QUANTIFICAÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS FENÓLICOS NOS EXTRATOS E FRAÇÕES DE Sterculia striata A.St.-Hil. & Naudin (CHICHÁ)

ÁREA

Iniciação Científica


Autores

Duarte, M.M. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ) ; Assunção, J.C.C. (INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ)


RESUMO

Sterculia striata, popularmente reconhecida como "chichá", é uma planta medicinal amplamente manipulada no território brasileiro. Com o objetivo de avaliar o potencial farmacológico desta espécie, o presente estudo realizou a quantificação de metabólitos secundários por meio de cromatografia líquida de alta eficiência, assim como a determinação do teor de fenólicos totais em extratos e frações. A identificação e quantificação dos metabólitos secundários fenólicos revelou a presença de rutina e catequina no extrato foliar (3,19 ± 0,12 e 8,00 ± 0,44 mg/g, respectivamente), e catequina e ácido cafeico na fração metanólica do talo (4,05 ± 0,08 e 1,21 ± 0,00 mg/g, respectivamente). É importante ressaltar que essas descobertas são pioneiras para as partições menos exploradas desta planta.


Palavras Chaves

Plantas medicinais; Metabólitos secundários; Sterculia striata

Introdução

Sterculia striata, também conhecida como "chichá", "amendoim-da-mata", "castanha-de-macaco" ou "chichá-do-cerrado" (Almeida, et al., 1998), é uma planta nativa da Índia e Malásia amplamente distribuída no Brasil, desde a região amazônica até os estados abrangidos pelo bioma cerrado (Mota, et al., 2014). Seu fruto é amplamente consumido pela população brasileira devido ao alto valor nutritivo (EMBRAPA, 2001). Na medicina popular, suas folhas têm sido utilizadas topicamente com manteiga quente ou óleo de oliva para o tratamento de furúnculos (Agra et al., 2007). No cenário industrial, busca-se substituir antioxidantes e fármacos sintéticos por extratos vegetais com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antifúngicas, associadas à presença de metabólitos secundários. Estas alternativas buscam contribuir para o tratamento de doenças relacionadas ao estresse oxidativo (Teixeira et al., 2022). Neste contexto, o chichá ganha destaque como uma possível fonte de tais metabólitos com ações terapêuticas relevantes. Mota et al. (2004), desenvolveram estudos com as folhas da planta, demonstrando a presença de flavonoides, cumarinas, outros compostos fenólicos e ácidos graxos, os quais têm sido associados a propriedades anti-inflamatórias, anti-cancerígenas e imunomoduladoras. Além da análise da composição química, a avaliação da atividade antioxidante (DPPH) do extrato etanólico da planta demonstrou uma atividade antioxidante inferior a 50% (Costa et al., 2010). Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo avaliar o potencial farmacológico da Sterculia striata por meio da quantificação de metabólitos secundários por cromatografia líquida de alta eficiência, e teor de fenólicos totais em extratos e frações, buscando contribuir para o avanço do conhecimento acerca das propriedades terapêuticas dessa planta.


