Avaliação da molhabilidade e da adsorção de tensoativos aniônicos em rocha calcária

ÁREA

Iniciação Científica


Autores

Frazão, K.M.R. (UFERSA) ; Pereira, F. (UFRN) ; Pimentel, P.M. (UFERSA) ; Santanna, V.C. (UFRN) ; Santos, D.F. (UFERSA)


RESUMO

O presente artigo consiste no estudo da recuperação avançada de petróleo por meio da influência da adsorção de dois tensoativos aniônicos, octanoato de sódio e miristato de sódio, com o intuito de alterar a molhabilidade de rochas calcárias pelo método de banho finito; uma vez que 50% dos reservatórios são formados por rochas carbonáticas. As amostras foram submetidas a determinação da concentração micelar crítica (cmc) e ensaios de tensão superficial para avaliar a adsorção dos tensoativos na rocha. Para tanto, o calcário previamente caracterizado foi considerado magnesiano e se comprovou adsorção dos tensoativos, onde o miristato de sódio obteve maior destaque, com 71,0 dina/cm, conferindo 99% de eficiência. No entanto, o octanoato de sódio reverteu a molhabilidade da rocha.


Palavras Chaves

adsorção; molhabilidade; tensoativos

Introdução

A aplicação de métodos de recuperação avançada de petróleo (EOR - Enhanced Oil Recovery) está disseminada no Brasil com o propósito de aumentar a produtividade, a rentabilidade e a vida útil dos campos petrolíferos (CURBELO, 2006). Assim, o aumento do fator de recuperação (FR) de petróleo em reservatórios é um tema amplamente estudado no cenário nacional, onde a maximização econômica é uma pauta eloquente (ANP, 2015), conforme §3º, art. 6º, da Resolução ANP nº 17/2015: "A estratégia de explotação em que se baseia o Plano de Desenvolvimento deverá ter como objetivo a maximização da recuperação dos recursos in situ, presentes em cada Reservatório do Campo, de acordo com bons princípios econômicos e segundo as Melhores Práticas da Indústria do Petróleo. Essa estratégia e as soluções tecnológicas que a possibilitam deverão ser continuamente reavaliadas de forma a alcançar o objetivo". Logo, há diversos processos de recuperação avançada de petróleo para poder extrair a maior porcentagem de óleo dos campos (SOARES, 2016), podendo ser utilizados métodos químicos, miscíveis, térmicos e outros (LIMA, 2015). Atualmente, tem havido progressos relevantes no desenvolvimento de métodos químicos (polímeros, alcalinos, tensoativos e suas modificações), incluindo a pesquisa de aplicação para objetos que antes eram considerados inadequados para isso (TRUSHIN et al., 2020). Neste trabalho, será aplicado o método químico, o qual é subdividido em áreas, como injeção de solução de polímeros, injeção de solução de tensoativos, injeção de microemulsão, injeção de solução alcalina, entre outros (SANTOS et. al., 2007), cuja importância é a interação entre o fluido injetado e o fluido do reservatório (RIBEIRO NETO, 2007). Como no Brasil as atividades exploratórias são em sua maioria em reservatórios carbonáticos (PANDAVA AUM, 2011), a rocha selecionada para a presente proposta de pesquisa é um calcário. Segundo Lima (2015), nesses reservatórios as “superfícies são preferencialmente molháveis a óleo, resultando numa baixa produtividade do petróleo”, assim estudos de tensoativos nas rochas vem sendo realizados para inverter a molhabilidade da rocha, com a finalidade de torná-la molhável à água obtendo maior eficiência na recuperação do óleo. Outra observação importante é que nos reservatórios carbonáticos há formação de um petróleo leve e de alta fluidez, como o reservatório é parcialmente molhável ao óleo, sua movimentação se torna difícil; assim, a inversão da molhabilidade da superfície do reservatório para que seja molhável à água, poderá proporcionar uma melhora nos rendimentos produtivos (SOARES, 2016). Sendo assim, a injeção de tensoativos atua facilitando o escoamento do óleo devido as características da superfície (interface água-óleo (VALE, 2009), e aliado a isso, observa-se a crescente demanda por tensoativos no mercado global, indicando interesse econômico nessa área de pesquisa (CERESANA, 2012), demonstrando relevância a esta área de atuação. Conforme o panorama da aplicação de métodos de recuperação melhorada no Brasil e no mundo, os métodos térmicos, químicos, miscíveis e microbiológicos terão uma fase de testes, seja em larga escala ou piloto. O histórico na Petrobras para o método químico de injeção de polímeros, constatou-se a utilização em 04 projetos pilotos onshore (Carmópolis/SE (02), Buracica/BA (01) e Canto do Amaro/RN (01) não obteve sucesso, pois o fator de recuperação foi abaixo do considerado (1,3%; 2,8%; 3,2%, respectivamente), já o método por controle de produção de água obteve índice de sucesso entre 60 e 70% em larga escala (ROSA e MACHADO, 2017). De acordo com uma matéria no Oil and Gas Journal (2016 apud ROSA e MACHADO, 2017), o panorama mundial indica que métodos químicos possuem 27 projetos ativos e bem sucedidos de EOR. Portanto, é importante pesquisar métodos que visem otimizar a recuperação de óleo, consequentemente, melhorando a economia e o beneficiamento do campo. Posto isso, o presente trabalho tem o objetivo de estudar a influência da adsorção de tensoativos aniônicos visando alterar a molhabilidade de rochas calcárias. Foram utilizados dois tensoativos a base dos seguintes ácidos: octanóico e mirístico, sintetizados em laboratório. A rocha calcária é do tipo magnesiana, e o estudo de adsorção será realizado pelo método de banho finito. As amostras serão submetidas a medidas de tensão superficial para avaliar a adsorção dos tensoativos na rocha, e medidas de ângulo de contato para verificar o desempenho dos tensoativos na molhabilidade do calcário.


