ÁREA
Química Analítica
Autores
Leite, S.P. (UNIVERSIDADE TIRANDENTES) ; Krause, L.C. (INSTITUTO FEDERAL DE SERGIPE) ; Souza, M.R.R. (UNIVERSIDADE TIRANDENTES) ; Alves dos Santos, P.N. (UNIVERSIDADE TIRADENTES) ; Jain, S. (UNIVERSIDADE TIRANDENTES) ; Bjerk, T.R. (UNIVERSIDADE TIRANDENTES)
RESUMO
Hancornia speciosa Gomes (mangaba) é uma planta tradicionalmente utilizada para tratar diversas doenças. Este estudo tem como objetivo comparar dois diferentes métodos de extração e quantificar o triterpeno lupeol dos extratos da mangaba. Para isto, foi realizado extração do fruto pelos métodos de Extração Guiada por Dispersão Energizada (EDGE, do inglês, Energized Dispersive Guide Extraction) e por extração guiada por ultrassom, sendo o último já otimizado em trabalho anterior. A quantidade de lupeol dos extratos foram determinados por cromatografia gasosa acoplado a espectrometria de massa. Foi identificado que os extratos de ambos os métodos extrativos obtiveram quantidades similares de lupeol, no entanto o EDGE apresentou um menor tempo de extração e menor consumo de solvente
Palavras Chaves
Caracterização química; Cromatografia Gasosa; Plantas medicinais
Introdução
Diferentes espécies de plantas são utilizadas tradicionalmente no Brasil por possuírem propriedades anti-inflamatórias. Dentre as espécies da flora brasileira, a mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), uma planta arbórea de médio porte, que além do Brasil, de onde é nativa, também pode ser encontrada em outros países como Paraguai, Bolívia e Peru (VIEIRA NETO et al., 2002; NARAIN; FRANÇA; NETA, 2018; SILVA JÚNIOR et al., 2018). No Brasil a espécie apresenta maior produção na Paraíba, seguido do estado de Sergipe, Minas Gerais, Bahia e Alagoas (IBGE, 2021). O lupeol, triterpeno pentacíclico identificado em extratos de H. speciosa, possui registro de diversas atividades farmacológicas, desde efeitos contra inflamação, artrite, diabetes, doenças cardiovasculares, distúrbios renais, toxicidade hepática, até contra infecções microbianas e efeitos antitumorais (LUCETTI et al., 2010; SIDDIQUE; SALEEM, 2011; BESERRA et al., 2019; LIU et al., 2020). Outros triterpenos identificados em extratos de H. speciosa Gomes, a α-amirina e β-amirina e suas amirinas, também apresentam atividades farmacológicas in vitro e in vivo identificadas, sendo elas ação antimicrobiana, antifúngicas, antiviral, antidepressiva, anti-inflamatória, antinociceptiva e gastroprotetora (PINTO et al., 2008; VÁZQUEZ; PALAZON; NAVARRO-OCANÃ, 2012; NOGUEIRA et al, 2019) Com isso, o trabalho tem como objetivo realizar extração do fruto da H. speciosa Gomes através do método de Extração Guiada por Dispersão Energizada (EDGE, do inglês, Energized Dispersive Guide Extraction), visando obter extrato com maior teor de lupeol, comparando os resultados com extrato obtido por extração guiada por ultrassom.
