EMPREGO DO OZÔNIO COMO ESTRATÉGIA PARA DEGRADAÇÃO DE RESÍDUOS DE PESTICIDAS EM FARINHA DE TRIGO

ÁREA

Química Analítica


Autores

Xavier, S. (UFV) ; Freitas, J. (UFV) ; Queiroz, M.E. (UFV) ; Queiroz, J.H. (UFV) ; Silva, M. (UFV) ; Oliveira, A. (UFV)


RESUMO

O método extração sólido-líquido com partição em baixa temperatura (ESL-PBT) e análise por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS) foi desenvolvido para determinar resíduos de pesticidas em farinha de trigo. Após ser constatada a presença de pesticidas em algumas amostras, estas foram submetidas a processos de ozonização, visando a remoção destes resíduos como uma possível medida de prevenção para garantir a segurança alimentar. Os resultados mostraram que o tratamento com ozônio é uma alternativa eficaz para degradação de resíduos de agrotóxicos encontrados em farinha de trigo, alcançando um percentual de remoção de até 30%. Observou-se também que não houve diferenças significativas nas análises bromatológicas entre as farinhas tratadas ou não com ozônio.


Palavras Chaves

análise de pesticidas; farinha de trigo; ozônio

Introdução

Este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da aplicação de ozônio na conservação e degradação de resíduos de agrotóxicos em farinha de trigo. Este estudo se baseou no relatório publicado pela ANVISA, em 2016, em que amostras de farinha de trigo apresentaram resíduos de agrotóxicos, mas que os valores encontrados foram inferiores ou iguais aos LMRs (limites máximos de resíduos) estabelecidos para os agrotóxicos analisados. Entretanto, só o fato de se ter encontrado resíduos de agrotóxicos neste produto justifica a necessidade de se desenvolver métodos adequados e sensíveis para avaliar a presença desses na farinha. Além disso, se torna necessário estudar formas eficazes para remover estes resíduos, como uma medida de prevenção, a fim de garantir a segurança alimentar e evitar impactos negativos à saúde humana. Como, geralmente, as técnicas utilizadas para a extração de agrotóxicos consomem grande quantidade de solvente e de amostra nosso grupo de pesquisa, vem desenvolvendo e aprimorando técnicas de extração e análise de agrotóxicos em diferentes matrizes, buscando utilizar menor quantidade de solvente extrator e de amostras. Neste sentido, a extração sólido-líquido com partição em baixa temperatura (ESL/PBT), e a cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS) foram as técnicas escolhidas para extração e análise de pesticidas em farinha de trigo. Dentre os procedimentos empregados para a descontaminação de produtos alimentares, a utilização de ozônio tem sido investigada como uma alternativa promissora para degradação de contaminantes orgânicos, pois apresenta uma série de vantagens como alta reatividade (pois o O3 é um forte oxidante), penetrabilidade e se decompõe sem deixar resíduos, sendo a técnica escolhida para descontaminação da farinha.


Material e métodos

Diferentes marcas de farinha de trigo foram adquiridas em mercados de Viçosa, MG. As amostras foram submetidas ao método extração sólido-líquido com partição em baixa temperatura (ESL-PBT) e análise por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS) para determinação da presença de resíduos de pesticidas. Este método consiste em adicionar a 2,000 g de farinha de trigo 3,00 mL de água destilada e 4,00 mL de acetonitrila. Após agitação em vórtex por 30 s e centrifugação à 6000 rpm por 3 min, essa mistura é colocada em freezer à -20 °C por 4 h para separação das fases. Nesta etapa a fase orgânica sobrenadante contendo os pesticidas é separada da fase aquosa/amostra que ficam congeladas. O sobrenadante é coletado e analisado por GC/MS. Posteriormente amostras de farinha de trigo, isentas de pesticidas, foram fortificadas com quantidades conhecidas de pesticidas e submetidas ao tratamento com gás ozônio. Nesta etapa, cerca de 1,5 kg da amostra foram colocados em um protótipo desenvolvido para ozonização das amostras sólidas. Este protótipo é constituído de um tambor cilíndrico de aço inoxidável contendo hastes que possuem a função de revolver a farinha durante a injeção de ozônio, visando manter uma maior homogeneidade e distribuição do gás sobre a amostra. As amostras foram ozonizadas a uma concentração de ozônio de 1,35 mg O3/L (ar) a 37 rpm por 4 horas. Após ozonização, as amostras foram devidamente homogeneizadas e submetidas ao processo de extração (ESL/PBT) e análise descritos anteriormente. As amostras, farinhas ozonizadas e do grupo controle, foram submetidas a análises bromatológicas (teor de proteínas, teor de cinzas, lipídios totais, teor de umidade, carboidratos totais) e cor visando observar possíveis alterações na qualidade das farinhas.