Material e métodos

O calcário utilizado para o estudo foi extraído da região oeste potiguar, onde é destaque pela produção petrolífera em campos maduros. A metodologia desta pesquisa foi baseada em Soares (2016) e Frazão et al. (2020), via método dinâmico de banho finito. Sintetizou-se o octanoato de sódio (CH3CH2)6COOH) e o miristato de sódio (CH3(CH2)12COOH). Para determinação da concentração micelar crítica (cmc) dos tensoativos, plotou-se o gráfico de concentração versus tensão superficial, onde foram inseridas duas linhas de tendência e obtida a interseção, cujo ponto corresponde a cmc. As concentrações variaram de 0,1 à 6,0g/L. As soluções de tensoativo foram preparadas em solução de cloreto de potássio (KCl) a 2%. Pesou-se 0,5g do calcário magnesiano em 04 erlenmeyers onde se acrescentou 50mL de solução de tensoativo. As amostras foram acopladas a mesa agitadora por 1h, 200rpm e 25°C. Após o banho, repouso por 24h. Recolheu-se o sobrenadante para análise de tensão superficial, análise feita no tensiômetro SensaDyne QC6000/método de pressão máxima de bolha. Para determinação da adsorção e do percentual de adsorção foram usadas as Equações 1 e 2, respectivamente. Equação 1: q=(V(Ci- Ce))/m, onde: q=adsorção (g/g) [massa de soluto adsorvida por unidade de massa de adsorvente], v=volume (L) de solução de soluto, Ci=concentração inicial (g/L), Ce=concentração de equilíbrio (g/L) e m=massa do calcário (g); Equação 2: Eficiência(%)=(Ci-Ce)/Ci*100, onde: Ci=concentração inicial (g/L), Ce=concentração de equilíbrio (g/L). Para determinar a tensão interfacial, utilizou-se 1,5g/L para o miristato de sódio e 2,45g/L para o octanoato de sódio; com uma proveta foi separado 50mL de cada tensoativo e transferido para os erlenmeyers que continham 0,5g do calcário magnesiano e então foi realizado o banho finito. Recolheu-se 40mL do sobrenadante para análise no tensiômetro SensaDyne QC6000. O ângulo de contato foi feito no goniômetro (Krüss, DAS 100) com o auxílio do software DAS3; as pastilhas foram posicionadas na plataforma para receber a gota d’água, e no monitor foi observado à formação da gotícula na superfície.


