Estudo da redução de perda de massa em goiabas através do uso de revestimentos biodegradáveis à base de amidos

ÁREA

Química de Alimentos


Autores

Bessa, L.D. (UFERSA) ; Silva, C.A.D. (UFERSA) ; Dantas, A.R. (UFERSA) ; Leite, R.H.L. (UFERSA) ; Menezes, F.L.G. (UFERSA)


RESUMO

A goiaba é uma fruta que se destaca pelo seu sabor, valor nutricional, dentre outros bens à saúde. Devido a isso, ela se é amplamente vendida em todo território nacional, sendo considerada de grande relevância econômica para o Brasil. Entretanto, assim como diversas frutas, ela tem um tempo de vida útil pequeno após sua colheita. Diante disso, uma possível alternativa é a aplicação de revestimentos. O objetivo deste trabalho é estudar a aplicação de diferentes revestimentos. 20 goiabas foram revestidas por 4 diferentes tipos de amidos para analisar a perda de massa. Para controle, 5 goiabas não foram revestidas. Ao final de 12 dias , os resultados mostraram que os revestimentos escolhidos não apresentaram efeitos significativos quando comparadas com as goiabas sem revestimento.


Palavras Chaves

REVESTIMENTO; GOIABA; PERDA DE MASSA

Introdução

A goiaba (Psidium guajava), uma fruta cultivada amplamente nas regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo, encontra um terreno fértil no Brasil, desde o norte até o sul do país (SILVA et al., 2020). O impacto econômico da goiaba é significativo em escala nacional, mas sua relevância transcende a esfera econômica (CALAZANS, 2023). A goiaba não apenas desempenha um papel vital no panorama econômico, mas também se destaca como um aliado à saúde, tendo a capacidade de reduzir a pressão arterial devido ao seu teor de vitamina C (REIS, 2016). Apesar de ser reconhecida por seu sabor e riqueza nutricionais, a goiaba enfrenta um desafio pós-colheita, com um período de vida útil relativamente curto de aproximadamente oito dias, caso não seja devidamente conservada (BASTOS, 2018). Para superar essa limitação, uma solução promissora reside na busca por métodos de preservação que assegurem a integridade dessa fruta. Nos últimos anos, a demanda por alternativas sustentáveis e biodegradáveis aumentou, visando reduzir o impacto ambiental das embalagens alimentares e diminuir o uso de materiais sintéticos (COELHO et al., 2017). Nesse contexto, os revestimentos comestíveis, que se apresentam como películas aplicadas sobre a superfície dos alimentos, têm ganhado destaque. Esses revestimentos desempenham um papel crucial na proteção dos alimentos contra os elementos ambientais, estendendo a vida útil e aprimorando a qualidade dos produtos (SANTOS et al., 2018). Além disso, esses revestimentos regulam a transferência de umidade e trocas gasosas entre o fruto e o ambiente, enquanto retêm aditivos químicos benéficos (FRATARI et al., 2021). O amido, em particular, emerge como um componente de destaque para o desenvolvimento desses revestimentos comestíveis. Além de sua abundância, os amidos são conhecidos por serem de baixo custo (LOPES et al., 2018), tornando-os uma escolha atraente. Diante desse cenário, a comunidade científica tem se dedicado a buscar maneiras de prolongar a vida útil de frutas e outros alimentos. Portanto, o propósito deste estudo é investigar o impacto de diferentes tipos de amidos nas goiabas. Esse estudo visa quantificar a perda de massa nas goiabas revestidas com diferentes tipos de amidos, comparando os resultados com as goiabas não revestidas. Ao fazê-lo, destaca-se o revestimento que demonstra maior eficácia na preservação do processo de amadurecimento da goiaba.