Material e métodos

A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Tecnologia em Processos Ambientais (LTPA) do IFCE, campus Maracanaú EXTRATOS VEGETAIS BRUTOS O material vegetal (folhas e talo) foi coletado na comunidade indígena Pitaguary, em Maracanaú. Foi submetido a extração com álcool etílico P.A. por três dias, sendo concentrado em um evaporador rotativo para obter-se os Extratos Vegetais Brutos (EVB). Os extratos etanólicos foram fracionados utilizando sílica gel e solventes de diferentes polaridades (acetato de etila e metanol, ambos P.A.), resultando nas frações vegetais após nova concentração no evaporador rotativo. TEOR DE FENÓLICOS TOTAIS O teor de fenólicos totais foi adaptado do trabalho de Lazzarotto et al., (2020). Os extratos etanólicos e as frações foram diluídos com metanol para uma concentração de 1000 mg/L. A curva de calibração do padrão de ácido gálico foi preparada com concentrações que variam de 10 a 200 mg/L, utilizando metanol. Em seguida, uma reação foi realizada misturando solução de Folin Ciocalteau 3% e Na2CO3 10% (m/v) durante 1 hora na ausência de luz. A leitura foi realizada em espectrofotômetro no comprimento de onda de 765 nm. QUANTIFICAÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS FENÓLICOS POR CLAE O método de quantificação de Assis (2014) foi empregado utilizando um equipamento Shimadzu LC-2050C 3D com detector PDA para análise de padrões, extratos e frações. Utilizou-se uma coluna de fase reversa EVO C18 da Kinetex, com injeção de 20 μL e gradiente de eluição. O sistema de eluição consistiu em água deionizada acidificada com ácido fórmico (pH 3,2) e acetonitrila, com fluxo de 1 ml/min a 35 ºC. As amostras, preparadas como soluções metanólicas de 20 mg/mL e filtradas por filtros de seringa de 0,45 µm, foram injetadas três vezes. Foram utilizados metabólitos padrões, como ácido gálico, ácido cafeico, rutina, quercetina, catequina e catecol, para construir curvas de calibração com concentrações variando entre 0,050-0,250 mg/mL (área do pico x concentração). Os compostos foram identificados comparando os cromatogramas do extrato e dos padrões puros baseados no tempo de retenção e nos espectros de absorção analisados entre 190-800 nm.