Resultado e discussão

Amostras de farinha de trigo adquiridas no comércio de Viçosa foram analisadas por GC-MS, sendo detectados resíduos dos pesticidas, bifentrina e pirimifós metílico em quase todas as amostras em concentrações abaixo do limite máximo de resíduo permitido (LMR) pela legislação brasileira e europeia (bifentrina 0,7 e 0,01 mg kg-1 e pirimifós metílico 5 e 0,5 mg kg-1 respectivamente). A amostra que apresentou maior nível de contaminação por pirimifós metílico (0,141 mg/kg) foi tratada com ozônio. Esta amostra foi dividida em três grupos, o primeiro sem nenhum tratamento, “branco”, o segundo, tratado com gás oxigênio, “controle”, e o terceiro tratado com ozônio “ozonizado”. As amostras, controle e ozonizada, foram tratadas por 4 h, com oxigênio e ozônio. Observou-se, que somente o ozônio contribuiu para reduzir em 30% a contaminação da amostra. Observou-se também que a farinha ficou com um odor de ozônio após tratamento, o qual foi amenizado após exposição da amostra a um fluxo de oxigênio, desaparecendo após algumas semanas de armazenamento. As características físico-químicas da farinha após tratamento, foram avaliadas. De acordo com a norma vigente que regulamenta características físico-químicas da farinha de trigo no Brasil a umidade deve estar abaixo de 15%, o teor de cinzas abaixo de 0,8% e o teor mínimo de proteínas de 7,5%. Observou-se que todas as amostras estavam dentro dos parâmetros indicados pela legislação, indicando que o processo de ozonização não interfere na qualidade nutricional da farinha de trigo. Por outro lado, observou-se uma diminuição de 37% no teor de lipídios, que pode estar correlacionada com o clareamento observado na farinha, uma vez que a coloração consiste na presença de pigmentos carotenoides, que são moléculas lipídicas.

Conclusões

O processo de ozonização se mostrou eficaz para degradação de resíduos de pirimifós metílico em farinha de trigo, reduzindo cerca de 30% da contaminação. Não houve variações significativas no valor nutricional entre as amostras. A ozonização das amostras reduziu a pigmentação da farinha, que se tornou mais clara. Entretanto observou-se um odor de ozônio, o qual foi amenizado após aeração com um fluxo de oxigênio e desapareceu após alguns dias de armazenamento. Novos estudos devem ser realizados visando reduzir o odor da farinha após ozonização.


Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, (CNPq) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo auxílio financeiro através de bolsas.


Referências

ANVISA. Programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos (PARA). Relatório de Atividades de 2013 a 2015. Diário oficial da União; Poder executivo, Brasília, DF, de 25 de novembro de 2016. p. 1–246, 2016.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 8, de 2 de junho de 2005. Regulamento técnico de identidade e qualidade da farinha de trigo. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 105, p. 91, 3 jun. 2005. Seção 1.

EUROPEAN COMMISSION. Pesticides database - European Commission (EU). Disponível em: https://ec.europa.eu/food/plant/pesticides/eu-pesticides-database/start/screen/mrls. Acesso em: 23 Abr. 2023.

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