Material e métodos
Os frutos da H. speciosa Gomes foram liofilizados, triturados e separadas conforme a granulometria, sendo utilizado para a extração aquelas com granulometria de 32 mesh. Para a extração do fruto da mangabeira, foram utilizados os métodos extrativos Ultrassom e a técnica automatizada EDGE. Para a extração com ultrassom foi utilizado a condição de melhor extração identificada em trabalho anterior (LEITE et al, 2020), com 3g de amostra, 20 ml de etanol e 60 ml de diclorometano com tempo de extração de 30 minutos. Já na extração com EDGE foi realizado um planejamento fatorial (22), adaptado de Tasfiyati et al. (2022), usando 2g da amostra para a extração e diclorometano como solvente extrator. Foi considerada como variável dependente a concentração de lupeol. As variáveis independentes foram a temperatura, tempo de extração e relação amostra e solvente. Em seguida os extratos foram analisados utilizado um Cromatógrafo gasoso acoplado a um detector de espectrometria de massas com analisador de massas tipo quadrupolo (GC/qMS), modelo GC/qMS-QP 2010 Ultra, da Shimadzu, utilizando coluna capilar ZB-5. A identificação tentativa dos compostos utilizando o GC/qMS foi realizada pela comparação dos espectros de massas obtidos experimentalmente com os espectros de fragmentação de massas da biblioteca NIST 14. A quantificação dos triterpenos foi realizada a partir do padrão de lupeol (20, 40, 60, 80, 100, 120 e 140 µg/mL), tendo o triacontano (C30H62) como padrão interno (na concentração de 10 ppm). Para a construção da curva analítica, usou-se o GC/MS no modo SIM, onde foram escolhidos o íon 57 para o padrão interno e o íon 218 para o lupeol.
Resultado e discussão
Observou-se que os extratos obtidos por diclorometano na condição do Exp. 8
(tempo de 9 min., 30 ml de solvente e temperatura 46ºC) obteve valor médio de
51,39 ± 0,89 mg lupeol/g de amostra seca, já o extrato obtido por ultrassom
apresentou concentração média de 49,95 ± 2,54 mg lupeol/g de amostra seca. Por
meio do teste t de Student, a nível de significância de 95%, indicam que as
medias não apresentaram diferença significativa. Este resultado indica vantagem
na utilização do EDGE, já que ocorreu a obtenção da mesma quantidade de lupeol
utilizando menor quantidade de solvente e menos tempo de extração em relação ao
extrato obtido por ultrassom.
O resultado obtido se mostrou superior aos estudos que quantificaram o lupeol em
extratos de outras espécies. Em estudo de Saleem (2009), foram identificadas a
quantificação do lupeol na azeitona (0,003 mg/g de fruto), manga (0,18 mg/g da
polpa de manga), folha de babosa (0,28 mg/g de folha seca), folha de ulmeiro
(0,88 mg/g), pera asiática (shinko) (0,175 mg/g da casca do galho) e óleo de
ginseng (0,152 mg/g do óleo). Adami (2020) em análise de extrato metanólico dos
frutos de H. speciosa Gomes, obtido por ultrassom e micro-ondas, quantificaram o
lupeol em 2,74 mg/g no extrato por ultrassom e 2,80 mg/g na extração com micro-
ondas. Somwong e Theanphong (2021) quantificaram o triterpeno em extrato
etanólico das plantas Derris scandens, Albizia procera e Diospyros rhodocalyx,
onde a maior concentração de lupeol identificada foi no extrato de Diospyros
rhodocalyx (40,72±0,40 mg/100 g).
Descrição do planejamento fatorial (22) com ponto \r\ncentral replicado 2 vezes para a extração por EDGE
A) Curva analítica do lupeol com concentração \r\nvariando de 20 µg/mL a 140 µg/mL; B) Média da \r\nconcentração do lupeol presente nos extratos \r\nobtidos.
Conclusões
Por apresentar uma grande importância regional, torna-se necessário o aprofundamento de estudos sobre a H. speciosa Gomes, investigando seus principais compostos e possíveis aplicações nas mais diversas áreas. Por meio da análise cromatográfica foi possível identificar que o extrato obtido através do sistema EDGE apresentou melhor quantificação do composto lupeol utilizando menor quantidade de solvente e menos tempo extrativo, sendo assim um método facilitador e mais econômico para obtenção do composto
Agradecimentos
Agradecimentos à Universidade Tiradentes, ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), ao programa de Biotecnologia Industrial e a CAPES por tornar este estudo possível.
Referências
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