Produtos fitoterápicos: Estão livres de resíduos de pesticidas?

ÁREA

Química Analítica


Autores

Monteiro, S.H. (INSTITUTO BIOLÓGICO) ; Barbosa, C.M. (INSTITUTO BIOLÓGICO) ; Zanquetta, M.S. (INSTITUTO BIOLÓGICO) ; Viana, M.M. (INSTITUTO BIOLÓGICO) ; Dutra, K.R. (INSTITUTO BIOLÓGICO) ; Andrade, G.C.R.M. (INSTITUTO BIOLÓGICO)


RESUMO

No Brasil, um medicamento fitoterápico a ser registrado para comercialização pela ANVISA deve ser submetido à análise de resíduo de agrotóxico conforme a RDC 26/2014. O presente estudo teve como objetivo quantificar resíduos de agrotóxicos em 15 amostras de plantas medicinais. O método QuEChERS foi aplicado para a extração de 235 pesticidas e posterior determinação por LC-MS/MS e GC-MS/MS. Dez amostras não apresentaram resíduos de agrotóxicos acima do LQ e as demais amostras apresentaram resíduos de clorpirifós, malaoxon, ciromazina, clomazona, 2,4,6- triclorofenol, bifentrina, lambda-cialotrina e protioconazol. A legislação brasileira não estabelece LMR para plantas medicinais, portanto é esperado que os medicamentos fitoterápicos estejam isentos de resíduos de pesticidas.


Palavras Chaves

fitoterápicos; resíduos; pesticidas

Introdução

As plantas medicinais são consumidas mundialmente para o tratamento de diversas doenças e são importantes matérias-primas para a produção de fitoterápicos nas indústrias farmacêuticas. A presença de resíduos de pesticidas em produtos fitoterápicos é uma preocupação relevante para a segurança e eficácia desses produtos. Os produtos fitoterápicos são obtidos a partir de plantas medicinais e podem incluir partes da planta, como folhas, flores, raízes, cascas, entre outros. O uso de pesticidas na agricultura pode levar à contaminação dessas plantas com resíduos de pesticidas, que podem ser transferidos para os produtos fitoterápicos durante o processo de produção. As agências regulatórias de saúde em muitos países estabelecem limites máximos de resíduos de pesticidas em produtos fitoterápicos e monitoram a conformidade com esses valores. Consumidores também podem fazer escolhas conscientes ao comprar produtos fitoterápicos, optando por produtos que tenham sido testados quanto à presença de resíduos de pesticidas, que estejam em conformidade com as regulamentações locais e que tenham registro na ANVISA conforme RDC 26/2014 (Brasil, 2014). Mas e os produtos fitoterápicos comercializados em farmácias e drogarias, eles estão livres de resíduos de pesticidas?


Material e métodos

Nesse contexto, avaliamos 15 amostras de medicamentos, incluindo castanha da índia, passiflora, folhas de eucalipto, raízes de calumba, guaco, menta, folhas de oliveira e cúrcuma, coletadas de setembro de 2020 a setembro de 2021 em drogarias da cidade de São Paulo, Brasil. O método de preparação de amostras QuEChERS (Anastassiades, 2007) foi utilizado para determinar a presença, ou não, de 235 pesticidas por GC-MS/MS e UPLC-MS/MS para todas as matrizes. A amostra após pesagem foi triturada e homogeneizada, em condições de baixa temperatura utilizando gelo seco. A extração foi realizada com 5 g da amostra, 9,5 mL de água + 10 mL de acetonitrila. A mistura foi agitada por 5 min em seguida foi adicionada os sais de extração contendo (4 g de sulfato de magnésio anidro + 1 g de cloreto de sódio + 1 g de citrato trissódico di-hidratado) agitou-se por mais 5 minutos seguida de centrifugação por 5 minutos a 4000 g. Uma alíquota do extrato de 6 mL foi transferida para um tubo simples de centrífuga contendo a mistura de sorventes indicada para amostras vegetais com pigmentos (150 mg PSA, 900 mg MgSO4, 15 mg GCB). O tubo foi agitado vigorosamente por 2 minutos e centrifugado por 5 minutos a 4000 g. O sobrenadante então foi filtrado em membrana de PTFE de 0,22 µm de poro e o extrato purificado foi então transferido para vials para injeção nos cromatógrafos.


Resultado e discussão

Do total das amostras, 10 não apresentaram nenhum resíduo dos pesticidas determinados. Dentre as 5 amostras que apresentaram resíduos, 1 amostra de passiflora apresentou 0,21 mg/kg de ciromazina, 1 amostra de calumba apresentou 0,03 mg/kg de clorpirifós, 2 amostras de casca de eucalipto, uma com 0,30 mg/kg de 2,4,6-triclorofenol e outra com 0,06 mg/kg de malaoxona e 1 amostra de folhas de oliveira que continha resíduo de 3 compostos, 0,01 mg/kg de bifentrina, 0,05 mg/kg de protioconazol e 0,37 mg/kg de lambda-cialotrina. No Brasil só é permitido o uso de agrotóxicos em plantas medicinais quando o agrotóxico está registrado para aquela cultura específica quando essas são também utilizadas como alimentos (Brasil, 2019), como por exemplo, o maracujá, do qual se extrai a passiflora. Dos resíduos encontrados no nosso estudo apenas a bifentrina possui registro com LMR de 0,30 mg/kg para azeitona, portanto podemos considerar que o resíduo de bifentrina, encontrado nas folhas de oliveira, está dentro do permitido, porém os outros dois pesticidas encontrados na mesma amostra, exclui esta amostra das conformidades da agência reguladora. Mesmo sendo devidamente cultivados e processados, os fitoterápicos podem não estar totalmente livres de pesticidas e não necessariamente essas substâncias terem sido utilizadas na produção desses medicamentos. Esses resíduos podem ser devido ao cultivo em solo previamente contaminado, percolação de produtos químicos através do solo, contaminação cruzada com deriva do vento, contaminação cruzada devido à pulverização de silos, deriva de pulverização de fazendas vizinhas, uso de águas subterrâneas contaminadas ou água de irrigação, ou mesmo podem ocorrer durante o processamento, armazenamento e transporte.

Conclusões

Apesar da pequena amostragem realizada, comprovamos que os medicamentos fitoterápicos não estão livres de resíduos de pesticidas, podendo eles serem utilizados de forma intencional ou provenientes de uma contaminação indireta. Ressaltamos a necessidade de controle e monitorização dos produtos fitoterápicos, comercializados em drogarias ou mesmo no comércio popular, para aumentar a confiança do consumidor. O uso de medicamentos fitoterápicos remeta a uma composição natural, presumindo um medicamento menos agressivo, porém podem apresentar compostos químicos tóxicos, como os pesticidas.


Agradecimentos


Referências

Anastassiades M. prEN 15662: Determination of pesticide residues using GC-MS and/or LC-MS/MS following acetonitrile extraction/partitioning and cleanup by dispersive SPE - QuEChERS method, 2007.Brussels, Belgium, European Commitee for Standardization.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Assunto: Análise de resíduos de agrotóxicos em fitoterápicos. 3ª edição, de 28/01/2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC N° 26, de 13 de maio de 2014. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos.

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