Resultado e discussão

As concentrações micelares críticas dos tensoativos foram determinada a partir dos pontos de tensão superficial com diferentes concentrações de tensoativo, onde observou-se que o tensoativo à base do ácido graxo octanóico não atingiu a cmc, uma vez que não obteve tensões constantes. Já a cmc do tensoativo mirístico, considera-se próxima a 1,0 g/L. A cmc é encontrada igualando-se as equações da reta em cada gráfico e encontrando o valor de x. A medida de tensão superficial permite avaliar a adsorção dos tensoativos nas rochas, assim o resultado da análise dos sobrenadantes após o banho finito indicou que ambos os tensoativos obtiveram diminuição da tensão, uma vez que a tensão superficial de referência (água) corresponde a 72,4 dina/cm a 30ºC. A Figura 1 demonstra os valores da tensão superficial dos sobrenadantes que indica adsorção dos tensoativos no calcário, o octanóico teve uma concentração de equilíbrio mais alta indicando que adsorveu pouco no calcário, sendo necessário utilizar concentrações mais altas para melhorar sua eficiência. O miristato de sódio obteve um maior destaque na adsorção, correspondendo a 99% de eficiência de tensoativo na solução e tensão superficial equivalente a 71,0 dine/cm. Sabe-se que “quanto maior a cadeia carbônica do carboxilato de sódio, maior a tendência do tensoativo de se adsorver na interface ar-água”, em contra partida, o aumento da cadeia carbônica nos tensoativos promove a formação de diferentes micelas, podendo ser lamelar, cilíndrica etc, assim, modificando sua adsorção, logo isso pode ser um fator que tenha afetado a adsorção dos tensoativos estudados (CARVALHO, 2019). O resultado dos ensaios de molhabilidade do calcário após o banho finito com o tensoativo octanóico foi de 44,8°, considerando-se molhável a água, já o miristato de sódio obtive molhabilidade mista (70° < θ < 110°); nos casos de molhabilidade mista, os poros pequenos são molháveis e saturados com água salina, já os poros maiores tendem a molhabilidade por óleo, onde este se adere à superfície perfazendo um caminho contínuo pela rocha reservatório (SALATHIEL, 1973; DONALDSON e ALAM, 2008). Sabe-se que os calcários são rochas preferencialmente molháveis ao óleo, logo o tensoativo que reverteu a molhabilidade foi o octanoato de sódio.

Figura 1: Dados da tensão superficial do sobrenadante



Conclusões

O presente trabalho propôs-se estudar o comportamento das soluções dos tensoativos aniônicos octanoato de sódio e miristato de sódio com a finalidade de reverter a molhabilidade de rocha calcária, e assim, melhorar a recuperação petrolífera no reservatório. A rocha utilizada no estudo foi caracterizada e classificada como calcária magnesiana. A determinação da cmc dos tensoativos para ensaio de banho finito indicou que para o octanoato de sódio será necessário refazer as análises com concentrações maiores que 7g/L e o miristato obteve uma 1,04 g/L da cmc. Após os ensaios de adsorção, avaliou-se a tensão superficial e o tensoativo que conferiu melhor adsorção na rocha foi o miristato de sódio. O tensoativo que obteve menor ângulo de contato, sendo molhável a água, foi o octanoato de sódio, possivelmente devido a sua menor cadeia carbônica, isso implica num melhor escoamento do óleo na recuperação.


Agradecimentos

Ao Programa de Recursos Humanos 55.1 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (PRH/ANP/Gestão FINEP), juntamente a Universidade Federal Rural do Semi-Árido, pela concessão da bolsa de iniciação científica.


Referências

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. RESOLUÇÃO ANP Nº 17, DE 18/3/2015, DOU 20.3.2015- RETIFICADA DOU 23 DE ABRIL DE 2015.

CERESANA. Brochure Market Study Surfactants, 2012. Disponível em: <http://goo.gl/UP5hJm>. Acesso em: 24 out. 2020.

CURBELO, F. D. S. (2006) Recuperação avançada de petróleo utilizando
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LIMA, J. R. D. Estudo da adsorção de tensoativo em rocha calcária para análise de molhabilidade. TCC/UFRN – ENGENHARIA DE PETRÓLEO. 2015.

PANDAVA AUM, P. T. (2011) Aplicação de sistemas microemulsionados ácidos em acidificação de poços. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Petróleo, Departamento de Ciência e Engenharia de Petróleo, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Petróleo, UFRN, Natal/RN.

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SOARES, A. P. J. Influência da molhabilidade da rocha na recuperação de petróleo de reservatórios carbonáticos. 2016. 131 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química), Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN.

TRUSHIN, Y. M.; ALESHCHENKO, A. S.; ZOSHCHENKO, O. N.; ARSAMAKOV, M. S.; TKACHEV, I. V.; KRUGLOV, D. S.; KORNILOV, A. V.; BATRSHIN, D. R. Planning of Pilot Injection of Surfactant-Polymer Composition to Improve Oil Recovery from Carbonate Reservoir of Kharyaga Oilfield and Evaluation of the Results. SPE Russian Petroleum Technology Conference, Virtual, out. 2021.

VALE, T. Y. F. Desenvolvimento de tensoativos e sistemas microemulsionados para a recuperação de petróleo. 2009. 135 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química), Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN.

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