DETERMINAÇÃO SIMULTÂNEA DE ÁCIDOS ORGÂNICOS VIA CROMATOGRAFIA DE ÍONS EM EFLUENTE PROVENIENTE DA INDÚSTRIA DE CERVEJAS ARTESANAIS

ÁREA

Química Analítica


Autores

Santana, M.T. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Araújo, M.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Silva, R.M. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Oliveira, A.R. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Castro, S.S.L. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Magalhães, K.F. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE)


RESUMO

O Brasil se encontra na terceira colocação como um dos maiores países produtores de cervejas do mundo. Nesta perspectiva, o objetivo deste trabalho é a determinação simultânea de ácidos orgânicos via cromatografia de íons, em efluente proveniente de cervejas artesanais. Um cromatógrafo de íons (850 Professional – Metrohn) acoplado com detector de condutividade utilizando uma coluna para ácidos orgânicos (Metrosep Organic Acids - 250/7.8 – Metrohn); como solução eluente usou-se de H2SO4 na concentração de 0,5 mmol L-1. Assim, foi possível fazer a determinação, separação e quantificação dos ácidos orgânicos. Obtendo curvas de calibração apresentando valores de R2, LD e LQ. A técnica estudada contribui para a compreensão da composição dos efluentes e monitoramento da qualidade ambiental.


Palavras Chaves

Ácidos orgânicos.; Cervejas artesanais.; Cromatografia de íons.

Introdução

Os efluentes provenientes de cervejas artesanais vem gerando preocupações significativas em diversas indústrias. Pois, com o aumento da popularidade das cervejarias artesanais, também cresce a necessidade de lidar de forma responsável com os subprodutos do processo de fabricação de cerveja, incluindo os efluentes resultantes. Esses efluentes consistem em resíduos sólidos e líquidos provenientes das várias etapas do processo de produção de cerveja. O resíduo líquido surge de processos como a lavagem de grãos, a fervura do mosto, a fermentação e a clarificação. Esses efluentes podem conter uma variedade de substâncias, como matéria orgânica, nutrientes, sólidos suspensos, compostos químicos (RAO, G. A. et al. 2007; SERENO FILHO, 2013). Em vista disso, a disposição inadequada de efluentes pode ter impactos adversos no meio ambiente, incluindo a contaminação da água e do solo, bem como a degradação da qualidade da água em corpos hídricos próximos. Portanto, é essencial que as cervejarias artesanais adotem medidas para tratar seus efluentes e minimizar seu impacto ambiental (MAPA, 2019; BRASIL, 2011). Diante disso, várias estratégias de tratamento de efluentes podem ser aplicadas às cervejarias artesanais, entre estas incluem-se processos físicos, químicos e biológicos, que podem ser usados de forma isolada ou combinada, dependendo das características específicas dos efluentes. Alguns métodos comuns incluem a filtração, sedimentação, tratamento biológico aeróbico ou anaeróbico, e processos de adsorção (FILLAUDEAU; BLANPAIN-AVET e DAUFIN, 2006). Embora, dentre os diversos métodos de análise, destacam-se os métodos cromatográficos. A ampla aplicação destes métodos é devido à possibilidade de separação, identificação e quantificação de espécies orgânicas e inorgânicas, alta sensibilidade, curto tempo de análise, necessidade de pequenos volumes de amostra e análise simultânea de diversas espécies. Assim, a cromatografia iônica é uma técnica amplamente empregada na análise de diferentes matrizes, entre as suas principais vantagens, está a determinação rápida de compostos iônicos, inorgânicos ou orgânicos. Acrescenta-se ainda, que a técnica tem como principais características a alta seletividade, ampla faixa de medição dinâmica, uso de baixos volumes de amostra, possibilidade de determinação de mais de um analito em uma mesma corrida cromatográfica e uma boa sensibilidade para muitas aplicações (COLLINS; BRAGA e BONATO, 2006). Idealmente, a caracterização dos efluentes de cervejarias artesanais é crucial para identificação do tratamento mais adequado que ajude a minimizar os impactos ambientais e garantir que o setor continue a crescer de maneira sustentável. Outrossim, o tratamento responsável dos efluentes não apenas protege o meio ambiente, mas também contribui para a reputação positiva da cervejaria perante os consumidores que valorizam a produção consciente. Portanto, a identificação e quantificação desses ácidos são fundamentais para avaliar a eficácia dos processos de tratamento de efluentes, bem como para garantir que os níveis de poluentes estejam dentro dos limites regulatórios e se enquadrarem nas legislações ambientais, regulamentadas pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2011). Embora, como afirma RAO et al. (2007) a produção de cervejas artesanais envolve uma variedade de processos que podem resultar na geração de efluentes contendo diferentes compostos, incluindo ácidos orgânicos. Nessa perspectiva, o objetivo desse trabalho é a determinação simultânea de ácidos orgânicos via cromatografia de íons, em efluente proveniente de cervejas artesanais.


