquiridas diretamente em feiras localizadas em Belém-PA e levadas ao laboratório sob refrigeração. Os músculos foram removidos, lavados com água desionizada e posteriormente foram secos usando um liofilizador (modelo L101, Liotop, São Carlos, SP, Brasil). Um moinho analítico (modelo Q298A21, Quimis) foi usado na pulverização das amostras. A digestão foi realizada utilizando um forno de micro-ondas com cavidade (START E, Milestone, Sorisole, Itália) de acordo com a metodologia proposta por Lemos et al. (2019). O programa de aquecimento por micro-ondas consistiu em três etapas: 800 W, 180 °C por 10 min.; 800 W, 180 °C por 20 min.; e ventilação por 50 min. Os digeridos foram transferidos para frascos volumétricos e diluídos até 20 mL com água ultrapura. Para a determinação dos teores de Cu, Fe, K, Mg, Mn e Zn, foi utilizado um espectrômetro de emissão óptica com plasma induzido por micro-ondas MIP OES (modelo 4100, Agilent Technologies, Melbourne, Austrália) equipado com um nebulizador Agilent OneNeb e uma câmara de nebulização ciclônica de simples passo. Os comprimentos de onda utilizados no MIP OES foram: Cu (324,754); Fe (371,993), K (769,897), Mg (518,360), Mn (403,076) e Zn (481,053).


Resultado e discussão

Os teores médios dos elementos estudados nas amostras de camarão estão apresentados na Figura 1. Os teores de Cu variaram de 28,21 a 36,68 mg kg-1. Teores de Cu variando de 31,47 a 49,38 mg kg−1 foram obtidos em camarões no Norte do Brasil (Lemos et al, 2021). Os teores de Fe variaram de 188,30 a 1202,08 mg kg-1. Silva et al. (2019) reportaram teores inferiores de Fe em camarão (5 a 86 mg kg-1). Potássio foi o elemento que apresentou as maiores concentrações, entre 4727,37 e 10701,63 mg kg-1. Mancinelli et al. (2018) obtiveram níveis de K variando de 15.010 a 16.770 mg kg−1 em espécies de lagostins na Itália.O Mg apresentou concentrações, variando de 1575,88 a 2072,49 mg kg-1. Mancinelli et al. (2018) relataram níveis médios de Mg entre 1.630 e 1.830 mg kg−1. O manganês apresentou concentrações de 6,67 a 26,66 mg kg-1. Lemos et al. (2021) encontraram teores de Mn em quantidades inferiores aos obtidos neste estudo, variando de 3,99 a 10,27 mg kg-1. As concentrações obtidas de Zn variaram de 55,57 a 68,10 mg kg-1. Lemos et al. (2019) obtiveram teores semelhantes (47 a 61 mg kg-1 Zn) em camarão no Brasil. A Figura 2 apresenta a contribuição de cada elemento estudado em relação à Ingestão Diária Recomendada. Os valores utilizados como base são referidos pela legislação brasileira e internacional (ANVISA, 2005;WHO, 2012). O cobre (IDR de 29% a 37%) e ferro (IDR de 12% a 78%) apresentaram grande contribuição na ingestão diária recomendada, sendo considerados boas fontes desses elementos na dieta humana. Testes de adição e recuperação foram realizados para avaliar a exatidão das medidas por MIP OES, e as recuperações foram aceitáveis, variando de 80 (Mg) a 115% (Mn). Os limites de detecção (LD) variaram de 0,02 mg kg-1 (Zn) a 1,12 mg kg-1 (Fe).

Figura 1



Figura 2



Conclusões

Neste estudo, o uso do MIP OES na determinação das concentrações dos constituintes inorgânicos foi apropriado, apresentando simplicidade de operação e eficiência nas determinações, mostrando-se uma técnica promissora em estudos de rotina. Os resultados indicaram a presença de elementos essenciais à dieta humana como K, Mg, e Fe em quantidade considerável nas amostras estudadas. Em relação à ingestão diária recomendada, foram obtidas uma boa contribuição de Cu e Fe presentes nos camarões, indicando que esses alimentos podem ser considerados uma boa fonte desses minerais para a dieta humana.


Agradecimentos

Ao Grupo de Espectrometria Analítica Aplicada (UFPA) pela infraestrutura e apoio.


Referências

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