Material e métodos

No intuito de compreender o efeito do revestimento de amidos em goiabas, em variações na perda de massa, foi montado um esquema experimental com 5 tratamentos (T0 – Controle; T1 – Fécula de Mandioca; T2 – Fécula de araruta; T3 – Amido de Milho; T4- Amigo de Arroz) com 5 repetições. As goiabas foram adquiridas em comércio local, selecionadas ao acaso, possuindo características similares de tamanho, cor e ausência de defeitos superficiais. As frutas foram higienizadas por contato direto com solução de hipoclorito de sódio dissolvido em água. Foram preparadas 100 g da mistura filmogênica dos amidos/féculas para cada tratamento. A proporção utilizada para esta quantidade foi de 2% de matéria seca (destes, 80% do amido e 20% de Glicerol) e 98% de água destilada. Procedeu-se com a mistura em béquer com aquecimento em banho-maria à temperatura de 70ºC5ºC, onde se estabilizou a mistura com uma permanência e mistura constante dos constituintes por 15 minutos. Na sequência, os frutos foram imersos nas misturas em temperatura ambiente, formando-se um revestimento, visando garantir maior tempo de exposição aos agentes externos. Os frutos foram armazenados em bandejas e mantidos à temperatura de 23ºC. A perda de massa das goiabas revestidas em cada tratamento foi obtida em um período de 12 dias, quando já apresentavam defeitos aparentes, por meio de pesagem com balança digital de precisão, sempre no mesmo horário. Os dados obtidos foram tabulados e a perda de massa relativa foi utilizada para a obtenção da ANOVA de 1 fator (tipo de revestimento) no Software Estatístico Livre Jamovi 2.3.26 para verificação da existência de diferenças significativas estatísticas entre as médias.


Resultado e discussão

A Tabela 1 é um descritivo da perda de massa relativa média (P.M.R) para as goiabas em relação ao revestimento com os tipos de amido, esta corresponde ao percentual de perda da massa inicial por dia. Nessa mesma Tabela também são apresentados o desvio-padrão e erro-padrão, sendo o tratamento com fécula de mandioca aquele que obteve o desvio e erro-padrão mais próximo do controle e o menores valores dessas duas medidas quando comparado aos demais, demonstrando inicialmente menor dispersão entre as médias. O Gráfico 1 ilustra os dados obtidos na Tabela 1. Diante desses dados torna-se possível a obtenção da ANOVA de fator único com a finalidade de comparar as médias da perda de massa relativa e avaliar se existe diferença significativa entre elas. No caso de haver diferença, se faz necessário a realização de testes post-hoc para verificar quais dessas médias são diferentes. Os resultados da análise estatística, explícitos na Tabela 2, não indicaram diferenças significativas nas perdas de massa relativas entre os diferentes tipos de revestimento de amidos (p > 0,05). As médias das perdas de massa relativas variaram entre 2,05% (fécula de araruta) e 2,63% (amido de milho), sendo que o grupo de controle apresentou uma média de 2,23%. A análise de normalidade e homogeneidade de variâncias não demonstrou violações significativas dos pressupostos estatísticos (Shapiro-Wilk: p > 0,05; Levene: p > 0,05). Esses resultados sugerem que, no contexto do estudo, os diferentes tipos de revestimento de amidos não tiveram um impacto estatisticamente significativo na perda de massa das goiabas durante o período de análise de 12 dias. É importante ressaltar que outros fatores não abordados neste estudo, como as propriedades específicas de cada tipo de amido e as condições ambientais, podem influenciar as características pós-colheita das goiabas. Em contrapartida, Lopes et al. (2018) em seu estudo sobre a conservação de goiabas com revestimentos comestíveis de amido e caseína com extrato de barbatimão, durante 12 dias de armazenamento, utilizou quatro tipos de tratamentos no qual um foi composto apenas pelo amido. Como resultados, os pesquisadores destacaram que os revestimentos comestíveis de amido e caseína reduziu a perda de massa das goiabas, porém a adição do extrato de barbatimão foi eficiente apenas para a conservação da firmeza e colorimetria dos frutos, evitando seu amarelecimento e clareamento. Aliado a isso, Costa et al. (2017) avaliaram o efeito da aplicação de revestimentos comestíveis à base de amido, gelatina e emulsão lipídica sobre a conservação pós-colheita de goiabas armazenadas a temperatura ambiente por 7 dias. O trabalho concluiu que a emulsão lipídica seguida por amido apresentaram perdas de massa menores em comparação com a amostra controle, sendo efetivos no aumento da vida útil da goiaba in natura. Todavia, o revestimento a base de gelatina não seguiu esse comportamento pois apresentou perda de massa próxima ao controle. Nesse cenário, apesar de não terem sido observadas diferenças significativas em nossos resultados, os revestimentos de amidos ainda podem oferecer benefícios em termos de preservação pós-colheita, como a proteção contra fatores ambientais e a redução da perda de água. Estudos futuros podem explorar outras variáveis, como textura, sabor e aspectos sensoriais das goiabas revestidas com diferentes tipos de amidos.