Material e métodos

O efluente foi coletado em uma indústria de cerveja artesanal, localizada na cidade de Mossoró-RN. Para a coleta foram usados frascos de polipropileno de 5,0 litros e armazenado na geladeira em temperatura inferior a 15 °C. O material coletado passou por leituras de pH (pHmetro Digital TEC-2 mp), condutividade (Condutivímetro Hanna Instruments) e temperatura para acompanhar as características do efluente em sua condição inicial. As análises foram realizadas no Laboratório de Eletroquímica e Química Analítica - LEQA da UERN. Vale lembra, que todas as análises foram feitas utilizando reagentes químicos de grau de pureza analítica e água Mili-Q (ρ ≥ 18 MΩ cm-1) para preparo de todas as soluções. Já para a determinação de ácidos orgânicos foi usado um cromatógrafo de íons (850 Professional – Metrohn) acoplado com detector de condutividade. Uma coluna para ácidos orgânicos (Metrosep Organic Acids - 250/7.8 – Metrohn) com comprimento de 250 mm e diâmetro interno de 7.8 mm acondicionada à temperatura de 60 °C durante a obtenção dos cromatogramas, bem como os parâmetros otimizados para estudo. Os parâmetros otimizados para análise de ácidos orgânicos via cromatografia de íons, foram: coluna - Metrosep Organic Acids - 250/7.8 – Metrohn; o eluente da fase móvel - H2SO4 (0,5 mmol L-1); regenerante - cloreto de lítio (20 mmol L- 1); a pressão - 7.0 MPa; taxa de fluxo do eluente - 0,5 mL min-1; modo de eluição - isocrática; volume da amostra - 20 µL; temperatura da coluna - 60 °C; detector - detector de condutividade; escala - 0 – 15000 µS/cm faixa única; supressor - Módulo Supressor Metrohm (MSM); supressor de CO2 - Metrohm CO2 supressor (MCS); filtração - filtro de nylon de 0,2 μm e modo de determinação - área do pico. Para o preparo das soluções e amostra do efluente, a determinação de ácidos orgânicos foi utilizado uma solução de ácido sulfúrico H2SO4 0,5 mmol L-1 como eluente, como regenerante foi utilizado cloreto de lítio 20 mmol L-1; também utilizou-se um supressor químico e um supressor de CO2. Assim, para obtenção dos cromatogramas foi utilizado um mix contendo os padrões dos íons de ácidos orgânicos acetato, formato, succinato, citrato, propionato e butirato (1000 mg L-1 ±6 mg L-1 - SpecSol®); para isso, as concentrações preparadas dos padrões utilizados foram de 0,5; 1; 2; 5; 10 e 25 ppm, para cada componente. Já para o preparo da amostra proveniente do efluente da indústria cervejeira, foram realizados em alguns passos: 1) filtração da amostra com um papel de filtro Qualy®, cerca de 5mL; 2) a amostra do efluente foi diluído 1000 µL com ajuda de uma pipeta automática (pipetan®) para um balão de 10 mL; e por fim 3) levado para injeção no CI.