Resultado e discussão

TEOR DE FENÓLICOS TOTAIS O teor de fenólicos totais foi expresso em mg equivalentes de ácido gálico (EAG) por grama de amostra. O resultado encontrado nos extratos e frações, em ordem decrescente, foi: extrato da folha (63,82 ± 3,54 mg EAG/g), fração Act. Et. do talo (42,23 ± 2,12 mg EAG/g), fração Met. do talo (36,44 ± 0,20 mg EAG/g), fração Met. da folha (34,37 ± 0,30 mg EAG/g), fração Act. Et. da folha (25,79 ± 0,71 mg EAG/g) e extrato do talo (21,43 ± 0,52 mg EAG/g). A Figura 1 ilustra os resultados obtidos. Consoante aos resultados obtidos (Figura 1), é possível constatar que o extrato proveniente das folhas apresentou um teor significativamente maior de compostos fenólicos em comparação com o extrato e as frações provenientes do talo. No entanto, as frações derivadas das folhas demonstraram resultados inferiores em relação às demais. Segundo, Costa et al., (2010), a avaliação do teor de fenóis totais no extrato etanólico da casca do caule de S. striata resultou em 63,94 ± 5,59 mg EAG/g, valor semelhante ao observado neste estudo para as folhas da planta em questão. Em outro contexto, Rocha et al., (2013) quantificaram o teor de fenólicos totais nos extratos etanólicos e aquosos de frutos (casca e polpa) de cinco espécies do bioma Cerrado. Entre essas espécies, o chichá se destacou com valores de 85,37 ± 7,77 mg EAG/100 g para o extrato etanólico e 281,31 ± 7,05 mg EAG/100 g para o extrato aquoso. É importante ressaltar que a literatura carece de abordagens anteriores que avaliem a folha e o talo do chichá, revelando assim o caráter inédito do presente estudo. Apesar das notáveis analogias entre os resultados atingidos nesta pesquisa e os registros presentes na literatura, uma comparação com outras espécies vegetais revela uma posição menos expressiva para os resultados obtidos no presente estudo (Abduh et al., 2023; Rojas-Ocampo et al., 2021). QUANTIFICAÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS FENÓLICOS POR CLAE A Tabela 1 apresenta a composição fenólica de extratos e frações do talo e folha do chichá. No extrato da folha, três metabólitos foram quantificados, sendo a rutina e a catequina os mais proeminentes (8,00 ± 0,44 e 3,19 ± 0,12 mg/g, respectivamente), seguidos pelo ácido gálico (0,40 ± 0,01 mg/g). Nas frações de acetato de etila (com cinco metabólitos quantificados) e metanol (com quatro metabólitos quantificados) da folha, uma diversidade mais ampla de metabólitos foi identificada. Notavelmente, a fração de acetato de etila exibiu níveis significativos de rutina e quercetina (2,34 ± 0,01 e 1,69 ± 0,01 mg/g, respectivamente), enquanto a fração de metanol demonstrou presença de catequina e rutina (1,97 ± 0,04 e 1,81 ± 0,00 mg/g, respectivamente), embora com concentrações inferiores às do extrato. Quanto ao extrato do talo, somente o ácido gálico e catequina (2,29 ± 0,08 e 3,43 ± 0,33 mg/g, respectivamente) foram quantificados. As frações de acetato de etila e metanol apresentaram resultados mais favoráveis quando comparadas ao extrato, com a quantificação de quatro metabólitos reconhecidos por suas propriedades farmacológicas notáveis. Especificamente, na fração de acetato de etila, destacam-se o ácido cafeico e a quercetina (1,47 ± 0,01 e 0,99 ± 0,01 mg/g, respectivamente). Na fração metanólica, os principais componentes incluem ácido cafeico e catequina (4,05 ± 0,08 e 1,21 ± 0,00 mg/g, respectivamente). A análise dos resultados evidencia uma relação direta entre o teor de fenólicos totais e a concentração de metabólitos secundários fenólicos presentes nas amostras. Esse dado é muito relevante uma vez que todos os metabólitos investigados neste estudo exibem propriedades antioxidantes comprovadas pela literatura (Carmona-Hernandez et al., 2021). A presença significativa de rutina e catequina em elevadas concentrações pode justificar o maior teor de fenólicos no extrato das folhas. Similarmente, na fração metanólica do talo, as elevadas concentrações de catequina, catecol e ácido cafeico pode explicar a relação direta com o teor de fenólicos. No entanto, a fração de acetato de etila do talo, embora demonstre um teor considerável de fenólicos totais, não apresenta concentrações relevantes dos metabólitos secundários investigados. Isso pode ser atribuído à possível presença de um metabólito não quantificado. Em um estudo realizado por Policarpi (2017), a composição fenólica dos extratos da castanha, película e casca do chichá foi determinada. No extrato da castanha, foram quantificados seis compostos, sendo os ácidos elágico e ferúlico predominantes (4,87 e 2,11 mg 100 g-1, respectivamente), seguidos pelos ácidos salicílico, vanílico, rosmarínico e catequina. Na película, dez compostos foram quantificados, e os principais ácidos fenólicos identificados foram protocatecuico, elágico e metoxifenilacético (4,94; 3,17 e 2,16 mg 100 g-1, respectivamente). No extrato da casca, oito compostos foram quantificados, destacando-se o ácido elágico como componente principal (4,61 mg 100 g-1), seguido do ácido protocatecuico (2,35 mg 100 g-1). Não há relatos na literatura sobre a composição fenólica da folha e do talo do chichá.

Figura 1

Teor de fenólicos totais (mg EAG/g) de extratos e frações de S. striata.

Tabela 1

Quantificação de metabólitos secundários.

Conclusões

A Sterculia striata demonstrou um potencial relevante para atividade antioxidante relacionada com a grande variedade de compostos fenólicos encontrados, principalmente ácido cafeico, catequina, catecol e rutina. Dessa forma, considerando a análise de metabólitos secundários fenólicos e o teor de fenólicos totais, este trabalho oferece uma valiosa contribuição para a investigação da composição química do chichá, especialmente nas partes menos exploradas, como as folhas e os talos. As informações obtidas podem servir de base para futuras investigações sobre as propriedades antioxidantes, antiinflamatórias, entre outras aplicações potenciais dessa planta.


Agradecimentos

Os autores agradecem ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Maracanaú; ao Laboratório de Tecnologia em Processos Ambientais – LTPA; e ao órgão de fomento em pesquisa FUNCAP.


Referências

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