Figura 1

Tabela 1 - Descritivas de grupos/ \r\nTabela 2 - Anova de fator único, testes de \r\nnormalidade e homogeneidade\r\n

Grafico 1

Perda de massa relativa média (P.M.R) Versus tipo de \r\ntratamento

Conclusões

Neste estudo, avaliou-se o efeito de diferentes revestimentos de amidos na perda de massa de goiabas ao longo de 12 dias após sua aplicação. Cinco tratamentos foram examinados, representando diferentes tipos de amidos e um grupo de controle. Estatisticamente, não foram identificadas diferenças significativas nas perdas de massa entre os revestimentos (p > 0,05). Logo, os resultados sugerem que os amidos podem não ter impacto estatisticamente discernível na perda de massa das goiabas durante o período analisado. No entanto, fatores não considerados, como as propriedades intrínsecas dos amidos e as condições laboratoriais, podem ter afetado os resultados obtidos. Contudo, os revestimentos de amidos continuam sendo potencialmente benéficos para a preservação pós-colheita, oferecendo proteção contra efeitos ambientais e redução da desidratação. Embora não tenham emergido diferenças claras entre os tipos de amidos, esta pesquisa destaca a complexidade das interações entre revestimentos e a fruta. Contribuições valiosas para a indústria alimentícia e a conservação de frutas são evidentes. Investigações futuras na área são necessárias, especialmente explorando outras variáveis, a exemplo de aspectos sensoriais, como a variação na cor das frutas revestidas.


Agradecimentos

AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS - PPGCEM


Referências

BASTOS, Maria do Socorro Rocha et al. Revestimento de goma de cajueiro modificada na vida útil de goiabas. Embrapa Agroindústria Tropical-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2018.
CALAZANS, Crislaine Costa. Diversidade e abundância de visitantes florais e sua influência na qualidade de frutos em pomares de goiabeira (Psidium guajava L., MYRTACEAE) no alto sertão Sergipano. 2019.
COELHO, Caroline Corrêa de Souza et al. APLICAÇÃO DE REVESTIMENTO FILMOGÊNICO À BASE DE AMIDO DE MANDIOCA E DE ÓLEO DE CRAVO-DA-ÍNDIA NA CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE GOIABA 'PEDRO SATO'. Revista Engenharia na Agricultura, v. 25, n. 6, p. 479-490, 2017.
COSTA, Larissa Cristina et al. Aplicação de diferentes revestimentos comestíveis na conservação pós-colheita de goiabas (Psidium guajava L.). Brazilian Journal of Food Research, Campo Mourão, v.8, n.2, p.16-31, 2017.
FRATARI, Silvio Cesar et al. Revestimentos comestíveis para conservação pós colheita de banana: uma revisão. Verruck, S. Avanços em Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 4, p. 444-467, 2021.
LOPES, Allan Remor et al. Conservação de goiabas com revestimentos comestíveis de amido e caseína com extrato de barbatimão. Revista Engenharia na Agricultura, v. 26, n. 4, p. 295-305, 2018.
REIS, Andressa Rodrigues Ramos et al. Conhecendo os benefícios dos alimentos: Alimentos funcionais. EXTRAMUROS-Revista de Extensão da UNIVASF, v. 4, n. 2, p. 124-136, 2016
SANTOS, Talita Macedo et al. Revestimento de goiabas com zeína. Embrapa Agroindústria Tropical-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2018.
SILVA, Joálisson Gonçalves da et al. APLICAÇÃO DE FILMES BIODEGRADÁVEIS EM GOIABA PARA CONTROLE DE MOSCA-DAS-FRUTAS. Revista Caatinga, v. 33, p. 62-71, 2020.

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