Resultado e discussão

Dentre a grande variedade de métodos disponíveis para determinação de íons, a cromatografia iônica baseada em trocadores iônicos e detecção de condutividade tem sido extensivamente estudada, podendo ser visto em estudos realizados por Michalski, (2018); Bertges; Helden e Weiskirchen, (2021); Maome, et al. (2021); Matysiak; Balcerzak e Michalski, (2018); Santana; Maldaner; Fraga, e Almeida, (2017). A determinação de ácidos orgânicos no efluente da cervejaria é um tema relevante no contexto da indústria cervejeira e da gestão ambiental. Os ácidos orgânicos são compostos que podem estar presentes no efluente da cervejaria devido a vários processos, como a fermentação, a lavagem de equipamentos e a limpeza de instalações, cita Sereno Filho (2013). Dessa forma, a determinação de ácidos orgânicos no efluente da cervejaria desempenha um papel crucial na gestão ambiental, na conformidade regulatória, na garantia da qualidade do produto e no monitoramento da eficiência dos processos. O controle desses compostos contribui para uma produção de cerveja mais sustentável e responsável. As técnicas analíticas, especialmente a cromatografia de íons, é uma técnica versátil e amplamente utilizada em várias áreas, incluindo química analítica, ciências ambientais, alimentos, farmacêutica e outras. Ela oferece alta sensibilidade e seletividade para a determinação de ácidos orgânicos e outros íons em amostras complexas cita Maomé et al. (2021); Michalski, (2018). Nessa conjuntura, os ácidos orgânicos estudados, como o cítrico, succínico, fórmico, acético, propiônico e butírico são separados em 25 minutos e os cromatogramas obtidos são apresentados na (Figura 1). Foi possível determinar o pH de 5,80 e condutividade de 1956 µS/cm, o que demonstra uma quantidade de íons presentes no meio, e por fim, a temperatura cerca de 23,2°C. Figura 1: Cromatograma dos ácidos orgânicos (citrato, succinato, formato, acetato, propionato e butirato) na concentração de 25 ppm e da amostra diluída. Fonte: Acervo pessoal. Com a obtenção dos cromatogramas foi possível separar e determinar cada componente presente no padrão, e valida o seu respectivo tempo de retenção para os analitos, citrato: 9,5 min.; succinato: 13,6 min.; formato: 14,90 min.; acetato: 17,00 min.; propionato: 19,45 min.; butirato: 22,99 min. Diante disso, fica claro que com o aumento da concentração a área do pico aumenta, e consequentemente, com o aumento da concentração a área do pico não afeta sua posição/deslocamento, como pode ser visto na (Figura 2). Em vista disso, no cromatograma proveniente da amostra do efluente da cervejaria é possível analisar os ácidos separados e detectados na amostra, como o cítrico, succínico, fórmico e acético (Figura 1). Além disso, o tempo de retenção de cada ácido orgânico nos padrões e na amostra foram comparados para detecção e quantificação. Por conseguinte, a determinação simultânea de ácidos orgânicos no efluente da indústria de cervejas artesanais por meio da cromatografia de íons, mostra-se uma abordagem analítica valiosa que oferece “insights” importantes para o monitoramento e controle ambiental. A aplicação da cromatografia de íons para a determinação simultânea de ácidos orgânicos nos efluentes de cervejarias artesanais oferece vantagens promissoras e significativas. Sendo que, com o cromatograma obtido (Figura 2) essa técnica possibilita a análise de múltiplos ácidos orgânicos em uma única corrida cromatográfica, economizando tempo e recursos. Além disso, a sensibilidade da cromatografia de íons permite a detecção em concentrações relativamente baixas, o que é crucial para avaliar possíveis impactos ambientais, como discute em seu trabalho Collins; Braga e Bonato, (2006). Salienta-se ainda, que com método aplicado percebe-se a determinação simultaneamente de vários ácidos orgânicos, pode fornecer informações detalhadas sobre as características do efluente. Podendo ainda ser usado para otimizar processos de produção e reduzir a geração de resíduos e minimizar o impacto ambiental. Na Figura 2 apresenta-se o gráfico construído para as diferentes curvas de calibração, na qual foi possível obter a equação da reta para os 6 componentes de interesses na análise da amostra do efluente. Figura 2: Curvas de calibração para os seis (6) ácidos orgânicos alvo do estudo, bem como as curvas de calibração para ácido cítico, succínico, fórmico e acético determinados na amostra. Fonte: Acervo pessoal. Pode-se perceber as variáveis das respectivas curvas de calibração obtidas para os ácidos orgânicos, tendo como o coeficiente de correlação R²; slope, intercepto bem satisfatório. O limite de detecção (LD) e o limite de quantificação (LQ) são conceitos frequentemente utilizados na análise química e instrumental para avaliar a sensibilidade e a precisão de um método de medição. Eles indicam os níveis mais baixos de concentração de um analito (substância que está sendo analisada) que podem ser detectados e quantificados com um determinado grau de confiança. O LD é o menor nível de concentração do analito que pode ser detectado, mas não necessariamente quantificado, com uma probabilidade estabelecida de que o sinal seja diferente do branco (fundo) do sistema de medição. O LQ é o menor nível de concentração do analito que pode ser quantificado com precisão e confiança aceitável. As variáveis para o cálculo de LD e LQ foi considerado o Intercepto para citrato -0,00735 ± 0,0143; succinato - -0,00514 ± 0,00359; formato - -0,00951 ± 0,00804; acetato 0,02174 ± 0,0041; propionato - 0,0073 ± 0,00528 e butirato 0,00551 ± 0,0065. E o slope para citrato 0,03872 ± 0,00127; succinato 0,03298 ± 3,1964E-4; formato 0,06269 ± 7,16687E-4; acetato 0,0425 ± 3,65688E-4; propionato 0,02881 ± 4,7027E-4 e butirato 0,02466 ± 5,79479E-4. Com isso, os valores obtidos para os ácidos orgânicos de LD e LQ são dados a seguir. O LD para citrato 1,10795 ppm; succinato 5,04124 ppm; formato 0,55039 ppm ; acetato 3,79233 ppm; propionato 0,54980 ppm e butirato 0,79075 ppm. Já o LQ citrato 3,69318 ppm; succinato 0,32656 ppm; formato 0,38475 ppm; acetato 0,28941 ppm; propionato 1,83269 ppm e butirato 2,63584 ppm. No entanto, é importante observar que o LD e o LQ podem variar dependendo do método de análise, do instrumento utilizado e das características da amostra. Para o coeficiente de correlação para cada componente, citrato R2 = 0,99568; succinato R2 = 0,99962; formato R2 = 0,99948; acetato R2 = 0,9997; propionato R2 = 0,99894 e butirato R2 = 0,9978. Os dados indicam que os pontos analisados estão bem próximos de uma reta ideal proposto principalmente por dados da literatura (Skoog, 2006), visto que quanto mais próximo de 1, melhor e maior será a linearidade o que se encontra nas curvas de calibração para os ácidos orgânicos determinados na amostra do efluente, ácido cítrico, succínico, fórmico e acético. Com a análise de CI no efluente (Figura 1) a área relacionada ao Citrato, succinato, formato e acetato foi determinada, corresponde ao citrato 0,952.; 0,163.; 0,034 e 0,161 para os ácidos determinados na amostra. Logo, com esses valores e utilizando a equação da reta a partir da curva de calibração para a amostra detectada no cromatógrafo, pode ser determinada a concentração da amostra desconhecida Y(área)= A+ B*x. Obtendo as concentrações para cada componente detectado na amostra de efluente, citrato 25,71049 ppm; succinato 5,05124 ppm; formato 0,55039 ppm e acetato 3,79233 ppm. O que implica, que a concentração de ácidos orgânicos em efluentes de cervejas artesanais pode variar significativamente dependendo de vários fatores, como os ingredientes utilizados, o processo de fabricação da cerveja, o pH, a fermentação, entre outros. Embora, os ácidos orgânicos são compostos naturais que podem contribuir para o sabor, aroma e qualidade da cerveja, mas quando presentes em altas concentrações nos efluentes, podem representar um desafio ambiental devido a sua demanda de carga orgânica.

Figura 1:

Cromatograma dos ácidos orgânicos (citrato, \r\nsuccinato, formato, acetato, propionato e butirato) \r\nna concentração de 25 ppm e da amostra diluída.

Figura 2:

Curvas de calibração para os seis ácidos orgânicos, \r\nbem como as curvas de calibração para cada \r\ncomponente.

Conclusões

Com a técnica aplicada foi possível separar e determinar os ácidos orgânicos de cadeia curta como cítrico, succínico, fórmico e acético no efluente proveniente das cervejas artesanais. Acrescenta-se ainda, que com a aplicação da cromatografia de íons para a determinação simultânea de ácidos orgânicos em efluentes da indústria de cervejas artesanais apresenta-se como uma abordagem analítica valiosa e promissora para separação e determinação, requerendo curto tempo de análise, pequena quantidade de reagentes e um baixo custo. Ela contribui para a compreensão da composição dos efluentes, o monitoramento da qualidade ambiental e o aprimoramento dos processos de produção. A utilização dessa técnica pode auxiliar as cervejarias artesanais a atenderem aos requisitos regulatórios de lançamento de efluentes, reduzirem seu impacto ambiental e promover a sustentabilidade em suas operações.


Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPQ, UERN, Cervejaria Bacurim e ao Laboratório de Eletroquímica e Química Analítica (LEQA) da UERN. E a todos que contribuíram de alguma forma para com esse trabalho.


Referências

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